COP-27 tem dois governos do Brasil: Comitiva de Lula sob holofotes e ala da gestão Bolsonaro vazia


Presidente eleito vai à cúpula climática sob forte expectativa da comunidade internacional; já estande oficial tem pouco movimento, reflexo do isolamento do País nos últimos quatro anos

Por Emilio Sant'Anna e Clarice Couto
Atualização:

ENVIADOS ESPECIAIS A SHARM EL-SHEIK - Na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito, muitos países estão interessados em falar com o Brasil. Isso não significa, porém, que o governo federal teve de lidar como uma série de convites para reuniões bilaterais ou mesmo com o pavilhão lotado no estande oficial. A expectativa maior não está em torno da gestão Jair Bolsonaro (PL), que está de saída, mas com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro não participa da conferência, mas Lula foi ao Egito, no primeiro compromisso no exterior após o resultado das eleições. A visita tem sido acompanhada com atenção pela comunidade internacional, que espera guinada nas políticas de proteção da Amazônia após quatro anos de enfraquecimento na gestão Bolsonaro, cada vez mais isolado nas discussões globais.

No primeiro dia no Egito, nesta terça-feira, 15, Lula teve encontros fechados com o enviado do governo americano para o clima, John Kerry, e com o alto representante chinês para o clima, Xie Zhen Hua. Os assuntos tratados com os representantes dos dois países não foram revelados, mas Lula destacou a agenda que envolve as duas maiores economias do mundo.

“O Brasil será uma força positiva para enfrentar os desafios globais”, escreveu Lula nas redes sociais. À BBC Brasil, Kerry disse antes do encontro estar confiante que Lula dará uma “guinada completa” na política ambiental do Brasil.

Dos três pavilhões reservados ao Brasil - o da sociedade civil, dos Estados da Amazônia Legal e o oficial do governo brasileiro- este último é de longe o que menos atrai a atenção na COP. Apesar dos eventos e da presença do ministro do Meio Ambiente, na terça-feira, 15, a movimentação é menor. No local, há até funcionários do governo com a camisa da seleção e sessões com óculos de realidade virtual para mostrar a biodiversidade do País. Ainda assim, o contraste com o vizinho de frente é visível.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, fala durante a Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: AP/Peter Dejong

No pavilhão dos Estados da Amazônia Legal a movimentação é intensa e os eventos concorridos. Nesta semana, um painel com o governador do Pará, Helder Barbalho (DB), e o convidado governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lotou o espaço.

A cerca de dez metros dali, no entanto, está o principal ponto de reunião de brasileiros e estrangeiros interessados em ouvir e discutir o cenário ambiental do País. É no Brazil Climate Hub, espaço da sociedade civil, que nesta semana as ex-ministras do Meio Ambiente em gestões petistas Marina Silva e Izabella Teixeira reuniram mais de uma centena de pessoas espremidas para ouvir sobre as perspectivas ambientais com o novo governo.

Um dia depois, na terça-feira, 15, foi ali também que a futura-primeira dama, Rosângela Silva, a Janja parou para tirar fotos enquanto era seguida por uma pequena multidão pelos corredores. Para quem chegar desinformado, este parece ser o espaço oficial do governo brasileiro.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, também aproveitou o espaço oficial da conferência para criticar ou alfinetar o governo do sucessor. Disse nesta terça que a política ambiental deve se basear na geração de emprego verde, e não em redução de emissões de gases de efeito estufa “extremamente forçada”. Também atacou o uso de jatinhos, em referência ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e afirmou que o mundo não será salvo pelos “caridosos”. O petista tem sido alvo de críticas por ter feito a viagem a bordo da aeronave de um empresário.

Estande do Governo Federal na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: Emilio Sant'Anna/Estadão

“Filantropos, líderes e empresários e seu sempre exagerado número de assessores vieram em jatos particulares ao luxuoso balneário do Mar Vermelho para cobrar metas de redução de emissões dos outros, sugerindo carros ultramodernos a hidrogênio ou 100% elétricos, completamente desconexos da realidade de diversas regiões do Brasil e do mundo”, criticou Leite, em discurso no evento da ONU.

