Como lugares no Brasil e no mundo se preparam para encarar a crise climática? Conheça 7 experiências


Jardins de chuva, cidade-esponja, infraestrutura verde-azul e parques lineares aparecem em planos de ação climáticas de cidades pelo mundo

Por Leon Ferrari
Atualização:

É urgente adaptar nossas cidades às alterações causadas pelas mudanças climáticas, alertam especialistas. Nos últimos meses, ondas de calor, ciclones extratropicais e ventanias revelam as perdas e transtornos associados ao aquecimento global.

A saída é desenvolver e tirar do papel planos de ação climática que unam mitigação à adaptação. Essa última precisa de um esforço local de mapear vulnerabilidades e propor soluções efetivas.

Apesar de o componente local ser extremamente importante para ações de adaptação e cada cidade precisar de um plano único, o Estadão consultou especialistas e rankings internacionais para encontrar localidades com medidas que podem servir de exemplo na luta contra a catástrofe ambiental no planeta.

Conheça sete delas:

Barcelona, na Espanha

Um plano de ação climática elogiado por especialistas é o de Barcelona, na Espanha. “Uso bastante com meus alunos de Arquitetura, porque lá existe uma espacialização de dados em que se enxerga, no mapa, o cruzamento de informações onde estão os idosos, os vulneráveis, as comunidades que mais precisam e os parques e refúgios climáticos”, afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O plano da cidade catalã tem 18 linhas de ação nos mais diversos temas. Entre elas, uma que trata apenas de ondas de calor. As ações de resposta mais rápida incluem, por exemplo, o estabelecimento de um serviço telefônico permanente, coordenado junto com serviços médicos no caso de detectar pessoas com problemas de saúde.

Outra delas, essa de médio e longo prazo, prevê a expansão de “jardins de água”, que são espaços com fontes, lagos ou piscinas, por exemplo.

Fonte de água potável pública em Barcelona Foto: Nacho Doce/Reuters

Hong Kong, na Ásia

Como descreve Denise, um território muito pequeno, com área de cidade construída e densidade populacional “absurdas”. Aqui, o problema é encontrar espaços para intervenções. “É preciso quase procurar com lupa esses espaços. É rua, é calçada, é miolo de quadra”, afirma.

Para lidar com o problema das enchentes, a cidade investe no conceito de “infraestrutura azul-verde”, que, em suma, envolve a expansão de áreas vegetadas e de água. Para isso, além de incentivo a jardins e telhados verdes, o foco também está em pavimentação porosa, tanques de retenção no subsolo, biovaletas (canteiros com vegetação sobre um pavimento poroso) e lagos artificiais.

Parque Wetland de Hong Kong; no plano de ação climática local, governo incentiva restauração e criação de mangues (wetland) Foto: BOBBY YIP/REUTERS

Niterói, RJ

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, uma medida a ser observada com atenção são jardins filtrantes, que fazem parte de uma operação no Parque Orla Piratininga. “São grandes espaços vegetados que têm a função de filtrar as águas que descem da serra e deságuam na lagoa”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

Parque Orla Piratininga aposta em jardins filtrantes Foto: WRI Brasil/Divulgação

Campinas, SP

Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, cita Campinas, em São Paulo, como uma cidade que já inclui “soluções baseadas” na natureza nos seus planos de ação climática. “Campinas já tem uma definição de áreas prioritárias, que são justamente onde enchentes, deslizamentos e ondas de calor vão acontecer com maior intensidade.”

Entre as soluções, Evers cita a previsão dos parques lineares, que são maiores em largura do que comprimento, e funcionam como espécies de corredores verdes, em geral acompanham o leito de um rio.

reference

Berlim, na Alemanha

A cidade aparece no topo do ranking Cidades Resilientes da empresa imobiliária britânica Savills, que analisa como os 23 maiores, mais ricos e mais populosos municípios do mundo se preparam contra eventos relacionados com o clima. Segundo o relatório, ela tem muito “mais sorte” do que outras cidades por ter um histórico quase sem eventos climáticos extremos.

