COP-27: Qual é a dívida dos países ricos na rota do planeta para o ‘inferno climático’?


Em discurso emocionado, secretário da ONU fala no pavilhão paquistanês sobre necessidade de cooperação global; levantamento expõe defasagem dos recursos para mitigar impactos da crise

Por João Gabriel de Lima
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A SHARM EL SHEIK - São dois mundos distintos e complementares, cercados pela paisagem desértica e poeirenta da cidade egípcia de Sharm El-Sheikh. De um lado, a entrada suntuosa da Zona Vermelha, o espaço da COP-27, a conferência do clima, onde os lideres mundiais fazem seus discursos. Do outro, o portão da Zona Azul, onde os países montam seus pavilhões. A Zona Vermelha e protocolar, organizada, cercada de seguranças. A Zona Azul é caótica, barulhenta, multicultural – mulheres com vestidos africanos coloridos, homens de terno e gravata, indígenas de pintura e cocares, representantes em trajes típicos. Todos trombando pelos corredores.

Poucos políticos atravessam a fronteira entre esses dois mundos. Quem fez isso nesta segunda-feira, 7, foi António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na abertura oficial da COP, o ex-premiê português usou a Zona Vermelha para sacudir, com palavras veementes, os lideres mundiais que ali se estavam. “Estamos numa autoestrada para o inferno, com o pé no acelerador”, disse Guterres. “Nosso planeta se aproxima de pontos de virada que vão tornar o caos climático irreversível”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, durante discurso na COP27 Foto: REUTERS/Mohammed Salem

Horas mais tarde, Guterres foi à Zona Azul, no pavilhão do Paquistão. Nas cúpulas do clima, os pavilhões dos países são temáticos. O do Paquistão foi erguido para mostrar como a nação virou símbolo eloquente – e trágico – de como os efeitos da mudança climática já chegaram, e de forma brutal. Um telão mostra não só enchentes deste ano, mas secas e problemas sociais recorrentes.

No pequeno auditório decorado em verde e branco, as cores paquistanesas, Guterres fez discurso. “Há momentos que marcam nossa vida. Minha visita ao Paquistão foi um desses, quando vi uma enchente cobrir região equivalente a três vezes o meu país, Portugal”, disse. “Pessoas perdendo tudo, casas e lavouras, e ainda assim dando lição de solidariedade ao ajudarem uns aos outros.” Foi aplaudido.

Guterres deu conteúdo e emoção ao que, desde conversas preparatórias do fim de semana, surge como o tema central da COP: a transferência de recursos de nações ricas para países pobres para frear a crise climática. O tema não é novo e está em pauta desde a Rio-92, a mãe de todas as COPs. Até recentemente, o foco eram fundos para transição energética. Agora que os efeitos da mudança climática aparecem de modo dramático, surge a necessidade de outro tipo de recurso: para socorrer vítimas de enchentes, secas e problemas sociais decorrentes de décadas de abuso do planeta.

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A conferência mundial do clima da ONU foi inaugurada, neste domingo, em Sharm El-Sheikh, no Egito.

As nações ricas não querem que seja criado um marco jurídico que as obrigue a ressarcir os pobres por tragédias imprevisíveis. A realidade cruel, porém, e inescapável: os países do “Norte” global são os principais responsáveis pelas emissões de carbono que ameaçam o planeta, e as nações do “Sul” global – principalmente aquelas entre os trópicos – sofrem as piores consequências. Mas como medir o tamanho da responsabilidade de cada pais que enriqueceu às custas da energia à base de carbono?

O site Carbon Brief fez um estudo detalhado sobre o tema, publicado pelo jornal britânico The Guardian. A base foi a promessa – ate hoje não cumprida integralmente – feita em 2009: a de que a partir de 2020 os países ricos transfeririam US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a título de financiamento climático.

O Carbon Brief constatou que os recursos mobilizados por países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália não compensam a quantidade de carbono que lançaram na atmosfera por décadas. Estão em divida. Em contrapartida, nações como Japão, Holanda, Alemanha e França têm algum superávit.

É um cálculo complicado. França, Japão e Alemanha fizeram desembolso comparativamente maior, mas quase todo como empréstimos – que contribuem para elevar ainda mais a já alta dívida dos países pobres. Estados Unidos e Reino Unido podem ter contribuído menos, mas via doações. Nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um “choque” financeiro para ajudar na luta contra o aquecimento global e alertou que não é possível “sacrificar compromissos por causa das ameaças energéticas da Rússia”.

