Corredor caipira: como projeto vai reflorestar 50 hectares no interior de SP


Objetivo é conectar fragmentos florestais na região de Piracicaba para recuperar nascentes e aumentar a produção de água

Por Martina Medina
Atualização:

A segunda edição do programa “Corredor Caipira”, inaugurada em março deste ano, prevê reflorestar 50 hectares na região de Piracicaba, no interior de São Paulo, até 2028. Na primeira fase, que aconteceu de 2020 a 2022, 65 hectares foram restaurados em Piracicaba, Águas de São Pedro, São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi, onde restam apenas 13% de cobertura florestal nativa.

O objetivo é conectar fragmentos florestais criando corredores ecológicos entre 18 municípios do interior de São Paulo. A iniciativa prevê ainda a manutenção dos 115 hectares restaurados nas duas fases do programa, além de ações de educação socioambiental, políticas públicas locais e comunicação.

Produção de mudas para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: GRÉGORY ANTONY

Patrocinado pela Petrobras, o projeto é realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Segundo técnicos da iniciativa, o custo de restauração por hectare está entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, resultando em um investimento de cerca de R$ 3 milhões para atingir o reflorestamento de 115 hectares.

Os locais prioritários para restauração são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas, com nível de 70% de degradação na região. O objetivo é recuperar nascentes e aumentar a produção de água, fortalecendo o abastecimento hídrico. Quando reflorestadas, áreas de cursos d’água fornecem 20 vezes mais águas do que aquelas sem cobertura vegetal, cita Edson Vidal, professor da Esalq/USP e coordenador geral do projeto. “É um serviço fantástico”, diz.

Até agora, 17 nascentes foram recuperadas pelo projeto. “É preciso mais floresta para termos benefícios ambientais como temperaturas mais reguladas e menos enchentes”, diz Henrique de Campos, engenheiro agrônomo e técnico da iniciativa. “Precisamos agregar esforços para que isso se amplie e perdure.”

Segundo a Petrobras, “as ações de restauro não têm por objetivo equacionar todo o déficit de áreas degradadas de uma determinada região, mas fomentar parcerias e contribuir para estruturar a cadeia de valor do restauro”. A cada R$ 1 aplicado em projetos socioambientais pela companhia, R$ 5 são revertidos em benefícios socioambientais, de acordo com a empresa, que não divulgou os valores de orçamento destinados ao projeto.

Membros do Corredor Caipira em trabalho na floresta para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: Jessica Lane

Impacto multiplicado

As ações de educação ambiental, comunicação e políticas públicas têm aumentado o impacto do “Corredor Caipira”. Em São Pedro, onde pouco mais de 13 hectares foram plantados, o apoio técnico do projeto foi crucial para a criação do Plano Municipal de Mata Atlântica e Cerrado (PMMAC), que prevê a restauração de 10 mil hectares até 2035.

“Depois de um diagnóstico bem aprofundado sobre nosso território, identificamos os principais problemas públicos e desenhamos o cenário ideal para a preservação, conservação e recuperação das nossas florestas e combate às mudanças climáticas a nível local”, diz Rogério Bosqueiro, coordenador de meio ambiente do município.

A expectativa do poder Executivo é de que o programa seja aprovado pelo Legislativo ainda no primeiro semestre deste ano. O PMMAC inclui a criação de um viveiro e de um banco municipal de áreas disponíveis para compensação ambiental, além de ações de educação ambiental e conscientização sobre meios e benefícios da restauração ecológica com foco nas propriedades rurais. “O Corredor Caipira deve, e sabemos que irá, contribuir para o cumprimento de programas em todas essas diretrizes”, aposta Bosqueiro.

“Não queremos simplesmente plantar árvores, mas envolver a sociedade para que os diferentes setores entendam os motivos e os benefícios do que está sendo feito”, aponta Vidal.

No total, 3.668 pessoas participaram de cursos, oficinas e fóruns envolvendo adultos e crianças na primeira edição. O coordenador vê o aumento dos resultados no longo prazo. “Planta não toma fermento. Além do plantio, é preciso fazer a manutenção e envolver as pessoas em ações de educação. Tudo isso carece de tempo”, pondera.

