Os temporais que atingem o Rio Grande do Sul desde o início da semana devem continuar pelos próximos dias, segundo a previsão dos meteorologistas. A projeção é que as precipitações, que já deixaram 57 mortos, 67 desaparecidos e milhares de desabrigados, só comecem a perder força no domingo, 5, e que o sol e calor voltem a predominar no território gaúcho na semana que vem.
Assim como na sexta-feira, 3, neste sábado, 4, o acumulado pode chegar a mais de 250 mm, e atingir com mais intensidade as regiões nordeste e norte do Estado e em parte de Santa Catarina.
“A instabilidade segue sobre o Rio Grande do Sul. É aquele canal de umidade que está vindo do norte do País e que vai, infelizmente, continuar nos próximos dias”, disse a meteorologista Cátia Valente, em transmissão feita com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), na noite de quinta-feira.
“Temos volumes de chuva ainda muito elevados nas partes noroeste, norte gaúcho e o fluxo segue passando na região central do Estado, indo em direção à Serra, ao litoral norte, e também em Campos de Cima da Serra e toda a região dos vales. A expectativa é de que os volumes de chuva acumulados podem chegar aos 250 mm ao longo dessa sexta-feira e também do sábado”, completou.
Cátia diz que a chuva deve continuar no domingo, atingindo a parte mais norte do Estado, mas já em menor intensidade.
Estael Sias, meteorologista da MetSul, afirma que as chuvas devem dar trégua no começo da semana que vem. “Mas é importante entender todo o contexto da melhora do tempo e o que vai ocorrer até o tempo firmar, mesmo que brevemente”, afirma Estael em nota publicada no site da empresa na quinta, 2.
A equipe da MetSul explica que as fortes chuvas dos próximos dias são resultado de uma massa de ar fria que chega no Estado, mas que ficará estacionada sobre o território gaúcho por conta da presença de uma massa de ar quente ”excepcionalmente forte”.
“Esta frente não vai conseguir romper o bloqueio. Ficará semi-estacionária entre hoje (quinta-feira) e sábado no Norte gaúcho e em parte de Santa Catarina, gerando muita chuva”, destaca a meteorologista. ”Isso vai trazer mais chuva para as cabeceiras dos rios que nascem na Serra e provocará cheias em rios que nascem no Norte do estado, como o Uruguai”.
Os modelos meteorológicos ainda não são unânimes em informar sobre a intensidade das chuvas de domingo. “A maioria indica pouca chuva, mas por experiência sabemos que frentes quentes não raro provocam chuva forte e temporais com raios e granizo”, diz Estael. “Na segunda, a frente quente estará sobre o Uruguai e, então, o ar muito quente do Brasil vai tomar o estado”, completa.
A previsão é de calor e que o sol predomine no começo da semana que vem. As máximas poderão atingir 35ºC em algumas cidades e podem alcançar 32ºC a 34ºC na Grande Porto Alegre. Na terça, afirma a MetSul, o sol e calor continuam predominando e as chuvas temporais deverão ficar concentradas no extremo sul do Estado e próximo das fronteiras.
“O que vimos na enchente de setembro foi um grande volume de chuva, subiu muito rapidamente. No outro dia, estávamos fazendo o resgate de pessoas e água estava baixando. Nesse momento, há grande volume disperso ao longo da semana. E como vai continuar chovendo, os rios vão continuar elevados no final de semana. Eles estão em patamares históricos e podem ter ainda algum grau de elevação”.
Microexplosões atmosféricas devem atingir RS e SC
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Santa Catarina e Rio Grando do Sul poderão sofrer as consequências de microexplosão atmosférica, fenômeno caracterizado pelo deslocamento violento de uma corrente de ar em direção ao solo, provocando ventos extremamente fortes.
O fenômeno é o oposto do tornado, quando os ventos em direção ao solo convergem, formando um redemoinho. Mas o poder destrutivo é semelhante.
Preocupação com aumento do volume dos rios
Estael Sias, da MetSul, alerta para o fato da chuva semi-estacionária acontecer sobre a Serra e os Campos de Cima da Serra, regiões de nascentes de grandes rios do Estado, como Taquari e Caí, que já vem registrando cheias históricas por conta dos fortes temporais que caem essa semana.
“Acumulados altos nas próximas 72 horas podem contribuir para agravar ainda mais o cenário, além de piorar o risco geológico já extremo com grandes deslizamentos de terra na região serrana com encostas inteiras de morros vindo abaixo, diz a meteorologista.
Segundo a Defesa Civil, em divulgação feita na última quinta-feira, a condição hidrológica do Estado é considerada de “níveis muito acima da cota de inundação”, e a tendência é que as elevações sejam mantidas em “praticamente todos os rios” do Rio Grande do Sul, “principalmente nas bacias dos rios Jacuí, Taquari-Antas e Caí”.
Segundo o órgão, os três rios já atingiram cota de inundação histórica e “devem manter essa condição em função da previsão de novos volumes de chuva para as próximas 48h”.
“Sendo assim, é indicada a condição de risco para inundação em praticamente todo o Estado, ressaltando as elevações rápidas e extravasamento de pequenos rios e arroios, principalmente nas regiões norte, noroeste e nordeste nos Vales”, afirmou a Defesa Civil na noite da última quinta.
Alguns pontos, alertou o órgão, podem sofrer também com a inundação severa. O locais são as bacias Quaraí, Ibicuí, Vacacaí-Vacacaí Mirim, Alto e Baixo Jacuí, Ijuí, Piratinim, Butuí-Icamaquã, Pardo, Passo Fundo, Várzea, Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo, Tramandaí, Mirim-São Gonçalo, Taquari-Antas, Caí, Sinos, Gravataí, Guaíba (Ilhas, Cais e Orla), Camaquã e Mirim-São Gonçalo (elevação da Laguna dos Patos com represamento por ventos sul e sudeste).