A metrópole alemã “enfrenta desafios, não emergências”, mas, mesmo assim, existe um apoio significativo para ações de mitigação.

Crianças brincam em fonte de água em Berim, na Alemanha, durante onda de calor Foto: JOHN MACDOUGALL/AFP

De acordo com Matti Schenk, diretor associado de investigação da Savills Alemanha, o governo local tenta resolver o problema por meio de instrumentos e diretrizes de planejamento urbano, tais como mais telhados verdes. Eles também estudam conceitos de “cidade esponja”, um espaço desenhado para absorver melhor a água da chuva, com mais áreas verdes, por exemplo, para prevenir inundações.

Wellington, na Nova Zelândia

A cidade lidera o índice das cidades ambientalmente seguras da publicação inglesa The Economist de 2021. O ranking é patrocinado pela empresa japonesa de tecnologia NEC.

No site oficial, a administração da cidade afirma que, na medida em que trabalham para se tornar zero carbono, é preciso se adaptar a “impactos inevitáveis das alterações climáticas”. O plano divulgado foca na expansão urbana - “onde queremos crescer?”.

Preocupados com o aumento do nível do mar, as ações focam em: evitar o desenvolvimento em áreas de risco; redesenhar infraestruturas e serviços existentes; construção de proteção, como paredões e revegetação de dunas de areia.

Ocnița, na Moldávia

Em setembro deste ano, a pequena Ocnița foi descrita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), no site oficial, como a “a cidade que tornou a adaptação às alterações climáticas uma prioridade”. Segundo a agência da ONU, a câmara municipal adotou o Plano de Ação Local para as Alterações Climáticas há um ano, e, desde então, os investimentos na localidade têm sido feitos considerando as mudanças.

“Como podemos construir estradas ou pontes sem levar em conta as altas temperaturas dos últimos anos? É como jogar dinheiro ao vento. Os materiais que utilizamos devem ser adaptados às alterações climáticas. Caso contrário, a infraestrutura não resistirá”, disse o vice-prefeito de Ocnița, Marcel Gîrtopan, à UNPD.

Jardim de infância Ghiocel foi equipado com painéis fotovoltaicos, que fornecem um terço da eletricidade consumida Foto: UNDP/Divulgação

O plano da cidade foca também em energias renováveis e eficiência energética. A agência da ONU cita como exemplo o jardim de infância público “Ghiocel” que está equipado com painéis fotovoltaicos, que já fornecem um terço da eletricidade consumida.

É urgente adaptar nossas cidades às alterações causadas pelas mudanças climáticas, alertam especialistas. Nos últimos meses, ondas de calor, ciclones extratropicais e ventanias revelam as perdas e transtornos associados ao aquecimento global.

A saída é desenvolver e tirar do papel planos de ação climática que unam mitigação à adaptação. Essa última precisa de um esforço local de mapear vulnerabilidades e propor soluções efetivas.

Apesar de o componente local ser extremamente importante para ações de adaptação e cada cidade precisar de um plano único, o Estadão consultou especialistas e rankings internacionais para encontrar localidades com medidas que podem servir de exemplo na luta contra a catástrofe ambiental no planeta.

Conheça sete delas:

Barcelona, na Espanha

Um plano de ação climática elogiado por especialistas é o de Barcelona, na Espanha. “Uso bastante com meus alunos de Arquitetura, porque lá existe uma espacialização de dados em que se enxerga, no mapa, o cruzamento de informações onde estão os idosos, os vulneráveis, as comunidades que mais precisam e os parques e refúgios climáticos”, afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O plano da cidade catalã tem 18 linhas de ação nos mais diversos temas. Entre elas, uma que trata apenas de ondas de calor. As ações de resposta mais rápida incluem, por exemplo, o estabelecimento de um serviço telefônico permanente, coordenado junto com serviços médicos no caso de detectar pessoas com problemas de saúde.