Rubens Benini, coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e especialista em restauração da The Nature Conservancy (TNC), celebra os resultados do projeto no bioma mais degradado do País. Para ele, a iniciativa poderia ampliar a escala se conectando a outros projetos de restauração ativos na região. “Compartilhar essa experiência com os 550 membros do Pacto, por exemplo, poderia gerar maior conectividade e um esforço de recuperação integrado, otimizando esforços”, sugere.

Agrofloresta e primatas

A segunda fase do projeto prevê a implantação de uma agrofloresta de 5 hectares em benefício de pequenos agricultores. O resíduo de poda urbana deve ser utilizado na cobertura e fertilização do solo. A ideia é promover o trabalho do Tritura Pira, movimento da sociedade civil de Piracicaba que busca transformar a prática em política pública.

Outra novidade é a preservação do muriqui-do-sul. Maior primata das Américas, ele pode chegar a 1,60 m de comprimento e é classificado pelo Ministério do Meio Ambiente como espécie “em perigo”, principalmente em razão da fragmentação da Mata Atlântica. Árvores importantes na alimentação do animal devem estar entre as mudas selecionadas para o plantio. Também serão instaladas câmeras para acompanhar a movimentação do primata.

A previsão é de que sejam plantadas 90 mil novas mudas e feita a manutenção das 105 mil da primeira fase. A manutenção inclui o Banco Ativo de Germoplasma (BAG), construído para produzir sementes de qualidade. São 15 hectares com 25 mil mudas em crescimento para utilização de sementes em futuros reflorestamentos.

“Na nova fase, vamos fazer a manutenção do banco, incluindo trabalho de adubação e controle de gramíneas, para que essas mudas cresçam”, explica o engenheiro florestal Germano Chagas, técnico do projeto.

A prospecção de novas áreas para plantio deve ser feita até maio e a restauração tem conclusão prevista para 2026, um ano antes do encerramento da segunda etapa. A próxima fase prevê ainda 46 atividades como oficinas, mutirões e fóruns, além de seis cursos de formação com certificado emitido pela USP.

Resistência de proprietários

A principal dificuldade do projeto é a baixa adesão dos proprietários rurais. Com solo fértil e terreno plano, a região tem uma alta produtividade agrícola, sendo as culturas de cana de açúcar e eucalipto e a criação de gado as principais atividades. Trocar espaço produtivo por floresta é visto como prejuízo por alguns produtores diante do alto valor da terra.

Alguns deles chegam a usar áreas próximas aos rios como pasto, prática ilegal no Código Florestal, observa Chagas. Segundo o engenheiro, o poder público deveria cobrar e fiscalizar de maneira mais efetiva os produtores para que os passivos ambientais sejam cumpridos. Por outro lado, alguns proprietários aderem ao projeto para recuperar nascentes que secaram em seus terrenos. Do total restaurado, 76% estão em áreas privadas e apenas 24%, nas públicas.

O técnico sugere a criação do Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) como incentivo econômico a uma maior adesão dos proprietários, assim como ações de conscientização sobre a importância da restauração na produtividade rural. “Só o sombreamento do gado já garante um maior conforto animal, que produz mais carne e leite”, aponta. O solo bem drenado e saudável resultante de uma maior cobertura florestal também influencia positivamente no desenvolvimento das culturas.

Como o tempo de execução do projeto dobrou - de dois para quatro anos -, a expectativa da gestão de São Pedro é de que o convencimento dos proprietários avance na nova fase. “Para passar algumas porteiras, é necessário garantir a confiança dos proprietários rurais, que acontece, muitas vezes, após algumas tentativas consecutivas”, diz Bosqueiro. “Com o tempo otimizado, estamos focados em fortalecer as parcerias com os proprietários, intensificar a fiscalização municipal e implementar políticas de incentivo, como o PSA.”

A Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) e a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) afirmam apoiar o “Corredor Caipira” e outros projetos de restauração florestal na região. As entidades reconhecem a necessidade de mudança cultural entre os produtores rurais e dizem oferecer assistência técnica para conscientizá-los das possibilidades de ganhos com o reflorestamento.

“Assim que começam a ver os benefícios, os produtores tendem a aderir às práticas de reflorestamento, não só contribuindo com a sustentabilidade, mas para a rentabilidade das operações agrícolas”, afirma o presidente da Afocapi, José Coral. “Ações como essa contribuem para melhoria da qualidade da água, conservação da biodiversidade, regulação do clima e combate à erosão do solo, temas relacionados diretamente com nosso cooperado”, diz a engenheira ambiental Andrea Pavani, da Coplacana.

