Como uma planta de brejo pode reduzir a contaminação provocada pela tragédia de Mariana


Pesquisa da USP na Bacia do Rio Doce mostra que taboa tem capacidade de absorver metais pesados do solo e pode ser uma fonte de geração de energia e de biominério

Por Aline Reskalla

Uma planta aquática popularmente conhecida como “taboa” (Typha domingensis) demonstrou ter capacidade de remediar impactos causados por rejeitos de mineração ao absorver metais pesados do solo contaminado da Bacia do Rio Doce, atingida em 2015 pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG).

Esse foi o maior desastre socioambiental da história do Brasil, responsável por derramar 39 milhões de m3 de rejeitos de minério de ferro ao longo de 600 km da bacia, de Minas Gerais até o estuário de Regência, no Espírito Santo. Dezenove pessoas morreram e um rastro de destruição foi deixado: populações de peixes e invertebrados foram dizimadas, afetando a fauna, a flora e a vida de milhares de pessoas que dependiam do rio para sobrevivência.

Engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira estuda os impactos ambientais do rompimento da barragem de Fundão. Foto: Gerhard Waller/Divulgação

Desde a época do rompimento, a engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Planta da Esalq-USP, estuda a magnitude ecológica do vazamento e também formas de biorremediação desses impactos.

Inicialmente, a equipe dela identificou os componentes do rejeito liberado após o rompimento da barragem, composto principalmente de óxidos de ferro. Esses óxidos, que são estáveis em ambientes não alagados como solos de terras altas, representam um risco potencial quando depositados em estuários, onde podem ser reduzidos e liberar metais associados, como ferro, manganês, cromo, níquel, cobre e chumbo.

Conforme a pesquisadora, a presença desses óxidos de ferro nos solos alagados do estuário pode alterar significativamente a geoquímica local. Ela conta que, em condições de ausência de oxigênio, típicas de solos alagados, os óxidos de ferro podem se dissolver mais facilmente, aumentando a disponibilidade desses metais na água e no solo circundante ao longo do tempo. “Diversos estudos hipotetizaram que esse fenômeno funciona como uma bomba-relógio”, diz ela.

Além de identificar os riscos ambientais, o grupo também se dedicou a avaliar estratégias de biorremediação, utilizando plantas nativas da região do rio Doce. “Em um projeto de doutorado iniciado em 2019, coletamos plantas que eram cultivadas, para avaliar o risco de consumo desses alimentos, e também estratégias de fitorremediação, que é o uso das plantas para remediar solo e água”, disse Amanda Ferreira ao Estadão.

A pesquisa concluiu que a taboa, presente em brejos e estuários em várias regiões do País, demonstrou uma capacidade muito maior do que outras espécies para acumular metais, como ferro, manganês, cromo e níquel.

A equipe de Amanda se dedicou, então, a encontrar formas de aumentar esse poder de absorção, por meio do manejo do solo e dos rejeitos. “Fizemos experimentos na Esalq para aumentar a dissolução dos óxidos de ferro e também a produção de biomassa pela planta, para acelerar o processo de remediação. Aplicamos aditivos ao rejeito, ácidos orgânicos, fertilizantes orgânicos e minerais, consórcios de microorganismos, soluções que são mais baseadas na natureza. Alteramos o rejeito para ele liberar mais ferro e promover o melhor crescimento da planta”, explica a pesquisadora.

Os resultados foram bastante satisfatórios. “Conseguimos aumentar a biomassa da planta utilizando o consórcio de microorganismos, um agente quelante, que é o ácido cítrico, um ácido orgânico natural, e também utilizando a vinhaça como fonte de nutrientes para a planta. Conseguimos juntar resíduos e rejeitos para aumentar a produção de biomassa da taboa e de concentração de ferro. A partir disso, essa planta está enriquecida de ferro”, acrescenta.

O problema é que a cada estação chuvosa mais rejeito é depositado no estuário e, dessa forma, sem intervenções dos cientistas, o processo de descontaminação total do solo levaria 600 anos. “Podemos diminuir esse tempo aumentando a área plantada da taboa e aplicando as estratégias agronômicas para o manejo, entre elas o uso de fertilizantes”, explica a especialista.

