Cidades do Rio Grande do Sul temem fuga de moradores após três enchentes em 9 meses: ‘Caos’


As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Estado. ‘Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação’, diz prefeito

Por José Maria Tomazela
Atualização:

Além de reconstruir a cidade de 4,6 mil habitantes, atingida pela terceira enchente em menos de 9 meses no Rio Grande do Sul, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB), tem outra preocupação. “Precisamos achar um jeito de mostrar para as pessoas que elas devem se recuperar dos traumas e continuar na cidade”, disse.

  • Muçum é uma entre mais de 50 cidades gaúchas que sofreram o impacto de ao menos três grandes inundações em menos de oito meses.
  • O risco é de que a repetição das catástrofes aumente o êxodo em cidades que já têm baixa densidade populacional.

As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Muitos são municípios serranos, cortados por rios, e as casas foram construídas em fundos de vales. As cidades de Roca Sales, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e São Domingos do Sul também estão entre as que foram afetadas pelos temporais e inundações anteriores, em setembro e novembro de 2023.

Muçum foi afetada por inundações após temporal da última semana Foto: Prefeitura de Muçum

Na tragédia de setembro do ano passado, Muçum teve 20 mortes em decorrência das chuvas, segundo o prefeito. Dois corpos até agora não foram localizados. Naquela ocasião, a prefeitura contabilizou 119 casas destruídas na área urbana. Em novembro, a cidade foi alagada de novo, mas de forma menos severa. Na semana passada, porém, Muçum voltou a ser destruída pela cheia do Rio Taquari.

Conforme Trojan, desta vez não houve óbitos, mas a extensão dos danos foi maior. “Foram três enchentes e a gente precisa de muita resiliência para se recuperar, pois temos estragos maiores desta vez”, disse.

Áreas da cidade, como o bairro de Fátima, onde os moradores estavam terminando de reformar suas casas, foram atingidos de novo. “Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação. A situação agora é mais complicada porque há muito mais cidades atingidas e não tem como haver um esforço externo concentrado aqui”, disse.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023. “A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada”, diz a prefeita Gisele Caumo (PTB). A cidade turística, no Vale dos Vinhedos, tem o núcleo urbano tombado como patrimônio histórico nacional.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023 Foto: Batalhão Ambiental da Brigada Militar

“A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada, por isso conseguimos evitar perdas de vida”, disse.

Uma moradora que pediu para não ser identificada disse que várias famílias de Santa Tereza se mudaram para outras cidades por causa das enchentes. “Na Rua Ricardo Vicari, que voltou a ser inundada agora, tinha várias casas vazias porque os moradores estavam cansados de perder tudo. Uma cooperativa agrícola também se mudou”, disse. A cidade é cortada pelo Rio Barra Mansa, afluente do Taquari.

O viticultor Aparecido Henzel, que tem propriedade na linha José Júlio, disse que a comunidade está isolada devido à queda de pontes e danos na estrada de acesso. “Tinha uva colhida que não conseguimos entregar. No granizo do ano passado, já tínhamos perdido toda a safra. Felizmente estamos em pé, muitos amigos e conhecidos perderam tudo e alguns até a vida”, disse.

Na comunidade, a enchente deste ano voltou a atingir a capela de Santo Stanislau, danificada na cheia de setembro do ano passado e ainda em obras de reconstrução. Santa Tereza é outra cidade que sofreu quatro desastres em um ano: um temporal de granizo e três inundações.

O motorista Fernando Cecrin, de 50 anos, que presta serviços para a cachaçaria Casa Bucco, instalada em Flores da Cunha, cidade vizinha a Santa Tereza, teve a casa alagada outra vez. “Moro perto do rio, mas pior é não saber se vou continuar trabalhando. A cachaçaria foi muito danificada, não sei quando volta a funcionar”, disse.

A Casa Bucco foi atingida por quedas de barreiras e espera iniciativas do governo para ajudar a região. “Tivemos infelizmente a perda de duas pessoas queridas da equipe, em grande desmoronamento de terra que atingiu uma casa e um galpão”, relata.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores, mas ainda não vê sinais de êxodo.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores Foto: Gustavo Ghisleni/AFP - 5/4/2024

“A cidade ainda está um caos, pois foi praticamente destruída de novo. Será preciso recomeçar outra vez. É uma situação muito complicada para todos, mas vamos continuar lutando”, disse.

Em setembro de 2023, a cidade foi parcialmente destruída por um ciclone extratropical. Ao menos 15 pessoas morreram – o corpo da 15ª vítima, identificada como Deise Cristiane Henning, de 32 anos, foi encontrado no dia 6 de janeiro e identificado apenas no dia 17 de abril deste ano.

Na tragédia atual, a cidade de 10,4 mil habitantes teve duas mortes confirmadas, mas o município contabiliza outras dez pessoas desaparecidas. Neste domingo, 5, Fontana assinou decreto de calamidade pública. Ele disse que a população está unida no enfrentamento à nova tragédia. “Peço que as pessoas tenham um pouco mais de paciência e compreensão. Queremos reconstruir a cidade que nós amamos e vamos passo a passo seguindo nessa reconstrução”, disse.

