A próxima cúpula da ONU sobre as mudanças climáticas deverá ser sediada no Azerbaijão, anunciou em Dubai o ministro da Ecologia do país, Mukhtar Babayev, que afirmou que o seu país chegou a um consenso para receber o evento. O anúncio feito no sábado, 9, resolve um impasse político amargo que durou meses sobre qual nação deveria acolher a cúpula no próximo ano. A COP-29 do Clima está prevista para ocorrer entre os dias 11 e 22 de novembro de 2024. No ano seguinte, já está definido que a COP-30 será em Belém, no Pará.
O Azerbaijão será o terceiro grande produtor consecutivo de petróleo e gás a acolher as negociações anuais da ONU sobre o combate ao aquecimento global, que é em grande parte causado pela queima de combustíveis fósseis. A cúpula deste ano, conhecida como COP-28, está sendo realizada nos Emirados Árabes Unidos, o sétimo maior produtor mundial de petróleo. Em 2022, o Egito sediou a COP.
O governo do Azerbaijão é considerado autoritário por muitos analistas. Grupos de direitos humanos documentaram corrupção generalizada e repressão política durante os 20 anos de governo do presidente do país, Ilham Aliyev.
Por tradição, o encontro da ONU sobre o clima deveria ocorrer em uma parte diferente do mundo todos os anos. O Grupo dos Estados da Europa Oriental, que inclui antigos estados soviéticos, estava programado para sediar a cúpula em 2024 e precisava chegar a um consenso sobre qual dos seus membros seria o anfitrião. Entretanto, a Rússia bloqueou a escolha de qualquer país que estivesse condenando a sua invasão à Ucrânia, vetando potenciais candidatos como Bulgária, Eslovênia e Moldávia.
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Azerbaijão vive conflito com Armênia
Ao mesmo tempo em que a Rússia bloqueava seus oponentes, a Armênia e o Azerbaijão ameaçaram vetar as propostas um do outro. Os países se enfrentam há décadas em um conflito territorial sobre a região de Nagorno Karabakh, que o Azerbaijão reconquistou em setembro à força, após uma ofensiva devastadora contra os separatistas armênios, no mais recente confronto de longa data sobre o território disputado.
Quase toda a população armênia da região, mais de 100 mil pessoas das 120 mil, fugiu para a Armênia, no que alguns chamaram de limpeza étnica. Incidentes armados têm sido registrados com frequência na fronteira oficial entre os dois países.
Um avanço ocorreu na sexta-feira, 8, quando a Armênia disse que apoiaria a candidatura do Azerbaijão para acolher a próxima conferência sobre alterações climáticas. Embora os dois países ainda não tenham chegado a um acordo de paz formal, os governos descreveram a decisão como um “gesto de boa vontade” numa declaração conjunta.
Alguns especialistas em clima saudaram o fim do impasse. Nos próximos dois anos, os países deverão redigir e apresentar planos nacionais novos e atualizados para reduzir as emissões entre 2030 e 2035. Mas, sem um novo anfitrião, seria difícil iniciar os preparativos.
“É bom que a incerteza sobre quem sediará a COP29 tenha acabado”, disse Kaveh Guilanpour, vice-presidente do Centro de Energia e Soluções Climáticas.
Governo repressivo preocupa
Alguns ativistas, porém, levantaram preocupações sobre outra conferência sobre o clima a ser realizada numa nação autoritária que obtém grande parte das suas receitas do petróleo e do gás. As cúpulas anuais apresentam tradicionalmente protestos e marchas de grupos da sociedade civil, embora essas atividades tenham sido restringidas este ano no regime politicamente repressivo dos Emirados Árabes Unidos.
O Azerbaijão é presidido por Ilham Aliyev, no poder desde 2003 depois de suceder seu falecido pai, conhecido por governar em uma linha dura o país, que é uma antiga república soviética rica em hidrocarbonetos, suprimindo toda a oposição.
David Tong, ativista da Oil Change International, um grupo que apela ao fim da utilização de petróleo e gás, disse em comunicado que as Nações Unidas devem garantir a liberdade de expressão dos grupos da sociedade civil e dos meios de comunicação e uma “estrita política de conflito de interesses” sobre combustíveis fósseis.
“Onde quer que as negociações sobre o clima sejam realizadas no próximo ano, os 2.400 lobistas dos combustíveis fósseis aqui não devem ter lugar na próxima conferência”, disse ele. / AFP e The New York Times.