Guterres encerrou seus dois discursos falando num Pacto de Solidariedade Climática, que iria “restaurar a confiança entre os dois hemisférios” – muitos países pobres aderiram ao Acordo de Paris motivados pela possibilidade de receber algum tipo de recurso. Espera-se que nesta COP 27 ao menos se avance no complexo debate sobre o financiamento climático. Nas palavras de Guterres, “a humanidade só tem uma escolha: cooperar ou morrer”.

ENVIADO ESPECIAL A SHARM EL SHEIK - São dois mundos distintos e complementares, cercados pela paisagem desértica e poeirenta da cidade egípcia de Sharm El-Sheikh. De um lado, a entrada suntuosa da Zona Vermelha, o espaço da COP-27, a conferência do clima, onde os lideres mundiais fazem seus discursos. Do outro, o portão da Zona Azul, onde os países montam seus pavilhões. A Zona Vermelha e protocolar, organizada, cercada de seguranças. A Zona Azul é caótica, barulhenta, multicultural – mulheres com vestidos africanos coloridos, homens de terno e gravata, indígenas de pintura e cocares, representantes em trajes típicos. Todos trombando pelos corredores.

Poucos políticos atravessam a fronteira entre esses dois mundos. Quem fez isso nesta segunda-feira, 7, foi António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na abertura oficial da COP, o ex-premiê português usou a Zona Vermelha para sacudir, com palavras veementes, os lideres mundiais que ali se estavam. “Estamos numa autoestrada para o inferno, com o pé no acelerador”, disse Guterres. “Nosso planeta se aproxima de pontos de virada que vão tornar o caos climático irreversível”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, durante discurso na COP27 Foto: REUTERS/Mohammed Salem

Horas mais tarde, Guterres foi à Zona Azul, no pavilhão do Paquistão. Nas cúpulas do clima, os pavilhões dos países são temáticos. O do Paquistão foi erguido para mostrar como a nação virou símbolo eloquente – e trágico – de como os efeitos da mudança climática já chegaram, e de forma brutal. Um telão mostra não só enchentes deste ano, mas secas e problemas sociais recorrentes.

No pequeno auditório decorado em verde e branco, as cores paquistanesas, Guterres fez discurso. “Há momentos que marcam nossa vida. Minha visita ao Paquistão foi um desses, quando vi uma enchente cobrir região equivalente a três vezes o meu país, Portugal”, disse. “Pessoas perdendo tudo, casas e lavouras, e ainda assim dando lição de solidariedade ao ajudarem uns aos outros.” Foi aplaudido.

Guterres deu conteúdo e emoção ao que, desde conversas preparatórias do fim de semana, surge como o tema central da COP: a transferência de recursos de nações ricas para países pobres para frear a crise climática. O tema não é novo e está em pauta desde a Rio-92, a mãe de todas as COPs. Até recentemente, o foco eram fundos para transição energética. Agora que os efeitos da mudança climática aparecem de modo dramático, surge a necessidade de outro tipo de recurso: para socorrer vítimas de enchentes, secas e problemas sociais decorrentes de décadas de abuso do planeta.

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As nações ricas não querem que seja criado um marco jurídico que as obrigue a ressarcir os pobres por tragédias imprevisíveis. A realidade cruel, porém, e inescapável: os países do “Norte” global são os principais responsáveis pelas emissões de carbono que ameaçam o planeta, e as nações do “Sul” global – principalmente aquelas entre os trópicos – sofrem as piores consequências. Mas como medir o tamanho da responsabilidade de cada pais que enriqueceu às custas da energia à base de carbono?

O site Carbon Brief fez um estudo detalhado sobre o tema, publicado pelo jornal britânico The Guardian. A base foi a promessa – ate hoje não cumprida integralmente – feita em 2009: a de que a partir de 2020 os países ricos transfeririam US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a título de financiamento climático.

O Carbon Brief constatou que os recursos mobilizados por países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália não compensam a quantidade de carbono que lançaram na atmosfera por décadas. Estão em divida. Em contrapartida, nações como Japão, Holanda, Alemanha e França têm algum superávit.

É um cálculo complicado. França, Japão e Alemanha fizeram desembolso comparativamente maior, mas quase todo como empréstimos – que contribuem para elevar ainda mais a já alta dívida dos países pobres. Estados Unidos e Reino Unido podem ter contribuído menos, mas via doações. Nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um “choque” financeiro para ajudar na luta contra o aquecimento global e alertou que não é possível “sacrificar compromissos por causa das ameaças energéticas da Rússia”.

Guterres encerrou seus dois discursos falando num Pacto de Solidariedade Climática, que iria “restaurar a confiança entre os dois hemisférios” – muitos países pobres aderiram ao Acordo de Paris motivados pela possibilidade de receber algum tipo de recurso. Espera-se que nesta COP 27 ao menos se avance no complexo debate sobre o financiamento climático. Nas palavras de Guterres, “a humanidade só tem uma escolha: cooperar ou morrer”.

