Fazendeiros apostam em biofábrica e transformação de dejetos em energia elétrica


Financiamento de projetos voltados para a agricultura sustentável é considerado um dos principais pilares da Agenda 2030, que visa a reduzir os impactos ambientais

Por Aline Reskalla
Atualização:

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos, técnica que consiste na aplicação de fungos e bactérias que equilibram o ambiente, favorecendo o aumento da produtividade nas lavouras e a resistência natural às pragas.

Jan Luitie, o proprietário, conta que sempre se incomodou com a dependência crescente de produtos químicos na plantação. “Sempre vinha a receita pronta: tantos quilos de adubo, tantos litros daquilo. Começamos a perceber que estávamos cada vez mais dependentes. No caso da soja, principalmente, precisava aplicar antes de plantar, durante a safra, e depois. Isso acaba matando a vida biológica do solo”, diz o produtor.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos. Na foto, Jan Luitie, o proprietário. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

Ele veio com a família da Holanda para o Brasil há 40 anos e relata ver que as propriedades rurais, ao longo do tempo, passaram a criar plantas que só sobrevivem com com esses recursos artificiais. “E assim a raiz não trabalha mais para a planta. Não há mais raízes saudáveis”, acrescenta Jean Luitie.

Desse incômodo de Luitie vieram as pesquisas para mudar o sistema produtivo da propriedade. Os bioinsumos surgiram como alternativa que somaria três benefícios para o negócio: redução de custos com aquisição de produção químicos, além de regeneração da terra degradada e a sustentabilidade da produção.

Há um ano, ele conseguiu tirar do papel o sonho de construir uma biofábrica na fazenda. Financiado por uma linha de crédito especifica para projetos de agricultura sustentável, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Luitie passou a multiplicar biofertilizantes em laboratório.

“Nossa plantação hoje ocupa 4,5 mil hectares, a maior parte é arrendamento, e a biofábrica ainda não atende a área toda. Mas tentamos fazer o controle 100% biológico na terra própria”, afirma.

Segundo ele, ainda há um longo caminho. “O mal que os químicos causaram durante esses últimos 20, 30 anos a gente não consegue desfazer em um ano, nem em dois. Isso é demorado”, acrescenta.

Bióloga Ana Carolina Melo de Almeida é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

A bióloga Ana Carolina Melo de Almeida, nora de Jan Luitie, é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Pós-graduada em Bioinsumos e mestre em Botânica Aplicada, Almeida explica que a chamada “produção on-farm” (na fazenda) permite a aplicação no campo de doses de micro-organismos que realmente são efetivos no controle dos patógenos, sejam eles fungos ou bactérias, que vão causar dano à lavoura.

“Com isso você consegue ter alto desenvolvimento do plantio, com redução de custo, e colocando doses de micro-organismos que vão equilibrar o meio ambiente, favorecendo o aumento da produtividade e a regeneração de ecossistemas”, explica.

Esta, aliás, é uma exigência crescente do próprio mercado importador, especialmente a União Europeia, que tem endurecido as regras para priorizar a entrada de alimentos mais sustentáveis. E com um produto cada vez mais orgânico, a Fazenda Agro Verde, que já fornece soja para uma agroindústria exportadora, agora sonha mais alto: vender diretamente para os países do bloco.

Crédito e agenda 2030

O financiamento de projetos de sustentabilidade é considerado um dos principais pilares da Agenda 2030, na qual representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), entre eles o Brasil, comprometeram-se com um plano de ação global que reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas.

Essas metas foram criadas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Estimativas da própria ONU indicam que sejam necessários investimentos de 1,5% a 2,5% do PIB global para para viabilizar a Agenda 2030.

Os bancos de desenvolvimento têm puxado a oferta de crédito para projetos de sustentabilidade. “No ano passado, 40% dos financiamentos liberados pelo BDMG estavam alinhados a pelo menos um ODS. Neste ano, já avançamos muito. Entre janeiro e julho de 2024, 52% dos nossos desembolsos estão alinhados aos ODS. Isso revela, sim, demanda maior por financiamentos de projetos nesse sentido”, diz o presidente do BDMG, Gabriel Viégas Neto.

Segundo ele, isso significa que, do total de R$ 1,76 bilhão desembolsados pelo banco até julho para empresas e o setor público, R$ 925,5 milhões foram para projetos de sustentabilidade, incluindo agricultura sustentável. Para serem financiados, os projetos precisam estar dentro do escopo dos itens financiáveis.

Produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

No caso específico da Fazenda AgroVerde, o financiamento foi obtido por meio do programa LabAgrominas, que contempla duas linhas: Solo Mais e Bioinsumos com taxas acessíveis. A linha Solo Mais, contratada pelo produtor Jan Luitje, financia a contratação de assistência técnica, compra, transporte e aplicação de remineralizadores de solo, plantas de cobertura, fertilizantes naturais, compostos orgânicos e organominerais, além de bioinsumos.

Já o produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais: o que fazer com 350 mil litros diários de dejetos vindos da pecuária leiteira e da suinocultura? A solução foi adotar o sistema de biodigestores, que a partir do tratamento do material produz energia elétrica e fertilizantes naturais.

”O gás metano, fruto dos dejetos dos animais, deixou de ser um poluente para ser uma solução sustentável e de proteção do meio ambiente. Produzimos energia elétrica e biofertilizantes que substituem o adubo químico. O que era malefício virou atrativo financeiro”, explica Franco sobre o investimento que garantiu que a propriedade se tornasse autossustentável em energia.

Fundos irrigam projetos verdes

Com a perspectiva de crescimento do crédito verde, em julho o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa anunciaram a criação de um fundo de investimento (ETF) com foco em projetos sustentáveis na Amazônia. A iniciativa tem parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e foi divulgada durante evento do G-20, que reúne ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais das 20 maiores economias do planeta, no Rio.

Em dezembro de 2023, durante a COP-27, em Dubai, 20 bancos de fomento anunciaram a Coalizão Verde, com objetivo de mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões para o desenvolvimento sustentável da Amazônia até 2030.

E o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) recebeu, em abril, o valor recorde de R$ 10,4 bilhões do Fundo Clima (FC), maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo (REDD+). Para se ter ideia, entre 2011 e 2022, o fundo gerido pelo BNDES recebeu R$ 2,5 bilhões. O banco estima que o Fundo Clima vai desembolsar R$ 32,1 bilhões até 2026, com destaque para projetos de energia e transporte limpo.

“O Fundo Clima já mudou de patamar: de 2022 para 2023, saltou de R$ 170 milhões para R$ 814 milhões desembolsados”, disse, em julho, o diretor Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos, técnica que consiste na aplicação de fungos e bactérias que equilibram o ambiente, favorecendo o aumento da produtividade nas lavouras e a resistência natural às pragas.

Jan Luitie, o proprietário, conta que sempre se incomodou com a dependência crescente de produtos químicos na plantação. “Sempre vinha a receita pronta: tantos quilos de adubo, tantos litros daquilo. Começamos a perceber que estávamos cada vez mais dependentes. No caso da soja, principalmente, precisava aplicar antes de plantar, durante a safra, e depois. Isso acaba matando a vida biológica do solo”, diz o produtor.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos. Na foto, Jan Luitie, o proprietário. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

Ele veio com a família da Holanda para o Brasil há 40 anos e relata ver que as propriedades rurais, ao longo do tempo, passaram a criar plantas que só sobrevivem com com esses recursos artificiais. “E assim a raiz não trabalha mais para a planta. Não há mais raízes saudáveis”, acrescenta Jean Luitie.

Desse incômodo de Luitie vieram as pesquisas para mudar o sistema produtivo da propriedade. Os bioinsumos surgiram como alternativa que somaria três benefícios para o negócio: redução de custos com aquisição de produção químicos, além de regeneração da terra degradada e a sustentabilidade da produção.

Há um ano, ele conseguiu tirar do papel o sonho de construir uma biofábrica na fazenda. Financiado por uma linha de crédito especifica para projetos de agricultura sustentável, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Luitie passou a multiplicar biofertilizantes em laboratório.

“Nossa plantação hoje ocupa 4,5 mil hectares, a maior parte é arrendamento, e a biofábrica ainda não atende a área toda. Mas tentamos fazer o controle 100% biológico na terra própria”, afirma.

Segundo ele, ainda há um longo caminho. “O mal que os químicos causaram durante esses últimos 20, 30 anos a gente não consegue desfazer em um ano, nem em dois. Isso é demorado”, acrescenta.