Em menos de um ano, quatro enchentes no Rio Taquari atingiram a zona ribeirinha de Cruzeiro do Sul, mas a inundação deste mês já é considerada a maior da história da cidade, segundo o prefeito João Dullius (MDB). Até esta segunda-feira, tinham cinco confirmadas oito mortes e ainda havia pessoas desaparecidas. “É a maior catástrofe da nossa história, uma das maiores tragédias que já vivenciamos. A cidade onde nasci e cresci está totalmente destruída”, afirmou.

Cheia inundou Cruzeiro do Sul em novembro do ano passado Foto: Prefeitura de Cruzeiro do Sul - 6/11/2023

Nesta segunda-feira, 6, cerca de 700 pessoas ainda estavam em abrigos e a estimativa era de mil casas destruídas nos bairros Passo de Estrela, Zwirtes, Bom Fim e São Miguel. Segundo ele, mesmo com a experiência dos eventos anteriores, não foi possível evitar as mortes.

Dullius disse que ainda não dá para avaliar o impacto no futuro da cidade. Muitas pessoas, segundo ele, deixaram a cidade para se abrigar em casas de parentes na vizinha Lajeado. “O mais trágico são as mortes, pessoas que perderam tudo, casas. Veículos e móveis. Hoje precisamos de ajuda”, disse.

Na mesma região, a pequena São Domingos do Sul, com 3,1 mil habitantes, nem havia saído da situação de calamidade decretada após as enchentes do ano passado e voltou a entrar em emergência. Segundo a Defesa Civil, na sede e no distrito de Santa Gema, dezenas de casas ficaram alagadas e a cidade está sem água potável. Pontes e estradas foram levadas pelas inundações. Nesta segunda-feira, 6, o governo federal reconheceu que a situação na cidade é de calamidade pública.

Relembre as últimas enchentes no Rio Grande do Sul

  • Setembro de 2023

Na primeira semana de setembro de 2023, um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

No total, 92 cidades decretaram situação de emergência e, destas, 79 tiveram o estado de calamidade pública reconhecido pelo governo federal. Ao todo, 54 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas. A última vítima, uma moradora de Roca Sales, foi identificada apenas em abril deste ano, após seu corpo ser achado boiando no Taquari.

  • Novembro de 2023

Na segunda quinzena de novembro, o estado voltou a ser atingido por chuvas intensas, inclusive por um fenômeno conhecido como microexplosão – uma intensa corrente de vento com alto poder destrutivo.

Conforme balanço da Defesa Civil, 221 municípios relataram algum tipo de prejuízo. Ao menos 28 mil pessoas tiveram que sair de suas casas e cerca de 3 mil ficaram desabrigadas. Foram registradas cinco mortes.

  • Abril e maio de 2024

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e este início de maio afetaram 364 dos 497 municípios do Estado, segundo a Defesa Civil. O desastre climático já causou 95 mortes em 38 municípios. Até a tarde desta terça-feira, 7, outras 131 pessoas estavam desaparecidas. O Estado contabiliza quase 160 mil desalojados e 48 mil pessoas em abrigos.

Além de reconstruir a cidade de 4,6 mil habitantes, atingida pela terceira enchente em menos de 9 meses no Rio Grande do Sul, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB), tem outra preocupação. “Precisamos achar um jeito de mostrar para as pessoas que elas devem se recuperar dos traumas e continuar na cidade”, disse.

  • Muçum é uma entre mais de 50 cidades gaúchas que sofreram o impacto de ao menos três grandes inundações em menos de oito meses.
  • O risco é de que a repetição das catástrofes aumente o êxodo em cidades que já têm baixa densidade populacional.

As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Muitos são municípios serranos, cortados por rios, e as casas foram construídas em fundos de vales. As cidades de Roca Sales, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e São Domingos do Sul também estão entre as que foram afetadas pelos temporais e inundações anteriores, em setembro e novembro de 2023.

Muçum foi afetada por inundações após temporal da última semana Foto: Prefeitura de Muçum

Na tragédia de setembro do ano passado, Muçum teve 20 mortes em decorrência das chuvas, segundo o prefeito. Dois corpos até agora não foram localizados. Naquela ocasião, a prefeitura contabilizou 119 casas destruídas na área urbana. Em novembro, a cidade foi alagada de novo, mas de forma menos severa. Na semana passada, porém, Muçum voltou a ser destruída pela cheia do Rio Taquari.

Conforme Trojan, desta vez não houve óbitos, mas a extensão dos danos foi maior. “Foram três enchentes e a gente precisa de muita resiliência para se recuperar, pois temos estragos maiores desta vez”, disse.

Áreas da cidade, como o bairro de Fátima, onde os moradores estavam terminando de reformar suas casas, foram atingidos de novo. “Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação. A situação agora é mais complicada porque há muito mais cidades atingidas e não tem como haver um esforço externo concentrado aqui”, disse.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023. “A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada”, diz a prefeita Gisele Caumo (PTB). A cidade turística, no Vale dos Vinhedos, tem o núcleo urbano tombado como patrimônio histórico nacional.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023 Foto: Batalhão Ambiental da Brigada Militar

“A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada, por isso conseguimos evitar perdas de vida”, disse.

