ENVIADA ESPECIAL A BAKU - “Não há mais tempo a perder”, declarou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Antonio Guterres, abrir a cúpula dos líderes mundiais, que ocorre durante a Conferência do Clima (COP-29). Nesta terça-feira, 12, e quarta-feira, 13, representantes de 198 países são esperados no evento, realizado em Baku, no Azerbaijão.
O chefe da ONU mencionou o acordo da edição passada da Cúpula do Clima, de afastamento gradual da exploração de petróleo, gás e carvão. E disse que continuar a “apostar em combustíveis fósseis é um absurdo”. Na prática, pouco tem sido visto a esse respeito, de acordo com estudiosos do tema.
Nesse contexto, dentre outros aspectos, defendeu que a discussão sobre financiamento climático de países riscos para nações em desenvolvimento envolvam o chamado “poluidor-pagador”. Isto é, com cobrança de taxas ou impostos de atividades de exploração de combustíveis fósseis.
“A revolução da energia limpa está aqui. Nenhum grupo, nenhuma empresa e nenhum governo pode pará-la”, afirmou. Ele defendeu que fontes de menor impacto ambiental, como solar e eólica, são mais baratas, e devem avançar em todo o planeta o mais rapidamente possível.
“O som que vocês ouvem é o tique-taque do relógio: estamos na contagem regressiva final para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. E o tempo não está do nosso lado”, afirmou. Para parte dos especialistas, é improvável que se consiga conter o aquecimento global a essa média diante dos registros acumulados dos últimos anos.
Guterres destacou que 2024 deve ser o mais quente registrado em toda a história e, então, descreveu a realidade de destruição vivida por todo o globo: “famílias correndo para salvar suas vidas antes que o próximo furacão chegue; biodiversidade destruída em mares escaldantes; trabalhadores desmaiando em calor insuportável; inundações devastando comunidades e destruindo infraestruturas; crianças que vão dormir com fome enquanto a seca devasta as plantações”.
Ele voltou a dizer que todos estão sofrendo. “Nenhum país é poupado”, salientou. Nesse aspecto, citou os impactos econômicos em todos o mundo, desde a agricultura até o setor de seguros, em uma realidade em que os “pobres pagam o preço mais alto”.
“A Oxfam descobriu que os bilionários mais ricos emitem mais carbono em uma hora e meia do que uma pessoa comum em toda a vida”, mencionou. “Cientistas, ativistas e jovens estão exigindo mudanças – eles devem ser ouvidos, não silenciados”, continuou.
Guterres fez um apelo para que as lideranças foquem em pontos prioritários, como a redução de emissões, o que inclui desde a regulação de parâmetros de mercado de carbono até as novas metas a serem apresentadas pelos países até o ano que vem. “Os mais vulneráveis estão sendo abandonados aos extremos climáticos”, salientou.
Para ele, no contexto atual, sem financiamento adequado, os países em desenvolvimento estão sofrendo com o cenário atual, sem poder realizar uma transição de fato. “A COP-29 deve derrubar os muros do financiamento climático. Os países em desenvolvimento não devem deixar Baku de mãos vazias. Um acordo é essencial”, salientou.
Para tanto, defendeu que deve-se chegar a um consenso em cinco pontos principais: aumento significativo no total de recursos, definição de como será destinado esse dinheiro, adoção de fontes de recursos inovadoras (como impostos sobre transporte, aviação e extração de combustíveis fósseis - “os poluidores devem pagar”, salientou), estrutura de transparência e responsabilização e aumento da capacidade de empréstimo de bancos multilaterais.
“Não há tempo a perder. No que diz respeito ao financiamento climático, o mundo deve pagar, ou a humanidade pagará o preço”, disse. “Neste período crucial, vocês e seus governos devem ser guiados por uma verdade clara: o financiamento climático não é caridade, é investimento. A ação climática não é opcional, é imperativa. O tempo está passando”, encerrou.
No mesmo evento, a prefeita de Kuala Lumpur (Malásia) e ex-chefe do ONU Habitat, Maimunah Mohd Sharif, fez um apelo por ação. “Nos inspire antes de que expiramos”, encerrou.
*A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade