Ciclone causa maior tragédia climática do Rio Grande do Sul: governos falham na prevenção?


Especialistas afastam justificativa de erros na previsão meteorológica e defendem ampliar investimentos nas defesas civis; municípios gaúchos tiveram 41 mortes

Por José Maria Tomazela e Emilio Sant'Anna
Atualização:

O Rio Grande do Sul sofreu esta semana com a maior tragédia climática da sua história. A passagem de um ciclone, junto de temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Não foi a primeira vez que o Estado foi atingido por um fenômeno do tipo: em junho, outro ciclone fez 16 vítimas. Segundo especialistas, os governos falham na prevenção de desastres naturais, que devem ficar mais frequentes e intensos com a piora do aquecimento global.

Ainda conforme os cientistas, é importante aperfeiçoar os modelos de previsão meteorológica, mas não adianta colocar a culpa na falta de alertas. Na quarta-feira, 6, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que os institutos não previram volume de chuva tão atípico.

“Os modelos matemáticos previram as chuvas, mas não o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da região serrana, do Vale do Taquari, que foi mais afetado”, afirmou em entrevista à Globo News.

Lajeado foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul; especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo Foto: Prefeitura de Lajeado/Divulgação

Ao menos um instituto meteorológico previu com antecedência o temporal. Em nota oficial, a MetSul Meteorologia rebateu Leite. Disse ter advertido com antecedência sobre a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha no início de mês. Em 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, publicou alerta de que setembro começaria com tempestades e enchentes.

“O que se vê é que faltam por parte do governo do Rio Grande do Sul essas medidas preventivas para reduzir o impacto desses eventos”, afirma o professor da Universidade de São Paulo Pedro Côrtes, geólogo e especialista em ciência ambiental.

Entre as ações preventivas que os especialistas sugerem priorizar, estão a implementação de planos diretores urbanos e políticas de moradias populares que tirem as populações vulneráveis de áreas de deslizamento e enchente. A recuperação de rios, as intervenções de saneamento básico e de permeabilidade do solo também protegem contra desastres.

As defesas civis desempenham papel importante na resposta rápida às urgências e na orientação à população. Reforçar esses órgãos com profissionais e equipamentos é outra demanda. Nesta semana, por exemplo, uma mulher era recolhida da água, mas o cabo que ajudava a levar a vítima até a aeronave se rompeu. O helicóptero teve de passar por perícia e saiu da mobilização de resgate.

“O governador tem de assumir a responsabilidade de reforçar as defesas civis do seu Estado para que eventos como estes, que ficam cada vez mais intensos e frequentes, causem menor dano à população”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, que já integrou o painel de cientistas das Nações Unidas para estudar as mudanças climáticas.

“O Brasil inteiro terá de reforçar a Defesa Civil contra eventos climáticos extremos que aumentam muito rapidamente”, acrescenta. Para o especialista, é necessário aprimorar os sistemas brasileiros de previsão e alertas meteorológicos, mas “atribuir o despreparo das Defesas Civis à questão da modelagem climática não faz o menor sentido.”

Entre 2013 e o ano passado, eventos climáticos extremos foram registrados em 5.199 das 5.570 cidades do País, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Isso resultou no deslocamento forçado de mais de 4,2 milhões de pessoas, que perderam suas casas ou tiveram de deixá-las para trás.

Em 2023, ainda conforme a entidade, 115 pessoas morreram por causa de chuvas - 52 delas no Rio Grande do Sul. Nos cálculos da CNM, os prejuízos com o ciclone já superam os R$ 85 milhões, sendo R$ 20 milhões na área habitacional.

Especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo para afirmar que os ciclones estão mais frequentes no Brasil, mas há indícios de que eles estão mais intensos por causa das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que começou no meio deste ano.

“As projeções dos modelos climáticos indicam o estabelecimento de um evento El Niño muito forte, onde essa condição deverá estabelecer a ocorrência de altos volumes de chuva sobre o RS ao longo do segundo semestre”, diz a edição mais recente do prognóstico climático trimestral do próprio governo gaúcho.