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) negou que o empresário José Seripiere Junior tenha emprestado a aeronave para Lula. “O proprietário está indo junto para COP. Não tem empréstimo. Estão indo juntos no mesmo avião. Estão indo mais pessoas: ex-governador, lideranças políticas, ambientais, todos juntos”, disse Alckmin na segunda-feira, 14.

Durante sua participação na conferência, Leite defendeu foco na renovação da frota global de veículos por versões mais novas e limpas. Segundo ele, as políticas de atenção ao tema - como hidrogênio verde ou carros 100% elétricos - seguem restritas a nações ricas, enquanto países mais pobres - a exemplo do próprio Egito, sede da COP - veem carros muito antigos e poluidores pelas ruas. O discurso, porém, chamou menos atenção diante do interesse menor sobre os projetos do governo que está de saída.

Questionado pelo Estadão sobre a presença novo evento de dois estandes - um do governo federal e outro dos Estados -, Leite disse que são focos distintos. O pavilhão federal evita tratar temas como a Amazônia, espinhoso para a gestão Bolsonaro, diante da escalada do desmatamento nos últimos anos. “Nosso estande é de energias mais verdes; o deles é mais ligado às florestas e aos desafios do consórcio”, justificou. “A relação sempre foi boa e continua sendo boa”, emendou o ministro.

A comitiva dos governadores amazônicos - entre eles nomes de partidos da oposição, como o acreano Gladson Cameli (PP) e o tocantinense Wanderlei Barbosa (Republicanos) - querem aproveitar o evento para pedir investimento e reforço de fiscalização. “Há expectativa de conciliação das ações (de governos federal e estaduais) e de fortalecimento da fiscalização. Seja pelo ICMBio (órgão federal que cuida das unidades de conservação) ou Forças Armadas, é fundamental combater o desmatamento ilegal”, disse o governador paraense Helder Barbalho (MDB), que primeiramente convidou Lula para o evento.

É esperado que a vitória de Lula nas urnas traga mais recursos para a proteção da floresta. Em 2019, o governo federal colocou sob suspeita as parcerias com ONGs firmadas via Fundo Amazônia, programa que recebe doações da Noruega e da Alemanha para preservar o bioma. Diante das críticas e mudanças por parte da gestão Bolsonaro, os europeus interromperam as doações. Na época, a área ambiental era comandada por Ricardo Salles, que saiu do cargo em 2021.

Após a vitória de Lula, os dois países sinalizaram que retomarão os repasses de verba para o fundo. Na COP, o petista e sua comitiva – sobretudo a ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva (Rede) – têm encontrado com autoridades de outros países para costurar novas alianças. Marina é uma das cotadas para assumir a pasta do Meio Ambiente. Ao Estadão, Marina disse que não vão mais operar no campo da “chantagem”, em crítica à postura de Bolsonaro, e afirmou que o “mundo quer investir na Amazônia”.

*O repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

ENVIADOS ESPECIAIS A SHARM EL-SHEIK - Na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito, muitos países estão interessados em falar com o Brasil. Isso não significa, porém, que o governo federal teve de lidar como uma série de convites para reuniões bilaterais ou mesmo com o pavilhão lotado no estande oficial. A expectativa maior não está em torno da gestão Jair Bolsonaro (PL), que está de saída, mas com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro não participa da conferência, mas Lula foi ao Egito, no primeiro compromisso no exterior após o resultado das eleições. A visita tem sido acompanhada com atenção pela comunidade internacional, que espera guinada nas políticas de proteção da Amazônia após quatro anos de enfraquecimento na gestão Bolsonaro, cada vez mais isolado nas discussões globais.

No primeiro dia no Egito, nesta terça-feira, 15, Lula teve encontros fechados com o enviado do governo americano para o clima, John Kerry, e com o alto representante chinês para o clima, Xie Zhen Hua. Os assuntos tratados com os representantes dos dois países não foram revelados, mas Lula destacou a agenda que envolve as duas maiores economias do mundo.

