O verão de 2024 no Hemisfério Norte fez os termômetros subirem até se tornar o mais quente já registrado na Terra. Isso eleva ainda mais as chances de este ano terminar como o mais quente que a humanidade já mediu, relatou o serviço climático europeu Copernicus.
E se isso soa familiar, é porque os recordes que o globo quebrou foram estabelecidos no ano passado com um impulso temporário do El Niño, mas influência ainda maior do aquecimento global. Agora, mesmo com os efeitos do El Niño ficando para trás, o planeta continua a ferver.
No inverno brasileiro, ilustram o problema a onda de incêndios na Amazônia, com focos de fogo mais espalhados do que em anos anteriores. As chamas também castigam o Pantanal e o interior de São Paulo, e a pior seca já registrada desde o início das medições federais, na década de 1950.
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O verão meteorológico do Norte — junho, julho e agosto — teve média de 16,8ºC, segundo o Copernicus. Isso é 0,03ºC mais quente do que o antigo recorde em 2023. Os registros do Copernicus remetem a 1940, mas registros americanos, britânicos e japoneses, que começam em meados do século XIX, mostram que a última década foi a mais quente desde que as medições regulares foram tomadas.
Possivelmente foi o período mais quente em cerca de 120 mil anos, conforme projetam alguns cientistas. E a tendência é de piora, com eventos climáticos extremos mais fortes e mais frequentes, a exemplo da tempestade que devastou o Rio Grande do Sul em maio.
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Os meses de agosto de 2024 e 2023 empataram como os agostos mais quentes globalmente a 16,82ºC. Julho foi a primeira vez em mais de um ano que o mundo não estabeleceu um recorde, um pouco atrás de 2023, mas porque junho de 2024 foi muito mais quente do que junho de 2023, disse o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo.
“O que esses números indicam é como a crise climática está fechando o cerco sobre nós”, disse Stefan Rahmstorf, cientista climático no Instituto Potsdam para a Pesquisa Climática.
Os números fora da curva para o Hemisfério Sul e para todo o planeta devem ser confirmados nos próximos meses pelos órgãos locais de monitoramento, medições da Nasa, agência espacial americana, e pelos dados compilados pela Organização Meteorológica Mundial, ligada às Nações Unidas.
Até o mês passado, Buontempo, como alguns outros cientistas climáticos, estava em dúvida sobre se 2024 quebraria o recorde de ano mais quente, principalmente porque agosto de 2023 foi extraordinariamente mais quente do que a média. Mas então, este agosto de 2024 igualou 2023, fazendo Buontempo ficar “bem certo” de que este ano terminará como o pior já registrado.
Até mesmo a Antártida viu as temperaturas subirem cerca de 28ºC acima dos níveis usuais, e o gelo marinho circundante encolheu para mínimos quase sem precedentes.
As mudanças no continente gelado são especialmente surpreendentes, confprme Buontempo, porque a região historicamente tem sido isolada do resto do planeta em aquecimento por um forte vórtice polar e pelo Oceano Austral.
Mas, desde 2023, a extensão do gelo marinho ao redor da Antártica tem sido cerca de 1 milhão a 2 milhões de km² a menos do que em qualquer ano desde que as observações por satélite começaram.
La Niña vai fazer diferença?
Com uma La Niña prevista — resfriamento natural temporário de partes do Oceano Pacífico central — os últimos quatro meses do ano podem não ser mais recordistas, como a maior parte do último ano e meio. Mas não é provável que seja frio o suficiente para impedir 2024 de quebrar o recorde anual, na análise Buontempo.
“Com ondas de calor mais longas e mais severas, vêm secas mais severas em alguns lugares e chuvas mais intensas e enchentes em outros. A mudança climática está se tornando muito óbvia e muito cara para ser ignorada”, afirmou o cientista climático Jonathan Overpeck, da Universidade de Michigan (EUA).
Enquanto uma parte do recorde de calor do ano passado foi impulsionada por um El Niño — aquecimento natural temporário de partes do Pacífico central que altera o clima em todo o mundo — agora esse efeito se foi e o calor continua. Isso prova que o principal motor é a mudança climática de longo prazo causada pelo homem pela queima de carvão, petróleo e gás natural (emissores de gases de efeito esfufa), alerta Buontempo.
“Realmente não é surpreendente que vejamos isso: essa onda de calor e esses extremos de temperatura”, disse Buontempo. “Estamos destinados a ver mais.”/ COM ASSOCIATED PRESS E THE WASHINGTON POST
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