ENVIADO ESPECIAL A SHARM EL SHEIK - São dois mundos distintos e complementares, cercados pela paisagem desértica e poeirenta da cidade egípcia de Sharm El-Sheikh. De um lado, a entrada suntuosa da Zona Vermelha, o espaço da COP-27, a conferência do clima, onde os lideres mundiais fazem seus discursos. Do outro, o portão da Zona Azul, onde os países montam seus pavilhões. A Zona Vermelha e protocolar, organizada, cercada de seguranças. A Zona Azul é caótica, barulhenta, multicultural – mulheres com vestidos africanos coloridos, homens de terno e gravata, indígenas de pintura e cocares, representantes em trajes típicos. Todos trombando pelos corredores.

Poucos políticos atravessam a fronteira entre esses dois mundos. Quem fez isso nesta segunda-feira, 7, foi António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na abertura oficial da COP, o ex-premiê português usou a Zona Vermelha para sacudir, com palavras veementes, os lideres mundiais que ali se estavam. “Estamos numa autoestrada para o inferno, com o pé no acelerador”, disse Guterres. “Nosso planeta se aproxima de pontos de virada que vão tornar o caos climático irreversível”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, durante discurso na COP27 Foto: REUTERS/Mohammed Salem

Horas mais tarde, Guterres foi à Zona Azul, no pavilhão do Paquistão. Nas cúpulas do clima, os pavilhões dos países são temáticos. O do Paquistão foi erguido para mostrar como a nação virou símbolo eloquente – e trágico – de como os efeitos da mudança climática já chegaram, e de forma brutal. Um telão mostra não só enchentes deste ano, mas secas e problemas sociais recorrentes.

No pequeno auditório decorado em verde e branco, as cores paquistanesas, Guterres fez discurso. “Há momentos que marcam nossa vida. Minha visita ao Paquistão foi um desses, quando vi uma enchente cobrir região equivalente a três vezes o meu país, Portugal”, disse. “Pessoas perdendo tudo, casas e lavouras, e ainda assim dando lição de solidariedade ao ajudarem uns aos outros.” Foi aplaudido.

Guterres deu conteúdo e emoção ao que, desde conversas preparatórias do fim de semana, surge como o tema central da COP: a transferência de recursos de nações ricas para países pobres para frear a crise climática. O tema não é novo e está em pauta desde a Rio-92, a mãe de todas as COPs. Até recentemente, o foco eram fundos para transição energética. Agora que os efeitos da mudança climática aparecem de modo dramático, surge a necessidade de outro tipo de recurso: para socorrer vítimas de enchentes, secas e problemas sociais decorrentes de décadas de abuso do planeta.

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As nações ricas não querem que seja criado um marco jurídico que as obrigue a ressarcir os pobres por tragédias imprevisíveis. A realidade cruel, porém, e inescapável: os países do “Norte” global são os principais responsáveis pelas emissões de carbono que ameaçam o planeta, e as nações do “Sul” global – principalmente aquelas entre os trópicos – sofrem as piores consequências. Mas como medir o tamanho da responsabilidade de cada pais que enriqueceu às custas da energia à base de carbono?

O site Carbon Brief fez um estudo detalhado sobre o tema, publicado pelo jornal britânico The Guardian. A base foi a promessa – ate hoje não cumprida integralmente – feita em 2009: a de que a partir de 2020 os países ricos transfeririam US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a título de financiamento climático.

O Carbon Brief constatou que os recursos mobilizados por países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália não compensam a quantidade de carbono que lançaram na atmosfera por décadas. Estão em divida. Em contrapartida, nações como Japão, Holanda, Alemanha e França têm algum superávit.

É um cálculo complicado. França, Japão e Alemanha fizeram desembolso comparativamente maior, mas quase todo como empréstimos – que contribuem para elevar ainda mais a já alta dívida dos países pobres. Estados Unidos e Reino Unido podem ter contribuído menos, mas via doações. Nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um “choque” financeiro para ajudar na luta contra o aquecimento global e alertou que não é possível “sacrificar compromissos por causa das ameaças energéticas da Rússia”.

Guterres encerrou seus dois discursos falando num Pacto de Solidariedade Climática, que iria “restaurar a confiança entre os dois hemisférios” – muitos países pobres aderiram ao Acordo de Paris motivados pela possibilidade de receber algum tipo de recurso. Espera-se que nesta COP 27 ao menos se avance no complexo debate sobre o financiamento climático. Nas palavras de Guterres, “a humanidade só tem uma escolha: cooperar ou morrer”.