Outra delas, essa de médio e longo prazo, prevê a expansão de “jardins de água”, que são espaços com fontes, lagos ou piscinas, por exemplo.

Fonte de água potável pública em Barcelona Foto: Nacho Doce/Reuters

Hong Kong, na Ásia

Como descreve Denise, um território muito pequeno, com área de cidade construída e densidade populacional “absurdas”. Aqui, o problema é encontrar espaços para intervenções. “É preciso quase procurar com lupa esses espaços. É rua, é calçada, é miolo de quadra”, afirma.

Para lidar com o problema das enchentes, a cidade investe no conceito de “infraestrutura azul-verde”, que, em suma, envolve a expansão de áreas vegetadas e de água. Para isso, além de incentivo a jardins e telhados verdes, o foco também está em pavimentação porosa, tanques de retenção no subsolo, biovaletas (canteiros com vegetação sobre um pavimento poroso) e lagos artificiais.

Parque Wetland de Hong Kong; no plano de ação climática local, governo incentiva restauração e criação de mangues (wetland) Foto: BOBBY YIP/REUTERS

Niterói, RJ

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, uma medida a ser observada com atenção são jardins filtrantes, que fazem parte de uma operação no Parque Orla Piratininga. “São grandes espaços vegetados que têm a função de filtrar as águas que descem da serra e deságuam na lagoa”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

Parque Orla Piratininga aposta em jardins filtrantes Foto: WRI Brasil/Divulgação

Campinas, SP

Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, cita Campinas, em São Paulo, como uma cidade que já inclui “soluções baseadas” na natureza nos seus planos de ação climática. “Campinas já tem uma definição de áreas prioritárias, que são justamente onde enchentes, deslizamentos e ondas de calor vão acontecer com maior intensidade.”

Entre as soluções, Evers cita a previsão dos parques lineares, que são maiores em largura do que comprimento, e funcionam como espécies de corredores verdes, em geral acompanham o leito de um rio.

reference

Berlim, na Alemanha

A cidade aparece no topo do ranking Cidades Resilientes da empresa imobiliária britânica Savills, que analisa como os 23 maiores, mais ricos e mais populosos municípios do mundo se preparam contra eventos relacionados com o clima. Segundo o relatório, ela tem muito “mais sorte” do que outras cidades por ter um histórico quase sem eventos climáticos extremos.

A metrópole alemã “enfrenta desafios, não emergências”, mas, mesmo assim, existe um apoio significativo para ações de mitigação.

Crianças brincam em fonte de água em Berim, na Alemanha, durante onda de calor Foto: JOHN MACDOUGALL/AFP

De acordo com Matti Schenk, diretor associado de investigação da Savills Alemanha, o governo local tenta resolver o problema por meio de instrumentos e diretrizes de planejamento urbano, tais como mais telhados verdes. Eles também estudam conceitos de “cidade esponja”, um espaço desenhado para absorver melhor a água da chuva, com mais áreas verdes, por exemplo, para prevenir inundações.

Wellington, na Nova Zelândia

A cidade lidera o índice das cidades ambientalmente seguras da publicação inglesa The Economist de 2021. O ranking é patrocinado pela empresa japonesa de tecnologia NEC.

No site oficial, a administração da cidade afirma que, na medida em que trabalham para se tornar zero carbono, é preciso se adaptar a “impactos inevitáveis das alterações climáticas”. O plano divulgado foca na expansão urbana - “onde queremos crescer?”.

Preocupados com o aumento do nível do mar, as ações focam em: evitar o desenvolvimento em áreas de risco; redesenhar infraestruturas e serviços existentes; construção de proteção, como paredões e revegetação de dunas de areia.

