COP-27: Lula mira frente ampla climática, mas desafio maior será liderar pelo exemplo; leia análise


Além de alianças com países ricos, presidente eleito fala em unir agronegócio, ciência e povos originários - mas antes vai ser preciso superar os números desastrosos que temos no ambiente

Por João Gabriel de Lima
Atualização:

A fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP 27 foi menos a visão individual de um político e mais a vocalização de consensos modernos entre cientistas e gestores ambientais. Quando Lula diz que não é preciso “desmatar nem sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, não é mera figura de retórica. Ele se refere a um estudo feito por cientistas da plataforma Amazônia 2030, que mostra que a quantidade de terra já desmatada na Amazônia é igual a duas vezes o Paraná – o suficiente para abrigar toda a agricultura e pecuária da região, sobrando ainda espaço para reflorestar.

Grupo empresarial que defende Amazônia deve se reunir com Dias Toffoli (STF) Foto: Gabriela Biló/Estadão

Quando Lula diz estar certo “que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável”, ele não está apenas faz um aceno a um setor fundamental na economia brasileira. Os principais líderes do agro sabem que as maiores beneficiárias do combate implacável ao desmatamento são a agricultura e a pecuária brasileiras.

Não por acaso, a causa do desmatamento zero foi um consenso no debate eleitoral, da direita à esquerda, de Simone Tebet (MDB) ao próprio Lula. É também uma meta mundial para 2030 – o que significa que, se o Brasil cumpri-la, os países que querem impor barreiras ao agro exportador terão um pretexto a menos.

Lula não disse diretamente, mas de seu discurso é possível inferir que haverá, em seu governo, um “superministro” responsável por integrar todos os ministérios à nova economia de baixo carbono. É o modelo empregado nos Estados Unidos, em que John Kerry responde diretamente ao presidente Joe Biden em questões ligadas à mudança climática e, de alguma maneira, em países como a França e a África do Sul. Na COP-27, a CEO da European Climate Foundation, Laurence Tubiana, especialista em governança ambiental, apontou esse modelo como o mais adequado atualmente.

Tal ideia, novamente, estava implícita no programa eleitoral de Lula (e de Tebet também). A dúvida é quem ocuparia esse posto no governo. A deputada federal e ex-ministra Marina Silva (Rede-SP) lidera a bolsa de apostas. Outro consenso é a incorporação dos cidadãos brasileiros originários à discussão ambiental, algo que já acontece em vários países, como a Nova Zelândia.

Metade do discurso de Lula foi a exposição de consensos modernos. A outra metade foi o desejo de retomar protagonismo mundial a partir da área ambiental. O momento de maior projeção internacional de Lula se deu nos dois anos finais de seu segundo mandato - 2009 e 2010. Foi a época em que o G-20 deixou de ser um encontro de ministros da Fazenda e passou a ser um foro de líderes internacionais.

Lula se beneficiou do fato de que o Brasil sentiu menos os efeitos da crise de 2008 que nações desenvolvidas. Foi também a época da COP-15, em Copenhague, em que o Brasil tinha bons resultados para mostrar em redução de desmatamento. Lula aproveitou as duas circunstâncias para se projetar – e em seu discurso na COP-15, além de mostrar resultados, falou da injustiça climática, em que os países desenvolvidos são os campeões em emissão de carbono, mas as nações em desenvolvimento são as que mais sofrem os efeitos negativos.

Lula retomou esse discurso oportunamente em Sharm El-Sheikh, justamente a primeira COP em que o tema das “perdas e danos” – compensação que os países ricos deveriam pagar às nações pobres por desastres naturais – entrou na pauta de discussão. Lula se colocou como um defensor das nações em desenvolvimento, alguém que irá “cobrar” do clube dos desenvolvidos a promessa feita na COP de Copenhague – US$ 100 bilhões por ano para mitigar os efeitos da mudança climática.

Ainda no plano internacional, Lula falou da cooperação entre países da América do Sul na preservação da maior floresta tropical do planeta. Pelos países citados, é possível que ele reative a Organização do Tratado de Recuperação Amazônica (OTCA), o único tratado internacional com sede no Brasil. Lula mencionou ainda a ideia recente de criar a “OPEP das florestas”, junto com os dois outros países com maior porcentagem de mata tropical do mundo, a Indonésia e o Congo. Ele disse que irá perseguir esse objetivo, já tentado anteriormente – sem sucesso – na gestão Dilma Rousseff (PT).

Com seu discurso, Lula cria enorme expectativa na comunidade brasileira envolvida com a nova economia, de ambientalistas a empresários, de comunidades indígenas à porção mais moderna do agronegócio. Para que as intenções expressas em sua fala se concretizem – as nacionais e internacionais –, há uma enorme lição de casa pela frente.

Isso inclui questões econômicas, de governança e, principalmente, o combate implacável e sem trégua ao desmatamento - que explodiu na Amazônia nos últimos anos, com avanço do garimpo ilegal e ocupação de unidades protegidas. Nenhum país consegue projeção internacional com os números que o Brasil tem atualmente. Como disse Marina Silva em entrevista recente ao Estadão, nessa área só é possível conquistar posição de liderança por meio do exemplo.

A fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP 27 foi menos a visão individual de um político e mais a vocalização de consensos modernos entre cientistas e gestores ambientais. Quando Lula diz que não é preciso “desmatar nem sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, não é mera figura de retórica. Ele se refere a um estudo feito por cientistas da plataforma Amazônia 2030, que mostra que a quantidade de terra já desmatada na Amazônia é igual a duas vezes o Paraná – o suficiente para abrigar toda a agricultura e pecuária da região, sobrando ainda espaço para reflorestar.

Grupo empresarial que defende Amazônia deve se reunir com Dias Toffoli (STF) Foto: Gabriela Biló/Estadão

Quando Lula diz estar certo “que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável”, ele não está apenas faz um aceno a um setor fundamental na economia brasileira. Os principais líderes do agro sabem que as maiores beneficiárias do combate implacável ao desmatamento são a agricultura e a pecuária brasileiras.

Não por acaso, a causa do desmatamento zero foi um consenso no debate eleitoral, da direita à esquerda, de Simone Tebet (MDB) ao próprio Lula. É também uma meta mundial para 2030 – o que significa que, se o Brasil cumpri-la, os países que querem impor barreiras ao agro exportador terão um pretexto a menos.

Lula não disse diretamente, mas de seu discurso é possível inferir que haverá, em seu governo, um “superministro” responsável por integrar todos os ministérios à nova economia de baixo carbono. É o modelo empregado nos Estados Unidos, em que John Kerry responde diretamente ao presidente Joe Biden em questões ligadas à mudança climática e, de alguma maneira, em países como a França e a África do Sul. Na COP-27, a CEO da European Climate Foundation, Laurence Tubiana, especialista em governança ambiental, apontou esse modelo como o mais adequado atualmente.

Tal ideia, novamente, estava implícita no programa eleitoral de Lula (e de Tebet também). A dúvida é quem ocuparia esse posto no governo. A deputada federal e ex-ministra Marina Silva (Rede-SP) lidera a bolsa de apostas. Outro consenso é a incorporação dos cidadãos brasileiros originários à discussão ambiental, algo que já acontece em vários países, como a Nova Zelândia.

Metade do discurso de Lula foi a exposição de consensos modernos. A outra metade foi o desejo de retomar protagonismo mundial a partir da área ambiental. O momento de maior projeção internacional de Lula se deu nos dois anos finais de seu segundo mandato - 2009 e 2010. Foi a época em que o G-20 deixou de ser um encontro de ministros da Fazenda e passou a ser um foro de líderes internacionais.

Lula se beneficiou do fato de que o Brasil sentiu menos os efeitos da crise de 2008 que nações desenvolvidas. Foi também a época da COP-15, em Copenhague, em que o Brasil tinha bons resultados para mostrar em redução de desmatamento. Lula aproveitou as duas circunstâncias para se projetar – e em seu discurso na COP-15, além de mostrar resultados, falou da injustiça climática, em que os países desenvolvidos são os campeões em emissão de carbono, mas as nações em desenvolvimento são as que mais sofrem os efeitos negativos.

Lula retomou esse discurso oportunamente em Sharm El-Sheikh, justamente a primeira COP em que o tema das “perdas e danos” – compensação que os países ricos deveriam pagar às nações pobres por desastres naturais – entrou na pauta de discussão. Lula se colocou como um defensor das nações em desenvolvimento, alguém que irá “cobrar” do clube dos desenvolvidos a promessa feita na COP de Copenhague – US$ 100 bilhões por ano para mitigar os efeitos da mudança climática.

Ainda no plano internacional, Lula falou da cooperação entre países da América do Sul na preservação da maior floresta tropical do planeta. Pelos países citados, é possível que ele reative a Organização do Tratado de Recuperação Amazônica (OTCA), o único tratado internacional com sede no Brasil. Lula mencionou ainda a ideia recente de criar a “OPEP das florestas”, junto com os dois outros países com maior porcentagem de mata tropical do mundo, a Indonésia e o Congo. Ele disse que irá perseguir esse objetivo, já tentado anteriormente – sem sucesso – na gestão Dilma Rousseff (PT).

Com seu discurso, Lula cria enorme expectativa na comunidade brasileira envolvida com a nova economia, de ambientalistas a empresários, de comunidades indígenas à porção mais moderna do agronegócio. Para que as intenções expressas em sua fala se concretizem – as nacionais e internacionais –, há uma enorme lição de casa pela frente.

Isso inclui questões econômicas, de governança e, principalmente, o combate implacável e sem trégua ao desmatamento - que explodiu na Amazônia nos últimos anos, com avanço do garimpo ilegal e ocupação de unidades protegidas. Nenhum país consegue projeção internacional com os números que o Brasil tem atualmente. Como disse Marina Silva em entrevista recente ao Estadão, nessa área só é possível conquistar posição de liderança por meio do exemplo.

A fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP 27 foi menos a visão individual de um político e mais a vocalização de consensos modernos entre cientistas e gestores ambientais. Quando Lula diz que não é preciso “desmatar nem sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo”, não é mera figura de retórica. Ele se refere a um estudo feito por cientistas da plataforma Amazônia 2030, que mostra que a quantidade de terra já desmatada na Amazônia é igual a duas vezes o Paraná – o suficiente para abrigar toda a agricultura e pecuária da região, sobrando ainda espaço para reflorestar.

Grupo empresarial que defende Amazônia deve se reunir com Dias Toffoli (STF) Foto: Gabriela Biló/Estadão

Quando Lula diz estar certo “que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável”, ele não está apenas faz um aceno a um setor fundamental na economia brasileira. Os principais líderes do agro sabem que as maiores beneficiárias do combate implacável ao desmatamento são a agricultura e a pecuária brasileiras.

Não por acaso, a causa do desmatamento zero foi um consenso no debate eleitoral, da direita à esquerda, de Simone Tebet (MDB) ao próprio Lula. É também uma meta mundial para 2030 – o que significa que, se o Brasil cumpri-la, os países que querem impor barreiras ao agro exportador terão um pretexto a menos.

Lula não disse diretamente, mas de seu discurso é possível inferir que haverá, em seu governo, um “superministro” responsável por integrar todos os ministérios à nova economia de baixo carbono. É o modelo empregado nos Estados Unidos, em que John Kerry responde diretamente ao presidente Joe Biden em questões ligadas à mudança climática e, de alguma maneira, em países como a França e a África do Sul. Na COP-27, a CEO da European Climate Foundation, Laurence Tubiana, especialista em governança ambiental, apontou esse modelo como o mais adequado atualmente.

Tal ideia, novamente, estava implícita no programa eleitoral de Lula (e de Tebet também). A dúvida é quem ocuparia esse posto no governo. A deputada federal e ex-ministra Marina Silva (Rede-SP) lidera a bolsa de apostas. Outro consenso é a incorporação dos cidadãos brasileiros originários à discussão ambiental, algo que já acontece em vários países, como a Nova Zelândia.

Metade do discurso de Lula foi a exposição de consensos modernos. A outra metade foi o desejo de retomar protagonismo mundial a partir da área ambiental. O momento de maior projeção internacional de Lula se deu nos dois anos finais de seu segundo mandato - 2009 e 2010. Foi a época em que o G-20 deixou de ser um encontro de ministros da Fazenda e passou a ser um foro de líderes internacionais.

Lula se beneficiou do fato de que o Brasil sentiu menos os efeitos da crise de 2008 que nações desenvolvidas. Foi também a época da COP-15, em Copenhague, em que o Brasil tinha bons resultados para mostrar em redução de desmatamento. Lula aproveitou as duas circunstâncias para se projetar – e em seu discurso na COP-15, além de mostrar resultados, falou da injustiça climática, em que os países desenvolvidos são os campeões em emissão de carbono, mas as nações em desenvolvimento são as que mais sofrem os efeitos negativos.

Lula retomou esse discurso oportunamente em Sharm El-Sheikh, justamente a primeira COP em que o tema das “perdas e danos” – compensação que os países ricos deveriam pagar às nações pobres por desastres naturais – entrou na pauta de discussão. Lula se colocou como um defensor das nações em desenvolvimento, alguém que irá “cobrar” do clube dos desenvolvidos a promessa feita na COP de Copenhague – US$ 100 bilhões por ano para mitigar os efeitos da mudança climática.

Ainda no plano internacional, Lula falou da cooperação entre países da América do Sul na preservação da maior floresta tropical do planeta. Pelos países citados, é possível que ele reative a Organização do Tratado de Recuperação Amazônica (OTCA), o único tratado internacional com sede no Brasil. Lula mencionou ainda a ideia recente de criar a “OPEP das florestas”, junto com os dois outros países com maior porcentagem de mata tropical do mundo, a Indonésia e o Congo. Ele disse que irá perseguir esse objetivo, já tentado anteriormente – sem sucesso – na gestão Dilma Rousseff (PT).

Com seu discurso, Lula cria enorme expectativa na comunidade brasileira envolvida com a nova economia, de ambientalistas a empresários, de comunidades indígenas à porção mais moderna do agronegócio. Para que as intenções expressas em sua fala se concretizem – as nacionais e internacionais –, há uma enorme lição de casa pela frente.

Isso inclui questões econômicas, de governança e, principalmente, o combate implacável e sem trégua ao desmatamento - que explodiu na Amazônia nos últimos anos, com avanço do garimpo ilegal e ocupação de unidades protegidas. Nenhum país consegue projeção internacional com os números que o Brasil tem atualmente. Como disse Marina Silva em entrevista recente ao Estadão, nessa área só é possível conquistar posição de liderança por meio do exemplo.

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