ENVIADO ESPECIAL A SHARM EL SHEIK - São dois mundos distintos e complementares, cercados pela paisagem desértica e poeirenta da cidade egípcia de Sharm El-Sheikh. De um lado, a entrada suntuosa da Zona Vermelha, o espaço da COP-27, a conferência do clima, onde os lideres mundiais fazem seus discursos. Do outro, o portão da Zona Azul, onde os países montam seus pavilhões. A Zona Vermelha e protocolar, organizada, cercada de seguranças. A Zona Azul é caótica, barulhenta, multicultural – mulheres com vestidos africanos coloridos, homens de terno e gravata, indígenas de pintura e cocares, representantes em trajes típicos. Todos trombando pelos corredores.

Poucos políticos atravessam a fronteira entre esses dois mundos. Quem fez isso nesta segunda-feira, 7, foi António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na abertura oficial da COP, o ex-premiê português usou a Zona Vermelha para sacudir, com palavras veementes, os lideres mundiais que ali se estavam. “Estamos numa autoestrada para o inferno, com o pé no acelerador”, disse Guterres. “Nosso planeta se aproxima de pontos de virada que vão tornar o caos climático irreversível”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, durante discurso na COP27 Foto: REUTERS/Mohammed Salem

Horas mais tarde, Guterres foi à Zona Azul, no pavilhão do Paquistão. Nas cúpulas do clima, os pavilhões dos países são temáticos. O do Paquistão foi erguido para mostrar como a nação virou símbolo eloquente – e trágico – de como os efeitos da mudança climática já chegaram, e de forma brutal. Um telão mostra não só enchentes deste ano, mas secas e problemas sociais recorrentes.

No pequeno auditório decorado em verde e branco, as cores paquistanesas, Guterres fez discurso. “Há momentos que marcam nossa vida. Minha visita ao Paquistão foi um desses, quando vi uma enchente cobrir região equivalente a três vezes o meu país, Portugal”, disse. “Pessoas perdendo tudo, casas e lavouras, e ainda assim dando lição de solidariedade ao ajudarem uns aos outros.” Foi aplaudido.

Guterres deu conteúdo e emoção ao que, desde conversas preparatórias do fim de semana, surge como o tema central da COP: a transferência de recursos de nações ricas para países pobres para frear a crise climática. O tema não é novo e está em pauta desde a Rio-92, a mãe de todas as COPs. Até recentemente, o foco eram fundos para transição energética. Agora que os efeitos da mudança climática aparecem de modo dramático, surge a necessidade de outro tipo de recurso: para socorrer vítimas de enchentes, secas e problemas sociais decorrentes de décadas de abuso do planeta.

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As nações ricas não querem que seja criado um marco jurídico que as obrigue a ressarcir os pobres por tragédias imprevisíveis. A realidade cruel, porém, e inescapável: os países do “Norte” global são os principais responsáveis pelas emissões de carbono que ameaçam o planeta, e as nações do “Sul” global – principalmente aquelas entre os trópicos – sofrem as piores consequências. Mas como medir o tamanho da responsabilidade de cada pais que enriqueceu às custas da energia à base de carbono?

O site Carbon Brief fez um estudo detalhado sobre o tema, publicado pelo jornal britânico The Guardian. A base foi a promessa – ate hoje não cumprida integralmente – feita em 2009: a de que a partir de 2020 os países ricos transfeririam US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a título de financiamento climático.

O Carbon Brief constatou que os recursos mobilizados por países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália não compensam a quantidade de carbono que lançaram na atmosfera por décadas. Estão em divida. Em contrapartida, nações como Japão, Holanda, Alemanha e França têm algum superávit.

É um cálculo complicado. França, Japão e Alemanha fizeram desembolso comparativamente maior, mas quase todo como empréstimos – que contribuem para elevar ainda mais a já alta dívida dos países pobres. Estados Unidos e Reino Unido podem ter contribuído menos, mas via doações. Nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um “choque” financeiro para ajudar na luta contra o aquecimento global e alertou que não é possível “sacrificar compromissos por causa das ameaças energéticas da Rússia”.

Guterres encerrou seus dois discursos falando num Pacto de Solidariedade Climática, que iria “restaurar a confiança entre os dois hemisférios” – muitos países pobres aderiram ao Acordo de Paris motivados pela possibilidade de receber algum tipo de recurso. Espera-se que nesta COP 27 ao menos se avance no complexo debate sobre o financiamento climático. Nas palavras de Guterres, “a humanidade só tem uma escolha: cooperar ou morrer”.