Ocnița, na Moldávia

Em setembro deste ano, a pequena Ocnița foi descrita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), no site oficial, como a “a cidade que tornou a adaptação às alterações climáticas uma prioridade”. Segundo a agência da ONU, a câmara municipal adotou o Plano de Ação Local para as Alterações Climáticas há um ano, e, desde então, os investimentos na localidade têm sido feitos considerando as mudanças.

“Como podemos construir estradas ou pontes sem levar em conta as altas temperaturas dos últimos anos? É como jogar dinheiro ao vento. Os materiais que utilizamos devem ser adaptados às alterações climáticas. Caso contrário, a infraestrutura não resistirá”, disse o vice-prefeito de Ocnița, Marcel Gîrtopan, à UNPD.

Jardim de infância Ghiocel foi equipado com painéis fotovoltaicos, que fornecem um terço da eletricidade consumida Foto: UNDP/Divulgação

O plano da cidade foca também em energias renováveis e eficiência energética. A agência da ONU cita como exemplo o jardim de infância público “Ghiocel” que está equipado com painéis fotovoltaicos, que já fornecem um terço da eletricidade consumida.

É urgente adaptar nossas cidades às alterações causadas pelas mudanças climáticas, alertam especialistas. Nos últimos meses, ondas de calor, ciclones extratropicais e ventanias revelam as perdas e transtornos associados ao aquecimento global.

A saída é desenvolver e tirar do papel planos de ação climática que unam mitigação à adaptação. Essa última precisa de um esforço local de mapear vulnerabilidades e propor soluções efetivas.

Apesar de o componente local ser extremamente importante para ações de adaptação e cada cidade precisar de um plano único, o Estadão consultou especialistas e rankings internacionais para encontrar localidades com medidas que podem servir de exemplo na luta contra a catástrofe ambiental no planeta.

Conheça sete delas:

Barcelona, na Espanha

Um plano de ação climática elogiado por especialistas é o de Barcelona, na Espanha. “Uso bastante com meus alunos de Arquitetura, porque lá existe uma espacialização de dados em que se enxerga, no mapa, o cruzamento de informações onde estão os idosos, os vulneráveis, as comunidades que mais precisam e os parques e refúgios climáticos”, afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O plano da cidade catalã tem 18 linhas de ação nos mais diversos temas. Entre elas, uma que trata apenas de ondas de calor. As ações de resposta mais rápida incluem, por exemplo, o estabelecimento de um serviço telefônico permanente, coordenado junto com serviços médicos no caso de detectar pessoas com problemas de saúde.

Outra delas, essa de médio e longo prazo, prevê a expansão de “jardins de água”, que são espaços com fontes, lagos ou piscinas, por exemplo.

Fonte de água potável pública em Barcelona Foto: Nacho Doce/Reuters

Hong Kong, na Ásia

Como descreve Denise, um território muito pequeno, com área de cidade construída e densidade populacional “absurdas”. Aqui, o problema é encontrar espaços para intervenções. “É preciso quase procurar com lupa esses espaços. É rua, é calçada, é miolo de quadra”, afirma.

Para lidar com o problema das enchentes, a cidade investe no conceito de “infraestrutura azul-verde”, que, em suma, envolve a expansão de áreas vegetadas e de água. Para isso, além de incentivo a jardins e telhados verdes, o foco também está em pavimentação porosa, tanques de retenção no subsolo, biovaletas (canteiros com vegetação sobre um pavimento poroso) e lagos artificiais.

Parque Wetland de Hong Kong; no plano de ação climática local, governo incentiva restauração e criação de mangues (wetland) Foto: BOBBY YIP/REUTERS

Niterói, RJ

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, uma medida a ser observada com atenção são jardins filtrantes, que fazem parte de uma operação no Parque Orla Piratininga. “São grandes espaços vegetados que têm a função de filtrar as águas que descem da serra e deságuam na lagoa”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

Parque Orla Piratininga aposta em jardins filtrantes Foto: WRI Brasil/Divulgação

Campinas, SP

Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, cita Campinas, em São Paulo, como uma cidade que já inclui “soluções baseadas” na natureza nos seus planos de ação climática. “Campinas já tem uma definição de áreas prioritárias, que são justamente onde enchentes, deslizamentos e ondas de calor vão acontecer com maior intensidade.”

