Amazônia ainda está distante da agenda política


Políticos estão descolados dos temas climáticos e ambientais, dizem especialistas

Por Redação
Atualização:
Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú e secretária executiva da Uma Concertação pela Amazônia, e Mônica Sodré, diretora da Raps 

Lado a lado, Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú, e Mônica Sodré, diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), apresentam uma visão de mundo convergente sobre a Amazônia. Ambas, a partir de uma abordagem moderna sobre o que é o ambientalismo, trabalham para ajudar no desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, o que não poderá ser feito sem que a arena política, de forma sólida, embarque na causa. Leia a seguir trechos da entrevista das duas especialistas, que também atuam juntas no projeto Uma Concertação Pela Amazônia, frente ampla que reúne atualmente mais de 200 pessoas.

Qual a relação que podemos perceber, até aqui, entre a Amazônia e as eleições que se aproximam?

Renata Piazzon – Nosso grande objetivo neste ano é pautar o tema da Amazônia nas eleições. Para isso, construímos um documento a partir da contribuição de mais de 200 pessoas. Na Concertação, decidiu-se que era preciso organizar para os cem dias dos governos eleitos, e estamos olhando para o federal, o subnacional e Congresso Nacional, uma agenda integrada de desenvolvimento que contempla atos normativos para os primeiros cem dias. Não são propostas amplas, como a retomada do Fundo Amazônia, por exemplo. São realmente decretos ou projetos de lei ou instruções normativas que possam ser usados pelos políticos que forem eleitos.

Mônica Sodré – Conhecia-se muito pouco da equação política nos nove Estados que formam a Amazônia. Então, no âmbito da Raps, resolvemos fazer uma leitura política dessa região. Analisamos o comportamento de 91 deputados federais com base em sete matérias relacionadas ao tema ambiental. A principal conclusão do nosso estudo é que, dos 91 deputados, 46, portanto mais da metade, votam contra as pautas ambientais. Isso é um indicador do descolamento que existe hoje entre os políticos e os temas ambientais e também climáticos.

Nosso esforço é, primeiro, tratar a sustentabilidade para além de um viés apenas ambiental, e de mostrar que a Amazônia tem um papel central na equação climática do mundo, na nova geopolítica ambiental. Precisamos de políticos mais preparados e mais próximos dessa agenda e também capazes de dialogar com o restante do mundo sobre ela. O universo político tem se mostrado um tanto quanto distante dessa agenda.

Como implantar um projeto de desenvolvimento que seja realmente transversal?

Renata – Um dos pilares fundamentais do trabalho da Concertação é gerar desenvolvimento para a Amazônia indo além da agenda do antigo ambientalismo, ou de uma agenda restrita ao comando e controle. Lá em 2012, quando a gente conseguiu reduzir o desmatamento, não geramos prosperidade para a região. Não houve medidas e políticas de Estado que pudessem ter trazido prosperidade para os 30 milhões de pessoas que moram lá. Você tem 70% nas cidades.

Desde o início, a Concertação traz essa visão de desenvolvimento e esse olhar sistêmico para a região. As propostas que a gente vai colocar na mesa vão muito além da redução do desmatamento. São propostas de saúde, educação, conectividade, segurança pública e economia. A gente não vai conseguir reduzir o desmatamento e manter a redução se não tiver um olhar para as pessoas que vivem lá. A gente vem refletindo muito. Quais são esses novos modelos de desmatamento que conciliam o capital natural e a justiça social, e como a Concertação pode influenciar tanto o setor privado quanto lideranças políticas, sociedade civil e o campo da filantropia.

Não existe uma solução. São diferentes modelos de negócios para as diferentes amazônias. Ações que a gente vê como corriqueiras aqui no Sudeste, como ter internet rápida, isso não existe na Amazônia. E isso tira as populações de onde elas estão. Uma proposta de conectividade vai ser uma das sugestões da Concertação. E isso liga com educação, por causa do ensino a distância, e com saúde, por conta da telemedicina. Não é uma Amazônia 4.0, é uma Amazônia 1.0 que a gente precisa apoiar. Se fala muito de inovação, de tecnologia de ponta, mas a verdade é que a gente precisa garantir as necessidades básicas daquelas pessoas que queiram ficar naquele território.

