Ciclone extratropical está mais comum no Brasil? Veja o que dizem os especialistas


Em 2023, ciclones já causaram chuvas extremas, ventania e agitação marítima no Sul e no Sudeste do País em curtos intervalos; entenda o que desencadeia o fenômeno

Por Giovanna Castro
Atualização:

Em junho, o Rio Grande do Sul enfrentou fortes alagamentos, desabamentos e mortes por causa de um ciclone extratropical. Nesta semana, o evento se repete na região. Embora com intensidade menor, o fenômeno já causa fortes ventanias e interrupções no abastecimento de energia elétrica. Mas, afinal, esses eventos climáticos estão mais comuns no Brasil?

O ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul em junho deste ano causou desabamentos, alagamentos e 11 mortes Foto: Divulgação/ Ruan Nascimento/ Prefeitura de Taquara (RS)

O Brasil e os ciclones

Os ciclones que acontecem no Brasil são, em geral, os extratropicais. Eles se formam principalmente em regiões temperadas – entre o Equador e o Polo Sul ou Norte – e em áreas de baixa pressão atmosférica. Acontecem partir do contraste entre uma massa de ar frio e uma de ar quente, por isso geralmente estão acompanhados de uma frente fria como é o caso da que atingiu o Sul e o Sudeste do País em junho.

Segundo Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), é comum acontecerem ciclones em três regiões da América Latina, geralmente próximos à costa do mar:

  • Na Patagônia, região da Argentina que fica ao extremo sul do continente;
  • Entre o rio da Prata (Argentina), o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina;
  • Entre São Paulo e Rio de Janeiro.

O que acontece é que, na maioria das vezes, esses eventos ocorrem muito próximos à costa do mar e rapidamente se deslocam para o leste, adentrando o oceano – como é o caso dos que vão acontecer nos próximos dias no Sul. Dessa forma, a chuva, o vento forte e a frente fria associados ao ciclone são sentidos, mas sem extremismos.

Porém, “de vez em quando, temos episódios de ciclones mais intensos”, diz Seluchi. É o caso do ciclone que atingiu em junho o Rio Grande do Sul. Estael Sias, meteorologista sócia diretora da MetSul, explica que o evento de duas semanas atrás teve uma trajetória diferente da normal e, por isso, propiciou os eventos extremos registrados.

De acordo com Sias, o percurso padrão dos ciclones extratropicais que ocorrem no Sul do País é que eles se formem entre o noroeste da Argentina, o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte da Santa Catarina para depois se mover em direção ao oceano. Já o ciclone de junho se formou entre São Paulo e Paraná e desceu para o Rio Grande do Sul.

“Quando isso acontece (um ciclone com trajeto fora da normalidade), geralmente propicia eventos extremos, porque depende de uma energia muito grande para gerar uma trajetória atípica”, afirma ela.

Dentro desse espectro de ciclones atípicos, há ainda os “ciclones bomba”, aqueles que se intensificam muito rapidamente, causando ventos muito fortes. Um exemplo é o ciclone que atingiu o Rio de Janeiro entre o fim de março e começo de abril.

Ressaca e grandes ondas após a passagem do ciclone bomba pela região Sudeste entre o fim de março e começo de abril de 2023. Na foto, praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/ Estadão

Inverno e contexto macroclimático propiciam ciclones extratropicais

“Durante o inverno podemos ter, em média, um ciclone extratropical por semana”, afirma Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo. Isso porque, nesta época do ano, muito ar frio chega ao Sul do País de regiões polares, enquanto o ar quente do Centro-Oeste ganha mais força, propiciando o gradiente térmico que causa o ciclone.

Segundo os especialistas, ainda não há dados suficientes para afirmar se os ciclones estão mais frequentes, pois isso demanda vários anos de observação e registros. Mas um dos efeitos previstos com o aquecimento, segundo o Painel de Cientistas da ONU para as mudanças climáticas, são eventos extremos cada mais intensos e frequentes.