Entre as soluções, Evers cita a previsão dos parques lineares, que são maiores em largura do que comprimento, e funcionam como espécies de corredores verdes, em geral acompanham o leito de um rio.

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Berlim, na Alemanha

A cidade aparece no topo do ranking Cidades Resilientes da empresa imobiliária britânica Savills, que analisa como os 23 maiores, mais ricos e mais populosos municípios do mundo se preparam contra eventos relacionados com o clima. Segundo o relatório, ela tem muito “mais sorte” do que outras cidades por ter um histórico quase sem eventos climáticos extremos.

A metrópole alemã “enfrenta desafios, não emergências”, mas, mesmo assim, existe um apoio significativo para ações de mitigação.

Crianças brincam em fonte de água em Berim, na Alemanha, durante onda de calor Foto: JOHN MACDOUGALL/AFP

De acordo com Matti Schenk, diretor associado de investigação da Savills Alemanha, o governo local tenta resolver o problema por meio de instrumentos e diretrizes de planejamento urbano, tais como mais telhados verdes. Eles também estudam conceitos de “cidade esponja”, um espaço desenhado para absorver melhor a água da chuva, com mais áreas verdes, por exemplo, para prevenir inundações.

Wellington, na Nova Zelândia

A cidade lidera o índice das cidades ambientalmente seguras da publicação inglesa The Economist de 2021. O ranking é patrocinado pela empresa japonesa de tecnologia NEC.

No site oficial, a administração da cidade afirma que, na medida em que trabalham para se tornar zero carbono, é preciso se adaptar a “impactos inevitáveis das alterações climáticas”. O plano divulgado foca na expansão urbana - “onde queremos crescer?”.

Preocupados com o aumento do nível do mar, as ações focam em: evitar o desenvolvimento em áreas de risco; redesenhar infraestruturas e serviços existentes; construção de proteção, como paredões e revegetação de dunas de areia.

Ocnița, na Moldávia

Em setembro deste ano, a pequena Ocnița foi descrita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), no site oficial, como a “a cidade que tornou a adaptação às alterações climáticas uma prioridade”. Segundo a agência da ONU, a câmara municipal adotou o Plano de Ação Local para as Alterações Climáticas há um ano, e, desde então, os investimentos na localidade têm sido feitos considerando as mudanças.

“Como podemos construir estradas ou pontes sem levar em conta as altas temperaturas dos últimos anos? É como jogar dinheiro ao vento. Os materiais que utilizamos devem ser adaptados às alterações climáticas. Caso contrário, a infraestrutura não resistirá”, disse o vice-prefeito de Ocnița, Marcel Gîrtopan, à UNPD.

Jardim de infância Ghiocel foi equipado com painéis fotovoltaicos, que fornecem um terço da eletricidade consumida Foto: UNDP/Divulgação

O plano da cidade foca também em energias renováveis e eficiência energética. A agência da ONU cita como exemplo o jardim de infância público “Ghiocel” que está equipado com painéis fotovoltaicos, que já fornecem um terço da eletricidade consumida.

É urgente adaptar nossas cidades às alterações causadas pelas mudanças climáticas, alertam especialistas. Nos últimos meses, ondas de calor, ciclones extratropicais e ventanias revelam as perdas e transtornos associados ao aquecimento global.

A saída é desenvolver e tirar do papel planos de ação climática que unam mitigação à adaptação. Essa última precisa de um esforço local de mapear vulnerabilidades e propor soluções efetivas.

Apesar de o componente local ser extremamente importante para ações de adaptação e cada cidade precisar de um plano único, o Estadão consultou especialistas e rankings internacionais para encontrar localidades com medidas que podem servir de exemplo na luta contra a catástrofe ambiental no planeta.