Mônica – A gente tem percebido que a conexão dessas pautas, e aí me refiro principalmente ao Congresso Nacional, não é necessariamente óbvia e não é necessariamente clara. Quando a gente fala, por exemplo, do PL 510, que hoje está no Senado, ele é um projeto de regularização fundiária, que ficou apelidado como PL da Grilagem. Ele procura mexer tanto no marco temporal quanto no tamanho dos modos fiscais e, portanto, nos tamanhos das propriedades que podem requerer títulos. É óbvio que em um país onde as emissões advêm do desmatamento esse tipo de iniciativa tem possibilidade de aumentar a derrubada da floresta. Essa conexão entre esse tema e o da grilagem e o do desmatamento, e o impacto disso em questões muito cotidianas como, por exemplo, o fato de que se houver mais desmatamento a gente contribui para o mundo que aquece e esse mundo que aquece vai ter mais chuva ou mais seca e, com isso, você tem menos produção de alimento ou quebra de safra e, dessa forma, gera inflação onde alimentos mais caros vão chegar ao prato do brasileiro, não é necessariamente clara para o político. E nem para o eleitor. Nessas eleições, voltando ao tema do início, temos uma oportunidade imensa de mostrar que esse é um assunto que importa e vai importar cada vez mais. E são temas que precisam estar em todo o espectro político.

Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú e secretária executiva da Uma Concertação pela Amazônia, e Mônica Sodré, diretora da Raps 

Lado a lado, Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú, e Mônica Sodré, diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), apresentam uma visão de mundo convergente sobre a Amazônia. Ambas, a partir de uma abordagem moderna sobre o que é o ambientalismo, trabalham para ajudar no desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, o que não poderá ser feito sem que a arena política, de forma sólida, embarque na causa. Leia a seguir trechos da entrevista das duas especialistas, que também atuam juntas no projeto Uma Concertação Pela Amazônia, frente ampla que reúne atualmente mais de 200 pessoas.

Qual a relação que podemos perceber, até aqui, entre a Amazônia e as eleições que se aproximam?

Renata Piazzon – Nosso grande objetivo neste ano é pautar o tema da Amazônia nas eleições. Para isso, construímos um documento a partir da contribuição de mais de 200 pessoas. Na Concertação, decidiu-se que era preciso organizar para os cem dias dos governos eleitos, e estamos olhando para o federal, o subnacional e Congresso Nacional, uma agenda integrada de desenvolvimento que contempla atos normativos para os primeiros cem dias. Não são propostas amplas, como a retomada do Fundo Amazônia, por exemplo. São realmente decretos ou projetos de lei ou instruções normativas que possam ser usados pelos políticos que forem eleitos.

Mônica Sodré – Conhecia-se muito pouco da equação política nos nove Estados que formam a Amazônia. Então, no âmbito da Raps, resolvemos fazer uma leitura política dessa região. Analisamos o comportamento de 91 deputados federais com base em sete matérias relacionadas ao tema ambiental. A principal conclusão do nosso estudo é que, dos 91 deputados, 46, portanto mais da metade, votam contra as pautas ambientais. Isso é um indicador do descolamento que existe hoje entre os políticos e os temas ambientais e também climáticos.

Nosso esforço é, primeiro, tratar a sustentabilidade para além de um viés apenas ambiental, e de mostrar que a Amazônia tem um papel central na equação climática do mundo, na nova geopolítica ambiental. Precisamos de políticos mais preparados e mais próximos dessa agenda e também capazes de dialogar com o restante do mundo sobre ela. O universo político tem se mostrado um tanto quanto distante dessa agenda.

Como implantar um projeto de desenvolvimento que seja realmente transversal?

Renata – Um dos pilares fundamentais do trabalho da Concertação é gerar desenvolvimento para a Amazônia indo além da agenda do antigo ambientalismo, ou de uma agenda restrita ao comando e controle. Lá em 2012, quando a gente conseguiu reduzir o desmatamento, não geramos prosperidade para a região. Não houve medidas e políticas de Estado que pudessem ter trazido prosperidade para os 30 milhões de pessoas que moram lá. Você tem 70% nas cidades.

