Capim exótico se alastra por manguezais do Sul: o que fazer para salvar essa área?


O litoral do Paraná conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos, ecossistemas fundamentais para proteger o País de eventos climáticos extremos

Por Aline Reskalla
Atualização:

Brejos que armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, os manguezais são fundamentais para proteger a costa brasileira de eventos climáticos extremos. Mas, no Brasil, mais especificamente no Paraná, um tipo de capim exótico que se alastra como praga tem asfixiado esses ecossistemas.

Essas plantas africanas foram trazidas ao Brasil na década de 1980 para servirem de pasto para búfalos e bois. Mas, ao longo dos anos, invadiram centenas de hectares de áreas úmidas no litoral paranaense. O estuário da baía de Antonina é o mais afetado atualmente, com 75 hectares contaminados biologicamente.

Área em processo de restauração com a remoção de braquiárias-d'água, no litoral do Paraná. Ecossistema do mangue está ameaçado. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Ao ver sua fonte de renda cada vez mais ameaçada, o guia de pesca turística paranaense Elieser Jobson, de 31 anos, se juntou a um grupo de pesquisadores que está em campo com a difícil missão de cortar, muda a muda, as imensas massas de braquiárias-d’água.

“Muitos rios pequenos que tínhamos por aqui hoje estão fechados de braquiária. Nesses lugares ficamos impossibilitados de pescar”, relata Jobson. Ele vive em Antonina, município de 18 mil habitantes a 80 quilômetros de Curitiba.

Tentando recuperar o mangue

Iniciado em 2023, o projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar quatro hectares de mangues e tem a meta de chegar a seis hectares até o fim deste ano. O projeto tem o apoio do Programa Petrobras Socioambiental.

Com uma roçadeira em mãos, Jobson tem ido a campo periodicamente, e a tarefa é árdua. As branquiárias são plantas que formam moitas densas e se reproduzirem com grande facilidade no ambiente de brejo, infestando o solo úmido com rizomas e raízes que sufocam a flora e a fauna nativas.

O litoral do Paraná é o segundo menor do país, com cerca de 100 km – maior apenas que o do Piauí –, mas conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos.

“Em uma área de brejo/mangue saudável, encontramos saracuras (tipo de ave terrestre) andando, aves pequenas pulando de uma folhinha pra outra (como o bicudinho-do-brejo e o tiê-sangue), formigas, caranguejos, furões, gambás, entre outros. Quando o ecossistema está desequilibrado pelas braquiárias-d’água, encontramos apenas grilos, mariposas e galinhas-d’água com menor frequência”, explica a bióloga Larissa Teixeira, técnica responsável pela área de restauração do projeto.

No manejo, é importante que o corte das plantas com roçadeira seja feito o mais próximo possível das raízes, para que a planta não volte a crescer. A biomassa roçada é empilhada em montes, que são revirados algumas vezes até que as braquiárias deixem de brotar.

Projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar 4 hectares de mangues e tem a meta de chegar a 6 hectares até o fim deste ano. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Apesar do desafio, Larissa está otimista com os resultados alcançados. Em uma das áreas restauradas, a vegetação nativa já começou a aparecer novamente, e algumas espécies de aves que haviam sumido também já são vistas. “Dividimos o projeto em sete áreas e em duas delas – uma que está finalizada e outra em fase adiantada – a vegetação está voltando. Nas demais, estamos na fase intermediária, o processo é mais demorado”, diz ela.

Segundo a ornitóloga Maria Fernanda Rivas, a equipe faz o monitoramento da fauna e notou recentemente a visita de algumas aves migratórias, como o maçarico-pintado (Actitis macularius) e o príncipe (Pyrocephalus rubinus) utilizando a área. “Também registramos a presença de casais de freirinha (Arundinicola Leucocephala) ocupando a região nos últimos meses”.

Mascote

O bicudinho-do-brejo, espécie ameaçada que ocorre apenas em brejos salinos no litoral sul do Brasil, foi eleito pelo grupo o mascote do projeto. Ele foi descoberto por pesquisadores do próprio Mater Natura, há 23 anos, e tem sido expulso de seu habitat natural com a infestação dos brejos pelas braquiárias.