Bióloga Ana Carolina Melo de Almeida é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

A bióloga Ana Carolina Melo de Almeida, nora de Jan Luitie, é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Pós-graduada em Bioinsumos e mestre em Botânica Aplicada, Almeida explica que a chamada “produção on-farm” (na fazenda) permite a aplicação no campo de doses de micro-organismos que realmente são efetivos no controle dos patógenos, sejam eles fungos ou bactérias, que vão causar dano à lavoura.

“Com isso você consegue ter alto desenvolvimento do plantio, com redução de custo, e colocando doses de micro-organismos que vão equilibrar o meio ambiente, favorecendo o aumento da produtividade e a regeneração de ecossistemas”, explica.

Esta, aliás, é uma exigência crescente do próprio mercado importador, especialmente a União Europeia, que tem endurecido as regras para priorizar a entrada de alimentos mais sustentáveis. E com um produto cada vez mais orgânico, a Fazenda Agro Verde, que já fornece soja para uma agroindústria exportadora, agora sonha mais alto: vender diretamente para os países do bloco.

Crédito e agenda 2030

O financiamento de projetos de sustentabilidade é considerado um dos principais pilares da Agenda 2030, na qual representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), entre eles o Brasil, comprometeram-se com um plano de ação global que reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas.

Essas metas foram criadas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Estimativas da própria ONU indicam que sejam necessários investimentos de 1,5% a 2,5% do PIB global para para viabilizar a Agenda 2030.

Os bancos de desenvolvimento têm puxado a oferta de crédito para projetos de sustentabilidade. “No ano passado, 40% dos financiamentos liberados pelo BDMG estavam alinhados a pelo menos um ODS. Neste ano, já avançamos muito. Entre janeiro e julho de 2024, 52% dos nossos desembolsos estão alinhados aos ODS. Isso revela, sim, demanda maior por financiamentos de projetos nesse sentido”, diz o presidente do BDMG, Gabriel Viégas Neto.

Segundo ele, isso significa que, do total de R$ 1,76 bilhão desembolsados pelo banco até julho para empresas e o setor público, R$ 925,5 milhões foram para projetos de sustentabilidade, incluindo agricultura sustentável. Para serem financiados, os projetos precisam estar dentro do escopo dos itens financiáveis.

Produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

No caso específico da Fazenda AgroVerde, o financiamento foi obtido por meio do programa LabAgrominas, que contempla duas linhas: Solo Mais e Bioinsumos com taxas acessíveis. A linha Solo Mais, contratada pelo produtor Jan Luitje, financia a contratação de assistência técnica, compra, transporte e aplicação de remineralizadores de solo, plantas de cobertura, fertilizantes naturais, compostos orgânicos e organominerais, além de bioinsumos.

Já o produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais: o que fazer com 350 mil litros diários de dejetos vindos da pecuária leiteira e da suinocultura? A solução foi adotar o sistema de biodigestores, que a partir do tratamento do material produz energia elétrica e fertilizantes naturais.

”O gás metano, fruto dos dejetos dos animais, deixou de ser um poluente para ser uma solução sustentável e de proteção do meio ambiente. Produzimos energia elétrica e biofertilizantes que substituem o adubo químico. O que era malefício virou atrativo financeiro”, explica Franco sobre o investimento que garantiu que a propriedade se tornasse autossustentável em energia.

Fundos irrigam projetos verdes

Com a perspectiva de crescimento do crédito verde, em julho o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa anunciaram a criação de um fundo de investimento (ETF) com foco em projetos sustentáveis na Amazônia. A iniciativa tem parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e foi divulgada durante evento do G-20, que reúne ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais das 20 maiores economias do planeta, no Rio.

Em dezembro de 2023, durante a COP-27, em Dubai, 20 bancos de fomento anunciaram a Coalizão Verde, com objetivo de mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões para o desenvolvimento sustentável da Amazônia até 2030.

E o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) recebeu, em abril, o valor recorde de R$ 10,4 bilhões do Fundo Clima (FC), maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo (REDD+). Para se ter ideia, entre 2011 e 2022, o fundo gerido pelo BNDES recebeu R$ 2,5 bilhões. O banco estima que o Fundo Clima vai desembolsar R$ 32,1 bilhões até 2026, com destaque para projetos de energia e transporte limpo.

“O Fundo Clima já mudou de patamar: de 2022 para 2023, saltou de R$ 170 milhões para R$ 814 milhões desembolsados”, disse, em julho, o diretor Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos, técnica que consiste na aplicação de fungos e bactérias que equilibram o ambiente, favorecendo o aumento da produtividade nas lavouras e a resistência natural às pragas.

