Porto Alegre alagada: entenda por que ainda levará dias para a água baixar na cidade


Rio Grande do Sul enfrenta seu pior desastre climático; cheia em rios de outras partes do Estado ainda vai pressionar capital gaúcha nesta semana

Por Marcio Dolzan
Atualização:

A cheia do Rio Guaíba que inunda ruas de Porto Alegre ainda deverá levar dias para retornar a patamares seguros. Embora tenha evitado um desastre maior, o sistema antienchente da capital gaúcha está em seu limite e, em alguns pontos, já não dá conta de conter as águas do rio. O Rio Grande do Sul enfrenta o pior desastre climático da sua história.

Na capital gaúcha, moradores tiveram de evacuar vários bairros por risco de inundações Foto: Renan Mattos/Reuters
  • Na capital, 70% estão sem abastecimento de água e há vários pontos de interrupção de energia. O Aeroporto Salgado Filho está fechado, diversos acessos terrestres estão bloqueados e um hospital teve de ser evacuado após alagar.
  • Vários bairros foram evacuados às pressas. Equipes do poder público e voluntários se organizam em barcos e até jet skis para resgates de moradores ilhados, muitos à espera de ajuda sobre telhados. “Estão faltando botes, estão faltando coletes”, disse o prefeito Sebastião Melo (MDB).

No domingo, 5, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que há previsão de “cheia duradoura, com a estabilização dos níveis d’água elevados no Guaíba em torno de 5m a 5,50m durante mais de quatro dias”, mesmo que não persistam os temporais.

Segundo a prefeitura, a cota de inundação é de 3 metros. Até este mês, a maior marca já registrada era de 4,76 metros, na cheia histórica de 1941. Porto Alegre se desenvolveu em direção ao Guaíba, inclusive aterrando algumas partes.

  • A localização faz com que a cidade esteja rio abaixo de outros rios importantes (como o Taquari, que registrou cheia histórica). Quando há chuva forte na região central ou noroeste do Estado, as águas descem e vão em direção ao Guaíba, elevando os níveis.
  • O sistema de contenção de cheias de Porto Alegre, criado nos 1970, é composto por uma série de diques.
  • “São cerca de 68 quilômetros. Há um muro, na parte mais central, que tem aproximadamente 2,6 quilômetros de extensão. Há também vias elevadas, autoestradas e avenidas, que ficam à beira do Guaíba”, diz o professor Fernando Mainardi Fan, do IPH.

“Como a água não entra, por causa do sistema de diques, a água também não sai. Por isso há 23 casas de bombas espalhadas, que bombeiam a água de dentro pra fora”, explica.

Operários trabalham no reforço em um dos diques da capital gaúcha Foto: Carlos Fabal/AFP

Em tese, o muro da área central deveria ser capaz de suportar cheias de até seis metros, mas a capital está sendo inundada mesmo com o Guaíba não tendo chegado a essa altura.

“Houve muitas falhas ao longo do sistema, vãos em algumas comportas, e as casas de bombas não foram capazes de suportar os níveis do Guaíba. Tivemos refluxo de água por baixo”, diz Mainardi. “Não houve colapso no sistema, mas muitas falhas pontuais.”

A prefeitura diz que não houve rompimento do dique da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e diz que técnicos do município atuam na região.

“O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras”, informa.

O Estadão pediu posicionamento à prefeitura sobre a operação do sistema, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

A estrutura segue extravasando desde a madrugada de sábado, 4. O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras.

Os técnicos seguem no local e a prefeitura está com uma força-tarefa para acolher as famílias da região.

“Há muito volume de água no interior do Estado, na Bacia do Guaíba. Há rios importantes que trazem água para a região, como o Jacuí, o Taquari. E tem muita água estocada nesses rios. Demora para essa onda de cheia viajar de lá até aqui, em Porto Alegre, e drenar todo esse volume”, diz Rodrigo Paiva, também pesquisador do IPH.