Estima-se que no País existam apenas 8 mil bicudinhos, encontrados somente em cinco unidades de conservação, localizadas no litoral do Paraná ao Rio Grande do Sul. Em torno de 45% da população está concentrada em Guaratuba, no próprio Paraná, um local que abriga outras 300 espécies de aves, muitas ameaçadas de extinção.

Por isso a conservação dos brejos é muito importante, pois eles funcionam como um filtro para a água dos rios e como um berçário para peixes e animais aquáticos, além de serem uma importante ferramenta de captura de carbono da atmosfera.

A bióloga Larissa Teixeira conta que, na faixa de mangue que foi recuperada, notou-se uma mudança até mesmo de comportamento nas aves que voltaram a aparecer por ali. “O bicudinho está sofrido, eles viram seus territórios diminuírem com a invasão da braquiária. Como eles vivem em espécie de condomínios, juntinhos, ficaram sem locais para se reproduzir. Hoje a gente vê uma delimitação maior e menos estresse na luta pela preservação do próprio território. Eles brigavam com os vizinhos, e hoje vivem em paz.”

As equipes trabalham também em outras frentes além da restauração dos manguezais, como a mobilização da comunidade e os estudos de impacto ambiental que poderão orientar políticas públicas.

Como a pesca na baía de Antonina é a principal fonte de renda de grande parte da população, têm sido realizadas oficinas participativas e cursos gratuitos para ajudar os moradores a traçar estratégias de combate a poluição das águas, às mudanças climáticas, à pesca predatória e a degradação ambiental, especialmente dos manguezais.

No ano passado, também foi ministrado um curso de formação para profissionais de educação de Antonina, com o objetivo de instrumentalizá-los para serem multiplicadores das informações, para que as ações de educação ambiental tenham um maior alcance de público, de forma mais duradoura e interdisciplinar.

Década da restauração

A responsável técnica do Mater Natura e coordenadora do projeto, Karina Luiza de Oliveira, lembra que o Olha o Clima, Litoral está bastante alinhado ao atual contexto de mobilização da “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas”, um movimento global que busca prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos.

Segundo a entidade, “nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como é agora, pois eles sustentam toda a vida na Terra”. Karina defende políticas públicas mais efetivas para que haja, de fato, uma mudança de comportamento da sociedade.

“Eu trabalho há mais 30 anos na questão de conservação, e também educação ambiental, vejo que avançou bastante, mas eu acho que ainda é muito pouco em relação ao que a gente precisa. No dia a dia das pessoas, elas precisam mudar comportamento, priorizar transporte público, fontes alternativas de energia, que ainda têm um alto custo. É preciso reduzir os obstáculos e criar legislações mais rígidas. Há 30 anos a gente já dizia que tinha que ser feito.”

Brejos que armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, os manguezais são fundamentais para proteger a costa brasileira de eventos climáticos extremos. Mas, no Brasil, mais especificamente no Paraná, um tipo de capim exótico que se alastra como praga tem asfixiado esses ecossistemas.

Essas plantas africanas foram trazidas ao Brasil na década de 1980 para servirem de pasto para búfalos e bois. Mas, ao longo dos anos, invadiram centenas de hectares de áreas úmidas no litoral paranaense. O estuário da baía de Antonina é o mais afetado atualmente, com 75 hectares contaminados biologicamente.

Área em processo de restauração com a remoção de braquiárias-d'água, no litoral do Paraná. Ecossistema do mangue está ameaçado. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Ao ver sua fonte de renda cada vez mais ameaçada, o guia de pesca turística paranaense Elieser Jobson, de 31 anos, se juntou a um grupo de pesquisadores que está em campo com a difícil missão de cortar, muda a muda, as imensas massas de braquiárias-d’água.

“Muitos rios pequenos que tínhamos por aqui hoje estão fechados de braquiária. Nesses lugares ficamos impossibilitados de pescar”, relata Jobson. Ele vive em Antonina, município de 18 mil habitantes a 80 quilômetros de Curitiba.

Tentando recuperar o mangue

Iniciado em 2023, o projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar quatro hectares de mangues e tem a meta de chegar a seis hectares até o fim deste ano. O projeto tem o apoio do Programa Petrobras Socioambiental.