Uma moradora que pediu para não ser identificada disse que várias famílias de Santa Tereza se mudaram para outras cidades por causa das enchentes. “Na Rua Ricardo Vicari, que voltou a ser inundada agora, tinha várias casas vazias porque os moradores estavam cansados de perder tudo. Uma cooperativa agrícola também se mudou”, disse. A cidade é cortada pelo Rio Barra Mansa, afluente do Taquari.

O viticultor Aparecido Henzel, que tem propriedade na linha José Júlio, disse que a comunidade está isolada devido à queda de pontes e danos na estrada de acesso. “Tinha uva colhida que não conseguimos entregar. No granizo do ano passado, já tínhamos perdido toda a safra. Felizmente estamos em pé, muitos amigos e conhecidos perderam tudo e alguns até a vida”, disse.

Na comunidade, a enchente deste ano voltou a atingir a capela de Santo Stanislau, danificada na cheia de setembro do ano passado e ainda em obras de reconstrução. Santa Tereza é outra cidade que sofreu quatro desastres em um ano: um temporal de granizo e três inundações.

O motorista Fernando Cecrin, de 50 anos, que presta serviços para a cachaçaria Casa Bucco, instalada em Flores da Cunha, cidade vizinha a Santa Tereza, teve a casa alagada outra vez. “Moro perto do rio, mas pior é não saber se vou continuar trabalhando. A cachaçaria foi muito danificada, não sei quando volta a funcionar”, disse.

A Casa Bucco foi atingida por quedas de barreiras e espera iniciativas do governo para ajudar a região. “Tivemos infelizmente a perda de duas pessoas queridas da equipe, em grande desmoronamento de terra que atingiu uma casa e um galpão”, relata.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores, mas ainda não vê sinais de êxodo.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores Foto: Gustavo Ghisleni/AFP - 5/4/2024

“A cidade ainda está um caos, pois foi praticamente destruída de novo. Será preciso recomeçar outra vez. É uma situação muito complicada para todos, mas vamos continuar lutando”, disse.

Em setembro de 2023, a cidade foi parcialmente destruída por um ciclone extratropical. Ao menos 15 pessoas morreram – o corpo da 15ª vítima, identificada como Deise Cristiane Henning, de 32 anos, foi encontrado no dia 6 de janeiro e identificado apenas no dia 17 de abril deste ano.

Na tragédia atual, a cidade de 10,4 mil habitantes teve duas mortes confirmadas, mas o município contabiliza outras dez pessoas desaparecidas. Neste domingo, 5, Fontana assinou decreto de calamidade pública. Ele disse que a população está unida no enfrentamento à nova tragédia. “Peço que as pessoas tenham um pouco mais de paciência e compreensão. Queremos reconstruir a cidade que nós amamos e vamos passo a passo seguindo nessa reconstrução”, disse.

Em menos de um ano, quatro enchentes no Rio Taquari atingiram a zona ribeirinha de Cruzeiro do Sul, mas a inundação deste mês já é considerada a maior da história da cidade, segundo o prefeito João Dullius (MDB). Até esta segunda-feira, tinham cinco confirmadas oito mortes e ainda havia pessoas desaparecidas. “É a maior catástrofe da nossa história, uma das maiores tragédias que já vivenciamos. A cidade onde nasci e cresci está totalmente destruída”, afirmou.

Cheia inundou Cruzeiro do Sul em novembro do ano passado Foto: Prefeitura de Cruzeiro do Sul - 6/11/2023

Nesta segunda-feira, 6, cerca de 700 pessoas ainda estavam em abrigos e a estimativa era de mil casas destruídas nos bairros Passo de Estrela, Zwirtes, Bom Fim e São Miguel. Segundo ele, mesmo com a experiência dos eventos anteriores, não foi possível evitar as mortes.

Dullius disse que ainda não dá para avaliar o impacto no futuro da cidade. Muitas pessoas, segundo ele, deixaram a cidade para se abrigar em casas de parentes na vizinha Lajeado. “O mais trágico são as mortes, pessoas que perderam tudo, casas. Veículos e móveis. Hoje precisamos de ajuda”, disse.

Na mesma região, a pequena São Domingos do Sul, com 3,1 mil habitantes, nem havia saído da situação de calamidade decretada após as enchentes do ano passado e voltou a entrar em emergência. Segundo a Defesa Civil, na sede e no distrito de Santa Gema, dezenas de casas ficaram alagadas e a cidade está sem água potável. Pontes e estradas foram levadas pelas inundações. Nesta segunda-feira, 6, o governo federal reconheceu que a situação na cidade é de calamidade pública.

Relembre as últimas enchentes no Rio Grande do Sul

  • Setembro de 2023

Na primeira semana de setembro de 2023, um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

No total, 92 cidades decretaram situação de emergência e, destas, 79 tiveram o estado de calamidade pública reconhecido pelo governo federal. Ao todo, 54 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas. A última vítima, uma moradora de Roca Sales, foi identificada apenas em abril deste ano, após seu corpo ser achado boiando no Taquari.