A pesquisa mostrou que a taboa não só ajuda a descontaminar o solo dos metais acumulados no rejeito como pode ser uma fonte de geração de energia e de biominério. Com a queima da sua biomassa, produz-se o biogás, e das cinzas do processo é possível extrair minério de ferro.

“Identificamos que as cinzas da taboa contêm 97% de teor de ferro e agora estamos caracterizando que ferro é esse. A planta é rica também em manganês e alumínio”, disse a pesquisadora da Esalq.

Peixes mortos se acumularam às margens do Rio Doce após o estouro da barragem de Fundão, em Mariana; uma grossa lama percorreu o rio matando milhares de animais ao longo de sua extensão. Foto: Gabriela Biló/Estadão

A Fundação Renova, responsável pelos programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem de Fundão, informou que desconhece a metodologia. Em nota, a entidade disse que também atua no fomento e apoio à pesquisa por meio de editais junto à Fundação de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), universidades e centros de pesquisa.

E que no momento estão abertas as inscrições para o quinto edital do Projeto Biodiversidade Rio Doce, voltado para pesquisas sobre a fauna e a flora da bacia, em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O chamamento público, que irá até 29 de julho, disponibilizará R$ 6,4 milhões às propostas selecionadas. O valor máximo a ser solicitado por projeto é de R$ 800 mil.

Uma planta aquática popularmente conhecida como “taboa” (Typha domingensis) demonstrou ter capacidade de remediar impactos causados por rejeitos de mineração ao absorver metais pesados do solo contaminado da Bacia do Rio Doce, atingida em 2015 pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG).

Esse foi o maior desastre socioambiental da história do Brasil, responsável por derramar 39 milhões de m3 de rejeitos de minério de ferro ao longo de 600 km da bacia, de Minas Gerais até o estuário de Regência, no Espírito Santo. Dezenove pessoas morreram e um rastro de destruição foi deixado: populações de peixes e invertebrados foram dizimadas, afetando a fauna, a flora e a vida de milhares de pessoas que dependiam do rio para sobrevivência.

Engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira estuda os impactos ambientais do rompimento da barragem de Fundão. Foto: Gerhard Waller/Divulgação

Desde a época do rompimento, a engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Planta da Esalq-USP, estuda a magnitude ecológica do vazamento e também formas de biorremediação desses impactos.

Inicialmente, a equipe dela identificou os componentes do rejeito liberado após o rompimento da barragem, composto principalmente de óxidos de ferro. Esses óxidos, que são estáveis em ambientes não alagados como solos de terras altas, representam um risco potencial quando depositados em estuários, onde podem ser reduzidos e liberar metais associados, como ferro, manganês, cromo, níquel, cobre e chumbo.

Conforme a pesquisadora, a presença desses óxidos de ferro nos solos alagados do estuário pode alterar significativamente a geoquímica local. Ela conta que, em condições de ausência de oxigênio, típicas de solos alagados, os óxidos de ferro podem se dissolver mais facilmente, aumentando a disponibilidade desses metais na água e no solo circundante ao longo do tempo. “Diversos estudos hipotetizaram que esse fenômeno funciona como uma bomba-relógio”, diz ela.

Além de identificar os riscos ambientais, o grupo também se dedicou a avaliar estratégias de biorremediação, utilizando plantas nativas da região do rio Doce. “Em um projeto de doutorado iniciado em 2019, coletamos plantas que eram cultivadas, para avaliar o risco de consumo desses alimentos, e também estratégias de fitorremediação, que é o uso das plantas para remediar solo e água”, disse Amanda Ferreira ao Estadão.

A pesquisa concluiu que a taboa, presente em brejos e estuários em várias regiões do País, demonstrou uma capacidade muito maior do que outras espécies para acumular metais, como ferro, manganês, cromo e níquel.

A equipe de Amanda se dedicou, então, a encontrar formas de aumentar esse poder de absorção, por meio do manejo do solo e dos rejeitos. “Fizemos experimentos na Esalq para aumentar a dissolução dos óxidos de ferro e também a produção de biomassa pela planta, para acelerar o processo de remediação. Aplicamos aditivos ao rejeito, ácidos orgânicos, fertilizantes orgânicos e minerais, consórcios de microorganismos, soluções que são mais baseadas na natureza. Alteramos o rejeito para ele liberar mais ferro e promover o melhor crescimento da planta”, explica a pesquisadora.