O número e a intensidade dos eventos podem variar também de acordo com o contexto macroclimático. E, hoje, temos alguns deles que geram impacto direto na formação de ciclones:

  • El Niño: com as águas do Oceano Pacífico mais quentes, o contraste térmico com a atmosfera fica mais acentuado, fortalecendo grandes correntes de vento nos níveis altos da troposfera (entre 8 e 12km de altura), chamados de “jatos”. “Estes jatos mais intensos contribuem com mais instabilidade na região Sul do Brasil”, diz Lucyrio;
  • Oscilação antártica negativa: quando positivo, esse índice, que estima a “ondulação” da circulação de ar em torno das regiões polares do Hemisfério Sul, faz com que os ventos que circundam o planeta fiquem menos ondulados, causando maior retenção de ar frio em regiões polares. Já quando negativo – situação atual –, estas correntes de vento ficam mais onduladas e amplificadas, favorecendo a entrada de ar frio de áreas polares nas regiões tropicais, assim como a entrada de ar quente de regiões tropicais em regiões temperadas e polares. “Isso favorece a formação de mais áreas de baixa pressão e, consequentemente, mais ciclones. O contraste térmico favorecido por esta condição também contribui com mais ciclones”, diz Lucyrio;
  • Atlântico sul mais aquecido do que a média na altura da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil: este fator faz com que haja mais energia para a intensificação dos ciclones. Eles geralmente começam a se formar sobre o continente e atingem seu ápice em alto mar. Então, com a água mais quente, a pressão atmosférica cai de forma mais acelerada, gerando o mesmo efeito sobre o ciclone;
  • Mudanças climáticas: de acordo com poderemos ter mais eventos de ciclones não muito comuns na nossa costa devido ao aquecimento do oceano – como os subtropicais e até mesmo tropicais. Além disso, segundo Seluchi, com uma maior temperatura e uma maior evaporação oceânica, a umidade pode ser maior, causando maior intensidade nos ciclones. “Ciclones que se desenvolvem sobre uma atmosfera mais quente e mais umida tem mais chance de se tornar mais intenso. Então, provavelmente, os ciclones se tornarão mais intensos, com mais casos de ciclones bomba”, diz o especialista. Apesar disso, ele ressalta que ainda não existem estudos conclusivos sobre o real impacto das mudanças climáticas no aumento do volume e intensidade de ciclones.

Os outros tipos de ciclones, que não extratropicais, são:

  • Tropicais: se formam sobre regiões oceânicas com águas quentes, se desenvolvendo a partir da energia fornecida pelo oceano;
  • Subtropicais: uma espécie de ciclone híbrido, com características de ciclone tropical (ar quente nos níveis mais baixos da atmosfera) e extratropical (ar frio em níveis mais altos), mas que não são associados a frentes frias. Costumam se formar um pouco mais ao norte da região preferencial dos extratropicais.

“Normalmente, os ciclones tropicais causam chuvas mais volumosas. No Atlântico Norte e Pacífico Leste, quando ganham muita força, podem ser classificados como Furacão. Já na Ásia recebem o nome de Tufão”, diz Lucyrio. No Brasil, este tipo de ciclone não é comum.

Já os subtropicais “tendem a se afastar da costa, mas às vezes acabam tomando uma trajetória ‘contrária’ ao habitual, rumo a áreas costeiras. Este tipo de ciclone ainda não é tão comum, mas está ficando mais frequente nos últimos anos”, afirma Lucyrio.

São exemplos de ciclones subtropicais as Tempestades Subtropicais Yakecan, de maio de 2022, e o Raoni, de junho de 2021. Ambos atingiram o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

Em junho, o Rio Grande do Sul enfrentou fortes alagamentos, desabamentos e mortes por causa de um ciclone extratropical. Nesta semana, o evento se repete na região. Embora com intensidade menor, o fenômeno já causa fortes ventanias e interrupções no abastecimento de energia elétrica. Mas, afinal, esses eventos climáticos estão mais comuns no Brasil?

O ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul em junho deste ano causou desabamentos, alagamentos e 11 mortes Foto: Divulgação/ Ruan Nascimento/ Prefeitura de Taquara (RS)

O Brasil e os ciclones

Os ciclones que acontecem no Brasil são, em geral, os extratropicais. Eles se formam principalmente em regiões temperadas – entre o Equador e o Polo Sul ou Norte – e em áreas de baixa pressão atmosférica. Acontecem partir do contraste entre uma massa de ar frio e uma de ar quente, por isso geralmente estão acompanhados de uma frente fria como é o caso da que atingiu o Sul e o Sudeste do País em junho.

Segundo Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), é comum acontecerem ciclones em três regiões da América Latina, geralmente próximos à costa do mar:

  • Na Patagônia, região da Argentina que fica ao extremo sul do continente;
  • Entre o rio da Prata (Argentina), o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina;
  • Entre São Paulo e Rio de Janeiro.