Jan Luitie, o proprietário, conta que sempre se incomodou com a dependência crescente de produtos químicos na plantação. “Sempre vinha a receita pronta: tantos quilos de adubo, tantos litros daquilo. Começamos a perceber que estávamos cada vez mais dependentes. No caso da soja, principalmente, precisava aplicar antes de plantar, durante a safra, e depois. Isso acaba matando a vida biológica do solo”, diz o produtor.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos. Na foto, Jan Luitie, o proprietário. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

Ele veio com a família da Holanda para o Brasil há 40 anos e relata ver que as propriedades rurais, ao longo do tempo, passaram a criar plantas que só sobrevivem com com esses recursos artificiais. “E assim a raiz não trabalha mais para a planta. Não há mais raízes saudáveis”, acrescenta Jean Luitie.

Desse incômodo de Luitie vieram as pesquisas para mudar o sistema produtivo da propriedade. Os bioinsumos surgiram como alternativa que somaria três benefícios para o negócio: redução de custos com aquisição de produção químicos, além de regeneração da terra degradada e a sustentabilidade da produção.

Há um ano, ele conseguiu tirar do papel o sonho de construir uma biofábrica na fazenda. Financiado por uma linha de crédito especifica para projetos de agricultura sustentável, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Luitie passou a multiplicar biofertilizantes em laboratório.

“Nossa plantação hoje ocupa 4,5 mil hectares, a maior parte é arrendamento, e a biofábrica ainda não atende a área toda. Mas tentamos fazer o controle 100% biológico na terra própria”, afirma.

Segundo ele, ainda há um longo caminho. “O mal que os químicos causaram durante esses últimos 20, 30 anos a gente não consegue desfazer em um ano, nem em dois. Isso é demorado”, acrescenta.

Bióloga Ana Carolina Melo de Almeida é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

A bióloga Ana Carolina Melo de Almeida, nora de Jan Luitie, é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Pós-graduada em Bioinsumos e mestre em Botânica Aplicada, Almeida explica que a chamada “produção on-farm” (na fazenda) permite a aplicação no campo de doses de micro-organismos que realmente são efetivos no controle dos patógenos, sejam eles fungos ou bactérias, que vão causar dano à lavoura.

“Com isso você consegue ter alto desenvolvimento do plantio, com redução de custo, e colocando doses de micro-organismos que vão equilibrar o meio ambiente, favorecendo o aumento da produtividade e a regeneração de ecossistemas”, explica.

Esta, aliás, é uma exigência crescente do próprio mercado importador, especialmente a União Europeia, que tem endurecido as regras para priorizar a entrada de alimentos mais sustentáveis. E com um produto cada vez mais orgânico, a Fazenda Agro Verde, que já fornece soja para uma agroindústria exportadora, agora sonha mais alto: vender diretamente para os países do bloco.

Crédito e agenda 2030

O financiamento de projetos de sustentabilidade é considerado um dos principais pilares da Agenda 2030, na qual representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), entre eles o Brasil, comprometeram-se com um plano de ação global que reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas.

Essas metas foram criadas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Estimativas da própria ONU indicam que sejam necessários investimentos de 1,5% a 2,5% do PIB global para para viabilizar a Agenda 2030.

Os bancos de desenvolvimento têm puxado a oferta de crédito para projetos de sustentabilidade. “No ano passado, 40% dos financiamentos liberados pelo BDMG estavam alinhados a pelo menos um ODS. Neste ano, já avançamos muito. Entre janeiro e julho de 2024, 52% dos nossos desembolsos estão alinhados aos ODS. Isso revela, sim, demanda maior por financiamentos de projetos nesse sentido”, diz o presidente do BDMG, Gabriel Viégas Neto.

Segundo ele, isso significa que, do total de R$ 1,76 bilhão desembolsados pelo banco até julho para empresas e o setor público, R$ 925,5 milhões foram para projetos de sustentabilidade, incluindo agricultura sustentável. Para serem financiados, os projetos precisam estar dentro do escopo dos itens financiáveis.

Produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

No caso específico da Fazenda AgroVerde, o financiamento foi obtido por meio do programa LabAgrominas, que contempla duas linhas: Solo Mais e Bioinsumos com taxas acessíveis. A linha Solo Mais, contratada pelo produtor Jan Luitje, financia a contratação de assistência técnica, compra, transporte e aplicação de remineralizadores de solo, plantas de cobertura, fertilizantes naturais, compostos orgânicos e organominerais, além de bioinsumos.