A segunda edição do programa “Corredor Caipira”, inaugurada em março deste ano, prevê reflorestar 50 hectares na região de Piracicaba, no interior de São Paulo, até 2028. Na primeira fase, que aconteceu de 2020 a 2022, 65 hectares foram restaurados em Piracicaba, Águas de São Pedro, São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi, onde restam apenas 13% de cobertura florestal nativa.

O objetivo é conectar fragmentos florestais criando corredores ecológicos entre 18 municípios do interior de São Paulo. A iniciativa prevê ainda a manutenção dos 115 hectares restaurados nas duas fases do programa, além de ações de educação socioambiental, políticas públicas locais e comunicação.

Produção de mudas para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: GRÉGORY ANTONY

Patrocinado pela Petrobras, o projeto é realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Segundo técnicos da iniciativa, o custo de restauração por hectare está entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, resultando em um investimento de cerca de R$ 3 milhões para atingir o reflorestamento de 115 hectares.

Os locais prioritários para restauração são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas, com nível de 70% de degradação na região. O objetivo é recuperar nascentes e aumentar a produção de água, fortalecendo o abastecimento hídrico. Quando reflorestadas, áreas de cursos d’água fornecem 20 vezes mais águas do que aquelas sem cobertura vegetal, cita Edson Vidal, professor da Esalq/USP e coordenador geral do projeto. “É um serviço fantástico”, diz.

Até agora, 17 nascentes foram recuperadas pelo projeto. “É preciso mais floresta para termos benefícios ambientais como temperaturas mais reguladas e menos enchentes”, diz Henrique de Campos, engenheiro agrônomo e técnico da iniciativa. “Precisamos agregar esforços para que isso se amplie e perdure.”

Segundo a Petrobras, “as ações de restauro não têm por objetivo equacionar todo o déficit de áreas degradadas de uma determinada região, mas fomentar parcerias e contribuir para estruturar a cadeia de valor do restauro”. A cada R$ 1 aplicado em projetos socioambientais pela companhia, R$ 5 são revertidos em benefícios socioambientais, de acordo com a empresa, que não divulgou os valores de orçamento destinados ao projeto.

Membros do Corredor Caipira em trabalho na floresta para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: Jessica Lane

Impacto multiplicado

As ações de educação ambiental, comunicação e políticas públicas têm aumentado o impacto do “Corredor Caipira”. Em São Pedro, onde pouco mais de 13 hectares foram plantados, o apoio técnico do projeto foi crucial para a criação do Plano Municipal de Mata Atlântica e Cerrado (PMMAC), que prevê a restauração de 10 mil hectares até 2035.

“Depois de um diagnóstico bem aprofundado sobre nosso território, identificamos os principais problemas públicos e desenhamos o cenário ideal para a preservação, conservação e recuperação das nossas florestas e combate às mudanças climáticas a nível local”, diz Rogério Bosqueiro, coordenador de meio ambiente do município.

A expectativa do poder Executivo é de que o programa seja aprovado pelo Legislativo ainda no primeiro semestre deste ano. O PMMAC inclui a criação de um viveiro e de um banco municipal de áreas disponíveis para compensação ambiental, além de ações de educação ambiental e conscientização sobre meios e benefícios da restauração ecológica com foco nas propriedades rurais. “O Corredor Caipira deve, e sabemos que irá, contribuir para o cumprimento de programas em todas essas diretrizes”, aposta Bosqueiro.

“Não queremos simplesmente plantar árvores, mas envolver a sociedade para que os diferentes setores entendam os motivos e os benefícios do que está sendo feito”, aponta Vidal.

No total, 3.668 pessoas participaram de cursos, oficinas e fóruns envolvendo adultos e crianças na primeira edição. O coordenador vê o aumento dos resultados no longo prazo. “Planta não toma fermento. Além do plantio, é preciso fazer a manutenção e envolver as pessoas em ações de educação. Tudo isso carece de tempo”, pondera.

