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Alertas de desmate na Amazônia em 10 meses já respondem por 92% das perdas no ano anterior


Entre agosto de 2019 até 28 de maio, o Inpe divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Entre agosto de 2018 a julho de 2019, foram 6.844 km² registrados. O acumulado em cinco meses é o maior desde 2015. Nesta sexta é Dia Mundial do Meio Ambiente

Por Giovana Girardi

Em apenas 10 meses, os alertas de desmatamento da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (de agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² registrados. Nesta sexta-feira, 5, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Dados divulgados no site Terrabrasilis mostram que no mês de maio (até o dia 28), houve o corte raso de 641,19 km². Maio do ano anterior teve perda um pouco maior, de 738,56 km², mas, no acumulado, este ano está na frente. 

Alertas de desmatamento de janeiro a maio, de acordo com o sistema Deter, do Inpe Foto: Estadão

De janeiro a maio, a perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² nos cinco primeiros meses do ano passado. Alta de 22%. Neste período de cinco meses, o agregado observado neste ano é o maior desde 2015. 

O dado, preocupante, mantém um cenário de alta que se instalou de modo consistente na Amazônia já há um ano. Com o agravante de que os meses de junho e julho são tradicionalmente os que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter uma devastação ainda mais elevada que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais que estão acontecendo em campo. Não serve como taxa oficial de desmatamento, mas é um bom termômetro da situação. 

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, este sim o sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes sempre mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano passado.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, de acordo com o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

A motosserra continua cantando alto na floresta meio em meio à pandemia de covid-19. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.

Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela doença, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte por garimpeiros ilegais.

Garimpo no rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020. Crédito: Chico Batata / Greenpeace Foto: Estadão

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que quase 40% dos Yanomami que vivem próximo a zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami podem ser contaminados pela covid-19.

A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegalmente em sua área. De acordo com o ISA, três Yanomami morreram da doença e há outros 55 casos confirmados entre os Yanomami e os Ye'kwana.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas desta região precisarão de atendimento médico devido aos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando", afirmou Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa.

"Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19", disse.

Fiscais relatam que situação em campo não está 'nada boa'

O crescimento dos crimes ambientais na Amazônia ocorre ao mesmo tempo em que veio à tona as falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu que o governo deveria aproveitar a "oportunidade" da pandemia e "ir passando a boiada" para mudar regramentos. Em maio, a gestão Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO), enviando o Exército para combater crimes ambientais. Fiscais do Ibama ficaram subordinados aos militares.

Em abril, após uma operação contra garimpo em terras indígenas no Pará, na qual houve destruição de equipamentos, toda a chefia de fiscalização do Ibama foi exonerada: o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, e os dois coordenadores das principais áreas de fiscalização do órgão ambiental, Renê Oliveira, da Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental (CGFIS), e Hugo Loss, da Coordenação de Operações e Fiscalização (Cofis).

Os dois fiscais, no início desta semana, publicaram um artigo no site de notícias ambientais Mongabay, relatando que a operação, porém, foi um sucesso para conter o desmatamento. Eles relataram que houve redução de 58% na devastação em terras indígenas após a operação do Ibama.

Ao Estadão, em condição de anonimato, fiscais do Ibama relataram que a situação em campo neste ano não está "nada boa". "Quando você vê uma tentativa de abrandar ou de uma releitura que beneficia quem está cometendo um crime, a sensação é de impotência. Tudo que se aprende e que guia a profissão é jogado fora para atender vontades espúrias que chegam a desafiar até mesmo a constituição. Neste ano a sensação de impotência é gigantesca. Os fiscais desenvolvem um trabalho fenomenal, zerando o desmatamento e garimpos em terras indígenas e recebem como prêmio uma 'intervenção militar' (a GLO)", afirmou um deles.

"O governo federal ignora a Amazônia e a covid. (Os fiscais) trabalhando com medo do vírus, de quem comete crimes ambientais e da perseguição por parte do governo", disse um deles. "Nesse contexto, de falsas promessas e de desconstrução da legislação ambiental, tem aumentado vertiginosamente a violência contra as equipes de fiscalização, com discursos de ódio e retaliações contra agentes", disse outro.

Um terceiro também comentou que as ameaças cresceram. "Grupos locais relacionados aos crimes ambientais ameaçam as equipes, armam emboscadas, agridem e não tem havido posicionamento por parte dos gestores no sentido de realizarem ações efetivas que aumentem a segurança dos agentes em campo. Essa gestão empoderou quem antes temia as ações do Ibama. Frequentemente falam 'O presidente está conosco, em breve essa terra será nossa'. Nessa gestão a fiscalização já foi recebida a tiros em Roraima e um fiscal já foi agredido no Pará, fatos que antes aconteciam numa escala bem menor.