O que acontece é que, na maioria das vezes, esses eventos ocorrem muito próximos à costa do mar e rapidamente se deslocam para o leste, adentrando o oceano – como é o caso dos que vão acontecer nos próximos dias no Sul. Dessa forma, a chuva, o vento forte e a frente fria associados ao ciclone são sentidos, mas sem extremismos.

Porém, “de vez em quando, temos episódios de ciclones mais intensos”, diz Seluchi. É o caso do ciclone que atingiu em junho o Rio Grande do Sul. Estael Sias, meteorologista sócia diretora da MetSul, explica que o evento de duas semanas atrás teve uma trajetória diferente da normal e, por isso, propiciou os eventos extremos registrados.

De acordo com Sias, o percurso padrão dos ciclones extratropicais que ocorrem no Sul do País é que eles se formem entre o noroeste da Argentina, o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte da Santa Catarina para depois se mover em direção ao oceano. Já o ciclone de junho se formou entre São Paulo e Paraná e desceu para o Rio Grande do Sul.

“Quando isso acontece (um ciclone com trajeto fora da normalidade), geralmente propicia eventos extremos, porque depende de uma energia muito grande para gerar uma trajetória atípica”, afirma ela.

Dentro desse espectro de ciclones atípicos, há ainda os “ciclones bomba”, aqueles que se intensificam muito rapidamente, causando ventos muito fortes. Um exemplo é o ciclone que atingiu o Rio de Janeiro entre o fim de março e começo de abril.

Ressaca e grandes ondas após a passagem do ciclone bomba pela região Sudeste entre o fim de março e começo de abril de 2023. Na foto, praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/ Estadão

Inverno e contexto macroclimático propiciam ciclones extratropicais

“Durante o inverno podemos ter, em média, um ciclone extratropical por semana”, afirma Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo. Isso porque, nesta época do ano, muito ar frio chega ao Sul do País de regiões polares, enquanto o ar quente do Centro-Oeste ganha mais força, propiciando o gradiente térmico que causa o ciclone.

Segundo os especialistas, ainda não há dados suficientes para afirmar se os ciclones estão mais frequentes, pois isso demanda vários anos de observação e registros. Mas um dos efeitos previstos com o aquecimento, segundo o Painel de Cientistas da ONU para as mudanças climáticas, são eventos extremos cada mais intensos e frequentes.

O número e a intensidade dos eventos podem variar também de acordo com o contexto macroclimático. E, hoje, temos alguns deles que geram impacto direto na formação de ciclones:

  • El Niño: com as águas do Oceano Pacífico mais quentes, o contraste térmico com a atmosfera fica mais acentuado, fortalecendo grandes correntes de vento nos níveis altos da troposfera (entre 8 e 12km de altura), chamados de “jatos”. “Estes jatos mais intensos contribuem com mais instabilidade na região Sul do Brasil”, diz Lucyrio;
  • Oscilação antártica negativa: quando positivo, esse índice, que estima a “ondulação” da circulação de ar em torno das regiões polares do Hemisfério Sul, faz com que os ventos que circundam o planeta fiquem menos ondulados, causando maior retenção de ar frio em regiões polares. Já quando negativo – situação atual –, estas correntes de vento ficam mais onduladas e amplificadas, favorecendo a entrada de ar frio de áreas polares nas regiões tropicais, assim como a entrada de ar quente de regiões tropicais em regiões temperadas e polares. “Isso favorece a formação de mais áreas de baixa pressão e, consequentemente, mais ciclones. O contraste térmico favorecido por esta condição também contribui com mais ciclones”, diz Lucyrio;
  • Atlântico sul mais aquecido do que a média na altura da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil: este fator faz com que haja mais energia para a intensificação dos ciclones. Eles geralmente começam a se formar sobre o continente e atingem seu ápice em alto mar. Então, com a água mais quente, a pressão atmosférica cai de forma mais acelerada, gerando o mesmo efeito sobre o ciclone;
  • Mudanças climáticas: de acordo com poderemos ter mais eventos de ciclones não muito comuns na nossa costa devido ao aquecimento do oceano – como os subtropicais e até mesmo tropicais. Além disso, segundo Seluchi, com uma maior temperatura e uma maior evaporação oceânica, a umidade pode ser maior, causando maior intensidade nos ciclones. “Ciclones que se desenvolvem sobre uma atmosfera mais quente e mais umida tem mais chance de se tornar mais intenso. Então, provavelmente, os ciclones se tornarão mais intensos, com mais casos de ciclones bomba”, diz o especialista. Apesar disso, ele ressalta que ainda não existem estudos conclusivos sobre o real impacto das mudanças climáticas no aumento do volume e intensidade de ciclones.