Conheça sete delas:

Barcelona, na Espanha

Um plano de ação climática elogiado por especialistas é o de Barcelona, na Espanha. “Uso bastante com meus alunos de Arquitetura, porque lá existe uma espacialização de dados em que se enxerga, no mapa, o cruzamento de informações onde estão os idosos, os vulneráveis, as comunidades que mais precisam e os parques e refúgios climáticos”, afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O plano da cidade catalã tem 18 linhas de ação nos mais diversos temas. Entre elas, uma que trata apenas de ondas de calor. As ações de resposta mais rápida incluem, por exemplo, o estabelecimento de um serviço telefônico permanente, coordenado junto com serviços médicos no caso de detectar pessoas com problemas de saúde.

Outra delas, essa de médio e longo prazo, prevê a expansão de “jardins de água”, que são espaços com fontes, lagos ou piscinas, por exemplo.

Fonte de água potável pública em Barcelona Foto: Nacho Doce/Reuters

Hong Kong, na Ásia

Como descreve Denise, um território muito pequeno, com área de cidade construída e densidade populacional “absurdas”. Aqui, o problema é encontrar espaços para intervenções. “É preciso quase procurar com lupa esses espaços. É rua, é calçada, é miolo de quadra”, afirma.

Para lidar com o problema das enchentes, a cidade investe no conceito de “infraestrutura azul-verde”, que, em suma, envolve a expansão de áreas vegetadas e de água. Para isso, além de incentivo a jardins e telhados verdes, o foco também está em pavimentação porosa, tanques de retenção no subsolo, biovaletas (canteiros com vegetação sobre um pavimento poroso) e lagos artificiais.

Parque Wetland de Hong Kong; no plano de ação climática local, governo incentiva restauração e criação de mangues (wetland) Foto: BOBBY YIP/REUTERS

Niterói, RJ

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, uma medida a ser observada com atenção são jardins filtrantes, que fazem parte de uma operação no Parque Orla Piratininga. “São grandes espaços vegetados que têm a função de filtrar as águas que descem da serra e deságuam na lagoa”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

Parque Orla Piratininga aposta em jardins filtrantes Foto: WRI Brasil/Divulgação

Campinas, SP

Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, cita Campinas, em São Paulo, como uma cidade que já inclui “soluções baseadas” na natureza nos seus planos de ação climática. “Campinas já tem uma definição de áreas prioritárias, que são justamente onde enchentes, deslizamentos e ondas de calor vão acontecer com maior intensidade.”

Entre as soluções, Evers cita a previsão dos parques lineares, que são maiores em largura do que comprimento, e funcionam como espécies de corredores verdes, em geral acompanham o leito de um rio.

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Berlim, na Alemanha

A cidade aparece no topo do ranking Cidades Resilientes da empresa imobiliária britânica Savills, que analisa como os 23 maiores, mais ricos e mais populosos municípios do mundo se preparam contra eventos relacionados com o clima. Segundo o relatório, ela tem muito “mais sorte” do que outras cidades por ter um histórico quase sem eventos climáticos extremos.

A metrópole alemã “enfrenta desafios, não emergências”, mas, mesmo assim, existe um apoio significativo para ações de mitigação.

Crianças brincam em fonte de água em Berim, na Alemanha, durante onda de calor Foto: JOHN MACDOUGALL/AFP

De acordo com Matti Schenk, diretor associado de investigação da Savills Alemanha, o governo local tenta resolver o problema por meio de instrumentos e diretrizes de planejamento urbano, tais como mais telhados verdes. Eles também estudam conceitos de “cidade esponja”, um espaço desenhado para absorver melhor a água da chuva, com mais áreas verdes, por exemplo, para prevenir inundações.

Wellington, na Nova Zelândia

A cidade lidera o índice das cidades ambientalmente seguras da publicação inglesa The Economist de 2021. O ranking é patrocinado pela empresa japonesa de tecnologia NEC.

