COP-27: Por que Greta Thunberg não quer ir à conferência do clima neste ano?


Ativista sueca foi catapultada para fama mundial em cúpula do clima; evento ocorre na próxima semana no Egito

Por Shannon Osaka
Atualização:

A ativista sueca Greta Thunberg foi catapultada para a fama mundial em uma conferência sobre o clima. Em 2018, a jovem de 15 anos vagou pelos corredores da conferência das Nações Unidas na Polônia com um moletom com capuz preto e tênis, seguida por um bando de jornalistas e políticos impressionados com seu realismo direto sobre a crise climática. “Eu esperava que fosse mais ação e menos conversa”, disse ela na época, sobre sua primeira cúpula internacional do clima.

O comportamento de Greta Thunberg nas conferências climáticas a tornou famosa: a maneira como ela encarava os líderes mundiais na Polônia, a forma como gritava “Como você se atreve?” em 2019 a um plenário de governos em Nova York. Mas este ano a ativista climática, com agora 19 anos, diz que planeja pular por completo a conferência climática da ONU, a COP-27, que acontece a partir deste domingo, 6, em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Greta Thunberg durante lançamento de seu livro, "The Climate Book", em Londres. Foto: Reuters/Henry Nicholls

“As COPs são usadas principalmente como uma oportunidade para líderes e pessoas no poder chamarem a atenção, usando muitos tipos diferentes de greenwashing (apropriação de valores ambientalistas)”, disse Greta Thunberg durante uma sessão de perguntas e respostas em Londres para o lançamento de seu livro, The Climate Book, uma coleção de ensaios com cientistas climáticos, ativistas e outros especialistas em ciências e soluções climáticas.

Em inglês, “COP” significa “Conference of the Parties” (“Conferência das Partes”) e é a abreviação para as conferências climáticas anuais realizadas pelas Nações Unidas. As conferências, acrescentou a ativista, “não são realmente destinadas a mudar todo o sistema”. “Assim, as COPs não estão realmente funcionando, a menos que as usemos como uma oportunidade de mobilização”, disse ela.

Frustração crescente

A frustração de Greta Thunberg com o processo de diplomacia climática internacional parece estar crescendo nos últimos anos. No ano passado, ela participou da COP-26 em Glasgow, na Escócia, mas chamou a reunião de “blá blá blá”.

Em algum nível, é claro, Thunberg está certa: as cúpulas climáticas das Nações Unidas, praticamente por definição, não pretendem derrubar o sistema econômico mundial ou mesmo reduzir drasticamente as emissões.

A estrutura do Acordo de Paris de 2016, no qual quase todos os países do mundo concordaram em manter o aquecimento não superior a 2 graus Celsius, não inclui muito em termos de vinculação da lei internacional.

Se um país não cumprir suas metas de redução de emissões – ou não introduzir novas metas –, o único recurso para outros países é “nomear e envergonhar” o infrator. É um motivador fraco para um dos maiores problemas que a humanidade já enfrentou.

Queimada em terras em Santo Antônio do Matupi, sul do Amazonas. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apesar disso, o sistema às vezes parece estar funcionando. Mais de 70 países se comprometeram a atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050, respondendo por cerca de três quartos das emissões totais do mundo. Nos últimos anos, leis climáticas marcantes foram aprovadas nos Estados Unidos e na Europa, enquanto o preço da energia renovável despencou.

Mas promessas ambiciosas – como Greta Thunberg e outros ativistas observaram – não significam necessariamente ações ambiciosas. A humanidade ainda está liberando aproximadamente 36 bilhões de toneladas métricas de CO2 na atmosfera todos os anos.

O processo da COP conseguiu que muitos países se comprometessem a reduzir suas emissões de carbono a longo prazo; ele falhou em grande parte, no entanto, em conseguir que eles realmente reduzissem as emissões no curto prazo.

Utilidade limitada

A omissão de Greta Thunberg da COP deste ano pode, em algum nível, ser um reconhecimento do fato de que a utilidade das conferências climáticas é limitada. A maioria dos cortes de emissões mais dramáticos virá de países que decretam políticas nacionais – nenhuma das quais acontece nas reuniões burocráticas internacionais.