Desde o início, a Concertação traz essa visão de desenvolvimento e esse olhar sistêmico para a região. As propostas que a gente vai colocar na mesa vão muito além da redução do desmatamento. São propostas de saúde, educação, conectividade, segurança pública e economia. A gente não vai conseguir reduzir o desmatamento e manter a redução se não tiver um olhar para as pessoas que vivem lá. A gente vem refletindo muito. Quais são esses novos modelos de desmatamento que conciliam o capital natural e a justiça social, e como a Concertação pode influenciar tanto o setor privado quanto lideranças políticas, sociedade civil e o campo da filantropia.

Não existe uma solução. São diferentes modelos de negócios para as diferentes amazônias. Ações que a gente vê como corriqueiras aqui no Sudeste, como ter internet rápida, isso não existe na Amazônia. E isso tira as populações de onde elas estão. Uma proposta de conectividade vai ser uma das sugestões da Concertação. E isso liga com educação, por causa do ensino a distância, e com saúde, por conta da telemedicina. Não é uma Amazônia 4.0, é uma Amazônia 1.0 que a gente precisa apoiar. Se fala muito de inovação, de tecnologia de ponta, mas a verdade é que a gente precisa garantir as necessidades básicas daquelas pessoas que queiram ficar naquele território.

Mônica – A gente tem percebido que a conexão dessas pautas, e aí me refiro principalmente ao Congresso Nacional, não é necessariamente óbvia e não é necessariamente clara. Quando a gente fala, por exemplo, do PL 510, que hoje está no Senado, ele é um projeto de regularização fundiária, que ficou apelidado como PL da Grilagem. Ele procura mexer tanto no marco temporal quanto no tamanho dos modos fiscais e, portanto, nos tamanhos das propriedades que podem requerer títulos. É óbvio que em um país onde as emissões advêm do desmatamento esse tipo de iniciativa tem possibilidade de aumentar a derrubada da floresta. Essa conexão entre esse tema e o da grilagem e o do desmatamento, e o impacto disso em questões muito cotidianas como, por exemplo, o fato de que se houver mais desmatamento a gente contribui para o mundo que aquece e esse mundo que aquece vai ter mais chuva ou mais seca e, com isso, você tem menos produção de alimento ou quebra de safra e, dessa forma, gera inflação onde alimentos mais caros vão chegar ao prato do brasileiro, não é necessariamente clara para o político. E nem para o eleitor. Nessas eleições, voltando ao tema do início, temos uma oportunidade imensa de mostrar que esse é um assunto que importa e vai importar cada vez mais. E são temas que precisam estar em todo o espectro político.

Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú e secretária executiva da Uma Concertação pela Amazônia, e Mônica Sodré, diretora da Raps 

Lado a lado, Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú, e Mônica Sodré, diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), apresentam uma visão de mundo convergente sobre a Amazônia. Ambas, a partir de uma abordagem moderna sobre o que é o ambientalismo, trabalham para ajudar no desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, o que não poderá ser feito sem que a arena política, de forma sólida, embarque na causa. Leia a seguir trechos da entrevista das duas especialistas, que também atuam juntas no projeto Uma Concertação Pela Amazônia, frente ampla que reúne atualmente mais de 200 pessoas.

Qual a relação que podemos perceber, até aqui, entre a Amazônia e as eleições que se aproximam?

Renata Piazzon – Nosso grande objetivo neste ano é pautar o tema da Amazônia nas eleições. Para isso, construímos um documento a partir da contribuição de mais de 200 pessoas. Na Concertação, decidiu-se que era preciso organizar para os cem dias dos governos eleitos, e estamos olhando para o federal, o subnacional e Congresso Nacional, uma agenda integrada de desenvolvimento que contempla atos normativos para os primeiros cem dias. Não são propostas amplas, como a retomada do Fundo Amazônia, por exemplo. São realmente decretos ou projetos de lei ou instruções normativas que possam ser usados pelos políticos que forem eleitos.