Para a meteorologista Estael Sias, da MetSul, que há vinte e três anos acompanha as previsões diárias, eventos extremos como esse estão mais fortes e com trajetória menos previsível. “Esses ciclones costumam se formar ao longo da costa e ir para alto mar. E tivemos ciclones com trajetórias retrógradas, que se aproximam do continente ou ocorrem em cima do continente”, afirma Estael.

Falta de verba e de estrutura é gargalo

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, é dever de União, Estados e municípios adotarem as medidas de redução de riscos de desastres. As prefeituras, porém, apontam dificuldades orçamentárias e técnicas para reforçar essas equipes. Em pesquisa com 2 mil cidades publicada neste ano na Revista de Informação Legislativa do Senado, 72% disseram não ter orçamento próprio para o setor.

Procurado pela reportagem, o governo do Rio Grande do Sul não falou sobre ações específicas na prevenção de desastres. Em nota pública, o Estado disse que “a população foi alertada para a chegada de chuvas com possibilidade de inundações”. Desde 31 de agosto, diz o texto, foram emitidos 48 alertas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 19 avisos para as Comissões da Defesa Civil e 21 mensagens SMS para avisar a população sobre as chuvas.

Ainda de acordo com a gestão Leite, “os alertas são enviados diretamente para o celular das pessoas cadastradas no serviço e publicados no site da Defesa Civil, bem como nas redes sociais institucionais”.

O Estadão também procurou a Secretaria de Comunicação do governo federal para falar de investimentos na prevenção de desastres naturais feitos por várias áreas do Executivo, mas a pasta disse que a “execução desses recursos deve ser apurada junto aos ministérios”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois ministros ao Estado, prometeu facilitar repasse de recursos, mas não visitou o local da tragédia. /COLABOROU PAULA FERREIRA

O Rio Grande do Sul sofreu esta semana com a maior tragédia climática da sua história. A passagem de um ciclone, junto de temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Não foi a primeira vez que o Estado foi atingido por um fenômeno do tipo: em junho, outro ciclone fez 16 vítimas. Segundo especialistas, os governos falham na prevenção de desastres naturais, que devem ficar mais frequentes e intensos com a piora do aquecimento global.

Ainda conforme os cientistas, é importante aperfeiçoar os modelos de previsão meteorológica, mas não adianta colocar a culpa na falta de alertas. Na quarta-feira, 6, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que os institutos não previram volume de chuva tão atípico.

“Os modelos matemáticos previram as chuvas, mas não o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da região serrana, do Vale do Taquari, que foi mais afetado”, afirmou em entrevista à Globo News.

Lajeado foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul; especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo Foto: Prefeitura de Lajeado/Divulgação

Ao menos um instituto meteorológico previu com antecedência o temporal. Em nota oficial, a MetSul Meteorologia rebateu Leite. Disse ter advertido com antecedência sobre a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha no início de mês. Em 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, publicou alerta de que setembro começaria com tempestades e enchentes.

“O que se vê é que faltam por parte do governo do Rio Grande do Sul essas medidas preventivas para reduzir o impacto desses eventos”, afirma o professor da Universidade de São Paulo Pedro Côrtes, geólogo e especialista em ciência ambiental.

Entre as ações preventivas que os especialistas sugerem priorizar, estão a implementação de planos diretores urbanos e políticas de moradias populares que tirem as populações vulneráveis de áreas de deslizamento e enchente. A recuperação de rios, as intervenções de saneamento básico e de permeabilidade do solo também protegem contra desastres.

As defesas civis desempenham papel importante na resposta rápida às urgências e na orientação à população. Reforçar esses órgãos com profissionais e equipamentos é outra demanda. Nesta semana, por exemplo, uma mulher era recolhida da água, mas o cabo que ajudava a levar a vítima até a aeronave se rompeu. O helicóptero teve de passar por perícia e saiu da mobilização de resgate.