Os outros tipos de ciclones, que não extratropicais, são:

  • Tropicais: se formam sobre regiões oceânicas com águas quentes, se desenvolvendo a partir da energia fornecida pelo oceano;
  • Subtropicais: uma espécie de ciclone híbrido, com características de ciclone tropical (ar quente nos níveis mais baixos da atmosfera) e extratropical (ar frio em níveis mais altos), mas que não são associados a frentes frias. Costumam se formar um pouco mais ao norte da região preferencial dos extratropicais.

“Normalmente, os ciclones tropicais causam chuvas mais volumosas. No Atlântico Norte e Pacífico Leste, quando ganham muita força, podem ser classificados como Furacão. Já na Ásia recebem o nome de Tufão”, diz Lucyrio. No Brasil, este tipo de ciclone não é comum.

Já os subtropicais “tendem a se afastar da costa, mas às vezes acabam tomando uma trajetória ‘contrária’ ao habitual, rumo a áreas costeiras. Este tipo de ciclone ainda não é tão comum, mas está ficando mais frequente nos últimos anos”, afirma Lucyrio.

São exemplos de ciclones subtropicais as Tempestades Subtropicais Yakecan, de maio de 2022, e o Raoni, de junho de 2021. Ambos atingiram o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

Em junho, o Rio Grande do Sul enfrentou fortes alagamentos, desabamentos e mortes por causa de um ciclone extratropical. Nesta semana, o evento se repete na região. Embora com intensidade menor, o fenômeno já causa fortes ventanias e interrupções no abastecimento de energia elétrica. Mas, afinal, esses eventos climáticos estão mais comuns no Brasil?

O ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul em junho deste ano causou desabamentos, alagamentos e 11 mortes Foto: Divulgação/ Ruan Nascimento/ Prefeitura de Taquara (RS)

O Brasil e os ciclones

Os ciclones que acontecem no Brasil são, em geral, os extratropicais. Eles se formam principalmente em regiões temperadas – entre o Equador e o Polo Sul ou Norte – e em áreas de baixa pressão atmosférica. Acontecem partir do contraste entre uma massa de ar frio e uma de ar quente, por isso geralmente estão acompanhados de uma frente fria como é o caso da que atingiu o Sul e o Sudeste do País em junho.

Segundo Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), é comum acontecerem ciclones em três regiões da América Latina, geralmente próximos à costa do mar:

  • Na Patagônia, região da Argentina que fica ao extremo sul do continente;
  • Entre o rio da Prata (Argentina), o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina;
  • Entre São Paulo e Rio de Janeiro.

O que acontece é que, na maioria das vezes, esses eventos ocorrem muito próximos à costa do mar e rapidamente se deslocam para o leste, adentrando o oceano – como é o caso dos que vão acontecer nos próximos dias no Sul. Dessa forma, a chuva, o vento forte e a frente fria associados ao ciclone são sentidos, mas sem extremismos.

Porém, “de vez em quando, temos episódios de ciclones mais intensos”, diz Seluchi. É o caso do ciclone que atingiu em junho o Rio Grande do Sul. Estael Sias, meteorologista sócia diretora da MetSul, explica que o evento de duas semanas atrás teve uma trajetória diferente da normal e, por isso, propiciou os eventos extremos registrados.

De acordo com Sias, o percurso padrão dos ciclones extratropicais que ocorrem no Sul do País é que eles se formem entre o noroeste da Argentina, o Uruguai, o leste do Paraguai, o Rio Grande do Sul e parte da Santa Catarina para depois se mover em direção ao oceano. Já o ciclone de junho se formou entre São Paulo e Paraná e desceu para o Rio Grande do Sul.

“Quando isso acontece (um ciclone com trajeto fora da normalidade), geralmente propicia eventos extremos, porque depende de uma energia muito grande para gerar uma trajetória atípica”, afirma ela.

Dentro desse espectro de ciclones atípicos, há ainda os “ciclones bomba”, aqueles que se intensificam muito rapidamente, causando ventos muito fortes. Um exemplo é o ciclone que atingiu o Rio de Janeiro entre o fim de março e começo de abril.