“O Brasil será uma força positiva para enfrentar os desafios globais”, escreveu Lula nas redes sociais. À BBC Brasil, Kerry disse antes do encontro estar confiante que Lula dará uma “guinada completa” na política ambiental do Brasil.

Dos três pavilhões reservados ao Brasil - o da sociedade civil, dos Estados da Amazônia Legal e o oficial do governo brasileiro- este último é de longe o que menos atrai a atenção na COP. Apesar dos eventos e da presença do ministro do Meio Ambiente, na terça-feira, 15, a movimentação é menor. No local, há até funcionários do governo com a camisa da seleção e sessões com óculos de realidade virtual para mostrar a biodiversidade do País. Ainda assim, o contraste com o vizinho de frente é visível.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, fala durante a Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: AP/Peter Dejong

No pavilhão dos Estados da Amazônia Legal a movimentação é intensa e os eventos concorridos. Nesta semana, um painel com o governador do Pará, Helder Barbalho (DB), e o convidado governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lotou o espaço.

A cerca de dez metros dali, no entanto, está o principal ponto de reunião de brasileiros e estrangeiros interessados em ouvir e discutir o cenário ambiental do País. É no Brazil Climate Hub, espaço da sociedade civil, que nesta semana as ex-ministras do Meio Ambiente em gestões petistas Marina Silva e Izabella Teixeira reuniram mais de uma centena de pessoas espremidas para ouvir sobre as perspectivas ambientais com o novo governo.

Um dia depois, na terça-feira, 15, foi ali também que a futura-primeira dama, Rosângela Silva, a Janja parou para tirar fotos enquanto era seguida por uma pequena multidão pelos corredores. Para quem chegar desinformado, este parece ser o espaço oficial do governo brasileiro.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, também aproveitou o espaço oficial da conferência para criticar ou alfinetar o governo do sucessor. Disse nesta terça que a política ambiental deve se basear na geração de emprego verde, e não em redução de emissões de gases de efeito estufa “extremamente forçada”. Também atacou o uso de jatinhos, em referência ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e afirmou que o mundo não será salvo pelos “caridosos”. O petista tem sido alvo de críticas por ter feito a viagem a bordo da aeronave de um empresário.

Estande do Governo Federal na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: Emilio Sant'Anna/Estadão

“Filantropos, líderes e empresários e seu sempre exagerado número de assessores vieram em jatos particulares ao luxuoso balneário do Mar Vermelho para cobrar metas de redução de emissões dos outros, sugerindo carros ultramodernos a hidrogênio ou 100% elétricos, completamente desconexos da realidade de diversas regiões do Brasil e do mundo”, criticou Leite, em discurso no evento da ONU.

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) negou que o empresário José Seripiere Junior tenha emprestado a aeronave para Lula. “O proprietário está indo junto para COP. Não tem empréstimo. Estão indo juntos no mesmo avião. Estão indo mais pessoas: ex-governador, lideranças políticas, ambientais, todos juntos”, disse Alckmin na segunda-feira, 14.

Durante sua participação na conferência, Leite defendeu foco na renovação da frota global de veículos por versões mais novas e limpas. Segundo ele, as políticas de atenção ao tema - como hidrogênio verde ou carros 100% elétricos - seguem restritas a nações ricas, enquanto países mais pobres - a exemplo do próprio Egito, sede da COP - veem carros muito antigos e poluidores pelas ruas. O discurso, porém, chamou menos atenção diante do interesse menor sobre os projetos do governo que está de saída.

Questionado pelo Estadão sobre a presença novo evento de dois estandes - um do governo federal e outro dos Estados -, Leite disse que são focos distintos. O pavilhão federal evita tratar temas como a Amazônia, espinhoso para a gestão Bolsonaro, diante da escalada do desmatamento nos últimos anos. “Nosso estande é de energias mais verdes; o deles é mais ligado às florestas e aos desafios do consórcio”, justificou. “A relação sempre foi boa e continua sendo boa”, emendou o ministro.