Mas sua ausência também pode ser um sinal de que os ativistas climáticos estão lutando para encontrar o lugar certo para suas mensagens.

Nas últimas semanas, manifestantes jogaram comida e se colaram em preciosas obras de arte. As emissões de carbono estão em toda parte: vêm de carros, aviões, usinas de energia, fábricas e muito mais. Não há um único lugar onde as decisões sobre o futuro do planeta estejam sendo tomadas – nem mesmo na COP.

Ao longo do ano passado, Greta Thunberg ficou um pouco mais distante da política internacional: ela continuou sua famosa greve climática em frente ao Parlamento sueco, conversou com participantes de festivais musicais em Glastonbury, no Reino Unido, e trabalhou em seu livro, cujos rendimentos irão para a caridade. De acordo com o jornal The Times, de Londres, ela agora vive de uma pequena bolsa estudantil e divide um apartamento com um amigo.

Ainda assim, sua força sempre foi sua capacidade de apontar, em termos inequívocos, que o mundo não está fazendo o suficiente em relação às mudanças climáticas. Diagnosticada com Asperger, ela credita à síndrome a maneira diferente de pensar por lhe dar uma clareza moral firme que muitos não têm. Em conferências internacionais sobre o clima anteriores, Greta ficou à margem, repetindo várias vezes uma versão de “Isso não é suficiente”.

Essa mensagem tem sido um lembrete consistente em um sistema que depende tanto de nomear e envergonhar. No Egito, vai fazer falta? /THE WASHINGTON POST

A ativista sueca Greta Thunberg foi catapultada para a fama mundial em uma conferência sobre o clima. Em 2018, a jovem de 15 anos vagou pelos corredores da conferência das Nações Unidas na Polônia com um moletom com capuz preto e tênis, seguida por um bando de jornalistas e políticos impressionados com seu realismo direto sobre a crise climática. “Eu esperava que fosse mais ação e menos conversa”, disse ela na época, sobre sua primeira cúpula internacional do clima.

O comportamento de Greta Thunberg nas conferências climáticas a tornou famosa: a maneira como ela encarava os líderes mundiais na Polônia, a forma como gritava “Como você se atreve?” em 2019 a um plenário de governos em Nova York. Mas este ano a ativista climática, com agora 19 anos, diz que planeja pular por completo a conferência climática da ONU, a COP-27, que acontece a partir deste domingo, 6, em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Greta Thunberg durante lançamento de seu livro, "The Climate Book", em Londres. Foto: Reuters/Henry Nicholls

“As COPs são usadas principalmente como uma oportunidade para líderes e pessoas no poder chamarem a atenção, usando muitos tipos diferentes de greenwashing (apropriação de valores ambientalistas)”, disse Greta Thunberg durante uma sessão de perguntas e respostas em Londres para o lançamento de seu livro, The Climate Book, uma coleção de ensaios com cientistas climáticos, ativistas e outros especialistas em ciências e soluções climáticas.

Em inglês, “COP” significa “Conference of the Parties” (“Conferência das Partes”) e é a abreviação para as conferências climáticas anuais realizadas pelas Nações Unidas. As conferências, acrescentou a ativista, “não são realmente destinadas a mudar todo o sistema”. “Assim, as COPs não estão realmente funcionando, a menos que as usemos como uma oportunidade de mobilização”, disse ela.

Frustração crescente

A frustração de Greta Thunberg com o processo de diplomacia climática internacional parece estar crescendo nos últimos anos. No ano passado, ela participou da COP-26 em Glasgow, na Escócia, mas chamou a reunião de “blá blá blá”.

Em algum nível, é claro, Thunberg está certa: as cúpulas climáticas das Nações Unidas, praticamente por definição, não pretendem derrubar o sistema econômico mundial ou mesmo reduzir drasticamente as emissões.

A estrutura do Acordo de Paris de 2016, no qual quase todos os países do mundo concordaram em manter o aquecimento não superior a 2 graus Celsius, não inclui muito em termos de vinculação da lei internacional.