Os resultados foram bastante satisfatórios. “Conseguimos aumentar a biomassa da planta utilizando o consórcio de microorganismos, um agente quelante, que é o ácido cítrico, um ácido orgânico natural, e também utilizando a vinhaça como fonte de nutrientes para a planta. Conseguimos juntar resíduos e rejeitos para aumentar a produção de biomassa da taboa e de concentração de ferro. A partir disso, essa planta está enriquecida de ferro”, acrescenta.

O problema é que a cada estação chuvosa mais rejeito é depositado no estuário e, dessa forma, sem intervenções dos cientistas, o processo de descontaminação total do solo levaria 600 anos. “Podemos diminuir esse tempo aumentando a área plantada da taboa e aplicando as estratégias agronômicas para o manejo, entre elas o uso de fertilizantes”, explica a especialista.

A pesquisa mostrou que a taboa não só ajuda a descontaminar o solo dos metais acumulados no rejeito como pode ser uma fonte de geração de energia e de biominério. Com a queima da sua biomassa, produz-se o biogás, e das cinzas do processo é possível extrair minério de ferro.

“Identificamos que as cinzas da taboa contêm 97% de teor de ferro e agora estamos caracterizando que ferro é esse. A planta é rica também em manganês e alumínio”, disse a pesquisadora da Esalq.

Peixes mortos se acumularam às margens do Rio Doce após o estouro da barragem de Fundão, em Mariana; uma grossa lama percorreu o rio matando milhares de animais ao longo de sua extensão. Foto: Gabriela Biló/Estadão

A Fundação Renova, responsável pelos programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem de Fundão, informou que desconhece a metodologia. Em nota, a entidade disse que também atua no fomento e apoio à pesquisa por meio de editais junto à Fundação de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), universidades e centros de pesquisa.

E que no momento estão abertas as inscrições para o quinto edital do Projeto Biodiversidade Rio Doce, voltado para pesquisas sobre a fauna e a flora da bacia, em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O chamamento público, que irá até 29 de julho, disponibilizará R$ 6,4 milhões às propostas selecionadas. O valor máximo a ser solicitado por projeto é de R$ 800 mil.

Uma planta aquática popularmente conhecida como “taboa” (Typha domingensis) demonstrou ter capacidade de remediar impactos causados por rejeitos de mineração ao absorver metais pesados do solo contaminado da Bacia do Rio Doce, atingida em 2015 pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG).

Esse foi o maior desastre socioambiental da história do Brasil, responsável por derramar 39 milhões de m3 de rejeitos de minério de ferro ao longo de 600 km da bacia, de Minas Gerais até o estuário de Regência, no Espírito Santo. Dezenove pessoas morreram e um rastro de destruição foi deixado: populações de peixes e invertebrados foram dizimadas, afetando a fauna, a flora e a vida de milhares de pessoas que dependiam do rio para sobrevivência.

Engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira estuda os impactos ambientais do rompimento da barragem de Fundão. Foto: Gerhard Waller/Divulgação

Desde a época do rompimento, a engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Planta da Esalq-USP, estuda a magnitude ecológica do vazamento e também formas de biorremediação desses impactos.

Inicialmente, a equipe dela identificou os componentes do rejeito liberado após o rompimento da barragem, composto principalmente de óxidos de ferro. Esses óxidos, que são estáveis em ambientes não alagados como solos de terras altas, representam um risco potencial quando depositados em estuários, onde podem ser reduzidos e liberar metais associados, como ferro, manganês, cromo, níquel, cobre e chumbo.

Conforme a pesquisadora, a presença desses óxidos de ferro nos solos alagados do estuário pode alterar significativamente a geoquímica local. Ela conta que, em condições de ausência de oxigênio, típicas de solos alagados, os óxidos de ferro podem se dissolver mais facilmente, aumentando a disponibilidade desses metais na água e no solo circundante ao longo do tempo. “Diversos estudos hipotetizaram que esse fenômeno funciona como uma bomba-relógio”, diz ela.