Com uma roçadeira em mãos, Jobson tem ido a campo periodicamente, e a tarefa é árdua. As branquiárias são plantas que formam moitas densas e se reproduzirem com grande facilidade no ambiente de brejo, infestando o solo úmido com rizomas e raízes que sufocam a flora e a fauna nativas.

O litoral do Paraná é o segundo menor do país, com cerca de 100 km – maior apenas que o do Piauí –, mas conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos.

“Em uma área de brejo/mangue saudável, encontramos saracuras (tipo de ave terrestre) andando, aves pequenas pulando de uma folhinha pra outra (como o bicudinho-do-brejo e o tiê-sangue), formigas, caranguejos, furões, gambás, entre outros. Quando o ecossistema está desequilibrado pelas braquiárias-d’água, encontramos apenas grilos, mariposas e galinhas-d’água com menor frequência”, explica a bióloga Larissa Teixeira, técnica responsável pela área de restauração do projeto.

No manejo, é importante que o corte das plantas com roçadeira seja feito o mais próximo possível das raízes, para que a planta não volte a crescer. A biomassa roçada é empilhada em montes, que são revirados algumas vezes até que as braquiárias deixem de brotar.

Projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar 4 hectares de mangues e tem a meta de chegar a 6 hectares até o fim deste ano. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Apesar do desafio, Larissa está otimista com os resultados alcançados. Em uma das áreas restauradas, a vegetação nativa já começou a aparecer novamente, e algumas espécies de aves que haviam sumido também já são vistas. “Dividimos o projeto em sete áreas e em duas delas – uma que está finalizada e outra em fase adiantada – a vegetação está voltando. Nas demais, estamos na fase intermediária, o processo é mais demorado”, diz ela.

Segundo a ornitóloga Maria Fernanda Rivas, a equipe faz o monitoramento da fauna e notou recentemente a visita de algumas aves migratórias, como o maçarico-pintado (Actitis macularius) e o príncipe (Pyrocephalus rubinus) utilizando a área. “Também registramos a presença de casais de freirinha (Arundinicola Leucocephala) ocupando a região nos últimos meses”.

Mascote

O bicudinho-do-brejo, espécie ameaçada que ocorre apenas em brejos salinos no litoral sul do Brasil, foi eleito pelo grupo o mascote do projeto. Ele foi descoberto por pesquisadores do próprio Mater Natura, há 23 anos, e tem sido expulso de seu habitat natural com a infestação dos brejos pelas braquiárias.

Estima-se que no País existam apenas 8 mil bicudinhos, encontrados somente em cinco unidades de conservação, localizadas no litoral do Paraná ao Rio Grande do Sul. Em torno de 45% da população está concentrada em Guaratuba, no próprio Paraná, um local que abriga outras 300 espécies de aves, muitas ameaçadas de extinção.

Por isso a conservação dos brejos é muito importante, pois eles funcionam como um filtro para a água dos rios e como um berçário para peixes e animais aquáticos, além de serem uma importante ferramenta de captura de carbono da atmosfera.

A bióloga Larissa Teixeira conta que, na faixa de mangue que foi recuperada, notou-se uma mudança até mesmo de comportamento nas aves que voltaram a aparecer por ali. “O bicudinho está sofrido, eles viram seus territórios diminuírem com a invasão da braquiária. Como eles vivem em espécie de condomínios, juntinhos, ficaram sem locais para se reproduzir. Hoje a gente vê uma delimitação maior e menos estresse na luta pela preservação do próprio território. Eles brigavam com os vizinhos, e hoje vivem em paz.”

As equipes trabalham também em outras frentes além da restauração dos manguezais, como a mobilização da comunidade e os estudos de impacto ambiental que poderão orientar políticas públicas.

Como a pesca na baía de Antonina é a principal fonte de renda de grande parte da população, têm sido realizadas oficinas participativas e cursos gratuitos para ajudar os moradores a traçar estratégias de combate a poluição das águas, às mudanças climáticas, à pesca predatória e a degradação ambiental, especialmente dos manguezais.

No ano passado, também foi ministrado um curso de formação para profissionais de educação de Antonina, com o objetivo de instrumentalizá-los para serem multiplicadores das informações, para que as ações de educação ambiental tenham um maior alcance de público, de forma mais duradoura e interdisciplinar.

