Há décadas, pesquisadores do Brasil e do mundo mergulham nas várias faces da Amazônia. Há mais de 50 anos, por exemplo, o geólogo alemão Jürgen Haffer, morto em 2010 aos 77 anos, elaborou a chamada Teoria dos Refúgios, sem usar esse nome na época. O zoólogo brasileiro Paulo Vanzolini – sim, o sambista que também fez Praça Clóvis e Samba Erudito, além de várias outras canções – ajudou na elaboração da tese científica, mesmo de forma indireta. “Eu não fiz teoria nenhuma”, costumava dizer em vida. De forma bastante resumida, a teoria – e a prática de décadas de pesquisa – mostra como a diversidade biológica na Amazônia está associada aos períodos de clima seco e ao isolamento geográfico.
A teoria hoje, com muitas atualizações, continua válida e mostra como a questão climática, para qualquer ser vivo que habita a floresta, é fundamental. O que faz os cientistas defenderem a tese de que a floresta em pé, sob todos os aspectos, é muito mais importante do qualquer outra coisa. A preservação da biodiversidade local, e de todo o potencial que ela guarda inclusive do ponto de vista da indústria farmacêutica, de cosméticos e de alimentação, é considerada absolutamente essencial pelos especialistas hoje.
Mas mesmo para quem atualmente vive muito longe da Amazônia, o conhecimento científico acumulado sobre a região é importante. Existem alguns consensos modernos, seja nas áreas de exatas, biológicas e humanas, que mostram por que a preservação de aproximadamente 60% do País não é algo que pode ser deixado para amanhã.
“A manutenção do ciclo hidrológico do Brasil Central é um dos pontos mais importantes que podemos citar em termos de importância da Amazônia”, afirma o físico Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU e pesquisador da USP, além de ser um dos maiores conhecedores dos meandros atmosféricos da floresta. Assim como o aquecimento global, que é resultado de um grande consenso internacional, apesar de uma ou outra discordância, o papel da Amazônia nas chuvas da América do Sul também é. Sem a floresta, vai faltar água para o agronegócio continuar produzindo no Centro-Oeste.
Outro aspecto importante, diz Artaxo, é o peso que a floresta tem no enfrentamento das mudanças climáticas globais. Com a derrubada das árvores em ritmo crescente, principalmente nos últimos anos, vai ser muito difícil a humanidade conseguir viver em um planeta que não seja pelo menos 3 graus Celsius mais quente, em média, do que hoje. O que vai gerar mudanças significativas em todos os continentes. “A Amazônia armazena por volta de 120 bilhões de toneladas de carbono. Se tudo isso for perdido pelo desmatamento, significa o equivalente a dez anos da queima de combustível fóssil de todo o planeta”, compara Artaxo.
Do ponto de vista mais pragmático, mas também apoiado em vários estudos e relatórios sobre o tema Amazônia, existe algo mais urgente que precisa ser feito a favor da floresta, explica o cientista brasileiro. “É preciso acabar com a ilegalidade e a dominação das quadrilhas e milícias que atuam na região. Hoje, muitas áreas são dominadas pelo tráfico de drogas e pelo contrabando. Acabar com a criminalidade na Amazônia é absolutamente estratégico para o País”, assegura Artaxo.