Mônica Sodré – Conhecia-se muito pouco da equação política nos nove Estados que formam a Amazônia. Então, no âmbito da Raps, resolvemos fazer uma leitura política dessa região. Analisamos o comportamento de 91 deputados federais com base em sete matérias relacionadas ao tema ambiental. A principal conclusão do nosso estudo é que, dos 91 deputados, 46, portanto mais da metade, votam contra as pautas ambientais. Isso é um indicador do descolamento que existe hoje entre os políticos e os temas ambientais e também climáticos.

Nosso esforço é, primeiro, tratar a sustentabilidade para além de um viés apenas ambiental, e de mostrar que a Amazônia tem um papel central na equação climática do mundo, na nova geopolítica ambiental. Precisamos de políticos mais preparados e mais próximos dessa agenda e também capazes de dialogar com o restante do mundo sobre ela. O universo político tem se mostrado um tanto quanto distante dessa agenda.

Como implantar um projeto de desenvolvimento que seja realmente transversal?

Renata – Um dos pilares fundamentais do trabalho da Concertação é gerar desenvolvimento para a Amazônia indo além da agenda do antigo ambientalismo, ou de uma agenda restrita ao comando e controle. Lá em 2012, quando a gente conseguiu reduzir o desmatamento, não geramos prosperidade para a região. Não houve medidas e políticas de Estado que pudessem ter trazido prosperidade para os 30 milhões de pessoas que moram lá. Você tem 70% nas cidades.

Desde o início, a Concertação traz essa visão de desenvolvimento e esse olhar sistêmico para a região. As propostas que a gente vai colocar na mesa vão muito além da redução do desmatamento. São propostas de saúde, educação, conectividade, segurança pública e economia. A gente não vai conseguir reduzir o desmatamento e manter a redução se não tiver um olhar para as pessoas que vivem lá. A gente vem refletindo muito. Quais são esses novos modelos de desmatamento que conciliam o capital natural e a justiça social, e como a Concertação pode influenciar tanto o setor privado quanto lideranças políticas, sociedade civil e o campo da filantropia.

Não existe uma solução. São diferentes modelos de negócios para as diferentes amazônias. Ações que a gente vê como corriqueiras aqui no Sudeste, como ter internet rápida, isso não existe na Amazônia. E isso tira as populações de onde elas estão. Uma proposta de conectividade vai ser uma das sugestões da Concertação. E isso liga com educação, por causa do ensino a distância, e com saúde, por conta da telemedicina. Não é uma Amazônia 4.0, é uma Amazônia 1.0 que a gente precisa apoiar. Se fala muito de inovação, de tecnologia de ponta, mas a verdade é que a gente precisa garantir as necessidades básicas daquelas pessoas que queiram ficar naquele território.

Mônica – A gente tem percebido que a conexão dessas pautas, e aí me refiro principalmente ao Congresso Nacional, não é necessariamente óbvia e não é necessariamente clara. Quando a gente fala, por exemplo, do PL 510, que hoje está no Senado, ele é um projeto de regularização fundiária, que ficou apelidado como PL da Grilagem. Ele procura mexer tanto no marco temporal quanto no tamanho dos modos fiscais e, portanto, nos tamanhos das propriedades que podem requerer títulos. É óbvio que em um país onde as emissões advêm do desmatamento esse tipo de iniciativa tem possibilidade de aumentar a derrubada da floresta. Essa conexão entre esse tema e o da grilagem e o do desmatamento, e o impacto disso em questões muito cotidianas como, por exemplo, o fato de que se houver mais desmatamento a gente contribui para o mundo que aquece e esse mundo que aquece vai ter mais chuva ou mais seca e, com isso, você tem menos produção de alimento ou quebra de safra e, dessa forma, gera inflação onde alimentos mais caros vão chegar ao prato do brasileiro, não é necessariamente clara para o político. E nem para o eleitor. Nessas eleições, voltando ao tema do início, temos uma oportunidade imensa de mostrar que esse é um assunto que importa e vai importar cada vez mais. E são temas que precisam estar em todo o espectro político.

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