Década da restauração

A responsável técnica do Mater Natura e coordenadora do projeto, Karina Luiza de Oliveira, lembra que o Olha o Clima, Litoral está bastante alinhado ao atual contexto de mobilização da “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas”, um movimento global que busca prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos.

Segundo a entidade, “nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como é agora, pois eles sustentam toda a vida na Terra”. Karina defende políticas públicas mais efetivas para que haja, de fato, uma mudança de comportamento da sociedade.

“Eu trabalho há mais 30 anos na questão de conservação, e também educação ambiental, vejo que avançou bastante, mas eu acho que ainda é muito pouco em relação ao que a gente precisa. No dia a dia das pessoas, elas precisam mudar comportamento, priorizar transporte público, fontes alternativas de energia, que ainda têm um alto custo. É preciso reduzir os obstáculos e criar legislações mais rígidas. Há 30 anos a gente já dizia que tinha que ser feito.”

Brejos que armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, os manguezais são fundamentais para proteger a costa brasileira de eventos climáticos extremos. Mas, no Brasil, mais especificamente no Paraná, um tipo de capim exótico que se alastra como praga tem asfixiado esses ecossistemas.

Essas plantas africanas foram trazidas ao Brasil na década de 1980 para servirem de pasto para búfalos e bois. Mas, ao longo dos anos, invadiram centenas de hectares de áreas úmidas no litoral paranaense. O estuário da baía de Antonina é o mais afetado atualmente, com 75 hectares contaminados biologicamente.

Área em processo de restauração com a remoção de braquiárias-d'água, no litoral do Paraná. Ecossistema do mangue está ameaçado. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Ao ver sua fonte de renda cada vez mais ameaçada, o guia de pesca turística paranaense Elieser Jobson, de 31 anos, se juntou a um grupo de pesquisadores que está em campo com a difícil missão de cortar, muda a muda, as imensas massas de braquiárias-d’água.

“Muitos rios pequenos que tínhamos por aqui hoje estão fechados de braquiária. Nesses lugares ficamos impossibilitados de pescar”, relata Jobson. Ele vive em Antonina, município de 18 mil habitantes a 80 quilômetros de Curitiba.

Tentando recuperar o mangue

Iniciado em 2023, o projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar quatro hectares de mangues e tem a meta de chegar a seis hectares até o fim deste ano. O projeto tem o apoio do Programa Petrobras Socioambiental.

Com uma roçadeira em mãos, Jobson tem ido a campo periodicamente, e a tarefa é árdua. As branquiárias são plantas que formam moitas densas e se reproduzirem com grande facilidade no ambiente de brejo, infestando o solo úmido com rizomas e raízes que sufocam a flora e a fauna nativas.

O litoral do Paraná é o segundo menor do país, com cerca de 100 km – maior apenas que o do Piauí –, mas conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos.

“Em uma área de brejo/mangue saudável, encontramos saracuras (tipo de ave terrestre) andando, aves pequenas pulando de uma folhinha pra outra (como o bicudinho-do-brejo e o tiê-sangue), formigas, caranguejos, furões, gambás, entre outros. Quando o ecossistema está desequilibrado pelas braquiárias-d’água, encontramos apenas grilos, mariposas e galinhas-d’água com menor frequência”, explica a bióloga Larissa Teixeira, técnica responsável pela área de restauração do projeto.

No manejo, é importante que o corte das plantas com roçadeira seja feito o mais próximo possível das raízes, para que a planta não volte a crescer. A biomassa roçada é empilhada em montes, que são revirados algumas vezes até que as braquiárias deixem de brotar.

Projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar 4 hectares de mangues e tem a meta de chegar a 6 hectares até o fim deste ano. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Apesar do desafio, Larissa está otimista com os resultados alcançados. Em uma das áreas restauradas, a vegetação nativa já começou a aparecer novamente, e algumas espécies de aves que haviam sumido também já são vistas. “Dividimos o projeto em sete áreas e em duas delas – uma que está finalizada e outra em fase adiantada – a vegetação está voltando. Nas demais, estamos na fase intermediária, o processo é mais demorado”, diz ela.