Se um país não cumprir suas metas de redução de emissões – ou não introduzir novas metas –, o único recurso para outros países é “nomear e envergonhar” o infrator. É um motivador fraco para um dos maiores problemas que a humanidade já enfrentou.

Queimada em terras em Santo Antônio do Matupi, sul do Amazonas. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apesar disso, o sistema às vezes parece estar funcionando. Mais de 70 países se comprometeram a atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050, respondendo por cerca de três quartos das emissões totais do mundo. Nos últimos anos, leis climáticas marcantes foram aprovadas nos Estados Unidos e na Europa, enquanto o preço da energia renovável despencou.

Mas promessas ambiciosas – como Greta Thunberg e outros ativistas observaram – não significam necessariamente ações ambiciosas. A humanidade ainda está liberando aproximadamente 36 bilhões de toneladas métricas de CO2 na atmosfera todos os anos.

O processo da COP conseguiu que muitos países se comprometessem a reduzir suas emissões de carbono a longo prazo; ele falhou em grande parte, no entanto, em conseguir que eles realmente reduzissem as emissões no curto prazo.

Utilidade limitada

A omissão de Greta Thunberg da COP deste ano pode, em algum nível, ser um reconhecimento do fato de que a utilidade das conferências climáticas é limitada. A maioria dos cortes de emissões mais dramáticos virá de países que decretam políticas nacionais – nenhuma das quais acontece nas reuniões burocráticas internacionais.

Mas sua ausência também pode ser um sinal de que os ativistas climáticos estão lutando para encontrar o lugar certo para suas mensagens.

Nas últimas semanas, manifestantes jogaram comida e se colaram em preciosas obras de arte. As emissões de carbono estão em toda parte: vêm de carros, aviões, usinas de energia, fábricas e muito mais. Não há um único lugar onde as decisões sobre o futuro do planeta estejam sendo tomadas – nem mesmo na COP.

Ao longo do ano passado, Greta Thunberg ficou um pouco mais distante da política internacional: ela continuou sua famosa greve climática em frente ao Parlamento sueco, conversou com participantes de festivais musicais em Glastonbury, no Reino Unido, e trabalhou em seu livro, cujos rendimentos irão para a caridade. De acordo com o jornal The Times, de Londres, ela agora vive de uma pequena bolsa estudantil e divide um apartamento com um amigo.

Ainda assim, sua força sempre foi sua capacidade de apontar, em termos inequívocos, que o mundo não está fazendo o suficiente em relação às mudanças climáticas. Diagnosticada com Asperger, ela credita à síndrome a maneira diferente de pensar por lhe dar uma clareza moral firme que muitos não têm. Em conferências internacionais sobre o clima anteriores, Greta ficou à margem, repetindo várias vezes uma versão de “Isso não é suficiente”.

Essa mensagem tem sido um lembrete consistente em um sistema que depende tanto de nomear e envergonhar. No Egito, vai fazer falta? /THE WASHINGTON POST

A ativista sueca Greta Thunberg foi catapultada para a fama mundial em uma conferência sobre o clima. Em 2018, a jovem de 15 anos vagou pelos corredores da conferência das Nações Unidas na Polônia com um moletom com capuz preto e tênis, seguida por um bando de jornalistas e políticos impressionados com seu realismo direto sobre a crise climática. “Eu esperava que fosse mais ação e menos conversa”, disse ela na época, sobre sua primeira cúpula internacional do clima.

O comportamento de Greta Thunberg nas conferências climáticas a tornou famosa: a maneira como ela encarava os líderes mundiais na Polônia, a forma como gritava “Como você se atreve?” em 2019 a um plenário de governos em Nova York. Mas este ano a ativista climática, com agora 19 anos, diz que planeja pular por completo a conferência climática da ONU, a COP-27, que acontece a partir deste domingo, 6, em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Greta Thunberg durante lançamento de seu livro, "The Climate Book", em Londres. Foto: Reuters/Henry Nicholls

“As COPs são usadas principalmente como uma oportunidade para líderes e pessoas no poder chamarem a atenção, usando muitos tipos diferentes de greenwashing (apropriação de valores ambientalistas)”, disse Greta Thunberg durante uma sessão de perguntas e respostas em Londres para o lançamento de seu livro, The Climate Book, uma coleção de ensaios com cientistas climáticos, ativistas e outros especialistas em ciências e soluções climáticas.