Ele ressalta ainda que o sistema por si só não é capaz de proteger todas as áreas habitadas da capital e mesmo de municípios do entorno. “A zona sul não é protegida, a região das ilhas não é protegida. Tem outras cidades na região metropolitana que tem áreas que não são protegidas. Em Canoas (cidade vizinha a Porto Alegre) há outros diques, mas foram superados”, descreve Paiva.

Em São Leopoldo, também na região metropolitana, as câmeras flagraram o momento em que a água extravasa de um dique de contenção de cheias. Segundo a prefeitura, a estrutura não se rompeu, mas a correnteza passou por cima do muro.

Governo pede ‘Plano Marshall’ para reconstrução

Em todo o ano passado, os desastres naturais causaram prejuízo de R$ 105,4 bilhões ao Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios. Os dados foram levantados por meio do que Estados e prefeituras relataram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD, plataforma do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

O governador Eduardo Leite disse neste sábado que o Estado “vai precisar de uma espécie de Plano Marshall de reconstrução”, em referência ao apoio dado pelos Estados Unidos para reerguer a Europa Ocidental após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.

Especialistas alertam que, com o aquecimento global, eventos climáticos extremos vão ficar cada vez mais intensos e frequentes nos próximos anos.

O governo federal e o Congresso Nacional discutem a elaboração de um “orçamento de guerra” com um pacote de socorro. O objetivo do governo é construir um pacote de socorro com respaldo financeiro e jurídico, assim como ocorreu na pandemia de covid-19.

A cheia do Rio Guaíba que inunda ruas de Porto Alegre ainda deverá levar dias para retornar a patamares seguros. Embora tenha evitado um desastre maior, o sistema antienchente da capital gaúcha está em seu limite e, em alguns pontos, já não dá conta de conter as águas do rio. O Rio Grande do Sul enfrenta o pior desastre climático da sua história.

Na capital gaúcha, moradores tiveram de evacuar vários bairros por risco de inundações Foto: Renan Mattos/Reuters
  • Na capital, 70% estão sem abastecimento de água e há vários pontos de interrupção de energia. O Aeroporto Salgado Filho está fechado, diversos acessos terrestres estão bloqueados e um hospital teve de ser evacuado após alagar.
  • Vários bairros foram evacuados às pressas. Equipes do poder público e voluntários se organizam em barcos e até jet skis para resgates de moradores ilhados, muitos à espera de ajuda sobre telhados. “Estão faltando botes, estão faltando coletes”, disse o prefeito Sebastião Melo (MDB).

No domingo, 5, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que há previsão de “cheia duradoura, com a estabilização dos níveis d’água elevados no Guaíba em torno de 5m a 5,50m durante mais de quatro dias”, mesmo que não persistam os temporais.

Segundo a prefeitura, a cota de inundação é de 3 metros. Até este mês, a maior marca já registrada era de 4,76 metros, na cheia histórica de 1941. Porto Alegre se desenvolveu em direção ao Guaíba, inclusive aterrando algumas partes.

  • A localização faz com que a cidade esteja rio abaixo de outros rios importantes (como o Taquari, que registrou cheia histórica). Quando há chuva forte na região central ou noroeste do Estado, as águas descem e vão em direção ao Guaíba, elevando os níveis.
  • O sistema de contenção de cheias de Porto Alegre, criado nos 1970, é composto por uma série de diques.
  • “São cerca de 68 quilômetros. Há um muro, na parte mais central, que tem aproximadamente 2,6 quilômetros de extensão. Há também vias elevadas, autoestradas e avenidas, que ficam à beira do Guaíba”, diz o professor Fernando Mainardi Fan, do IPH.

“Como a água não entra, por causa do sistema de diques, a água também não sai. Por isso há 23 casas de bombas espalhadas, que bombeiam a água de dentro pra fora”, explica.

Operários trabalham no reforço em um dos diques da capital gaúcha Foto: Carlos Fabal/AFP

Em tese, o muro da área central deveria ser capaz de suportar cheias de até seis metros, mas a capital está sendo inundada mesmo com o Guaíba não tendo chegado a essa altura.