Rubens Benini, coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e especialista em restauração da The Nature Conservancy (TNC), celebra os resultados do projeto no bioma mais degradado do País. Para ele, a iniciativa poderia ampliar a escala se conectando a outros projetos de restauração ativos na região. “Compartilhar essa experiência com os 550 membros do Pacto, por exemplo, poderia gerar maior conectividade e um esforço de recuperação integrado, otimizando esforços”, sugere.

Agrofloresta e primatas

A segunda fase do projeto prevê a implantação de uma agrofloresta de 5 hectares em benefício de pequenos agricultores. O resíduo de poda urbana deve ser utilizado na cobertura e fertilização do solo. A ideia é promover o trabalho do Tritura Pira, movimento da sociedade civil de Piracicaba que busca transformar a prática em política pública.

Outra novidade é a preservação do muriqui-do-sul. Maior primata das Américas, ele pode chegar a 1,60 m de comprimento e é classificado pelo Ministério do Meio Ambiente como espécie “em perigo”, principalmente em razão da fragmentação da Mata Atlântica. Árvores importantes na alimentação do animal devem estar entre as mudas selecionadas para o plantio. Também serão instaladas câmeras para acompanhar a movimentação do primata.

A previsão é de que sejam plantadas 90 mil novas mudas e feita a manutenção das 105 mil da primeira fase. A manutenção inclui o Banco Ativo de Germoplasma (BAG), construído para produzir sementes de qualidade. São 15 hectares com 25 mil mudas em crescimento para utilização de sementes em futuros reflorestamentos.

“Na nova fase, vamos fazer a manutenção do banco, incluindo trabalho de adubação e controle de gramíneas, para que essas mudas cresçam”, explica o engenheiro florestal Germano Chagas, técnico do projeto.

A prospecção de novas áreas para plantio deve ser feita até maio e a restauração tem conclusão prevista para 2026, um ano antes do encerramento da segunda etapa. A próxima fase prevê ainda 46 atividades como oficinas, mutirões e fóruns, além de seis cursos de formação com certificado emitido pela USP.

Resistência de proprietários

A principal dificuldade do projeto é a baixa adesão dos proprietários rurais. Com solo fértil e terreno plano, a região tem uma alta produtividade agrícola, sendo as culturas de cana de açúcar e eucalipto e a criação de gado as principais atividades. Trocar espaço produtivo por floresta é visto como prejuízo por alguns produtores diante do alto valor da terra.

Alguns deles chegam a usar áreas próximas aos rios como pasto, prática ilegal no Código Florestal, observa Chagas. Segundo o engenheiro, o poder público deveria cobrar e fiscalizar de maneira mais efetiva os produtores para que os passivos ambientais sejam cumpridos. Por outro lado, alguns proprietários aderem ao projeto para recuperar nascentes que secaram em seus terrenos. Do total restaurado, 76% estão em áreas privadas e apenas 24%, nas públicas.

O técnico sugere a criação do Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) como incentivo econômico a uma maior adesão dos proprietários, assim como ações de conscientização sobre a importância da restauração na produtividade rural. “Só o sombreamento do gado já garante um maior conforto animal, que produz mais carne e leite”, aponta. O solo bem drenado e saudável resultante de uma maior cobertura florestal também influencia positivamente no desenvolvimento das culturas.

Como o tempo de execução do projeto dobrou - de dois para quatro anos -, a expectativa da gestão de São Pedro é de que o convencimento dos proprietários avance na nova fase. “Para passar algumas porteiras, é necessário garantir a confiança dos proprietários rurais, que acontece, muitas vezes, após algumas tentativas consecutivas”, diz Bosqueiro. “Com o tempo otimizado, estamos focados em fortalecer as parcerias com os proprietários, intensificar a fiscalização municipal e implementar políticas de incentivo, como o PSA.”

A Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) e a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) afirmam apoiar o “Corredor Caipira” e outros projetos de restauração florestal na região. As entidades reconhecem a necessidade de mudança cultural entre os produtores rurais e dizem oferecer assistência técnica para conscientizá-los das possibilidades de ganhos com o reflorestamento.

“Assim que começam a ver os benefícios, os produtores tendem a aderir às práticas de reflorestamento, não só contribuindo com a sustentabilidade, mas para a rentabilidade das operações agrícolas”, afirma o presidente da Afocapi, José Coral. “Ações como essa contribuem para melhoria da qualidade da água, conservação da biodiversidade, regulação do clima e combate à erosão do solo, temas relacionados diretamente com nosso cooperado”, diz a engenheira ambiental Andrea Pavani, da Coplacana.