Além de identificar os riscos ambientais, o grupo também se dedicou a avaliar estratégias de biorremediação, utilizando plantas nativas da região do rio Doce. “Em um projeto de doutorado iniciado em 2019, coletamos plantas que eram cultivadas, para avaliar o risco de consumo desses alimentos, e também estratégias de fitorremediação, que é o uso das plantas para remediar solo e água”, disse Amanda Ferreira ao Estadão.

A pesquisa concluiu que a taboa, presente em brejos e estuários em várias regiões do País, demonstrou uma capacidade muito maior do que outras espécies para acumular metais, como ferro, manganês, cromo e níquel.

A equipe de Amanda se dedicou, então, a encontrar formas de aumentar esse poder de absorção, por meio do manejo do solo e dos rejeitos. “Fizemos experimentos na Esalq para aumentar a dissolução dos óxidos de ferro e também a produção de biomassa pela planta, para acelerar o processo de remediação. Aplicamos aditivos ao rejeito, ácidos orgânicos, fertilizantes orgânicos e minerais, consórcios de microorganismos, soluções que são mais baseadas na natureza. Alteramos o rejeito para ele liberar mais ferro e promover o melhor crescimento da planta”, explica a pesquisadora.

Os resultados foram bastante satisfatórios. “Conseguimos aumentar a biomassa da planta utilizando o consórcio de microorganismos, um agente quelante, que é o ácido cítrico, um ácido orgânico natural, e também utilizando a vinhaça como fonte de nutrientes para a planta. Conseguimos juntar resíduos e rejeitos para aumentar a produção de biomassa da taboa e de concentração de ferro. A partir disso, essa planta está enriquecida de ferro”, acrescenta.

O problema é que a cada estação chuvosa mais rejeito é depositado no estuário e, dessa forma, sem intervenções dos cientistas, o processo de descontaminação total do solo levaria 600 anos. “Podemos diminuir esse tempo aumentando a área plantada da taboa e aplicando as estratégias agronômicas para o manejo, entre elas o uso de fertilizantes”, explica a especialista.

A pesquisa mostrou que a taboa não só ajuda a descontaminar o solo dos metais acumulados no rejeito como pode ser uma fonte de geração de energia e de biominério. Com a queima da sua biomassa, produz-se o biogás, e das cinzas do processo é possível extrair minério de ferro.

“Identificamos que as cinzas da taboa contêm 97% de teor de ferro e agora estamos caracterizando que ferro é esse. A planta é rica também em manganês e alumínio”, disse a pesquisadora da Esalq.

Peixes mortos se acumularam às margens do Rio Doce após o estouro da barragem de Fundão, em Mariana; uma grossa lama percorreu o rio matando milhares de animais ao longo de sua extensão. Foto: Gabriela Biló/Estadão

A Fundação Renova, responsável pelos programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem de Fundão, informou que desconhece a metodologia. Em nota, a entidade disse que também atua no fomento e apoio à pesquisa por meio de editais junto à Fundação de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), universidades e centros de pesquisa.

E que no momento estão abertas as inscrições para o quinto edital do Projeto Biodiversidade Rio Doce, voltado para pesquisas sobre a fauna e a flora da bacia, em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O chamamento público, que irá até 29 de julho, disponibilizará R$ 6,4 milhões às propostas selecionadas. O valor máximo a ser solicitado por projeto é de R$ 800 mil.

Uma planta aquática popularmente conhecida como “taboa” (Typha domingensis) demonstrou ter capacidade de remediar impactos causados por rejeitos de mineração ao absorver metais pesados do solo contaminado da Bacia do Rio Doce, atingida em 2015 pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG).

Esse foi o maior desastre socioambiental da história do Brasil, responsável por derramar 39 milhões de m3 de rejeitos de minério de ferro ao longo de 600 km da bacia, de Minas Gerais até o estuário de Regência, no Espírito Santo. Dezenove pessoas morreram e um rastro de destruição foi deixado: populações de peixes e invertebrados foram dizimadas, afetando a fauna, a flora e a vida de milhares de pessoas que dependiam do rio para sobrevivência.

Engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira estuda os impactos ambientais do rompimento da barragem de Fundão. Foto: Gerhard Waller/Divulgação

Desde a época do rompimento, a engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Planta da Esalq-USP, estuda a magnitude ecológica do vazamento e também formas de biorremediação desses impactos.