“Houve muitas falhas ao longo do sistema, vãos em algumas comportas, e as casas de bombas não foram capazes de suportar os níveis do Guaíba. Tivemos refluxo de água por baixo”, diz Mainardi. “Não houve colapso no sistema, mas muitas falhas pontuais.”

A prefeitura diz que não houve rompimento do dique da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e diz que técnicos do município atuam na região.

“O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras”, informa.

O Estadão pediu posicionamento à prefeitura sobre a operação do sistema, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

A estrutura segue extravasando desde a madrugada de sábado, 4. O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras.

Os técnicos seguem no local e a prefeitura está com uma força-tarefa para acolher as famílias da região.

“Há muito volume de água no interior do Estado, na Bacia do Guaíba. Há rios importantes que trazem água para a região, como o Jacuí, o Taquari. E tem muita água estocada nesses rios. Demora para essa onda de cheia viajar de lá até aqui, em Porto Alegre, e drenar todo esse volume”, diz Rodrigo Paiva, também pesquisador do IPH.

Ele ressalta ainda que o sistema por si só não é capaz de proteger todas as áreas habitadas da capital e mesmo de municípios do entorno. “A zona sul não é protegida, a região das ilhas não é protegida. Tem outras cidades na região metropolitana que tem áreas que não são protegidas. Em Canoas (cidade vizinha a Porto Alegre) há outros diques, mas foram superados”, descreve Paiva.

Em São Leopoldo, também na região metropolitana, as câmeras flagraram o momento em que a água extravasa de um dique de contenção de cheias. Segundo a prefeitura, a estrutura não se rompeu, mas a correnteza passou por cima do muro.

Governo pede ‘Plano Marshall’ para reconstrução

Em todo o ano passado, os desastres naturais causaram prejuízo de R$ 105,4 bilhões ao Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios. Os dados foram levantados por meio do que Estados e prefeituras relataram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD, plataforma do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

O governador Eduardo Leite disse neste sábado que o Estado “vai precisar de uma espécie de Plano Marshall de reconstrução”, em referência ao apoio dado pelos Estados Unidos para reerguer a Europa Ocidental após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.

Especialistas alertam que, com o aquecimento global, eventos climáticos extremos vão ficar cada vez mais intensos e frequentes nos próximos anos.

O governo federal e o Congresso Nacional discutem a elaboração de um “orçamento de guerra” com um pacote de socorro. O objetivo do governo é construir um pacote de socorro com respaldo financeiro e jurídico, assim como ocorreu na pandemia de covid-19.

A cheia do Rio Guaíba que inunda ruas de Porto Alegre ainda deverá levar dias para retornar a patamares seguros. Embora tenha evitado um desastre maior, o sistema antienchente da capital gaúcha está em seu limite e, em alguns pontos, já não dá conta de conter as águas do rio. O Rio Grande do Sul enfrenta o pior desastre climático da sua história.

Na capital gaúcha, moradores tiveram de evacuar vários bairros por risco de inundações Foto: Renan Mattos/Reuters
  • Na capital, 70% estão sem abastecimento de água e há vários pontos de interrupção de energia. O Aeroporto Salgado Filho está fechado, diversos acessos terrestres estão bloqueados e um hospital teve de ser evacuado após alagar.
  • Vários bairros foram evacuados às pressas. Equipes do poder público e voluntários se organizam em barcos e até jet skis para resgates de moradores ilhados, muitos à espera de ajuda sobre telhados. “Estão faltando botes, estão faltando coletes”, disse o prefeito Sebastião Melo (MDB).

No domingo, 5, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que há previsão de “cheia duradoura, com a estabilização dos níveis d’água elevados no Guaíba em torno de 5m a 5,50m durante mais de quatro dias”, mesmo que não persistam os temporais.