Segundo a ornitóloga Maria Fernanda Rivas, a equipe faz o monitoramento da fauna e notou recentemente a visita de algumas aves migratórias, como o maçarico-pintado (Actitis macularius) e o príncipe (Pyrocephalus rubinus) utilizando a área. “Também registramos a presença de casais de freirinha (Arundinicola Leucocephala) ocupando a região nos últimos meses”.

Mascote

O bicudinho-do-brejo, espécie ameaçada que ocorre apenas em brejos salinos no litoral sul do Brasil, foi eleito pelo grupo o mascote do projeto. Ele foi descoberto por pesquisadores do próprio Mater Natura, há 23 anos, e tem sido expulso de seu habitat natural com a infestação dos brejos pelas braquiárias.

Estima-se que no País existam apenas 8 mil bicudinhos, encontrados somente em cinco unidades de conservação, localizadas no litoral do Paraná ao Rio Grande do Sul. Em torno de 45% da população está concentrada em Guaratuba, no próprio Paraná, um local que abriga outras 300 espécies de aves, muitas ameaçadas de extinção.

Por isso a conservação dos brejos é muito importante, pois eles funcionam como um filtro para a água dos rios e como um berçário para peixes e animais aquáticos, além de serem uma importante ferramenta de captura de carbono da atmosfera.

A bióloga Larissa Teixeira conta que, na faixa de mangue que foi recuperada, notou-se uma mudança até mesmo de comportamento nas aves que voltaram a aparecer por ali. “O bicudinho está sofrido, eles viram seus territórios diminuírem com a invasão da braquiária. Como eles vivem em espécie de condomínios, juntinhos, ficaram sem locais para se reproduzir. Hoje a gente vê uma delimitação maior e menos estresse na luta pela preservação do próprio território. Eles brigavam com os vizinhos, e hoje vivem em paz.”

As equipes trabalham também em outras frentes além da restauração dos manguezais, como a mobilização da comunidade e os estudos de impacto ambiental que poderão orientar políticas públicas.

Como a pesca na baía de Antonina é a principal fonte de renda de grande parte da população, têm sido realizadas oficinas participativas e cursos gratuitos para ajudar os moradores a traçar estratégias de combate a poluição das águas, às mudanças climáticas, à pesca predatória e a degradação ambiental, especialmente dos manguezais.

No ano passado, também foi ministrado um curso de formação para profissionais de educação de Antonina, com o objetivo de instrumentalizá-los para serem multiplicadores das informações, para que as ações de educação ambiental tenham um maior alcance de público, de forma mais duradoura e interdisciplinar.

Década da restauração

A responsável técnica do Mater Natura e coordenadora do projeto, Karina Luiza de Oliveira, lembra que o Olha o Clima, Litoral está bastante alinhado ao atual contexto de mobilização da “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas”, um movimento global que busca prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos.

Segundo a entidade, “nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como é agora, pois eles sustentam toda a vida na Terra”. Karina defende políticas públicas mais efetivas para que haja, de fato, uma mudança de comportamento da sociedade.

“Eu trabalho há mais 30 anos na questão de conservação, e também educação ambiental, vejo que avançou bastante, mas eu acho que ainda é muito pouco em relação ao que a gente precisa. No dia a dia das pessoas, elas precisam mudar comportamento, priorizar transporte público, fontes alternativas de energia, que ainda têm um alto custo. É preciso reduzir os obstáculos e criar legislações mais rígidas. Há 30 anos a gente já dizia que tinha que ser feito.”

Brejos que armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, os manguezais são fundamentais para proteger a costa brasileira de eventos climáticos extremos. Mas, no Brasil, mais especificamente no Paraná, um tipo de capim exótico que se alastra como praga tem asfixiado esses ecossistemas.

Essas plantas africanas foram trazidas ao Brasil na década de 1980 para servirem de pasto para búfalos e bois. Mas, ao longo dos anos, invadiram centenas de hectares de áreas úmidas no litoral paranaense. O estuário da baía de Antonina é o mais afetado atualmente, com 75 hectares contaminados biologicamente.

Área em processo de restauração com a remoção de braquiárias-d'água, no litoral do Paraná. Ecossistema do mangue está ameaçado. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Ao ver sua fonte de renda cada vez mais ameaçada, o guia de pesca turística paranaense Elieser Jobson, de 31 anos, se juntou a um grupo de pesquisadores que está em campo com a difícil missão de cortar, muda a muda, as imensas massas de braquiárias-d’água.