“O governador tem de assumir a responsabilidade de reforçar as defesas civis do seu Estado para que eventos como estes, que ficam cada vez mais intensos e frequentes, causem menor dano à população”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, que já integrou o painel de cientistas das Nações Unidas para estudar as mudanças climáticas.

“O Brasil inteiro terá de reforçar a Defesa Civil contra eventos climáticos extremos que aumentam muito rapidamente”, acrescenta. Para o especialista, é necessário aprimorar os sistemas brasileiros de previsão e alertas meteorológicos, mas “atribuir o despreparo das Defesas Civis à questão da modelagem climática não faz o menor sentido.”

Entre 2013 e o ano passado, eventos climáticos extremos foram registrados em 5.199 das 5.570 cidades do País, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Isso resultou no deslocamento forçado de mais de 4,2 milhões de pessoas, que perderam suas casas ou tiveram de deixá-las para trás.

Em 2023, ainda conforme a entidade, 115 pessoas morreram por causa de chuvas - 52 delas no Rio Grande do Sul. Nos cálculos da CNM, os prejuízos com o ciclone já superam os R$ 85 milhões, sendo R$ 20 milhões na área habitacional.

Especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo para afirmar que os ciclones estão mais frequentes no Brasil, mas há indícios de que eles estão mais intensos por causa das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que começou no meio deste ano.

“As projeções dos modelos climáticos indicam o estabelecimento de um evento El Niño muito forte, onde essa condição deverá estabelecer a ocorrência de altos volumes de chuva sobre o RS ao longo do segundo semestre”, diz a edição mais recente do prognóstico climático trimestral do próprio governo gaúcho.

Para a meteorologista Estael Sias, da MetSul, que há vinte e três anos acompanha as previsões diárias, eventos extremos como esse estão mais fortes e com trajetória menos previsível. “Esses ciclones costumam se formar ao longo da costa e ir para alto mar. E tivemos ciclones com trajetórias retrógradas, que se aproximam do continente ou ocorrem em cima do continente”, afirma Estael.

Falta de verba e de estrutura é gargalo

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, é dever de União, Estados e municípios adotarem as medidas de redução de riscos de desastres. As prefeituras, porém, apontam dificuldades orçamentárias e técnicas para reforçar essas equipes. Em pesquisa com 2 mil cidades publicada neste ano na Revista de Informação Legislativa do Senado, 72% disseram não ter orçamento próprio para o setor.

Procurado pela reportagem, o governo do Rio Grande do Sul não falou sobre ações específicas na prevenção de desastres. Em nota pública, o Estado disse que “a população foi alertada para a chegada de chuvas com possibilidade de inundações”. Desde 31 de agosto, diz o texto, foram emitidos 48 alertas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 19 avisos para as Comissões da Defesa Civil e 21 mensagens SMS para avisar a população sobre as chuvas.

Ainda de acordo com a gestão Leite, “os alertas são enviados diretamente para o celular das pessoas cadastradas no serviço e publicados no site da Defesa Civil, bem como nas redes sociais institucionais”.

O Estadão também procurou a Secretaria de Comunicação do governo federal para falar de investimentos na prevenção de desastres naturais feitos por várias áreas do Executivo, mas a pasta disse que a “execução desses recursos deve ser apurada junto aos ministérios”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois ministros ao Estado, prometeu facilitar repasse de recursos, mas não visitou o local da tragédia. /COLABOROU PAULA FERREIRA

O Rio Grande do Sul sofreu esta semana com a maior tragédia climática da sua história. A passagem de um ciclone, junto de temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Não foi a primeira vez que o Estado foi atingido por um fenômeno do tipo: em junho, outro ciclone fez 16 vítimas. Segundo especialistas, os governos falham na prevenção de desastres naturais, que devem ficar mais frequentes e intensos com a piora do aquecimento global.

Ainda conforme os cientistas, é importante aperfeiçoar os modelos de previsão meteorológica, mas não adianta colocar a culpa na falta de alertas. Na quarta-feira, 6, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que os institutos não previram volume de chuva tão atípico.