Já o produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais: o que fazer com 350 mil litros diários de dejetos vindos da pecuária leiteira e da suinocultura? A solução foi adotar o sistema de biodigestores, que a partir do tratamento do material produz energia elétrica e fertilizantes naturais.

”O gás metano, fruto dos dejetos dos animais, deixou de ser um poluente para ser uma solução sustentável e de proteção do meio ambiente. Produzimos energia elétrica e biofertilizantes que substituem o adubo químico. O que era malefício virou atrativo financeiro”, explica Franco sobre o investimento que garantiu que a propriedade se tornasse autossustentável em energia.

Fundos irrigam projetos verdes

Com a perspectiva de crescimento do crédito verde, em julho o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa anunciaram a criação de um fundo de investimento (ETF) com foco em projetos sustentáveis na Amazônia. A iniciativa tem parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e foi divulgada durante evento do G-20, que reúne ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais das 20 maiores economias do planeta, no Rio.

Em dezembro de 2023, durante a COP-27, em Dubai, 20 bancos de fomento anunciaram a Coalizão Verde, com objetivo de mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões para o desenvolvimento sustentável da Amazônia até 2030.

E o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) recebeu, em abril, o valor recorde de R$ 10,4 bilhões do Fundo Clima (FC), maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo (REDD+). Para se ter ideia, entre 2011 e 2022, o fundo gerido pelo BNDES recebeu R$ 2,5 bilhões. O banco estima que o Fundo Clima vai desembolsar R$ 32,1 bilhões até 2026, com destaque para projetos de energia e transporte limpo.

“O Fundo Clima já mudou de patamar: de 2022 para 2023, saltou de R$ 170 milhões para R$ 814 milhões desembolsados”, disse, em julho, o diretor Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos, técnica que consiste na aplicação de fungos e bactérias que equilibram o ambiente, favorecendo o aumento da produtividade nas lavouras e a resistência natural às pragas.

Jan Luitie, o proprietário, conta que sempre se incomodou com a dependência crescente de produtos químicos na plantação. “Sempre vinha a receita pronta: tantos quilos de adubo, tantos litros daquilo. Começamos a perceber que estávamos cada vez mais dependentes. No caso da soja, principalmente, precisava aplicar antes de plantar, durante a safra, e depois. Isso acaba matando a vida biológica do solo”, diz o produtor.

Na Fazenda Agro Verde, em Unaí, em Minas Gerais, o uso de adubos e defensivos químicos na produção de grãos está sendo substituído gradativamente pelos bioinsumos. Na foto, Jan Luitie, o proprietário. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

Ele veio com a família da Holanda para o Brasil há 40 anos e relata ver que as propriedades rurais, ao longo do tempo, passaram a criar plantas que só sobrevivem com com esses recursos artificiais. “E assim a raiz não trabalha mais para a planta. Não há mais raízes saudáveis”, acrescenta Jean Luitie.

Desse incômodo de Luitie vieram as pesquisas para mudar o sistema produtivo da propriedade. Os bioinsumos surgiram como alternativa que somaria três benefícios para o negócio: redução de custos com aquisição de produção químicos, além de regeneração da terra degradada e a sustentabilidade da produção.

Há um ano, ele conseguiu tirar do papel o sonho de construir uma biofábrica na fazenda. Financiado por uma linha de crédito especifica para projetos de agricultura sustentável, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Luitie passou a multiplicar biofertilizantes em laboratório.

“Nossa plantação hoje ocupa 4,5 mil hectares, a maior parte é arrendamento, e a biofábrica ainda não atende a área toda. Mas tentamos fazer o controle 100% biológico na terra própria”, afirma.

Segundo ele, ainda há um longo caminho. “O mal que os químicos causaram durante esses últimos 20, 30 anos a gente não consegue desfazer em um ano, nem em dois. Isso é demorado”, acrescenta.

Bióloga Ana Carolina Melo de Almeida é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

A bióloga Ana Carolina Melo de Almeida, nora de Jan Luitie, é responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Pós-graduada em Bioinsumos e mestre em Botânica Aplicada, Almeida explica que a chamada “produção on-farm” (na fazenda) permite a aplicação no campo de doses de micro-organismos que realmente são efetivos no controle dos patógenos, sejam eles fungos ou bactérias, que vão causar dano à lavoura.