“Muitos rios pequenos que tínhamos por aqui hoje estão fechados de braquiária. Nesses lugares ficamos impossibilitados de pescar”, relata Jobson. Ele vive em Antonina, município de 18 mil habitantes a 80 quilômetros de Curitiba.

Tentando recuperar o mangue

Iniciado em 2023, o projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar quatro hectares de mangues e tem a meta de chegar a seis hectares até o fim deste ano. O projeto tem o apoio do Programa Petrobras Socioambiental.

Com uma roçadeira em mãos, Jobson tem ido a campo periodicamente, e a tarefa é árdua. As branquiárias são plantas que formam moitas densas e se reproduzirem com grande facilidade no ambiente de brejo, infestando o solo úmido com rizomas e raízes que sufocam a flora e a fauna nativas.

O litoral do Paraná é o segundo menor do país, com cerca de 100 km – maior apenas que o do Piauí –, mas conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos.

“Em uma área de brejo/mangue saudável, encontramos saracuras (tipo de ave terrestre) andando, aves pequenas pulando de uma folhinha pra outra (como o bicudinho-do-brejo e o tiê-sangue), formigas, caranguejos, furões, gambás, entre outros. Quando o ecossistema está desequilibrado pelas braquiárias-d’água, encontramos apenas grilos, mariposas e galinhas-d’água com menor frequência”, explica a bióloga Larissa Teixeira, técnica responsável pela área de restauração do projeto.

No manejo, é importante que o corte das plantas com roçadeira seja feito o mais próximo possível das raízes, para que a planta não volte a crescer. A biomassa roçada é empilhada em montes, que são revirados algumas vezes até que as braquiárias deixem de brotar.

Projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar 4 hectares de mangues e tem a meta de chegar a 6 hectares até o fim deste ano. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Apesar do desafio, Larissa está otimista com os resultados alcançados. Em uma das áreas restauradas, a vegetação nativa já começou a aparecer novamente, e algumas espécies de aves que haviam sumido também já são vistas. “Dividimos o projeto em sete áreas e em duas delas – uma que está finalizada e outra em fase adiantada – a vegetação está voltando. Nas demais, estamos na fase intermediária, o processo é mais demorado”, diz ela.

Segundo a ornitóloga Maria Fernanda Rivas, a equipe faz o monitoramento da fauna e notou recentemente a visita de algumas aves migratórias, como o maçarico-pintado (Actitis macularius) e o príncipe (Pyrocephalus rubinus) utilizando a área. “Também registramos a presença de casais de freirinha (Arundinicola Leucocephala) ocupando a região nos últimos meses”.

Mascote

O bicudinho-do-brejo, espécie ameaçada que ocorre apenas em brejos salinos no litoral sul do Brasil, foi eleito pelo grupo o mascote do projeto. Ele foi descoberto por pesquisadores do próprio Mater Natura, há 23 anos, e tem sido expulso de seu habitat natural com a infestação dos brejos pelas braquiárias.

Estima-se que no País existam apenas 8 mil bicudinhos, encontrados somente em cinco unidades de conservação, localizadas no litoral do Paraná ao Rio Grande do Sul. Em torno de 45% da população está concentrada em Guaratuba, no próprio Paraná, um local que abriga outras 300 espécies de aves, muitas ameaçadas de extinção.

Por isso a conservação dos brejos é muito importante, pois eles funcionam como um filtro para a água dos rios e como um berçário para peixes e animais aquáticos, além de serem uma importante ferramenta de captura de carbono da atmosfera.

A bióloga Larissa Teixeira conta que, na faixa de mangue que foi recuperada, notou-se uma mudança até mesmo de comportamento nas aves que voltaram a aparecer por ali. “O bicudinho está sofrido, eles viram seus territórios diminuírem com a invasão da braquiária. Como eles vivem em espécie de condomínios, juntinhos, ficaram sem locais para se reproduzir. Hoje a gente vê uma delimitação maior e menos estresse na luta pela preservação do próprio território. Eles brigavam com os vizinhos, e hoje vivem em paz.”

