Com diversidade de fauna e flora, a Mata Atlântica é um palco de diferentes espécies. Entre elas, estão os bugios, espécie Alouatta guariba, endêmica de Mata Atlântica. Após 200 anos desaparecidos da cidade, esses animais têm sido reintroduzidos no Parque Nacional da Tijuca, a maior floresta urbana replantada pelo homem no mundo.
A iniciativa é conduzida pelo Refauna, projeto nascido em universidades do Rio de Janeiro, que hoje é uma ONG destinada à preservação de áreas remanescentes da Mata Atlântica. Por meio de um trabalho de pesquisa e monitoramento, a entidade busca restaurar as interações ecológicas perdidas com a reintrodução de vertebrados.
Neste ano, sete bugios foram devolvidos ao bioma, um macho e seis fêmeas, com idade entre 8 meses e 15 anos. Essa é a primeira leva de animais liberados após uma epizootia de febre amarela.
Em 2015, a liberação do primeiro grupo marcou o término da extinção local da espécie, que não era registrada na unidade de conservação há mais de dois séculos. Hoje, o parque tem oito macacos-bugios, que são o casal introduzido e seus seis filhotes - uma taxa de natalidade de um filhote por ano desde o início da refaunação.
Matheus Sette e Câmara, coordenador da reintrodução do Bugio-Ruivo da Refauna, explicou a importância desses animais para a vegetação local. Segundo ele, por causa do longo período fora da floresta, foi necessária uma espécie de treinamento de adaptação, período conhecido como ‘aclimatação’
“Em 2015, os animais começaram a ser liberados e não existe registro recente de bugios aqui na região, na cidade do Rio de Janeiro. O grupo de animais agora ficou nesse processo de abril a janeiro deste ano. Ali, procuramos fazer com que esse momento de transição do cativeiro para vida livre seja o menos estressante possível”, afirma o biólogo.
“Para isso, eles ficam em ambiente controlado em um recinto semelhante a um zoológico, só que dentro da floresta. Para que um grupo assim se desenvolva, há todo um estudo para entender o que causou a extinção, que não está relacionado simplesmente a levar o animal”, acrescenta.
Seu navegador não suporta esse video.
Após 200 anos de desaparecimento da espécie da região, grupo de animais retorna ao bioma da Mata Atlântica
Outro ponto destacado pelo coordenador foi o principal desafio de reintrodução da espécie: um surto de febre amarela que dizimou os animais.
“Em 2017, a epizootia de febre amarela atingiu diversas populações de bugios em toda a Mata Atlântica. Eles são muito suscetíveis e há lugares em que cerca de 80% da população morreu. Quando existe algum episódio como esse, não há como mover o animal até estabilizar o quadro”, explica Sette e Câmara.
Bioma a céu aberto e incentivo à pesquisa
Localizado no coração do Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Tijuca é uma joia natural que abriga rica diversidade ambiental. Sua importância vai além da beleza cênica, pois desempenha papel fundamental na preservação dos ecossistemas da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.
No passado, a área foi desmatada para urbanização e, depois, passou por um processo de reflorestamento. No entanto, grande parte dos animais que habitavam o local antes do desmatamento não estava mais presente, pois alguns foram caçados ou perderam seus hábitats devido à fragmentação resultante da urbanização e da retirada da cobertura vegetal para a plantação de café.
Além disso, a fauna do parque é igualmente impressionante, abrigando ampla gama de animais selvagens. A região e o clima são cruciais nesse processo, proporcionando refúgio seguro para os seres vivos em meio à agitação urbana carioca.
O diretor do Refauna, Marcelo Rheingantz, enfatiza a importância das parcerias com instituições públicas para fortalecer os esforços de conscientização e manutenção.
“Atuamos de maneira conjunta às instituições públicas, algumas delas no âmbito da gestão de Meio Ambiente como é o caso do Parque Nacional da Tijuca, e do Centro de Primatas Brasileiros, ambos do ICMBio (órgão federal responsável por cuidar das unidades de conservação e das espécies ameaçadas), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, do Centro de Primatologia do Estado do Rio de Janeiro, ligado ao Instituto Estadual do Ambiente, e da Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao Ministério da Saúde””, afirma ele.
“Alguns membros do Refauna atuam em comitês que tomam decisões sobre a conservação dos bugios e outras espécies ameaçadas e parte dos resultados que obtivemos são compartilhados com outras pessoas que tomam decisão. Eles influenciam nas estratégias de conservação das espécies”, continua.