  • Novembro de 2023

Na segunda quinzena de novembro, o estado voltou a ser atingido por chuvas intensas, inclusive por um fenômeno conhecido como microexplosão – uma intensa corrente de vento com alto poder destrutivo.

Conforme balanço da Defesa Civil, 221 municípios relataram algum tipo de prejuízo. Ao menos 28 mil pessoas tiveram que sair de suas casas e cerca de 3 mil ficaram desabrigadas. Foram registradas cinco mortes.

  • Abril e maio de 2024

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e este início de maio afetaram 364 dos 497 municípios do Estado, segundo a Defesa Civil. O desastre climático já causou 95 mortes em 38 municípios. Até a tarde desta terça-feira, 7, outras 131 pessoas estavam desaparecidas. O Estado contabiliza quase 160 mil desalojados e 48 mil pessoas em abrigos.

Além de reconstruir a cidade de 4,6 mil habitantes, atingida pela terceira enchente em menos de 9 meses no Rio Grande do Sul, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB), tem outra preocupação. “Precisamos achar um jeito de mostrar para as pessoas que elas devem se recuperar dos traumas e continuar na cidade”, disse.

  • Muçum é uma entre mais de 50 cidades gaúchas que sofreram o impacto de ao menos três grandes inundações em menos de oito meses.
  • O risco é de que a repetição das catástrofes aumente o êxodo em cidades que já têm baixa densidade populacional.

As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Muitos são municípios serranos, cortados por rios, e as casas foram construídas em fundos de vales. As cidades de Roca Sales, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e São Domingos do Sul também estão entre as que foram afetadas pelos temporais e inundações anteriores, em setembro e novembro de 2023.

Muçum foi afetada por inundações após temporal da última semana Foto: Prefeitura de Muçum

Na tragédia de setembro do ano passado, Muçum teve 20 mortes em decorrência das chuvas, segundo o prefeito. Dois corpos até agora não foram localizados. Naquela ocasião, a prefeitura contabilizou 119 casas destruídas na área urbana. Em novembro, a cidade foi alagada de novo, mas de forma menos severa. Na semana passada, porém, Muçum voltou a ser destruída pela cheia do Rio Taquari.

Conforme Trojan, desta vez não houve óbitos, mas a extensão dos danos foi maior. “Foram três enchentes e a gente precisa de muita resiliência para se recuperar, pois temos estragos maiores desta vez”, disse.

Áreas da cidade, como o bairro de Fátima, onde os moradores estavam terminando de reformar suas casas, foram atingidos de novo. “Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação. A situação agora é mais complicada porque há muito mais cidades atingidas e não tem como haver um esforço externo concentrado aqui”, disse.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023. “A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada”, diz a prefeita Gisele Caumo (PTB). A cidade turística, no Vale dos Vinhedos, tem o núcleo urbano tombado como patrimônio histórico nacional.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023 Foto: Batalhão Ambiental da Brigada Militar

“A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada, por isso conseguimos evitar perdas de vida”, disse.

Uma moradora que pediu para não ser identificada disse que várias famílias de Santa Tereza se mudaram para outras cidades por causa das enchentes. “Na Rua Ricardo Vicari, que voltou a ser inundada agora, tinha várias casas vazias porque os moradores estavam cansados de perder tudo. Uma cooperativa agrícola também se mudou”, disse. A cidade é cortada pelo Rio Barra Mansa, afluente do Taquari.

O viticultor Aparecido Henzel, que tem propriedade na linha José Júlio, disse que a comunidade está isolada devido à queda de pontes e danos na estrada de acesso. “Tinha uva colhida que não conseguimos entregar. No granizo do ano passado, já tínhamos perdido toda a safra. Felizmente estamos em pé, muitos amigos e conhecidos perderam tudo e alguns até a vida”, disse.

Na comunidade, a enchente deste ano voltou a atingir a capela de Santo Stanislau, danificada na cheia de setembro do ano passado e ainda em obras de reconstrução. Santa Tereza é outra cidade que sofreu quatro desastres em um ano: um temporal de granizo e três inundações.

O motorista Fernando Cecrin, de 50 anos, que presta serviços para a cachaçaria Casa Bucco, instalada em Flores da Cunha, cidade vizinha a Santa Tereza, teve a casa alagada outra vez. “Moro perto do rio, mas pior é não saber se vou continuar trabalhando. A cachaçaria foi muito danificada, não sei quando volta a funcionar”, disse.

A Casa Bucco foi atingida por quedas de barreiras e espera iniciativas do governo para ajudar a região. “Tivemos infelizmente a perda de duas pessoas queridas da equipe, em grande desmoronamento de terra que atingiu uma casa e um galpão”, relata.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores, mas ainda não vê sinais de êxodo.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores Foto: Gustavo Ghisleni/AFP - 5/4/2024

“A cidade ainda está um caos, pois foi praticamente destruída de novo. Será preciso recomeçar outra vez. É uma situação muito complicada para todos, mas vamos continuar lutando”, disse.