As equipes trabalham também em outras frentes além da restauração dos manguezais, como a mobilização da comunidade e os estudos de impacto ambiental que poderão orientar políticas públicas.

Como a pesca na baía de Antonina é a principal fonte de renda de grande parte da população, têm sido realizadas oficinas participativas e cursos gratuitos para ajudar os moradores a traçar estratégias de combate a poluição das águas, às mudanças climáticas, à pesca predatória e a degradação ambiental, especialmente dos manguezais.

No ano passado, também foi ministrado um curso de formação para profissionais de educação de Antonina, com o objetivo de instrumentalizá-los para serem multiplicadores das informações, para que as ações de educação ambiental tenham um maior alcance de público, de forma mais duradoura e interdisciplinar.

Década da restauração

A responsável técnica do Mater Natura e coordenadora do projeto, Karina Luiza de Oliveira, lembra que o Olha o Clima, Litoral está bastante alinhado ao atual contexto de mobilização da “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas”, um movimento global que busca prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos.

Segundo a entidade, “nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como é agora, pois eles sustentam toda a vida na Terra”. Karina defende políticas públicas mais efetivas para que haja, de fato, uma mudança de comportamento da sociedade.

“Eu trabalho há mais 30 anos na questão de conservação, e também educação ambiental, vejo que avançou bastante, mas eu acho que ainda é muito pouco em relação ao que a gente precisa. No dia a dia das pessoas, elas precisam mudar comportamento, priorizar transporte público, fontes alternativas de energia, que ainda têm um alto custo. É preciso reduzir os obstáculos e criar legislações mais rígidas. Há 30 anos a gente já dizia que tinha que ser feito.”

Brejos que armazenam mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta, os manguezais são fundamentais para proteger a costa brasileira de eventos climáticos extremos. Mas, no Brasil, mais especificamente no Paraná, um tipo de capim exótico que se alastra como praga tem asfixiado esses ecossistemas.

Essas plantas africanas foram trazidas ao Brasil na década de 1980 para servirem de pasto para búfalos e bois. Mas, ao longo dos anos, invadiram centenas de hectares de áreas úmidas no litoral paranaense. O estuário da baía de Antonina é o mais afetado atualmente, com 75 hectares contaminados biologicamente.

Área em processo de restauração com a remoção de braquiárias-d'água, no litoral do Paraná. Ecossistema do mangue está ameaçado. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Ao ver sua fonte de renda cada vez mais ameaçada, o guia de pesca turística paranaense Elieser Jobson, de 31 anos, se juntou a um grupo de pesquisadores que está em campo com a difícil missão de cortar, muda a muda, as imensas massas de braquiárias-d’água.

“Muitos rios pequenos que tínhamos por aqui hoje estão fechados de braquiária. Nesses lugares ficamos impossibilitados de pescar”, relata Jobson. Ele vive em Antonina, município de 18 mil habitantes a 80 quilômetros de Curitiba.

Tentando recuperar o mangue

Iniciado em 2023, o projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar quatro hectares de mangues e tem a meta de chegar a seis hectares até o fim deste ano. O projeto tem o apoio do Programa Petrobras Socioambiental.

Com uma roçadeira em mãos, Jobson tem ido a campo periodicamente, e a tarefa é árdua. As branquiárias são plantas que formam moitas densas e se reproduzirem com grande facilidade no ambiente de brejo, infestando o solo úmido com rizomas e raízes que sufocam a flora e a fauna nativas.

O litoral do Paraná é o segundo menor do país, com cerca de 100 km – maior apenas que o do Piauí –, mas conta com uma grande biodiversidade nos manguezais e brejos salinos.

“Em uma área de brejo/mangue saudável, encontramos saracuras (tipo de ave terrestre) andando, aves pequenas pulando de uma folhinha pra outra (como o bicudinho-do-brejo e o tiê-sangue), formigas, caranguejos, furões, gambás, entre outros. Quando o ecossistema está desequilibrado pelas braquiárias-d’água, encontramos apenas grilos, mariposas e galinhas-d’água com menor frequência”, explica a bióloga Larissa Teixeira, técnica responsável pela área de restauração do projeto.

No manejo, é importante que o corte das plantas com roçadeira seja feito o mais próximo possível das raízes, para que a planta não volte a crescer. A biomassa roçada é empilhada em montes, que são revirados algumas vezes até que as braquiárias deixem de brotar.