“Com isso você consegue ter alto desenvolvimento do plantio, com redução de custo, e colocando doses de micro-organismos que vão equilibrar o meio ambiente, favorecendo o aumento da produtividade e a regeneração de ecossistemas”, explica.

Esta, aliás, é uma exigência crescente do próprio mercado importador, especialmente a União Europeia, que tem endurecido as regras para priorizar a entrada de alimentos mais sustentáveis. E com um produto cada vez mais orgânico, a Fazenda Agro Verde, que já fornece soja para uma agroindústria exportadora, agora sonha mais alto: vender diretamente para os países do bloco.

Crédito e agenda 2030

O financiamento de projetos de sustentabilidade é considerado um dos principais pilares da Agenda 2030, na qual representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), entre eles o Brasil, comprometeram-se com um plano de ação global que reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas.

Essas metas foram criadas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações. Estimativas da própria ONU indicam que sejam necessários investimentos de 1,5% a 2,5% do PIB global para para viabilizar a Agenda 2030.

Os bancos de desenvolvimento têm puxado a oferta de crédito para projetos de sustentabilidade. “No ano passado, 40% dos financiamentos liberados pelo BDMG estavam alinhados a pelo menos um ODS. Neste ano, já avançamos muito. Entre janeiro e julho de 2024, 52% dos nossos desembolsos estão alinhados aos ODS. Isso revela, sim, demanda maior por financiamentos de projetos nesse sentido”, diz o presidente do BDMG, Gabriel Viégas Neto.

Segundo ele, isso significa que, do total de R$ 1,76 bilhão desembolsados pelo banco até julho para empresas e o setor público, R$ 925,5 milhões foram para projetos de sustentabilidade, incluindo agricultura sustentável. Para serem financiados, os projetos precisam estar dentro do escopo dos itens financiáveis.

Produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais. Foto: Alexandre Mota/Divulgação BDMG

No caso específico da Fazenda AgroVerde, o financiamento foi obtido por meio do programa LabAgrominas, que contempla duas linhas: Solo Mais e Bioinsumos com taxas acessíveis. A linha Solo Mais, contratada pelo produtor Jan Luitje, financia a contratação de assistência técnica, compra, transporte e aplicação de remineralizadores de solo, plantas de cobertura, fertilizantes naturais, compostos orgânicos e organominerais, além de bioinsumos.

Já o produtor rural José Gouveia Franco obteve financiamento da Bioinsumos para resolver um drama ambiental em sua propriedade, a Fazenda São Vicente, em Ituiutaba, em Minas Gerais: o que fazer com 350 mil litros diários de dejetos vindos da pecuária leiteira e da suinocultura? A solução foi adotar o sistema de biodigestores, que a partir do tratamento do material produz energia elétrica e fertilizantes naturais.

”O gás metano, fruto dos dejetos dos animais, deixou de ser um poluente para ser uma solução sustentável e de proteção do meio ambiente. Produzimos energia elétrica e biofertilizantes que substituem o adubo químico. O que era malefício virou atrativo financeiro”, explica Franco sobre o investimento que garantiu que a propriedade se tornasse autossustentável em energia.

Fundos irrigam projetos verdes

Com a perspectiva de crescimento do crédito verde, em julho o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa anunciaram a criação de um fundo de investimento (ETF) com foco em projetos sustentáveis na Amazônia. A iniciativa tem parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e foi divulgada durante evento do G-20, que reúne ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais das 20 maiores economias do planeta, no Rio.

Em dezembro de 2023, durante a COP-27, em Dubai, 20 bancos de fomento anunciaram a Coalizão Verde, com objetivo de mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões para o desenvolvimento sustentável da Amazônia até 2030.

E o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) recebeu, em abril, o valor recorde de R$ 10,4 bilhões do Fundo Clima (FC), maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo (REDD+). Para se ter ideia, entre 2011 e 2022, o fundo gerido pelo BNDES recebeu R$ 2,5 bilhões. O banco estima que o Fundo Clima vai desembolsar R$ 32,1 bilhões até 2026, com destaque para projetos de energia e transporte limpo.

“O Fundo Clima já mudou de patamar: de 2022 para 2023, saltou de R$ 170 milhões para R$ 814 milhões desembolsados”, disse, em julho, o diretor Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa.

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