Você já se imaginou morando em uma casa feita de plástico? Uma tecnologia criada pela empresa Fuplastic, especializada em soluções sustentáveis para a construção civil, permite erguer imóveis com tijolos feitos inteiramente de plástico reciclado. O recurso vem sendo utilizado na construção de casas emergenciais populares pela ONG TETO Brasil, mas também serve para construções definitivas.
Segundo o CEO da Fuplastic e responsável pela criação, Bruno Frederico, é possível retirar cerca de 2,5 toneladas de plástico do meio ambiente a cada 50m² de construção com tijolos da marca e levantar casas mais fácil e rapidamente, pois os blocos funcionam com método de encaixe, sem necessidade de argamassa.
“Essa tecnologia nos permitiu unir ainda mais as funções sociais e ambientais nos projetos. E, por ser totalmente modular, também nos ajuda a construir nos espaços limitados em que trabalhamos, geralmente em favelas”, conta Camila Jordan, diretora executiva da TETO Brasil. A casa pode ser erguida em “L”, vagão ou quadrado, por exemplo, conforme o formato do espaço disponível.
Há também ganhos em conforto térmico no interior da construção, segundo Frederico – fator importante em um cenário de mudanças climáticas e ondas de calor cada vez mais frequentes. Isso acontece porque, diferentemente dos tijolos de argila, comumente utilizados no Brasil, os de plástico têm um “espaço vazio” em seu interior, permitindo circulação de ar.
“Os blocos têm um furo e esses furos servem para ‘respirar’. O ar quente sobe e tende a sair”, afirma o CEO, que é arquiteto. Segundo ele, já foram feitos estudos que comprovam esse maior conforto térmico nas construções.
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O professor de Engenharia Civil da Fundação Educacional Inaciana (FEI) Mauricio Resende pondera, no entanto, que “o desempenho térmico vai além da escolha do material dos tijolos”. Essa condição está intrinsecamente associada com o projeto arquitetônico da edificação e não só à parede, “pois depende da cobertura, da existência de ventilação de ar e de beirais”.
Cidades do futuro
Na semana passada, uma casa de plástico modelo ficou exposta na Praça do Patriarca, no centro histórico de São Paulo, durante o festival Cidade do Futuro 2024, que traz propostas sustentáveis e inovadoras para o setor de construção civil.
O imóvel tinha 54m², contava com 4,9 mil blocos de tijolos de plástico e foi montado e desmontado com a mesma facilidade – em algumas horas. ”A tecnologia permite que a casa seja desmontada facilmente e sem gerar entulho. Os tijolos podem ser reutilizados em outra construção ou reciclados novamente, produzindo outros materiais”, diz Frederico. “O legal é que aquele plástico nunca mais volta a ser lixo.”
No interior da exposição, era possível ver que a casa de plástico pode ser revestida por chapas de drywall, deixando um aspecto idêntico ao de uma parede comum. O material é firme e viabiliza instalação de janelas, portas, fiação elétrica e tubulação hidráulica – todas as condições necessárias para uma moradia.
Segundo a Fuplastic, eles têm certificações da Falcão Bauer, Polibalbino e Instituto Lab System que atestam qualidade de peso, tamanho, resistência e propriedades da matéria-prima, além de resistência contrafogo e fio incandescente. Estas últimas, segundo Resende, são essenciais para validar a usabilidade do material em construções e definir que tipo de imóvel pode ser construído com os tijolos.
“Pelo fato de plástico ser material combustível, deve-se classificá-lo com relação a reação ao fogo – ignibilidade, densidade óptica de fumaça e propagação. Se esta classificação atender aos critérios da norma de desempenho de edifícios habitacionais para utilização como componente de parede, é necessário verificar a resistência ao fogo da parede construída com este tijolo”, explica o professor.
O tempo de resistência ao fogo da parede pode restringir o tipo, uso e altura do edifício, afirma Resende. Além disso, é preciso avaliar a resistência a impactos na estrutura e a vazamentos de água; a durabilidade do material e o desempenho acústico e térmico do sistema de vedação vertical.
Morando em uma casa de plástico
Regiane Alves da Silva, 46 anos, auxiliar de limpeza e moradora da comunidade Porto de Areia, em Carapicuíba (SP), foi a primeira a ser contemplada pela ação da TETO com casas de plástico e conta que ficou surpresa quando recebeu a proposta de receber uma casa “reciclada”. “Você fica com aquele ponto de interrogação na cabeça, né? Uma casa de plástico reciclado... Será que vai ser boa ou não?”
“Mas há oito meses estou aqui. Vejo que ela é bem arejada, tem bastantes janelas, e é confortável. É um projeto bem feito”, diz ela, que perdeu o emprego por motivos de doença e, sem conseguir pagar o aluguel, precisou morar com os dois filhos adolescentes em um barraco de madeira até receber a casa da TETO.
De acordo com Frederico, além da parceria com a TETO, que constrói casas “transitórias” para garantir dignidade mínima a pessoas em situação de vulnerabilidade que vivem em moradias irregulares, a Fuplastic propôs parceria com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de São Paulo para que a tecnologia seja utilizada nas construções de casas populares definitivas.