A segunda edição do programa “Corredor Caipira”, inaugurada em março deste ano, prevê reflorestar 50 hectares na região de Piracicaba, no interior de São Paulo, até 2028. Na primeira fase, que aconteceu de 2020 a 2022, 65 hectares foram restaurados em Piracicaba, Águas de São Pedro, São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi, onde restam apenas 13% de cobertura florestal nativa.

O objetivo é conectar fragmentos florestais criando corredores ecológicos entre 18 municípios do interior de São Paulo. A iniciativa prevê ainda a manutenção dos 115 hectares restaurados nas duas fases do programa, além de ações de educação socioambiental, políticas públicas locais e comunicação.

Produção de mudas para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: GRÉGORY ANTONY

Patrocinado pela Petrobras, o projeto é realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Segundo técnicos da iniciativa, o custo de restauração por hectare está entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, resultando em um investimento de cerca de R$ 3 milhões para atingir o reflorestamento de 115 hectares.

Os locais prioritários para restauração são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas, com nível de 70% de degradação na região. O objetivo é recuperar nascentes e aumentar a produção de água, fortalecendo o abastecimento hídrico. Quando reflorestadas, áreas de cursos d’água fornecem 20 vezes mais águas do que aquelas sem cobertura vegetal, cita Edson Vidal, professor da Esalq/USP e coordenador geral do projeto. “É um serviço fantástico”, diz.

Até agora, 17 nascentes foram recuperadas pelo projeto. “É preciso mais floresta para termos benefícios ambientais como temperaturas mais reguladas e menos enchentes”, diz Henrique de Campos, engenheiro agrônomo e técnico da iniciativa. “Precisamos agregar esforços para que isso se amplie e perdure.”

Segundo a Petrobras, “as ações de restauro não têm por objetivo equacionar todo o déficit de áreas degradadas de uma determinada região, mas fomentar parcerias e contribuir para estruturar a cadeia de valor do restauro”. A cada R$ 1 aplicado em projetos socioambientais pela companhia, R$ 5 são revertidos em benefícios socioambientais, de acordo com a empresa, que não divulgou os valores de orçamento destinados ao projeto.

Membros do Corredor Caipira em trabalho na floresta para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: Jessica Lane

Impacto multiplicado

As ações de educação ambiental, comunicação e políticas públicas têm aumentado o impacto do “Corredor Caipira”. Em São Pedro, onde pouco mais de 13 hectares foram plantados, o apoio técnico do projeto foi crucial para a criação do Plano Municipal de Mata Atlântica e Cerrado (PMMAC), que prevê a restauração de 10 mil hectares até 2035.

“Depois de um diagnóstico bem aprofundado sobre nosso território, identificamos os principais problemas públicos e desenhamos o cenário ideal para a preservação, conservação e recuperação das nossas florestas e combate às mudanças climáticas a nível local”, diz Rogério Bosqueiro, coordenador de meio ambiente do município.

A expectativa do poder Executivo é de que o programa seja aprovado pelo Legislativo ainda no primeiro semestre deste ano. O PMMAC inclui a criação de um viveiro e de um banco municipal de áreas disponíveis para compensação ambiental, além de ações de educação ambiental e conscientização sobre meios e benefícios da restauração ecológica com foco nas propriedades rurais. “O Corredor Caipira deve, e sabemos que irá, contribuir para o cumprimento de programas em todas essas diretrizes”, aposta Bosqueiro.

“Não queremos simplesmente plantar árvores, mas envolver a sociedade para que os diferentes setores entendam os motivos e os benefícios do que está sendo feito”, aponta Vidal.

No total, 3.668 pessoas participaram de cursos, oficinas e fóruns envolvendo adultos e crianças na primeira edição. O coordenador vê o aumento dos resultados no longo prazo. “Planta não toma fermento. Além do plantio, é preciso fazer a manutenção e envolver as pessoas em ações de educação. Tudo isso carece de tempo”, pondera.