Em setembro de 2023, a cidade foi parcialmente destruída por um ciclone extratropical. Ao menos 15 pessoas morreram – o corpo da 15ª vítima, identificada como Deise Cristiane Henning, de 32 anos, foi encontrado no dia 6 de janeiro e identificado apenas no dia 17 de abril deste ano.

Na tragédia atual, a cidade de 10,4 mil habitantes teve duas mortes confirmadas, mas o município contabiliza outras dez pessoas desaparecidas. Neste domingo, 5, Fontana assinou decreto de calamidade pública. Ele disse que a população está unida no enfrentamento à nova tragédia. “Peço que as pessoas tenham um pouco mais de paciência e compreensão. Queremos reconstruir a cidade que nós amamos e vamos passo a passo seguindo nessa reconstrução”, disse.

Em menos de um ano, quatro enchentes no Rio Taquari atingiram a zona ribeirinha de Cruzeiro do Sul, mas a inundação deste mês já é considerada a maior da história da cidade, segundo o prefeito João Dullius (MDB). Até esta segunda-feira, tinham cinco confirmadas oito mortes e ainda havia pessoas desaparecidas. “É a maior catástrofe da nossa história, uma das maiores tragédias que já vivenciamos. A cidade onde nasci e cresci está totalmente destruída”, afirmou.

Cheia inundou Cruzeiro do Sul em novembro do ano passado Foto: Prefeitura de Cruzeiro do Sul - 6/11/2023

Nesta segunda-feira, 6, cerca de 700 pessoas ainda estavam em abrigos e a estimativa era de mil casas destruídas nos bairros Passo de Estrela, Zwirtes, Bom Fim e São Miguel. Segundo ele, mesmo com a experiência dos eventos anteriores, não foi possível evitar as mortes.

Dullius disse que ainda não dá para avaliar o impacto no futuro da cidade. Muitas pessoas, segundo ele, deixaram a cidade para se abrigar em casas de parentes na vizinha Lajeado. “O mais trágico são as mortes, pessoas que perderam tudo, casas. Veículos e móveis. Hoje precisamos de ajuda”, disse.

Na mesma região, a pequena São Domingos do Sul, com 3,1 mil habitantes, nem havia saído da situação de calamidade decretada após as enchentes do ano passado e voltou a entrar em emergência. Segundo a Defesa Civil, na sede e no distrito de Santa Gema, dezenas de casas ficaram alagadas e a cidade está sem água potável. Pontes e estradas foram levadas pelas inundações. Nesta segunda-feira, 6, o governo federal reconheceu que a situação na cidade é de calamidade pública.

Relembre as últimas enchentes no Rio Grande do Sul

  • Setembro de 2023

Na primeira semana de setembro de 2023, um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

No total, 92 cidades decretaram situação de emergência e, destas, 79 tiveram o estado de calamidade pública reconhecido pelo governo federal. Ao todo, 54 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas. A última vítima, uma moradora de Roca Sales, foi identificada apenas em abril deste ano, após seu corpo ser achado boiando no Taquari.

  • Novembro de 2023

Na segunda quinzena de novembro, o estado voltou a ser atingido por chuvas intensas, inclusive por um fenômeno conhecido como microexplosão – uma intensa corrente de vento com alto poder destrutivo.

Conforme balanço da Defesa Civil, 221 municípios relataram algum tipo de prejuízo. Ao menos 28 mil pessoas tiveram que sair de suas casas e cerca de 3 mil ficaram desabrigadas. Foram registradas cinco mortes.

  • Abril e maio de 2024

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e este início de maio afetaram 364 dos 497 municípios do Estado, segundo a Defesa Civil. O desastre climático já causou 95 mortes em 38 municípios. Até a tarde desta terça-feira, 7, outras 131 pessoas estavam desaparecidas. O Estado contabiliza quase 160 mil desalojados e 48 mil pessoas em abrigos.

Além de reconstruir a cidade de 4,6 mil habitantes, atingida pela terceira enchente em menos de 9 meses no Rio Grande do Sul, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB), tem outra preocupação. “Precisamos achar um jeito de mostrar para as pessoas que elas devem se recuperar dos traumas e continuar na cidade”, disse.

  • Muçum é uma entre mais de 50 cidades gaúchas que sofreram o impacto de ao menos três grandes inundações em menos de oito meses.
  • O risco é de que a repetição das catástrofes aumente o êxodo em cidades que já têm baixa densidade populacional.

As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Muitos são municípios serranos, cortados por rios, e as casas foram construídas em fundos de vales. As cidades de Roca Sales, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e São Domingos do Sul também estão entre as que foram afetadas pelos temporais e inundações anteriores, em setembro e novembro de 2023.

Muçum foi afetada por inundações após temporal da última semana Foto: Prefeitura de Muçum

Na tragédia de setembro do ano passado, Muçum teve 20 mortes em decorrência das chuvas, segundo o prefeito. Dois corpos até agora não foram localizados. Naquela ocasião, a prefeitura contabilizou 119 casas destruídas na área urbana. Em novembro, a cidade foi alagada de novo, mas de forma menos severa. Na semana passada, porém, Muçum voltou a ser destruída pela cheia do Rio Taquari.