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado nesta quinta para comentar as declarações dos fiscais, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em apenas 10 meses, os alertas de desmatamento da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (de agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² registrados. Nesta sexta-feira, 5, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Dados divulgados no site Terrabrasilis mostram que no mês de maio (até o dia 28), houve o corte raso de 641,19 km². Maio do ano anterior teve perda um pouco maior, de 738,56 km², mas, no acumulado, este ano está na frente. 

Alertas de desmatamento de janeiro a maio, de acordo com o sistema Deter, do Inpe Foto: Estadão

De janeiro a maio, a perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² nos cinco primeiros meses do ano passado. Alta de 22%. Neste período de cinco meses, o agregado observado neste ano é o maior desde 2015. 

O dado, preocupante, mantém um cenário de alta que se instalou de modo consistente na Amazônia já há um ano. Com o agravante de que os meses de junho e julho são tradicionalmente os que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter uma devastação ainda mais elevada que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais que estão acontecendo em campo. Não serve como taxa oficial de desmatamento, mas é um bom termômetro da situação. 

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, este sim o sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes sempre mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano passado.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, de acordo com o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

A motosserra continua cantando alto na floresta meio em meio à pandemia de covid-19. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.

Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela doença, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte por garimpeiros ilegais.

Garimpo no rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020. Crédito: Chico Batata / Greenpeace Foto: Estadão

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que quase 40% dos Yanomami que vivem próximo a zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami podem ser contaminados pela covid-19.

A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegalmente em sua área. De acordo com o ISA, três Yanomami morreram da doença e há outros 55 casos confirmados entre os Yanomami e os Ye'kwana.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas desta região precisarão de atendimento médico devido aos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando", afirmou Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa.

"Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19", disse.

Fiscais relatam que situação em campo não está 'nada boa'

O crescimento dos crimes ambientais na Amazônia ocorre ao mesmo tempo em que veio à tona as falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu que o governo deveria aproveitar a "oportunidade" da pandemia e "ir passando a boiada" para mudar regramentos. Em maio, a gestão Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO), enviando o Exército para combater crimes ambientais. Fiscais do Ibama ficaram subordinados aos militares.

Em abril, após uma operação contra garimpo em terras indígenas no Pará, na qual houve destruição de equipamentos, toda a chefia de fiscalização do Ibama foi exonerada: o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, e os dois coordenadores das principais áreas de fiscalização do órgão ambiental, Renê Oliveira, da Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental (CGFIS), e Hugo Loss, da Coordenação de Operações e Fiscalização (Cofis).

Os dois fiscais, no início desta semana, publicaram um artigo no site de notícias ambientais Mongabay, relatando que a operação, porém, foi um sucesso para conter o desmatamento. Eles relataram que houve redução de 58% na devastação em terras indígenas após a operação do Ibama.

Ao Estadão, em condição de anonimato, fiscais do Ibama relataram que a situação em campo neste ano não está "nada boa". "Quando você vê uma tentativa de abrandar ou de uma releitura que beneficia quem está cometendo um crime, a sensação é de impotência. Tudo que se aprende e que guia a profissão é jogado fora para atender vontades espúrias que chegam a desafiar até mesmo a constituição. Neste ano a sensação de impotência é gigantesca. Os fiscais desenvolvem um trabalho fenomenal, zerando o desmatamento e garimpos em terras indígenas e recebem como prêmio uma 'intervenção militar' (a GLO)", afirmou um deles.

"O governo federal ignora a Amazônia e a covid. (Os fiscais) trabalhando com medo do vírus, de quem comete crimes ambientais e da perseguição por parte do governo", disse um deles. "Nesse contexto, de falsas promessas e de desconstrução da legislação ambiental, tem aumentado vertiginosamente a violência contra as equipes de fiscalização, com discursos de ódio e retaliações contra agentes", disse outro.

Um terceiro também comentou que as ameaças cresceram. "Grupos locais relacionados aos crimes ambientais ameaçam as equipes, armam emboscadas, agridem e não tem havido posicionamento por parte dos gestores no sentido de realizarem ações efetivas que aumentem a segurança dos agentes em campo. Essa gestão empoderou quem antes temia as ações do Ibama. Frequentemente falam 'O presidente está conosco, em breve essa terra será nossa'. Nessa gestão a fiscalização já foi recebida a tiros em Roraima e um fiscal já foi agredido no Pará, fatos que antes aconteciam numa escala bem menor.