A comitiva dos governadores amazônicos - entre eles nomes de partidos da oposição, como o acreano Gladson Cameli (PP) e o tocantinense Wanderlei Barbosa (Republicanos) - querem aproveitar o evento para pedir investimento e reforço de fiscalização. “Há expectativa de conciliação das ações (de governos federal e estaduais) e de fortalecimento da fiscalização. Seja pelo ICMBio (órgão federal que cuida das unidades de conservação) ou Forças Armadas, é fundamental combater o desmatamento ilegal”, disse o governador paraense Helder Barbalho (MDB), que primeiramente convidou Lula para o evento.

É esperado que a vitória de Lula nas urnas traga mais recursos para a proteção da floresta. Em 2019, o governo federal colocou sob suspeita as parcerias com ONGs firmadas via Fundo Amazônia, programa que recebe doações da Noruega e da Alemanha para preservar o bioma. Diante das críticas e mudanças por parte da gestão Bolsonaro, os europeus interromperam as doações. Na época, a área ambiental era comandada por Ricardo Salles, que saiu do cargo em 2021.

Após a vitória de Lula, os dois países sinalizaram que retomarão os repasses de verba para o fundo. Na COP, o petista e sua comitiva – sobretudo a ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva (Rede) – têm encontrado com autoridades de outros países para costurar novas alianças. Marina é uma das cotadas para assumir a pasta do Meio Ambiente. Ao Estadão, Marina disse que não vão mais operar no campo da “chantagem”, em crítica à postura de Bolsonaro, e afirmou que o “mundo quer investir na Amazônia”.

*O repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

ENVIADOS ESPECIAIS A SHARM EL-SHEIK - Na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito, muitos países estão interessados em falar com o Brasil. Isso não significa, porém, que o governo federal teve de lidar como uma série de convites para reuniões bilaterais ou mesmo com o pavilhão lotado no estande oficial. A expectativa maior não está em torno da gestão Jair Bolsonaro (PL), que está de saída, mas com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro não participa da conferência, mas Lula foi ao Egito, no primeiro compromisso no exterior após o resultado das eleições. A visita tem sido acompanhada com atenção pela comunidade internacional, que espera guinada nas políticas de proteção da Amazônia após quatro anos de enfraquecimento na gestão Bolsonaro, cada vez mais isolado nas discussões globais.

No primeiro dia no Egito, nesta terça-feira, 15, Lula teve encontros fechados com o enviado do governo americano para o clima, John Kerry, e com o alto representante chinês para o clima, Xie Zhen Hua. Os assuntos tratados com os representantes dos dois países não foram revelados, mas Lula destacou a agenda que envolve as duas maiores economias do mundo.

“O Brasil será uma força positiva para enfrentar os desafios globais”, escreveu Lula nas redes sociais. À BBC Brasil, Kerry disse antes do encontro estar confiante que Lula dará uma “guinada completa” na política ambiental do Brasil.

Dos três pavilhões reservados ao Brasil - o da sociedade civil, dos Estados da Amazônia Legal e o oficial do governo brasileiro- este último é de longe o que menos atrai a atenção na COP. Apesar dos eventos e da presença do ministro do Meio Ambiente, na terça-feira, 15, a movimentação é menor. No local, há até funcionários do governo com a camisa da seleção e sessões com óculos de realidade virtual para mostrar a biodiversidade do País. Ainda assim, o contraste com o vizinho de frente é visível.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, fala durante a Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: AP/Peter Dejong

No pavilhão dos Estados da Amazônia Legal a movimentação é intensa e os eventos concorridos. Nesta semana, um painel com o governador do Pará, Helder Barbalho (DB), e o convidado governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lotou o espaço.

A cerca de dez metros dali, no entanto, está o principal ponto de reunião de brasileiros e estrangeiros interessados em ouvir e discutir o cenário ambiental do País. É no Brazil Climate Hub, espaço da sociedade civil, que nesta semana as ex-ministras do Meio Ambiente em gestões petistas Marina Silva e Izabella Teixeira reuniram mais de uma centena de pessoas espremidas para ouvir sobre as perspectivas ambientais com o novo governo.