Inicialmente, a equipe dela identificou os componentes do rejeito liberado após o rompimento da barragem, composto principalmente de óxidos de ferro. Esses óxidos, que são estáveis em ambientes não alagados como solos de terras altas, representam um risco potencial quando depositados em estuários, onde podem ser reduzidos e liberar metais associados, como ferro, manganês, cromo, níquel, cobre e chumbo.

Conforme a pesquisadora, a presença desses óxidos de ferro nos solos alagados do estuário pode alterar significativamente a geoquímica local. Ela conta que, em condições de ausência de oxigênio, típicas de solos alagados, os óxidos de ferro podem se dissolver mais facilmente, aumentando a disponibilidade desses metais na água e no solo circundante ao longo do tempo. “Diversos estudos hipotetizaram que esse fenômeno funciona como uma bomba-relógio”, diz ela.

Além de identificar os riscos ambientais, o grupo também se dedicou a avaliar estratégias de biorremediação, utilizando plantas nativas da região do rio Doce. “Em um projeto de doutorado iniciado em 2019, coletamos plantas que eram cultivadas, para avaliar o risco de consumo desses alimentos, e também estratégias de fitorremediação, que é o uso das plantas para remediar solo e água”, disse Amanda Ferreira ao Estadão.

A pesquisa concluiu que a taboa, presente em brejos e estuários em várias regiões do País, demonstrou uma capacidade muito maior do que outras espécies para acumular metais, como ferro, manganês, cromo e níquel.

A equipe de Amanda se dedicou, então, a encontrar formas de aumentar esse poder de absorção, por meio do manejo do solo e dos rejeitos. “Fizemos experimentos na Esalq para aumentar a dissolução dos óxidos de ferro e também a produção de biomassa pela planta, para acelerar o processo de remediação. Aplicamos aditivos ao rejeito, ácidos orgânicos, fertilizantes orgânicos e minerais, consórcios de microorganismos, soluções que são mais baseadas na natureza. Alteramos o rejeito para ele liberar mais ferro e promover o melhor crescimento da planta”, explica a pesquisadora.

Os resultados foram bastante satisfatórios. “Conseguimos aumentar a biomassa da planta utilizando o consórcio de microorganismos, um agente quelante, que é o ácido cítrico, um ácido orgânico natural, e também utilizando a vinhaça como fonte de nutrientes para a planta. Conseguimos juntar resíduos e rejeitos para aumentar a produção de biomassa da taboa e de concentração de ferro. A partir disso, essa planta está enriquecida de ferro”, acrescenta.

O problema é que a cada estação chuvosa mais rejeito é depositado no estuário e, dessa forma, sem intervenções dos cientistas, o processo de descontaminação total do solo levaria 600 anos. “Podemos diminuir esse tempo aumentando a área plantada da taboa e aplicando as estratégias agronômicas para o manejo, entre elas o uso de fertilizantes”, explica a especialista.

A pesquisa mostrou que a taboa não só ajuda a descontaminar o solo dos metais acumulados no rejeito como pode ser uma fonte de geração de energia e de biominério. Com a queima da sua biomassa, produz-se o biogás, e das cinzas do processo é possível extrair minério de ferro.

“Identificamos que as cinzas da taboa contêm 97% de teor de ferro e agora estamos caracterizando que ferro é esse. A planta é rica também em manganês e alumínio”, disse a pesquisadora da Esalq.

Peixes mortos se acumularam às margens do Rio Doce após o estouro da barragem de Fundão, em Mariana; uma grossa lama percorreu o rio matando milhares de animais ao longo de sua extensão. Foto: Gabriela Biló/Estadão

A Fundação Renova, responsável pelos programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem de Fundão, informou que desconhece a metodologia. Em nota, a entidade disse que também atua no fomento e apoio à pesquisa por meio de editais junto à Fundação de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), universidades e centros de pesquisa.

E que no momento estão abertas as inscrições para o quinto edital do Projeto Biodiversidade Rio Doce, voltado para pesquisas sobre a fauna e a flora da bacia, em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O chamamento público, que irá até 29 de julho, disponibilizará R$ 6,4 milhões às propostas selecionadas. O valor máximo a ser solicitado por projeto é de R$ 800 mil.

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