Conforme Trojan, desta vez não houve óbitos, mas a extensão dos danos foi maior. “Foram três enchentes e a gente precisa de muita resiliência para se recuperar, pois temos estragos maiores desta vez”, disse.

Áreas da cidade, como o bairro de Fátima, onde os moradores estavam terminando de reformar suas casas, foram atingidos de novo. “Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação. A situação agora é mais complicada porque há muito mais cidades atingidas e não tem como haver um esforço externo concentrado aqui”, disse.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023. “A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada”, diz a prefeita Gisele Caumo (PTB). A cidade turística, no Vale dos Vinhedos, tem o núcleo urbano tombado como patrimônio histórico nacional.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023 Foto: Batalhão Ambiental da Brigada Militar

“A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada, por isso conseguimos evitar perdas de vida”, disse.

Uma moradora que pediu para não ser identificada disse que várias famílias de Santa Tereza se mudaram para outras cidades por causa das enchentes. “Na Rua Ricardo Vicari, que voltou a ser inundada agora, tinha várias casas vazias porque os moradores estavam cansados de perder tudo. Uma cooperativa agrícola também se mudou”, disse. A cidade é cortada pelo Rio Barra Mansa, afluente do Taquari.

O viticultor Aparecido Henzel, que tem propriedade na linha José Júlio, disse que a comunidade está isolada devido à queda de pontes e danos na estrada de acesso. “Tinha uva colhida que não conseguimos entregar. No granizo do ano passado, já tínhamos perdido toda a safra. Felizmente estamos em pé, muitos amigos e conhecidos perderam tudo e alguns até a vida”, disse.

Na comunidade, a enchente deste ano voltou a atingir a capela de Santo Stanislau, danificada na cheia de setembro do ano passado e ainda em obras de reconstrução. Santa Tereza é outra cidade que sofreu quatro desastres em um ano: um temporal de granizo e três inundações.

O motorista Fernando Cecrin, de 50 anos, que presta serviços para a cachaçaria Casa Bucco, instalada em Flores da Cunha, cidade vizinha a Santa Tereza, teve a casa alagada outra vez. “Moro perto do rio, mas pior é não saber se vou continuar trabalhando. A cachaçaria foi muito danificada, não sei quando volta a funcionar”, disse.

A Casa Bucco foi atingida por quedas de barreiras e espera iniciativas do governo para ajudar a região. “Tivemos infelizmente a perda de duas pessoas queridas da equipe, em grande desmoronamento de terra que atingiu uma casa e um galpão”, relata.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores, mas ainda não vê sinais de êxodo.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores Foto: Gustavo Ghisleni/AFP - 5/4/2024

“A cidade ainda está um caos, pois foi praticamente destruída de novo. Será preciso recomeçar outra vez. É uma situação muito complicada para todos, mas vamos continuar lutando”, disse.

Em setembro de 2023, a cidade foi parcialmente destruída por um ciclone extratropical. Ao menos 15 pessoas morreram – o corpo da 15ª vítima, identificada como Deise Cristiane Henning, de 32 anos, foi encontrado no dia 6 de janeiro e identificado apenas no dia 17 de abril deste ano.

Na tragédia atual, a cidade de 10,4 mil habitantes teve duas mortes confirmadas, mas o município contabiliza outras dez pessoas desaparecidas. Neste domingo, 5, Fontana assinou decreto de calamidade pública. Ele disse que a população está unida no enfrentamento à nova tragédia. “Peço que as pessoas tenham um pouco mais de paciência e compreensão. Queremos reconstruir a cidade que nós amamos e vamos passo a passo seguindo nessa reconstrução”, disse.

Em menos de um ano, quatro enchentes no Rio Taquari atingiram a zona ribeirinha de Cruzeiro do Sul, mas a inundação deste mês já é considerada a maior da história da cidade, segundo o prefeito João Dullius (MDB). Até esta segunda-feira, tinham cinco confirmadas oito mortes e ainda havia pessoas desaparecidas. “É a maior catástrofe da nossa história, uma das maiores tragédias que já vivenciamos. A cidade onde nasci e cresci está totalmente destruída”, afirmou.

Cheia inundou Cruzeiro do Sul em novembro do ano passado Foto: Prefeitura de Cruzeiro do Sul - 6/11/2023

Nesta segunda-feira, 6, cerca de 700 pessoas ainda estavam em abrigos e a estimativa era de mil casas destruídas nos bairros Passo de Estrela, Zwirtes, Bom Fim e São Miguel. Segundo ele, mesmo com a experiência dos eventos anteriores, não foi possível evitar as mortes.

Dullius disse que ainda não dá para avaliar o impacto no futuro da cidade. Muitas pessoas, segundo ele, deixaram a cidade para se abrigar em casas de parentes na vizinha Lajeado. “O mais trágico são as mortes, pessoas que perderam tudo, casas. Veículos e móveis. Hoje precisamos de ajuda”, disse.