Um dia depois, na terça-feira, 15, foi ali também que a futura-primeira dama, Rosângela Silva, a Janja parou para tirar fotos enquanto era seguida por uma pequena multidão pelos corredores. Para quem chegar desinformado, este parece ser o espaço oficial do governo brasileiro.

Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, também aproveitou o espaço oficial da conferência para criticar ou alfinetar o governo do sucessor. Disse nesta terça que a política ambiental deve se basear na geração de emprego verde, e não em redução de emissões de gases de efeito estufa “extremamente forçada”. Também atacou o uso de jatinhos, em referência ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e afirmou que o mundo não será salvo pelos “caridosos”. O petista tem sido alvo de críticas por ter feito a viagem a bordo da aeronave de um empresário.

Estande do Governo Federal na Cúpula do Clima (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito. Foto: Emilio Sant'Anna/Estadão

“Filantropos, líderes e empresários e seu sempre exagerado número de assessores vieram em jatos particulares ao luxuoso balneário do Mar Vermelho para cobrar metas de redução de emissões dos outros, sugerindo carros ultramodernos a hidrogênio ou 100% elétricos, completamente desconexos da realidade de diversas regiões do Brasil e do mundo”, criticou Leite, em discurso no evento da ONU.

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) negou que o empresário José Seripiere Junior tenha emprestado a aeronave para Lula. “O proprietário está indo junto para COP. Não tem empréstimo. Estão indo juntos no mesmo avião. Estão indo mais pessoas: ex-governador, lideranças políticas, ambientais, todos juntos”, disse Alckmin na segunda-feira, 14.

Durante sua participação na conferência, Leite defendeu foco na renovação da frota global de veículos por versões mais novas e limpas. Segundo ele, as políticas de atenção ao tema - como hidrogênio verde ou carros 100% elétricos - seguem restritas a nações ricas, enquanto países mais pobres - a exemplo do próprio Egito, sede da COP - veem carros muito antigos e poluidores pelas ruas. O discurso, porém, chamou menos atenção diante do interesse menor sobre os projetos do governo que está de saída.

Questionado pelo Estadão sobre a presença novo evento de dois estandes - um do governo federal e outro dos Estados -, Leite disse que são focos distintos. O pavilhão federal evita tratar temas como a Amazônia, espinhoso para a gestão Bolsonaro, diante da escalada do desmatamento nos últimos anos. “Nosso estande é de energias mais verdes; o deles é mais ligado às florestas e aos desafios do consórcio”, justificou. “A relação sempre foi boa e continua sendo boa”, emendou o ministro.

A comitiva dos governadores amazônicos - entre eles nomes de partidos da oposição, como o acreano Gladson Cameli (PP) e o tocantinense Wanderlei Barbosa (Republicanos) - querem aproveitar o evento para pedir investimento e reforço de fiscalização. “Há expectativa de conciliação das ações (de governos federal e estaduais) e de fortalecimento da fiscalização. Seja pelo ICMBio (órgão federal que cuida das unidades de conservação) ou Forças Armadas, é fundamental combater o desmatamento ilegal”, disse o governador paraense Helder Barbalho (MDB), que primeiramente convidou Lula para o evento.

É esperado que a vitória de Lula nas urnas traga mais recursos para a proteção da floresta. Em 2019, o governo federal colocou sob suspeita as parcerias com ONGs firmadas via Fundo Amazônia, programa que recebe doações da Noruega e da Alemanha para preservar o bioma. Diante das críticas e mudanças por parte da gestão Bolsonaro, os europeus interromperam as doações. Na época, a área ambiental era comandada por Ricardo Salles, que saiu do cargo em 2021.

Após a vitória de Lula, os dois países sinalizaram que retomarão os repasses de verba para o fundo. Na COP, o petista e sua comitiva – sobretudo a ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva (Rede) – têm encontrado com autoridades de outros países para costurar novas alianças. Marina é uma das cotadas para assumir a pasta do Meio Ambiente. Ao Estadão, Marina disse que não vão mais operar no campo da “chantagem”, em crítica à postura de Bolsonaro, e afirmou que o “mundo quer investir na Amazônia”.

*O repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

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