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado nesta quinta para comentar as declarações dos fiscais, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em apenas 10 meses, os alertas de desmatamento da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (de agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² registrados. Nesta sexta-feira, 5, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Dados divulgados no site Terrabrasilis mostram que no mês de maio (até o dia 28), houve o corte raso de 641,19 km². Maio do ano anterior teve perda um pouco maior, de 738,56 km², mas, no acumulado, este ano está na frente. 

Alertas de desmatamento de janeiro a maio, de acordo com o sistema Deter, do Inpe Foto: Estadão

De janeiro a maio, a perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² nos cinco primeiros meses do ano passado. Alta de 22%. Neste período de cinco meses, o agregado observado neste ano é o maior desde 2015. 

O dado, preocupante, mantém um cenário de alta que se instalou de modo consistente na Amazônia já há um ano. Com o agravante de que os meses de junho e julho são tradicionalmente os que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter uma devastação ainda mais elevada que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais que estão acontecendo em campo. Não serve como taxa oficial de desmatamento, mas é um bom termômetro da situação. 

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, este sim o sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes sempre mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano passado.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, de acordo com o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

A motosserra continua cantando alto na floresta meio em meio à pandemia de covid-19. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.

Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela doença, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte por garimpeiros ilegais.

Garimpo no rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020. Crédito: Chico Batata / Greenpeace Foto: Estadão

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que quase 40% dos Yanomami que vivem próximo a zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami podem ser contaminados pela covid-19.

A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegalmente em sua área. De acordo com o ISA, três Yanomami morreram da doença e há outros 55 casos confirmados entre os Yanomami e os Ye'kwana.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas desta região precisarão de atendimento médico devido aos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando", afirmou Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa.

"Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19", disse.

Fiscais relatam que situação em campo não está 'nada boa'

O crescimento dos crimes ambientais na Amazônia ocorre ao mesmo tempo em que veio à tona as falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu que o governo deveria aproveitar a "oportunidade" da pandemia e "ir passando a boiada" para mudar regramentos. Em maio, a gestão Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO), enviando o Exército para combater crimes ambientais. Fiscais do Ibama ficaram subordinados aos militares.

Em abril, após uma operação contra garimpo em terras indígenas no Pará, na qual houve destruição de equipamentos, toda a chefia de fiscalização do Ibama foi exonerada: o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, e os dois coordenadores das principais áreas de fiscalização do órgão ambiental, Renê Oliveira, da Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental (CGFIS), e Hugo Loss, da Coordenação de Operações e Fiscalização (Cofis).

Os dois fiscais, no início desta semana, publicaram um artigo no site de notícias ambientais Mongabay, relatando que a operação, porém, foi um sucesso para conter o desmatamento. Eles relataram que houve redução de 58% na devastação em terras indígenas após a operação do Ibama.

Ao Estadão, em condição de anonimato, fiscais do Ibama relataram que a situação em campo neste ano não está "nada boa". "Quando você vê uma tentativa de abrandar ou de uma releitura que beneficia quem está cometendo um crime, a sensação é de impotência. Tudo que se aprende e que guia a profissão é jogado fora para atender vontades espúrias que chegam a desafiar até mesmo a constituição. Neste ano a sensação de impotência é gigantesca. Os fiscais desenvolvem um trabalho fenomenal, zerando o desmatamento e garimpos em terras indígenas e recebem como prêmio uma 'intervenção militar' (a GLO)", afirmou um deles.

"O governo federal ignora a Amazônia e a covid. (Os fiscais) trabalhando com medo do vírus, de quem comete crimes ambientais e da perseguição por parte do governo", disse um deles. "Nesse contexto, de falsas promessas e de desconstrução da legislação ambiental, tem aumentado vertiginosamente a violência contra as equipes de fiscalização, com discursos de ódio e retaliações contra agentes", disse outro.

Um terceiro também comentou que as ameaças cresceram. "Grupos locais relacionados aos crimes ambientais ameaçam as equipes, armam emboscadas, agridem e não tem havido posicionamento por parte dos gestores no sentido de realizarem ações efetivas que aumentem a segurança dos agentes em campo. Essa gestão empoderou quem antes temia as ações do Ibama. Frequentemente falam 'O presidente está conosco, em breve essa terra será nossa'. Nessa gestão a fiscalização já foi recebida a tiros em Roraima e um fiscal já foi agredido no Pará, fatos que antes aconteciam numa escala bem menor.

