Desde que, navegando em sua caravela, o explorador português Gaspar de Lemos descobriu a Baía de Guanabara, em 1502, centenas de embarcações afundaram em suas águas. Tantas, que começam a atrapalhar a navegação e a chegada de barcos aos cais em uma das mais belas e importantes baías costeiras do Brasil. Por isso, uma força-tarefa liderada pela autoridade portuária PortosRio e integrada por órgãos do governo do Estado do Rio começou nos últimos meses a retirar embarcações ou carcaças abandonadas na baía.
O grupo se orienta por um relatório da Capitania dos Portos que lista 51 embarcações e cascos abandonados há pelo menos cinco anos na região. Todos receberam a declaração de perdimento (perda da propriedade) da autoridade marítima, etapa essencial para o início de sua remoção.
O primeiro barco, naufragado havia mais de dez anos, começou a ser retirado em 17 de maio. O trabalho demora cerca de cinco dias e os destroços são encaminhados para locais onde o material reutilizável possa ser recolhido.
Em 29 de junho, começou a 2ª etapa do projeto. Com apoio da prefeitura de Niterói, na região metropolitana, começaram a ser retiradas do mar cinco embarcações encalhadas na altura da Ilha da Conceição, em Niterói, próximos a um cais utilizado para descarregar peixes. Os barcos são construídos majoritariamente em madeira e têm porte médio, o maior deles com cerca de 28 metros.
“Essas embarcações dificultam o acesso dos barcos de pesca ao cais, diminuindo a área de atracação e obrigando os pescadores a esperar mais tempo para conseguir atracar e descarregar seus barcos”, afirma o secretário estadual de Energia e Economia do Mar, Hugo Leal.. Além disso, oferecem risco de acidentes durante as manobras”, diz.
A retirada dessas embarcações representa também a eliminação de uma das fontes de poluição da baía de Guanabara: “O principal problema ambiental (da presença de embarcações abandonadas) é a possível liberação de produtos como óleo, combustíveis e outros elementos contaminantes nas águas da baía”, diz o biólogo e mestre em ecologia Mario Moscatelli.
Segundo ele, já ocorreram vários casos de liberação de óleo na água da Baía de Guanabara. Mas, como nunca se consegue provar de onde o produto vazara, não houve punição. “A Baía de Guanabara tem um controle ambiental ainda pouco eficiente. Espera-se que, com a retirada das embarcações abandonadas, o quadro possa melhorar”, diz o especialista.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Niterói, todo o material de madeira recolhido é acondicionado em um terreno da prefeitura e depois encaminhado para um centro de tratamento de resíduos.
Para a retirada dos barcos, são utilizados mergulhadores, balsas com barreira de contenção e guindastes para as partes maiores e mais pesadas. “Vamos retirar todas as embarcações listadas no relatório da Capitania dos Portos e transformar a Baía de Guanabara em área saudável, beneficiando o ambiente, a economia e o turismo”, diz Álvaro Sávio, presidente da autoridade portuária PortosRio.
“A retirada desses cinco barcos é uma ação minuciosa, até porque vai ser realizada sem a interdição total do cais”, acrescenta ele.
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Um dos maiores cartões-postais do País virou um ‘cemitério flutuante’, com mais de 50 navios-fantasma sem tripulação e cascos abandonados
Na última semana de julho, começou a retirada a terceira das cinco embarcações desse grupo. Além da autoridade portuária, participam da força-tarefa a Capitania dos Portos, a Secretaria Estadual de Energia e Economia do Mar, a Secretaria Estadual de Ambiente e Sustentabilidade, o Instituto Estadual do Ambiente e a prefeitura de Niterói.
Cemitério flutuante
A Baía de Guanabana é considerada há décadas um cemitério flutuante, com navios-fantasma sem tripulação. Em novembro do ano passado, um navio à deriva bateu na Ponte Rio-Niterói, e forçou a interdição da via nos dois sentidos. Devido às condições climáticas, a amarra do navio São Luiz se partiu e, por isso, a embarcação se moveu do local onde se encontrava fundeada em direção ponte.
O navio São Luiz estava havia seis anos e nove meses fundeado e fazia parte de conjunto de barcos comidos pela ferrugem e pelas cracas espalhados pelas águas da Baía de Guanabara, sem tripulação nem propulsão ativa.
Especialistas apontam que barcos e outras embarcações de diferentes portes abandonadas e apodrecendo representam crescentes impactos ou prejuízos à pesca e o impedimento da navegação.
Para piorar, somam-se o lixo náutico (cascos, peças e equipamentos), lixo urbano, esgoto despejado por municípios e riscos de vazamento químico. A bacia hidrográfica da Baía de Guanabara compreende 35 rios, que nela deságuam, e 53 praias.
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