Projeto Olha o Clima, Litoral, do Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura, já conseguiu recuperar 4 hectares de mangues e tem a meta de chegar a 6 hectares até o fim deste ano. Foto: Gabriel Marchi/Divulgação

Apesar do desafio, Larissa está otimista com os resultados alcançados. Em uma das áreas restauradas, a vegetação nativa já começou a aparecer novamente, e algumas espécies de aves que haviam sumido também já são vistas. “Dividimos o projeto em sete áreas e em duas delas – uma que está finalizada e outra em fase adiantada – a vegetação está voltando. Nas demais, estamos na fase intermediária, o processo é mais demorado”, diz ela.

Segundo a ornitóloga Maria Fernanda Rivas, a equipe faz o monitoramento da fauna e notou recentemente a visita de algumas aves migratórias, como o maçarico-pintado (Actitis macularius) e o príncipe (Pyrocephalus rubinus) utilizando a área. “Também registramos a presença de casais de freirinha (Arundinicola Leucocephala) ocupando a região nos últimos meses”.

Mascote

O bicudinho-do-brejo, espécie ameaçada que ocorre apenas em brejos salinos no litoral sul do Brasil, foi eleito pelo grupo o mascote do projeto. Ele foi descoberto por pesquisadores do próprio Mater Natura, há 23 anos, e tem sido expulso de seu habitat natural com a infestação dos brejos pelas braquiárias.

Estima-se que no País existam apenas 8 mil bicudinhos, encontrados somente em cinco unidades de conservação, localizadas no litoral do Paraná ao Rio Grande do Sul. Em torno de 45% da população está concentrada em Guaratuba, no próprio Paraná, um local que abriga outras 300 espécies de aves, muitas ameaçadas de extinção.

Por isso a conservação dos brejos é muito importante, pois eles funcionam como um filtro para a água dos rios e como um berçário para peixes e animais aquáticos, além de serem uma importante ferramenta de captura de carbono da atmosfera.

A bióloga Larissa Teixeira conta que, na faixa de mangue que foi recuperada, notou-se uma mudança até mesmo de comportamento nas aves que voltaram a aparecer por ali. “O bicudinho está sofrido, eles viram seus territórios diminuírem com a invasão da braquiária. Como eles vivem em espécie de condomínios, juntinhos, ficaram sem locais para se reproduzir. Hoje a gente vê uma delimitação maior e menos estresse na luta pela preservação do próprio território. Eles brigavam com os vizinhos, e hoje vivem em paz.”

As equipes trabalham também em outras frentes além da restauração dos manguezais, como a mobilização da comunidade e os estudos de impacto ambiental que poderão orientar políticas públicas.

Como a pesca na baía de Antonina é a principal fonte de renda de grande parte da população, têm sido realizadas oficinas participativas e cursos gratuitos para ajudar os moradores a traçar estratégias de combate a poluição das águas, às mudanças climáticas, à pesca predatória e a degradação ambiental, especialmente dos manguezais.

No ano passado, também foi ministrado um curso de formação para profissionais de educação de Antonina, com o objetivo de instrumentalizá-los para serem multiplicadores das informações, para que as ações de educação ambiental tenham um maior alcance de público, de forma mais duradoura e interdisciplinar.

Década da restauração

A responsável técnica do Mater Natura e coordenadora do projeto, Karina Luiza de Oliveira, lembra que o Olha o Clima, Litoral está bastante alinhado ao atual contexto de mobilização da “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas”, um movimento global que busca prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos.

Segundo a entidade, “nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como é agora, pois eles sustentam toda a vida na Terra”. Karina defende políticas públicas mais efetivas para que haja, de fato, uma mudança de comportamento da sociedade.

“Eu trabalho há mais 30 anos na questão de conservação, e também educação ambiental, vejo que avançou bastante, mas eu acho que ainda é muito pouco em relação ao que a gente precisa. No dia a dia das pessoas, elas precisam mudar comportamento, priorizar transporte público, fontes alternativas de energia, que ainda têm um alto custo. É preciso reduzir os obstáculos e criar legislações mais rígidas. Há 30 anos a gente já dizia que tinha que ser feito.”

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