Na mesma região, a pequena São Domingos do Sul, com 3,1 mil habitantes, nem havia saído da situação de calamidade decretada após as enchentes do ano passado e voltou a entrar em emergência. Segundo a Defesa Civil, na sede e no distrito de Santa Gema, dezenas de casas ficaram alagadas e a cidade está sem água potável. Pontes e estradas foram levadas pelas inundações. Nesta segunda-feira, 6, o governo federal reconheceu que a situação na cidade é de calamidade pública.

Relembre as últimas enchentes no Rio Grande do Sul

  • Setembro de 2023

Na primeira semana de setembro de 2023, um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

No total, 92 cidades decretaram situação de emergência e, destas, 79 tiveram o estado de calamidade pública reconhecido pelo governo federal. Ao todo, 54 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas. A última vítima, uma moradora de Roca Sales, foi identificada apenas em abril deste ano, após seu corpo ser achado boiando no Taquari.

  • Novembro de 2023

Na segunda quinzena de novembro, o estado voltou a ser atingido por chuvas intensas, inclusive por um fenômeno conhecido como microexplosão – uma intensa corrente de vento com alto poder destrutivo.

Conforme balanço da Defesa Civil, 221 municípios relataram algum tipo de prejuízo. Ao menos 28 mil pessoas tiveram que sair de suas casas e cerca de 3 mil ficaram desabrigadas. Foram registradas cinco mortes.

  • Abril e maio de 2024

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e este início de maio afetaram 364 dos 497 municípios do Estado, segundo a Defesa Civil. O desastre climático já causou 95 mortes em 38 municípios. Até a tarde desta terça-feira, 7, outras 131 pessoas estavam desaparecidas. O Estado contabiliza quase 160 mil desalojados e 48 mil pessoas em abrigos.

Além de reconstruir a cidade de 4,6 mil habitantes, atingida pela terceira enchente em menos de 9 meses no Rio Grande do Sul, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB), tem outra preocupação. “Precisamos achar um jeito de mostrar para as pessoas que elas devem se recuperar dos traumas e continuar na cidade”, disse.

  • Muçum é uma entre mais de 50 cidades gaúchas que sofreram o impacto de ao menos três grandes inundações em menos de oito meses.
  • O risco é de que a repetição das catástrofes aumente o êxodo em cidades que já têm baixa densidade populacional.

As localidades mais atingidas ficam no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Muitos são municípios serranos, cortados por rios, e as casas foram construídas em fundos de vales. As cidades de Roca Sales, Santa Tereza, Cruzeiro do Sul e São Domingos do Sul também estão entre as que foram afetadas pelos temporais e inundações anteriores, em setembro e novembro de 2023.

Muçum foi afetada por inundações após temporal da última semana Foto: Prefeitura de Muçum

Na tragédia de setembro do ano passado, Muçum teve 20 mortes em decorrência das chuvas, segundo o prefeito. Dois corpos até agora não foram localizados. Naquela ocasião, a prefeitura contabilizou 119 casas destruídas na área urbana. Em novembro, a cidade foi alagada de novo, mas de forma menos severa. Na semana passada, porém, Muçum voltou a ser destruída pela cheia do Rio Taquari.

Conforme Trojan, desta vez não houve óbitos, mas a extensão dos danos foi maior. “Foram três enchentes e a gente precisa de muita resiliência para se recuperar, pois temos estragos maiores desta vez”, disse.

Áreas da cidade, como o bairro de Fátima, onde os moradores estavam terminando de reformar suas casas, foram atingidos de novo. “Estávamos nos recuperando dos eventos anteriores e veio essa nova inundação. A situação agora é mais complicada porque há muito mais cidades atingidas e não tem como haver um esforço externo concentrado aqui”, disse.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023. “A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada”, diz a prefeita Gisele Caumo (PTB). A cidade turística, no Vale dos Vinhedos, tem o núcleo urbano tombado como patrimônio histórico nacional.

Santa Tereza, com 1,7 mil habitantes, convive com a terceira cheia desde setembro de 2023 Foto: Batalhão Ambiental da Brigada Militar

“A enchente de setembro foi uma catástrofe, mas depois tivemos outro grande temporal em novembro. A atual pode até ter sido pior, mas fomos avisados com maior antecedência e a cidade estava mais preparada, por isso conseguimos evitar perdas de vida”, disse.

Uma moradora que pediu para não ser identificada disse que várias famílias de Santa Tereza se mudaram para outras cidades por causa das enchentes. “Na Rua Ricardo Vicari, que voltou a ser inundada agora, tinha várias casas vazias porque os moradores estavam cansados de perder tudo. Uma cooperativa agrícola também se mudou”, disse. A cidade é cortada pelo Rio Barra Mansa, afluente do Taquari.

O viticultor Aparecido Henzel, que tem propriedade na linha José Júlio, disse que a comunidade está isolada devido à queda de pontes e danos na estrada de acesso. “Tinha uva colhida que não conseguimos entregar. No granizo do ano passado, já tínhamos perdido toda a safra. Felizmente estamos em pé, muitos amigos e conhecidos perderam tudo e alguns até a vida”, disse.