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado nesta quinta para comentar as declarações dos fiscais, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em apenas 10 meses, os alertas de desmatamento da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (de agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² registrados. Nesta sexta-feira, 5, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Dados divulgados no site Terrabrasilis mostram que no mês de maio (até o dia 28), houve o corte raso de 641,19 km². Maio do ano anterior teve perda um pouco maior, de 738,56 km², mas, no acumulado, este ano está na frente. 

Alertas de desmatamento de janeiro a maio, de acordo com o sistema Deter, do Inpe Foto: Estadão

De janeiro a maio, a perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² nos cinco primeiros meses do ano passado. Alta de 22%. Neste período de cinco meses, o agregado observado neste ano é o maior desde 2015. 

O dado, preocupante, mantém um cenário de alta que se instalou de modo consistente na Amazônia já há um ano. Com o agravante de que os meses de junho e julho são tradicionalmente os que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter uma devastação ainda mais elevada que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais que estão acontecendo em campo. Não serve como taxa oficial de desmatamento, mas é um bom termômetro da situação. 

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, este sim o sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes sempre mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano passado.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, de acordo com o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

A motosserra continua cantando alto na floresta meio em meio à pandemia de covid-19. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.

Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela doença, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte por garimpeiros ilegais.

Garimpo no rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020. Crédito: Chico Batata / Greenpeace Foto: Estadão

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que quase 40% dos Yanomami que vivem próximo a zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami podem ser contaminados pela covid-19.

A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegalmente em sua área. De acordo com o ISA, três Yanomami morreram da doença e há outros 55 casos confirmados entre os Yanomami e os Ye'kwana.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas desta região precisarão de atendimento médico devido aos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando", afirmou Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa.

"Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19", disse.

Fiscais relatam que situação em campo não está 'nada boa'

O crescimento dos crimes ambientais na Amazônia ocorre ao mesmo tempo em que veio à tona as falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu que o governo deveria aproveitar a "oportunidade" da pandemia e "ir passando a boiada" para mudar regramentos. Em maio, a gestão Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO), enviando o Exército para combater crimes ambientais. Fiscais do Ibama ficaram subordinados aos militares.

Em abril, após uma operação contra garimpo em terras indígenas no Pará, na qual houve destruição de equipamentos, toda a chefia de fiscalização do Ibama foi exonerada: o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, e os dois coordenadores das principais áreas de fiscalização do órgão ambiental, Renê Oliveira, da Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental (CGFIS), e Hugo Loss, da Coordenação de Operações e Fiscalização (Cofis).

Os dois fiscais, no início desta semana, publicaram um artigo no site de notícias ambientais Mongabay, relatando que a operação, porém, foi um sucesso para conter o desmatamento. Eles relataram que houve redução de 58% na devastação em terras indígenas após a operação do Ibama.

Ao Estadão, em condição de anonimato, fiscais do Ibama relataram que a situação em campo neste ano não está "nada boa". "Quando você vê uma tentativa de abrandar ou de uma releitura que beneficia quem está cometendo um crime, a sensação é de impotência. Tudo que se aprende e que guia a profissão é jogado fora para atender vontades espúrias que chegam a desafiar até mesmo a constituição. Neste ano a sensação de impotência é gigantesca. Os fiscais desenvolvem um trabalho fenomenal, zerando o desmatamento e garimpos em terras indígenas e recebem como prêmio uma 'intervenção militar' (a GLO)", afirmou um deles.

"O governo federal ignora a Amazônia e a covid. (Os fiscais) trabalhando com medo do vírus, de quem comete crimes ambientais e da perseguição por parte do governo", disse um deles. "Nesse contexto, de falsas promessas e de desconstrução da legislação ambiental, tem aumentado vertiginosamente a violência contra as equipes de fiscalização, com discursos de ódio e retaliações contra agentes", disse outro.

Um terceiro também comentou que as ameaças cresceram. "Grupos locais relacionados aos crimes ambientais ameaçam as equipes, armam emboscadas, agridem e não tem havido posicionamento por parte dos gestores no sentido de realizarem ações efetivas que aumentem a segurança dos agentes em campo. Essa gestão empoderou quem antes temia as ações do Ibama. Frequentemente falam 'O presidente está conosco, em breve essa terra será nossa'. Nessa gestão a fiscalização já foi recebida a tiros em Roraima e um fiscal já foi agredido no Pará, fatos que antes aconteciam numa escala bem menor.

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado nesta quinta para comentar as declarações dos fiscais, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em apenas 10 meses, os alertas de desmatamento da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (de agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² registrados. Nesta sexta-feira, 5, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Dados divulgados no site Terrabrasilis mostram que no mês de maio (até o dia 28), houve o corte raso de 641,19 km². Maio do ano anterior teve perda um pouco maior, de 738,56 km², mas, no acumulado, este ano está na frente. 