Em inglês, “COP” significa “Conference of the Parties” (“Conferência das Partes”) e é a abreviação para as conferências climáticas anuais realizadas pelas Nações Unidas. As conferências, acrescentou a ativista, “não são realmente destinadas a mudar todo o sistema”. “Assim, as COPs não estão realmente funcionando, a menos que as usemos como uma oportunidade de mobilização”, disse ela.

Frustração crescente

A frustração de Greta Thunberg com o processo de diplomacia climática internacional parece estar crescendo nos últimos anos. No ano passado, ela participou da COP-26 em Glasgow, na Escócia, mas chamou a reunião de “blá blá blá”.

Em algum nível, é claro, Thunberg está certa: as cúpulas climáticas das Nações Unidas, praticamente por definição, não pretendem derrubar o sistema econômico mundial ou mesmo reduzir drasticamente as emissões.

A estrutura do Acordo de Paris de 2016, no qual quase todos os países do mundo concordaram em manter o aquecimento não superior a 2 graus Celsius, não inclui muito em termos de vinculação da lei internacional.

Se um país não cumprir suas metas de redução de emissões – ou não introduzir novas metas –, o único recurso para outros países é “nomear e envergonhar” o infrator. É um motivador fraco para um dos maiores problemas que a humanidade já enfrentou.

Queimada em terras em Santo Antônio do Matupi, sul do Amazonas. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Apesar disso, o sistema às vezes parece estar funcionando. Mais de 70 países se comprometeram a atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050, respondendo por cerca de três quartos das emissões totais do mundo. Nos últimos anos, leis climáticas marcantes foram aprovadas nos Estados Unidos e na Europa, enquanto o preço da energia renovável despencou.

Mas promessas ambiciosas – como Greta Thunberg e outros ativistas observaram – não significam necessariamente ações ambiciosas. A humanidade ainda está liberando aproximadamente 36 bilhões de toneladas métricas de CO2 na atmosfera todos os anos.

O processo da COP conseguiu que muitos países se comprometessem a reduzir suas emissões de carbono a longo prazo; ele falhou em grande parte, no entanto, em conseguir que eles realmente reduzissem as emissões no curto prazo.

Utilidade limitada

A omissão de Greta Thunberg da COP deste ano pode, em algum nível, ser um reconhecimento do fato de que a utilidade das conferências climáticas é limitada. A maioria dos cortes de emissões mais dramáticos virá de países que decretam políticas nacionais – nenhuma das quais acontece nas reuniões burocráticas internacionais.

Mas sua ausência também pode ser um sinal de que os ativistas climáticos estão lutando para encontrar o lugar certo para suas mensagens.

Nas últimas semanas, manifestantes jogaram comida e se colaram em preciosas obras de arte. As emissões de carbono estão em toda parte: vêm de carros, aviões, usinas de energia, fábricas e muito mais. Não há um único lugar onde as decisões sobre o futuro do planeta estejam sendo tomadas – nem mesmo na COP.

Ao longo do ano passado, Greta Thunberg ficou um pouco mais distante da política internacional: ela continuou sua famosa greve climática em frente ao Parlamento sueco, conversou com participantes de festivais musicais em Glastonbury, no Reino Unido, e trabalhou em seu livro, cujos rendimentos irão para a caridade. De acordo com o jornal The Times, de Londres, ela agora vive de uma pequena bolsa estudantil e divide um apartamento com um amigo.

Ainda assim, sua força sempre foi sua capacidade de apontar, em termos inequívocos, que o mundo não está fazendo o suficiente em relação às mudanças climáticas. Diagnosticada com Asperger, ela credita à síndrome a maneira diferente de pensar por lhe dar uma clareza moral firme que muitos não têm. Em conferências internacionais sobre o clima anteriores, Greta ficou à margem, repetindo várias vezes uma versão de “Isso não é suficiente”.

Essa mensagem tem sido um lembrete consistente em um sistema que depende tanto de nomear e envergonhar. No Egito, vai fazer falta? /THE WASHINGTON POST

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