“Os modelos matemáticos previram as chuvas, mas não o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da região serrana, do Vale do Taquari, que foi mais afetado”, afirmou em entrevista à Globo News.

Lajeado foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul; especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo Foto: Prefeitura de Lajeado/Divulgação

Ao menos um instituto meteorológico previu com antecedência o temporal. Em nota oficial, a MetSul Meteorologia rebateu Leite. Disse ter advertido com antecedência sobre a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha no início de mês. Em 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, publicou alerta de que setembro começaria com tempestades e enchentes.

“O que se vê é que faltam por parte do governo do Rio Grande do Sul essas medidas preventivas para reduzir o impacto desses eventos”, afirma o professor da Universidade de São Paulo Pedro Côrtes, geólogo e especialista em ciência ambiental.

Entre as ações preventivas que os especialistas sugerem priorizar, estão a implementação de planos diretores urbanos e políticas de moradias populares que tirem as populações vulneráveis de áreas de deslizamento e enchente. A recuperação de rios, as intervenções de saneamento básico e de permeabilidade do solo também protegem contra desastres.

As defesas civis desempenham papel importante na resposta rápida às urgências e na orientação à população. Reforçar esses órgãos com profissionais e equipamentos é outra demanda. Nesta semana, por exemplo, uma mulher era recolhida da água, mas o cabo que ajudava a levar a vítima até a aeronave se rompeu. O helicóptero teve de passar por perícia e saiu da mobilização de resgate.

“O governador tem de assumir a responsabilidade de reforçar as defesas civis do seu Estado para que eventos como estes, que ficam cada vez mais intensos e frequentes, causem menor dano à população”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, que já integrou o painel de cientistas das Nações Unidas para estudar as mudanças climáticas.

“O Brasil inteiro terá de reforçar a Defesa Civil contra eventos climáticos extremos que aumentam muito rapidamente”, acrescenta. Para o especialista, é necessário aprimorar os sistemas brasileiros de previsão e alertas meteorológicos, mas “atribuir o despreparo das Defesas Civis à questão da modelagem climática não faz o menor sentido.”

Entre 2013 e o ano passado, eventos climáticos extremos foram registrados em 5.199 das 5.570 cidades do País, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Isso resultou no deslocamento forçado de mais de 4,2 milhões de pessoas, que perderam suas casas ou tiveram de deixá-las para trás.

Em 2023, ainda conforme a entidade, 115 pessoas morreram por causa de chuvas - 52 delas no Rio Grande do Sul. Nos cálculos da CNM, os prejuízos com o ciclone já superam os R$ 85 milhões, sendo R$ 20 milhões na área habitacional.

Especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo para afirmar que os ciclones estão mais frequentes no Brasil, mas há indícios de que eles estão mais intensos por causa das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que começou no meio deste ano.

“As projeções dos modelos climáticos indicam o estabelecimento de um evento El Niño muito forte, onde essa condição deverá estabelecer a ocorrência de altos volumes de chuva sobre o RS ao longo do segundo semestre”, diz a edição mais recente do prognóstico climático trimestral do próprio governo gaúcho.

Para a meteorologista Estael Sias, da MetSul, que há vinte e três anos acompanha as previsões diárias, eventos extremos como esse estão mais fortes e com trajetória menos previsível. “Esses ciclones costumam se formar ao longo da costa e ir para alto mar. E tivemos ciclones com trajetórias retrógradas, que se aproximam do continente ou ocorrem em cima do continente”, afirma Estael.

Falta de verba e de estrutura é gargalo

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, é dever de União, Estados e municípios adotarem as medidas de redução de riscos de desastres. As prefeituras, porém, apontam dificuldades orçamentárias e técnicas para reforçar essas equipes. Em pesquisa com 2 mil cidades publicada neste ano na Revista de Informação Legislativa do Senado, 72% disseram não ter orçamento próprio para o setor.