Segundo a prefeitura, a cota de inundação é de 3 metros. Até este mês, a maior marca já registrada era de 4,76 metros, na cheia histórica de 1941. Porto Alegre se desenvolveu em direção ao Guaíba, inclusive aterrando algumas partes.

  • A localização faz com que a cidade esteja rio abaixo de outros rios importantes (como o Taquari, que registrou cheia histórica). Quando há chuva forte na região central ou noroeste do Estado, as águas descem e vão em direção ao Guaíba, elevando os níveis.
  • O sistema de contenção de cheias de Porto Alegre, criado nos 1970, é composto por uma série de diques.
  • “São cerca de 68 quilômetros. Há um muro, na parte mais central, que tem aproximadamente 2,6 quilômetros de extensão. Há também vias elevadas, autoestradas e avenidas, que ficam à beira do Guaíba”, diz o professor Fernando Mainardi Fan, do IPH.

“Como a água não entra, por causa do sistema de diques, a água também não sai. Por isso há 23 casas de bombas espalhadas, que bombeiam a água de dentro pra fora”, explica.

Operários trabalham no reforço em um dos diques da capital gaúcha Foto: Carlos Fabal/AFP

Em tese, o muro da área central deveria ser capaz de suportar cheias de até seis metros, mas a capital está sendo inundada mesmo com o Guaíba não tendo chegado a essa altura.

“Houve muitas falhas ao longo do sistema, vãos em algumas comportas, e as casas de bombas não foram capazes de suportar os níveis do Guaíba. Tivemos refluxo de água por baixo”, diz Mainardi. “Não houve colapso no sistema, mas muitas falhas pontuais.”

A prefeitura diz que não houve rompimento do dique da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e diz que técnicos do município atuam na região.

“O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras”, informa.

O Estadão pediu posicionamento à prefeitura sobre a operação do sistema, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

A estrutura segue extravasando desde a madrugada de sábado, 4. O transbordamento está com mais vazão de água, o que acabou nivelando a parte superior da inferior. As equipes trabalharam intensamente nos últimos dias para elevar o nível da estrutura, com a enchimentos e pedras.

Os técnicos seguem no local e a prefeitura está com uma força-tarefa para acolher as famílias da região.

“Há muito volume de água no interior do Estado, na Bacia do Guaíba. Há rios importantes que trazem água para a região, como o Jacuí, o Taquari. E tem muita água estocada nesses rios. Demora para essa onda de cheia viajar de lá até aqui, em Porto Alegre, e drenar todo esse volume”, diz Rodrigo Paiva, também pesquisador do IPH.

Ele ressalta ainda que o sistema por si só não é capaz de proteger todas as áreas habitadas da capital e mesmo de municípios do entorno. “A zona sul não é protegida, a região das ilhas não é protegida. Tem outras cidades na região metropolitana que tem áreas que não são protegidas. Em Canoas (cidade vizinha a Porto Alegre) há outros diques, mas foram superados”, descreve Paiva.

Em São Leopoldo, também na região metropolitana, as câmeras flagraram o momento em que a água extravasa de um dique de contenção de cheias. Segundo a prefeitura, a estrutura não se rompeu, mas a correnteza passou por cima do muro.

Governo pede ‘Plano Marshall’ para reconstrução

Em todo o ano passado, os desastres naturais causaram prejuízo de R$ 105,4 bilhões ao Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios. Os dados foram levantados por meio do que Estados e prefeituras relataram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD, plataforma do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

O governador Eduardo Leite disse neste sábado que o Estado “vai precisar de uma espécie de Plano Marshall de reconstrução”, em referência ao apoio dado pelos Estados Unidos para reerguer a Europa Ocidental após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.

Especialistas alertam que, com o aquecimento global, eventos climáticos extremos vão ficar cada vez mais intensos e frequentes nos próximos anos.

O governo federal e o Congresso Nacional discutem a elaboração de um “orçamento de guerra” com um pacote de socorro. O objetivo do governo é construir um pacote de socorro com respaldo financeiro e jurídico, assim como ocorreu na pandemia de covid-19.

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