Alertas de desmatamento de janeiro a maio, de acordo com o sistema Deter, do Inpe Foto: Estadão

De janeiro a maio, a perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² nos cinco primeiros meses do ano passado. Alta de 22%. Neste período de cinco meses, o agregado observado neste ano é o maior desde 2015. 

O dado, preocupante, mantém um cenário de alta que se instalou de modo consistente na Amazônia já há um ano. Com o agravante de que os meses de junho e julho são tradicionalmente os que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter uma devastação ainda mais elevada que a do ano passado.

O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais que estão acontecendo em campo. Não serve como taxa oficial de desmatamento, mas é um bom termômetro da situação. 

Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, este sim o sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes sempre mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano passado.

Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, de acordo com o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior.

A motosserra continua cantando alto na floresta meio em meio à pandemia de covid-19. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.

Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela doença, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte por garimpeiros ilegais.

Garimpo no rio Mucajaí, na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2020. Crédito: Chico Batata / Greenpeace Foto: Estadão

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que quase 40% dos Yanomami que vivem próximo a zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami podem ser contaminados pela covid-19.

A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegalmente em sua área. De acordo com o ISA, três Yanomami morreram da doença e há outros 55 casos confirmados entre os Yanomami e os Ye'kwana.

"Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, neste período as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas desta região precisarão de atendimento médico devido aos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando", afirmou Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa.

"Isso por si só já é um enorme problema ao qual seguimos lutando contra. No entanto este ano, com a crise do sistema de saúde, os danos das queimadas na Amazônia podem ser fatais, pois tende a sobrecarregar um sistema de saúde já bastante sobrecarregado, devido a covid-19", disse.

Fiscais relatam que situação em campo não está 'nada boa'

O crescimento dos crimes ambientais na Amazônia ocorre ao mesmo tempo em que veio à tona as falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que defendeu que o governo deveria aproveitar a "oportunidade" da pandemia e "ir passando a boiada" para mudar regramentos. Em maio, a gestão Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO), enviando o Exército para combater crimes ambientais. Fiscais do Ibama ficaram subordinados aos militares.

Em abril, após uma operação contra garimpo em terras indígenas no Pará, na qual houve destruição de equipamentos, toda a chefia de fiscalização do Ibama foi exonerada: o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, e os dois coordenadores das principais áreas de fiscalização do órgão ambiental, Renê Oliveira, da Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental (CGFIS), e Hugo Loss, da Coordenação de Operações e Fiscalização (Cofis).

Os dois fiscais, no início desta semana, publicaram um artigo no site de notícias ambientais Mongabay, relatando que a operação, porém, foi um sucesso para conter o desmatamento. Eles relataram que houve redução de 58% na devastação em terras indígenas após a operação do Ibama.

Ao Estadão, em condição de anonimato, fiscais do Ibama relataram que a situação em campo neste ano não está "nada boa". "Quando você vê uma tentativa de abrandar ou de uma releitura que beneficia quem está cometendo um crime, a sensação é de impotência. Tudo que se aprende e que guia a profissão é jogado fora para atender vontades espúrias que chegam a desafiar até mesmo a constituição. Neste ano a sensação de impotência é gigantesca. Os fiscais desenvolvem um trabalho fenomenal, zerando o desmatamento e garimpos em terras indígenas e recebem como prêmio uma 'intervenção militar' (a GLO)", afirmou um deles.

"O governo federal ignora a Amazônia e a covid. (Os fiscais) trabalhando com medo do vírus, de quem comete crimes ambientais e da perseguição por parte do governo", disse um deles. "Nesse contexto, de falsas promessas e de desconstrução da legislação ambiental, tem aumentado vertiginosamente a violência contra as equipes de fiscalização, com discursos de ódio e retaliações contra agentes", disse outro.

Um terceiro também comentou que as ameaças cresceram. "Grupos locais relacionados aos crimes ambientais ameaçam as equipes, armam emboscadas, agridem e não tem havido posicionamento por parte dos gestores no sentido de realizarem ações efetivas que aumentem a segurança dos agentes em campo. Essa gestão empoderou quem antes temia as ações do Ibama. Frequentemente falam 'O presidente está conosco, em breve essa terra será nossa'. Nessa gestão a fiscalização já foi recebida a tiros em Roraima e um fiscal já foi agredido no Pará, fatos que antes aconteciam numa escala bem menor.

O Ministério do Meio Ambiente foi procurado nesta quinta para comentar as declarações dos fiscais, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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