Rubens Benini, coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e especialista em restauração da The Nature Conservancy (TNC), celebra os resultados do projeto no bioma mais degradado do País. Para ele, a iniciativa poderia ampliar a escala se conectando a outros projetos de restauração ativos na região. “Compartilhar essa experiência com os 550 membros do Pacto, por exemplo, poderia gerar maior conectividade e um esforço de recuperação integrado, otimizando esforços”, sugere.

Agrofloresta e primatas

A segunda fase do projeto prevê a implantação de uma agrofloresta de 5 hectares em benefício de pequenos agricultores. O resíduo de poda urbana deve ser utilizado na cobertura e fertilização do solo. A ideia é promover o trabalho do Tritura Pira, movimento da sociedade civil de Piracicaba que busca transformar a prática em política pública.

Outra novidade é a preservação do muriqui-do-sul. Maior primata das Américas, ele pode chegar a 1,60 m de comprimento e é classificado pelo Ministério do Meio Ambiente como espécie “em perigo”, principalmente em razão da fragmentação da Mata Atlântica. Árvores importantes na alimentação do animal devem estar entre as mudas selecionadas para o plantio. Também serão instaladas câmeras para acompanhar a movimentação do primata.

A previsão é de que sejam plantadas 90 mil novas mudas e feita a manutenção das 105 mil da primeira fase. A manutenção inclui o Banco Ativo de Germoplasma (BAG), construído para produzir sementes de qualidade. São 15 hectares com 25 mil mudas em crescimento para utilização de sementes em futuros reflorestamentos.

“Na nova fase, vamos fazer a manutenção do banco, incluindo trabalho de adubação e controle de gramíneas, para que essas mudas cresçam”, explica o engenheiro florestal Germano Chagas, técnico do projeto.

A prospecção de novas áreas para plantio deve ser feita até maio e a restauração tem conclusão prevista para 2026, um ano antes do encerramento da segunda etapa. A próxima fase prevê ainda 46 atividades como oficinas, mutirões e fóruns, além de seis cursos de formação com certificado emitido pela USP.

Resistência de proprietários

A principal dificuldade do projeto é a baixa adesão dos proprietários rurais. Com solo fértil e terreno plano, a região tem uma alta produtividade agrícola, sendo as culturas de cana de açúcar e eucalipto e a criação de gado as principais atividades. Trocar espaço produtivo por floresta é visto como prejuízo por alguns produtores diante do alto valor da terra.

Alguns deles chegam a usar áreas próximas aos rios como pasto, prática ilegal no Código Florestal, observa Chagas. Segundo o engenheiro, o poder público deveria cobrar e fiscalizar de maneira mais efetiva os produtores para que os passivos ambientais sejam cumpridos. Por outro lado, alguns proprietários aderem ao projeto para recuperar nascentes que secaram em seus terrenos. Do total restaurado, 76% estão em áreas privadas e apenas 24%, nas públicas.

O técnico sugere a criação do Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) como incentivo econômico a uma maior adesão dos proprietários, assim como ações de conscientização sobre a importância da restauração na produtividade rural. “Só o sombreamento do gado já garante um maior conforto animal, que produz mais carne e leite”, aponta. O solo bem drenado e saudável resultante de uma maior cobertura florestal também influencia positivamente no desenvolvimento das culturas.

Como o tempo de execução do projeto dobrou - de dois para quatro anos -, a expectativa da gestão de São Pedro é de que o convencimento dos proprietários avance na nova fase. “Para passar algumas porteiras, é necessário garantir a confiança dos proprietários rurais, que acontece, muitas vezes, após algumas tentativas consecutivas”, diz Bosqueiro. “Com o tempo otimizado, estamos focados em fortalecer as parcerias com os proprietários, intensificar a fiscalização municipal e implementar políticas de incentivo, como o PSA.”

A Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) e a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) afirmam apoiar o “Corredor Caipira” e outros projetos de restauração florestal na região. As entidades reconhecem a necessidade de mudança cultural entre os produtores rurais e dizem oferecer assistência técnica para conscientizá-los das possibilidades de ganhos com o reflorestamento.

“Assim que começam a ver os benefícios, os produtores tendem a aderir às práticas de reflorestamento, não só contribuindo com a sustentabilidade, mas para a rentabilidade das operações agrícolas”, afirma o presidente da Afocapi, José Coral. “Ações como essa contribuem para melhoria da qualidade da água, conservação da biodiversidade, regulação do clima e combate à erosão do solo, temas relacionados diretamente com nosso cooperado”, diz a engenheira ambiental Andrea Pavani, da Coplacana.