ENVIADO ESPECIAL A SHARM EL SHEIK - São dois mundos distintos e complementares, cercados pela paisagem desértica e poeirenta da cidade egípcia de Sharm El-Sheikh. De um lado, a entrada suntuosa da Zona Vermelha, o espaço da COP-27, a conferência do clima, onde os lideres mundiais fazem seus discursos. Do outro, o portão da Zona Azul, onde os países montam seus pavilhões. A Zona Vermelha e protocolar, organizada, cercada de seguranças. A Zona Azul é caótica, barulhenta, multicultural – mulheres com vestidos africanos coloridos, homens de terno e gravata, indígenas de pintura e cocares, representantes em trajes típicos. Todos trombando pelos corredores.

Poucos políticos atravessam a fronteira entre esses dois mundos. Quem fez isso nesta segunda-feira, 7, foi António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na abertura oficial da COP, o ex-premiê português usou a Zona Vermelha para sacudir, com palavras veementes, os lideres mundiais que ali se estavam. “Estamos numa autoestrada para o inferno, com o pé no acelerador”, disse Guterres. “Nosso planeta se aproxima de pontos de virada que vão tornar o caos climático irreversível”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, durante discurso na COP27 Foto: REUTERS/Mohammed Salem

Horas mais tarde, Guterres foi à Zona Azul, no pavilhão do Paquistão. Nas cúpulas do clima, os pavilhões dos países são temáticos. O do Paquistão foi erguido para mostrar como a nação virou símbolo eloquente – e trágico – de como os efeitos da mudança climática já chegaram, e de forma brutal. Um telão mostra não só enchentes deste ano, mas secas e problemas sociais recorrentes.

No pequeno auditório decorado em verde e branco, as cores paquistanesas, Guterres fez discurso. “Há momentos que marcam nossa vida. Minha visita ao Paquistão foi um desses, quando vi uma enchente cobrir região equivalente a três vezes o meu país, Portugal”, disse. “Pessoas perdendo tudo, casas e lavouras, e ainda assim dando lição de solidariedade ao ajudarem uns aos outros.” Foi aplaudido.

Guterres deu conteúdo e emoção ao que, desde conversas preparatórias do fim de semana, surge como o tema central da COP: a transferência de recursos de nações ricas para países pobres para frear a crise climática. O tema não é novo e está em pauta desde a Rio-92, a mãe de todas as COPs. Até recentemente, o foco eram fundos para transição energética. Agora que os efeitos da mudança climática aparecem de modo dramático, surge a necessidade de outro tipo de recurso: para socorrer vítimas de enchentes, secas e problemas sociais decorrentes de décadas de abuso do planeta.

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As nações ricas não querem que seja criado um marco jurídico que as obrigue a ressarcir os pobres por tragédias imprevisíveis. A realidade cruel, porém, e inescapável: os países do “Norte” global são os principais responsáveis pelas emissões de carbono que ameaçam o planeta, e as nações do “Sul” global – principalmente aquelas entre os trópicos – sofrem as piores consequências. Mas como medir o tamanho da responsabilidade de cada pais que enriqueceu às custas da energia à base de carbono?

O site Carbon Brief fez um estudo detalhado sobre o tema, publicado pelo jornal britânico The Guardian. A base foi a promessa – ate hoje não cumprida integralmente – feita em 2009: a de que a partir de 2020 os países ricos transfeririam US$ 100 bilhões anuais aos países pobres a título de financiamento climático.

O Carbon Brief constatou que os recursos mobilizados por países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália não compensam a quantidade de carbono que lançaram na atmosfera por décadas. Estão em divida. Em contrapartida, nações como Japão, Holanda, Alemanha e França têm algum superávit.

É um cálculo complicado. França, Japão e Alemanha fizeram desembolso comparativamente maior, mas quase todo como empréstimos – que contribuem para elevar ainda mais a já alta dívida dos países pobres. Estados Unidos e Reino Unido podem ter contribuído menos, mas via doações. Nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um “choque” financeiro para ajudar na luta contra o aquecimento global e alertou que não é possível “sacrificar compromissos por causa das ameaças energéticas da Rússia”.

Guterres encerrou seus dois discursos falando num Pacto de Solidariedade Climática, que iria “restaurar a confiança entre os dois hemisférios” – muitos países pobres aderiram ao Acordo de Paris motivados pela possibilidade de receber algum tipo de recurso. Espera-se que nesta COP 27 ao menos se avance no complexo debate sobre o financiamento climático. Nas palavras de Guterres, “a humanidade só tem uma escolha: cooperar ou morrer”.

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