No site oficial, a administração da cidade afirma que, na medida em que trabalham para se tornar zero carbono, é preciso se adaptar a “impactos inevitáveis das alterações climáticas”. O plano divulgado foca na expansão urbana - “onde queremos crescer?”.

Preocupados com o aumento do nível do mar, as ações focam em: evitar o desenvolvimento em áreas de risco; redesenhar infraestruturas e serviços existentes; construção de proteção, como paredões e revegetação de dunas de areia.

Ocnița, na Moldávia

Em setembro deste ano, a pequena Ocnița foi descrita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), no site oficial, como a “a cidade que tornou a adaptação às alterações climáticas uma prioridade”. Segundo a agência da ONU, a câmara municipal adotou o Plano de Ação Local para as Alterações Climáticas há um ano, e, desde então, os investimentos na localidade têm sido feitos considerando as mudanças.

“Como podemos construir estradas ou pontes sem levar em conta as altas temperaturas dos últimos anos? É como jogar dinheiro ao vento. Os materiais que utilizamos devem ser adaptados às alterações climáticas. Caso contrário, a infraestrutura não resistirá”, disse o vice-prefeito de Ocnița, Marcel Gîrtopan, à UNPD.

Jardim de infância Ghiocel foi equipado com painéis fotovoltaicos, que fornecem um terço da eletricidade consumida Foto: UNDP/Divulgação

O plano da cidade foca também em energias renováveis e eficiência energética. A agência da ONU cita como exemplo o jardim de infância público “Ghiocel” que está equipado com painéis fotovoltaicos, que já fornecem um terço da eletricidade consumida.

É urgente adaptar nossas cidades às alterações causadas pelas mudanças climáticas, alertam especialistas. Nos últimos meses, ondas de calor, ciclones extratropicais e ventanias revelam as perdas e transtornos associados ao aquecimento global.

A saída é desenvolver e tirar do papel planos de ação climática que unam mitigação à adaptação. Essa última precisa de um esforço local de mapear vulnerabilidades e propor soluções efetivas.

Apesar de o componente local ser extremamente importante para ações de adaptação e cada cidade precisar de um plano único, o Estadão consultou especialistas e rankings internacionais para encontrar localidades com medidas que podem servir de exemplo na luta contra a catástrofe ambiental no planeta.

Conheça sete delas:

Barcelona, na Espanha

Um plano de ação climática elogiado por especialistas é o de Barcelona, na Espanha. “Uso bastante com meus alunos de Arquitetura, porque lá existe uma espacialização de dados em que se enxerga, no mapa, o cruzamento de informações onde estão os idosos, os vulneráveis, as comunidades que mais precisam e os parques e refúgios climáticos”, afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O plano da cidade catalã tem 18 linhas de ação nos mais diversos temas. Entre elas, uma que trata apenas de ondas de calor. As ações de resposta mais rápida incluem, por exemplo, o estabelecimento de um serviço telefônico permanente, coordenado junto com serviços médicos no caso de detectar pessoas com problemas de saúde.

Outra delas, essa de médio e longo prazo, prevê a expansão de “jardins de água”, que são espaços com fontes, lagos ou piscinas, por exemplo.

Fonte de água potável pública em Barcelona Foto: Nacho Doce/Reuters

Hong Kong, na Ásia

Como descreve Denise, um território muito pequeno, com área de cidade construída e densidade populacional “absurdas”. Aqui, o problema é encontrar espaços para intervenções. “É preciso quase procurar com lupa esses espaços. É rua, é calçada, é miolo de quadra”, afirma.

Para lidar com o problema das enchentes, a cidade investe no conceito de “infraestrutura azul-verde”, que, em suma, envolve a expansão de áreas vegetadas e de água. Para isso, além de incentivo a jardins e telhados verdes, o foco também está em pavimentação porosa, tanques de retenção no subsolo, biovaletas (canteiros com vegetação sobre um pavimento poroso) e lagos artificiais.