Na comunidade, a enchente deste ano voltou a atingir a capela de Santo Stanislau, danificada na cheia de setembro do ano passado e ainda em obras de reconstrução. Santa Tereza é outra cidade que sofreu quatro desastres em um ano: um temporal de granizo e três inundações.

O motorista Fernando Cecrin, de 50 anos, que presta serviços para a cachaçaria Casa Bucco, instalada em Flores da Cunha, cidade vizinha a Santa Tereza, teve a casa alagada outra vez. “Moro perto do rio, mas pior é não saber se vou continuar trabalhando. A cachaçaria foi muito danificada, não sei quando volta a funcionar”, disse.

A Casa Bucco foi atingida por quedas de barreiras e espera iniciativas do governo para ajudar a região. “Tivemos infelizmente a perda de duas pessoas queridas da equipe, em grande desmoronamento de terra que atingiu uma casa e um galpão”, relata.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores, mas ainda não vê sinais de êxodo.

O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), disse que a repetição das tragédias torna a situação muito difícil para os moradores Foto: Gustavo Ghisleni/AFP - 5/4/2024

“A cidade ainda está um caos, pois foi praticamente destruída de novo. Será preciso recomeçar outra vez. É uma situação muito complicada para todos, mas vamos continuar lutando”, disse.

Em setembro de 2023, a cidade foi parcialmente destruída por um ciclone extratropical. Ao menos 15 pessoas morreram – o corpo da 15ª vítima, identificada como Deise Cristiane Henning, de 32 anos, foi encontrado no dia 6 de janeiro e identificado apenas no dia 17 de abril deste ano.

Na tragédia atual, a cidade de 10,4 mil habitantes teve duas mortes confirmadas, mas o município contabiliza outras dez pessoas desaparecidas. Neste domingo, 5, Fontana assinou decreto de calamidade pública. Ele disse que a população está unida no enfrentamento à nova tragédia. “Peço que as pessoas tenham um pouco mais de paciência e compreensão. Queremos reconstruir a cidade que nós amamos e vamos passo a passo seguindo nessa reconstrução”, disse.

Em menos de um ano, quatro enchentes no Rio Taquari atingiram a zona ribeirinha de Cruzeiro do Sul, mas a inundação deste mês já é considerada a maior da história da cidade, segundo o prefeito João Dullius (MDB). Até esta segunda-feira, tinham cinco confirmadas oito mortes e ainda havia pessoas desaparecidas. “É a maior catástrofe da nossa história, uma das maiores tragédias que já vivenciamos. A cidade onde nasci e cresci está totalmente destruída”, afirmou.

Cheia inundou Cruzeiro do Sul em novembro do ano passado Foto: Prefeitura de Cruzeiro do Sul - 6/11/2023

Nesta segunda-feira, 6, cerca de 700 pessoas ainda estavam em abrigos e a estimativa era de mil casas destruídas nos bairros Passo de Estrela, Zwirtes, Bom Fim e São Miguel. Segundo ele, mesmo com a experiência dos eventos anteriores, não foi possível evitar as mortes.

Dullius disse que ainda não dá para avaliar o impacto no futuro da cidade. Muitas pessoas, segundo ele, deixaram a cidade para se abrigar em casas de parentes na vizinha Lajeado. “O mais trágico são as mortes, pessoas que perderam tudo, casas. Veículos e móveis. Hoje precisamos de ajuda”, disse.

Na mesma região, a pequena São Domingos do Sul, com 3,1 mil habitantes, nem havia saído da situação de calamidade decretada após as enchentes do ano passado e voltou a entrar em emergência. Segundo a Defesa Civil, na sede e no distrito de Santa Gema, dezenas de casas ficaram alagadas e a cidade está sem água potável. Pontes e estradas foram levadas pelas inundações. Nesta segunda-feira, 6, o governo federal reconheceu que a situação na cidade é de calamidade pública.

Relembre as últimas enchentes no Rio Grande do Sul

  • Setembro de 2023

Na primeira semana de setembro de 2023, um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

No total, 92 cidades decretaram situação de emergência e, destas, 79 tiveram o estado de calamidade pública reconhecido pelo governo federal. Ao todo, 54 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas. A última vítima, uma moradora de Roca Sales, foi identificada apenas em abril deste ano, após seu corpo ser achado boiando no Taquari.

  • Novembro de 2023

Na segunda quinzena de novembro, o estado voltou a ser atingido por chuvas intensas, inclusive por um fenômeno conhecido como microexplosão – uma intensa corrente de vento com alto poder destrutivo.

Conforme balanço da Defesa Civil, 221 municípios relataram algum tipo de prejuízo. Ao menos 28 mil pessoas tiveram que sair de suas casas e cerca de 3 mil ficaram desabrigadas. Foram registradas cinco mortes.

  • Abril e maio de 2024

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e este início de maio afetaram 364 dos 497 municípios do Estado, segundo a Defesa Civil. O desastre climático já causou 95 mortes em 38 municípios. Até a tarde desta terça-feira, 7, outras 131 pessoas estavam desaparecidas. O Estado contabiliza quase 160 mil desalojados e 48 mil pessoas em abrigos.

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