Ressaca e grandes ondas após a passagem do ciclone bomba pela região Sudeste entre o fim de março e começo de abril de 2023. Na foto, praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/ Estadão

Inverno e contexto macroclimático propiciam ciclones extratropicais

“Durante o inverno podemos ter, em média, um ciclone extratropical por semana”, afirma Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo. Isso porque, nesta época do ano, muito ar frio chega ao Sul do País de regiões polares, enquanto o ar quente do Centro-Oeste ganha mais força, propiciando o gradiente térmico que causa o ciclone.

Segundo os especialistas, ainda não há dados suficientes para afirmar se os ciclones estão mais frequentes, pois isso demanda vários anos de observação e registros. Mas um dos efeitos previstos com o aquecimento, segundo o Painel de Cientistas da ONU para as mudanças climáticas, são eventos extremos cada mais intensos e frequentes.

O número e a intensidade dos eventos podem variar também de acordo com o contexto macroclimático. E, hoje, temos alguns deles que geram impacto direto na formação de ciclones:

  • El Niño: com as águas do Oceano Pacífico mais quentes, o contraste térmico com a atmosfera fica mais acentuado, fortalecendo grandes correntes de vento nos níveis altos da troposfera (entre 8 e 12km de altura), chamados de “jatos”. “Estes jatos mais intensos contribuem com mais instabilidade na região Sul do Brasil”, diz Lucyrio;
  • Oscilação antártica negativa: quando positivo, esse índice, que estima a “ondulação” da circulação de ar em torno das regiões polares do Hemisfério Sul, faz com que os ventos que circundam o planeta fiquem menos ondulados, causando maior retenção de ar frio em regiões polares. Já quando negativo – situação atual –, estas correntes de vento ficam mais onduladas e amplificadas, favorecendo a entrada de ar frio de áreas polares nas regiões tropicais, assim como a entrada de ar quente de regiões tropicais em regiões temperadas e polares. “Isso favorece a formação de mais áreas de baixa pressão e, consequentemente, mais ciclones. O contraste térmico favorecido por esta condição também contribui com mais ciclones”, diz Lucyrio;
  • Atlântico sul mais aquecido do que a média na altura da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil: este fator faz com que haja mais energia para a intensificação dos ciclones. Eles geralmente começam a se formar sobre o continente e atingem seu ápice em alto mar. Então, com a água mais quente, a pressão atmosférica cai de forma mais acelerada, gerando o mesmo efeito sobre o ciclone;
  • Mudanças climáticas: de acordo com poderemos ter mais eventos de ciclones não muito comuns na nossa costa devido ao aquecimento do oceano – como os subtropicais e até mesmo tropicais. Além disso, segundo Seluchi, com uma maior temperatura e uma maior evaporação oceânica, a umidade pode ser maior, causando maior intensidade nos ciclones. “Ciclones que se desenvolvem sobre uma atmosfera mais quente e mais umida tem mais chance de se tornar mais intenso. Então, provavelmente, os ciclones se tornarão mais intensos, com mais casos de ciclones bomba”, diz o especialista. Apesar disso, ele ressalta que ainda não existem estudos conclusivos sobre o real impacto das mudanças climáticas no aumento do volume e intensidade de ciclones.

Os outros tipos de ciclones, que não extratropicais, são:

  • Tropicais: se formam sobre regiões oceânicas com águas quentes, se desenvolvendo a partir da energia fornecida pelo oceano;
  • Subtropicais: uma espécie de ciclone híbrido, com características de ciclone tropical (ar quente nos níveis mais baixos da atmosfera) e extratropical (ar frio em níveis mais altos), mas que não são associados a frentes frias. Costumam se formar um pouco mais ao norte da região preferencial dos extratropicais.

“Normalmente, os ciclones tropicais causam chuvas mais volumosas. No Atlântico Norte e Pacífico Leste, quando ganham muita força, podem ser classificados como Furacão. Já na Ásia recebem o nome de Tufão”, diz Lucyrio. No Brasil, este tipo de ciclone não é comum.

Já os subtropicais “tendem a se afastar da costa, mas às vezes acabam tomando uma trajetória ‘contrária’ ao habitual, rumo a áreas costeiras. Este tipo de ciclone ainda não é tão comum, mas está ficando mais frequente nos últimos anos”, afirma Lucyrio.

São exemplos de ciclones subtropicais as Tempestades Subtropicais Yakecan, de maio de 2022, e o Raoni, de junho de 2021. Ambos atingiram o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

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