Procurado pela reportagem, o governo do Rio Grande do Sul não falou sobre ações específicas na prevenção de desastres. Em nota pública, o Estado disse que “a população foi alertada para a chegada de chuvas com possibilidade de inundações”. Desde 31 de agosto, diz o texto, foram emitidos 48 alertas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 19 avisos para as Comissões da Defesa Civil e 21 mensagens SMS para avisar a população sobre as chuvas.

Ainda de acordo com a gestão Leite, “os alertas são enviados diretamente para o celular das pessoas cadastradas no serviço e publicados no site da Defesa Civil, bem como nas redes sociais institucionais”.

O Estadão também procurou a Secretaria de Comunicação do governo federal para falar de investimentos na prevenção de desastres naturais feitos por várias áreas do Executivo, mas a pasta disse que a “execução desses recursos deve ser apurada junto aos ministérios”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois ministros ao Estado, prometeu facilitar repasse de recursos, mas não visitou o local da tragédia. /COLABOROU PAULA FERREIRA

O Rio Grande do Sul sofreu esta semana com a maior tragédia climática da sua história. A passagem de um ciclone, junto de temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Não foi a primeira vez que o Estado foi atingido por um fenômeno do tipo: em junho, outro ciclone fez 16 vítimas. Segundo especialistas, os governos falham na prevenção de desastres naturais, que devem ficar mais frequentes e intensos com a piora do aquecimento global.

Ainda conforme os cientistas, é importante aperfeiçoar os modelos de previsão meteorológica, mas não adianta colocar a culpa na falta de alertas. Na quarta-feira, 6, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que os institutos não previram volume de chuva tão atípico.

“Os modelos matemáticos previram as chuvas, mas não o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da região serrana, do Vale do Taquari, que foi mais afetado”, afirmou em entrevista à Globo News.

Lajeado foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul; especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo Foto: Prefeitura de Lajeado/Divulgação

Ao menos um instituto meteorológico previu com antecedência o temporal. Em nota oficial, a MetSul Meteorologia rebateu Leite. Disse ter advertido com antecedência sobre a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha no início de mês. Em 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, publicou alerta de que setembro começaria com tempestades e enchentes.

“O que se vê é que faltam por parte do governo do Rio Grande do Sul essas medidas preventivas para reduzir o impacto desses eventos”, afirma o professor da Universidade de São Paulo Pedro Côrtes, geólogo e especialista em ciência ambiental.

Entre as ações preventivas que os especialistas sugerem priorizar, estão a implementação de planos diretores urbanos e políticas de moradias populares que tirem as populações vulneráveis de áreas de deslizamento e enchente. A recuperação de rios, as intervenções de saneamento básico e de permeabilidade do solo também protegem contra desastres.

As defesas civis desempenham papel importante na resposta rápida às urgências e na orientação à população. Reforçar esses órgãos com profissionais e equipamentos é outra demanda. Nesta semana, por exemplo, uma mulher era recolhida da água, mas o cabo que ajudava a levar a vítima até a aeronave se rompeu. O helicóptero teve de passar por perícia e saiu da mobilização de resgate.

“O governador tem de assumir a responsabilidade de reforçar as defesas civis do seu Estado para que eventos como estes, que ficam cada vez mais intensos e frequentes, causem menor dano à população”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, que já integrou o painel de cientistas das Nações Unidas para estudar as mudanças climáticas.

“O Brasil inteiro terá de reforçar a Defesa Civil contra eventos climáticos extremos que aumentam muito rapidamente”, acrescenta. Para o especialista, é necessário aprimorar os sistemas brasileiros de previsão e alertas meteorológicos, mas “atribuir o despreparo das Defesas Civis à questão da modelagem climática não faz o menor sentido.”

Entre 2013 e o ano passado, eventos climáticos extremos foram registrados em 5.199 das 5.570 cidades do País, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Isso resultou no deslocamento forçado de mais de 4,2 milhões de pessoas, que perderam suas casas ou tiveram de deixá-las para trás.

Em 2023, ainda conforme a entidade, 115 pessoas morreram por causa de chuvas - 52 delas no Rio Grande do Sul. Nos cálculos da CNM, os prejuízos com o ciclone já superam os R$ 85 milhões, sendo R$ 20 milhões na área habitacional.

Especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo para afirmar que os ciclones estão mais frequentes no Brasil, mas há indícios de que eles estão mais intensos por causa das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que começou no meio deste ano.

“As projeções dos modelos climáticos indicam o estabelecimento de um evento El Niño muito forte, onde essa condição deverá estabelecer a ocorrência de altos volumes de chuva sobre o RS ao longo do segundo semestre”, diz a edição mais recente do prognóstico climático trimestral do próprio governo gaúcho.

Para a meteorologista Estael Sias, da MetSul, que há vinte e três anos acompanha as previsões diárias, eventos extremos como esse estão mais fortes e com trajetória menos previsível. “Esses ciclones costumam se formar ao longo da costa e ir para alto mar. E tivemos ciclones com trajetórias retrógradas, que se aproximam do continente ou ocorrem em cima do continente”, afirma Estael.

Falta de verba e de estrutura é gargalo

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, é dever de União, Estados e municípios adotarem as medidas de redução de riscos de desastres. As prefeituras, porém, apontam dificuldades orçamentárias e técnicas para reforçar essas equipes. Em pesquisa com 2 mil cidades publicada neste ano na Revista de Informação Legislativa do Senado, 72% disseram não ter orçamento próprio para o setor.

Procurado pela reportagem, o governo do Rio Grande do Sul não falou sobre ações específicas na prevenção de desastres. Em nota pública, o Estado disse que “a população foi alertada para a chegada de chuvas com possibilidade de inundações”. Desde 31 de agosto, diz o texto, foram emitidos 48 alertas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 19 avisos para as Comissões da Defesa Civil e 21 mensagens SMS para avisar a população sobre as chuvas.

Ainda de acordo com a gestão Leite, “os alertas são enviados diretamente para o celular das pessoas cadastradas no serviço e publicados no site da Defesa Civil, bem como nas redes sociais institucionais”.

O Estadão também procurou a Secretaria de Comunicação do governo federal para falar de investimentos na prevenção de desastres naturais feitos por várias áreas do Executivo, mas a pasta disse que a “execução desses recursos deve ser apurada junto aos ministérios”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois ministros ao Estado, prometeu facilitar repasse de recursos, mas não visitou o local da tragédia. /COLABOROU PAULA FERREIRA

O Rio Grande do Sul sofreu esta semana com a maior tragédia climática da sua história. A passagem de um ciclone, junto de temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Não foi a primeira vez que o Estado foi atingido por um fenômeno do tipo: em junho, outro ciclone fez 16 vítimas. Segundo especialistas, os governos falham na prevenção de desastres naturais, que devem ficar mais frequentes e intensos com a piora do aquecimento global.

Ainda conforme os cientistas, é importante aperfeiçoar os modelos de previsão meteorológica, mas não adianta colocar a culpa na falta de alertas. Na quarta-feira, 6, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que os institutos não previram volume de chuva tão atípico.

“Os modelos matemáticos previram as chuvas, mas não o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona norte do Estado, da região noroeste, da região serrana, do Vale do Taquari, que foi mais afetado”, afirmou em entrevista à Globo News.

Lajeado foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul; especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo Foto: Prefeitura de Lajeado/Divulgação

Ao menos um instituto meteorológico previu com antecedência o temporal. Em nota oficial, a MetSul Meteorologia rebateu Leite. Disse ter advertido com antecedência sobre a possibilidade de chuva acima de 300 milímetros na metade norte gaúcha no início de mês. Em 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, publicou alerta de que setembro começaria com tempestades e enchentes.

“O que se vê é que faltam por parte do governo do Rio Grande do Sul essas medidas preventivas para reduzir o impacto desses eventos”, afirma o professor da Universidade de São Paulo Pedro Côrtes, geólogo e especialista em ciência ambiental.