Parque Wetland de Hong Kong; no plano de ação climática local, governo incentiva restauração e criação de mangues (wetland) Foto: BOBBY YIP/REUTERS

Niterói, RJ

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, uma medida a ser observada com atenção são jardins filtrantes, que fazem parte de uma operação no Parque Orla Piratininga. “São grandes espaços vegetados que têm a função de filtrar as águas que descem da serra e deságuam na lagoa”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

Parque Orla Piratininga aposta em jardins filtrantes Foto: WRI Brasil/Divulgação

Campinas, SP

Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, cita Campinas, em São Paulo, como uma cidade que já inclui “soluções baseadas” na natureza nos seus planos de ação climática. “Campinas já tem uma definição de áreas prioritárias, que são justamente onde enchentes, deslizamentos e ondas de calor vão acontecer com maior intensidade.”

Entre as soluções, Evers cita a previsão dos parques lineares, que são maiores em largura do que comprimento, e funcionam como espécies de corredores verdes, em geral acompanham o leito de um rio.

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Berlim, na Alemanha

A cidade aparece no topo do ranking Cidades Resilientes da empresa imobiliária britânica Savills, que analisa como os 23 maiores, mais ricos e mais populosos municípios do mundo se preparam contra eventos relacionados com o clima. Segundo o relatório, ela tem muito “mais sorte” do que outras cidades por ter um histórico quase sem eventos climáticos extremos.

A metrópole alemã “enfrenta desafios, não emergências”, mas, mesmo assim, existe um apoio significativo para ações de mitigação.

Crianças brincam em fonte de água em Berim, na Alemanha, durante onda de calor Foto: JOHN MACDOUGALL/AFP

De acordo com Matti Schenk, diretor associado de investigação da Savills Alemanha, o governo local tenta resolver o problema por meio de instrumentos e diretrizes de planejamento urbano, tais como mais telhados verdes. Eles também estudam conceitos de “cidade esponja”, um espaço desenhado para absorver melhor a água da chuva, com mais áreas verdes, por exemplo, para prevenir inundações.

Wellington, na Nova Zelândia

A cidade lidera o índice das cidades ambientalmente seguras da publicação inglesa The Economist de 2021. O ranking é patrocinado pela empresa japonesa de tecnologia NEC.

No site oficial, a administração da cidade afirma que, na medida em que trabalham para se tornar zero carbono, é preciso se adaptar a “impactos inevitáveis das alterações climáticas”. O plano divulgado foca na expansão urbana - “onde queremos crescer?”.

Preocupados com o aumento do nível do mar, as ações focam em: evitar o desenvolvimento em áreas de risco; redesenhar infraestruturas e serviços existentes; construção de proteção, como paredões e revegetação de dunas de areia.

Ocnița, na Moldávia

Em setembro deste ano, a pequena Ocnița foi descrita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), no site oficial, como a “a cidade que tornou a adaptação às alterações climáticas uma prioridade”. Segundo a agência da ONU, a câmara municipal adotou o Plano de Ação Local para as Alterações Climáticas há um ano, e, desde então, os investimentos na localidade têm sido feitos considerando as mudanças.

“Como podemos construir estradas ou pontes sem levar em conta as altas temperaturas dos últimos anos? É como jogar dinheiro ao vento. Os materiais que utilizamos devem ser adaptados às alterações climáticas. Caso contrário, a infraestrutura não resistirá”, disse o vice-prefeito de Ocnița, Marcel Gîrtopan, à UNPD.

Jardim de infância Ghiocel foi equipado com painéis fotovoltaicos, que fornecem um terço da eletricidade consumida Foto: UNDP/Divulgação

O plano da cidade foca também em energias renováveis e eficiência energética. A agência da ONU cita como exemplo o jardim de infância público “Ghiocel” que está equipado com painéis fotovoltaicos, que já fornecem um terço da eletricidade consumida.

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