Quase mil passageiros que faziam um passeio turístico de trem, com destino a Morretes, no Paraná, ficaram por cerca de oito horas presos na Serra do Mar, litoral do Estado, nesta quinta-feira, 13, em razão das consequências do ciclone extratropical que atinge o Sul do País. Os vagões, que transportavam 943 pessoas, tiveram que interromper o trajeto por conta da presença de galhos e árvores nos trilhos.
Pelas redes sociais, os turistas que estavam no trem afirmaram que estavam parados desde o meio-dia e que não estavam recebendo assistência necessária por parte da empresa que organiza a viagem. Uma passageira escreveu em suas redes: “O sonho: a famosa viagem de trem. Realidade: mais de mil passageiros abandonados ao léu. Parados no meio do nada desde o meio-dia”.
Na mesma publicação, ela afirma que não havia água, comida nem informações para os passageiros. “Crianças. Idosos. Pessoas com necessidades especiais. Cidadãos que pagaram a sua passagem. Mas... nada importa para esta empresa”, disse em referência à Serra Verde Express, companhia de turismo responsável pelo passeio.
Ao Estadão, ela contou que a viagem tinha uma duração prevista de três horas e meia, e que o trem deveria chegar a Morretes pouco antes do meio-dia. Após a paralisação, a passageira, que não quis ser identificada, lembra que não havia sinal de internet os vagões pararam, o que dificultou a comunicação dos guias para saber o que estava acontecendo.
“O guia, enfim, recebeu a notícia de que havia caído algumas árvores no percurso à frente e que estávamos aguardando a retirada”, disse ela. “Então começaram a chegar ′notícias’ desencontradas; alguns passageiros saíram do trem ou de seus vagões para buscar informações. Falaram de muitas árvores caídas, de pedras que rolaram na estrada, de um trenzinho de apoio que havia passado por nós com a missão de retirar as árvores”.
A passageira disse ainda que os lanches e água disponíveis para os turistas acabaram durante todo tempo de espera, e que nenhuma assistência foi dada às crianças, idosos e até pessoas com mobilidade comprometida que estavam a bordo. Ela entende que era dever da empresa ter cancelado o passeio, e que só embarcou no trem porque a falta de avisos ou alertas emitidos pela companhia a fez acreditar que não haveria problemas no trajeto.
“Houve, sim, falhas por parte da empresa Serra Verde Express. O mínimo que deveriam fazer seria nos informar com clareza do que ocorria”, disse a reportagem. “‘Se uma notícia’ que chegou a nós, dizendo que tais árvores caíram durante a noite for verdadeira, o mínimo que a empresa deveria ter feito seria o cancelamento da viagem e devolução dos ingressos ou reagendamento a quem quisesse”.
Em nota, a empresa afirmou que o trem ficou paralisado a 15 quilômetros de Morretes e que os passageiros chegaram às 21h no ponto final da viagem. Eles teriam saído ás 8h30 da capital Curitiba. Na noite desta quinta, a Serra Verde Express decretou o cancelamento do passeio que estava programado para esta sexta-feira, 14.
“Ressaltamos que, em 26 anos de operação, é a primeira vez que um incidente meteorológico causa uma paralização tão longa neste percurso turístico, classificado entre os três melhores do mundo”, afirmou a Serra Verde Express. A empresa disse ainda que mobilizou estrutura para atender os passageiros.
“Além de alimentação e orientação, temos uma estrutura rodoviária montada para o retorno dos passageiros e dispusemos ambulâncias de plantão, como medida preventiva para qualquer eventual desconforto”, disse a empresa. “Lamentamos sinceramente qualquer inconveniência causada por esse imprevisto e agradecemos a compreensão e paciência de todos”.
Na postagem, usuários utilizaram o espaço dos comentários para criticar a empresa e acusar a Serra Verde Express de irresponsabilidade por manter o passeio mesmo com os alertas de perigo sobre o ciclone sendo noticiados. “Em nenhum momento fomos avisados do que estava acontecendo, nem quando perguntamos na estação antes do embarque”, escreveu uma mulher.
Na quarta, a Defesa Civil do Paraná já tinha emitido comunicados avisando sobre a possibilidade de fortes ventos no Estados, com a possibilidade ultrapassar os 100km/h n litoral e região metropolitana de Curitiba.
“Rajadas de vento estão previstas para os dias 12 e 13 de julho, que devem chegar a 70 km/h (com picos de 90 km/h). No Sul e Sudoeste a ventania será mais persistente, podendo atingir 110km/h na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral. Em todo o estado há riscos de: destelhamento, quedas de árvores e de postes de iluminação elétrica”, informou o órgão na última quarta-feira.