Entre as ações preventivas que os especialistas sugerem priorizar, estão a implementação de planos diretores urbanos e políticas de moradias populares que tirem as populações vulneráveis de áreas de deslizamento e enchente. A recuperação de rios, as intervenções de saneamento básico e de permeabilidade do solo também protegem contra desastres.

As defesas civis desempenham papel importante na resposta rápida às urgências e na orientação à população. Reforçar esses órgãos com profissionais e equipamentos é outra demanda. Nesta semana, por exemplo, uma mulher era recolhida da água, mas o cabo que ajudava a levar a vítima até a aeronave se rompeu. O helicóptero teve de passar por perícia e saiu da mobilização de resgate.

“O governador tem de assumir a responsabilidade de reforçar as defesas civis do seu Estado para que eventos como estes, que ficam cada vez mais intensos e frequentes, causem menor dano à população”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, que já integrou o painel de cientistas das Nações Unidas para estudar as mudanças climáticas.

“O Brasil inteiro terá de reforçar a Defesa Civil contra eventos climáticos extremos que aumentam muito rapidamente”, acrescenta. Para o especialista, é necessário aprimorar os sistemas brasileiros de previsão e alertas meteorológicos, mas “atribuir o despreparo das Defesas Civis à questão da modelagem climática não faz o menor sentido.”

Entre 2013 e o ano passado, eventos climáticos extremos foram registrados em 5.199 das 5.570 cidades do País, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Isso resultou no deslocamento forçado de mais de 4,2 milhões de pessoas, que perderam suas casas ou tiveram de deixá-las para trás.

Em 2023, ainda conforme a entidade, 115 pessoas morreram por causa de chuvas - 52 delas no Rio Grande do Sul. Nos cálculos da CNM, os prejuízos com o ciclone já superam os R$ 85 milhões, sendo R$ 20 milhões na área habitacional.

Especialistas afirmam que faltam dados de acompanhamento de longo prazo para afirmar que os ciclones estão mais frequentes no Brasil, mas há indícios de que eles estão mais intensos por causa das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que começou no meio deste ano.

“As projeções dos modelos climáticos indicam o estabelecimento de um evento El Niño muito forte, onde essa condição deverá estabelecer a ocorrência de altos volumes de chuva sobre o RS ao longo do segundo semestre”, diz a edição mais recente do prognóstico climático trimestral do próprio governo gaúcho.

Para a meteorologista Estael Sias, da MetSul, que há vinte e três anos acompanha as previsões diárias, eventos extremos como esse estão mais fortes e com trajetória menos previsível. “Esses ciclones costumam se formar ao longo da costa e ir para alto mar. E tivemos ciclones com trajetórias retrógradas, que se aproximam do continente ou ocorrem em cima do continente”, afirma Estael.

Falta de verba e de estrutura é gargalo

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, é dever de União, Estados e municípios adotarem as medidas de redução de riscos de desastres. As prefeituras, porém, apontam dificuldades orçamentárias e técnicas para reforçar essas equipes. Em pesquisa com 2 mil cidades publicada neste ano na Revista de Informação Legislativa do Senado, 72% disseram não ter orçamento próprio para o setor.

Procurado pela reportagem, o governo do Rio Grande do Sul não falou sobre ações específicas na prevenção de desastres. Em nota pública, o Estado disse que “a população foi alertada para a chegada de chuvas com possibilidade de inundações”. Desde 31 de agosto, diz o texto, foram emitidos 48 alertas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 19 avisos para as Comissões da Defesa Civil e 21 mensagens SMS para avisar a população sobre as chuvas.

Ainda de acordo com a gestão Leite, “os alertas são enviados diretamente para o celular das pessoas cadastradas no serviço e publicados no site da Defesa Civil, bem como nas redes sociais institucionais”.

O Estadão também procurou a Secretaria de Comunicação do governo federal para falar de investimentos na prevenção de desastres naturais feitos por várias áreas do Executivo, mas a pasta disse que a “execução desses recursos deve ser apurada junto aos ministérios”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois ministros ao Estado, prometeu facilitar repasse de recursos, mas não visitou o local da tragédia. /COLABOROU PAULA FERREIRA

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