A segunda edição do programa “Corredor Caipira”, inaugurada em março deste ano, prevê reflorestar 50 hectares na região de Piracicaba, no interior de São Paulo, até 2028. Na primeira fase, que aconteceu de 2020 a 2022, 65 hectares foram restaurados em Piracicaba, Águas de São Pedro, São Pedro, Santa Maria da Serra e Anhembi, onde restam apenas 13% de cobertura florestal nativa.

O objetivo é conectar fragmentos florestais criando corredores ecológicos entre 18 municípios do interior de São Paulo. A iniciativa prevê ainda a manutenção dos 115 hectares restaurados nas duas fases do programa, além de ações de educação socioambiental, políticas públicas locais e comunicação.

Produção de mudas para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: GRÉGORY ANTONY

Patrocinado pela Petrobras, o projeto é realizado pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Segundo técnicos da iniciativa, o custo de restauração por hectare está entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, resultando em um investimento de cerca de R$ 3 milhões para atingir o reflorestamento de 115 hectares.

Os locais prioritários para restauração são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) hídricas, com nível de 70% de degradação na região. O objetivo é recuperar nascentes e aumentar a produção de água, fortalecendo o abastecimento hídrico. Quando reflorestadas, áreas de cursos d’água fornecem 20 vezes mais águas do que aquelas sem cobertura vegetal, cita Edson Vidal, professor da Esalq/USP e coordenador geral do projeto. “É um serviço fantástico”, diz.

Até agora, 17 nascentes foram recuperadas pelo projeto. “É preciso mais floresta para termos benefícios ambientais como temperaturas mais reguladas e menos enchentes”, diz Henrique de Campos, engenheiro agrônomo e técnico da iniciativa. “Precisamos agregar esforços para que isso se amplie e perdure.”

Segundo a Petrobras, “as ações de restauro não têm por objetivo equacionar todo o déficit de áreas degradadas de uma determinada região, mas fomentar parcerias e contribuir para estruturar a cadeia de valor do restauro”. A cada R$ 1 aplicado em projetos socioambientais pela companhia, R$ 5 são revertidos em benefícios socioambientais, de acordo com a empresa, que não divulgou os valores de orçamento destinados ao projeto.

Membros do Corredor Caipira em trabalho na floresta para recuperar nascentes e aumentar a produção de água Foto: Jessica Lane

Impacto multiplicado

As ações de educação ambiental, comunicação e políticas públicas têm aumentado o impacto do “Corredor Caipira”. Em São Pedro, onde pouco mais de 13 hectares foram plantados, o apoio técnico do projeto foi crucial para a criação do Plano Municipal de Mata Atlântica e Cerrado (PMMAC), que prevê a restauração de 10 mil hectares até 2035.

“Depois de um diagnóstico bem aprofundado sobre nosso território, identificamos os principais problemas públicos e desenhamos o cenário ideal para a preservação, conservação e recuperação das nossas florestas e combate às mudanças climáticas a nível local”, diz Rogério Bosqueiro, coordenador de meio ambiente do município.

A expectativa do poder Executivo é de que o programa seja aprovado pelo Legislativo ainda no primeiro semestre deste ano. O PMMAC inclui a criação de um viveiro e de um banco municipal de áreas disponíveis para compensação ambiental, além de ações de educação ambiental e conscientização sobre meios e benefícios da restauração ecológica com foco nas propriedades rurais. “O Corredor Caipira deve, e sabemos que irá, contribuir para o cumprimento de programas em todas essas diretrizes”, aposta Bosqueiro.

“Não queremos simplesmente plantar árvores, mas envolver a sociedade para que os diferentes setores entendam os motivos e os benefícios do que está sendo feito”, aponta Vidal.

No total, 3.668 pessoas participaram de cursos, oficinas e fóruns envolvendo adultos e crianças na primeira edição. O coordenador vê o aumento dos resultados no longo prazo. “Planta não toma fermento. Além do plantio, é preciso fazer a manutenção e envolver as pessoas em ações de educação. Tudo isso carece de tempo”, pondera.

Rubens Benini, coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e especialista em restauração da The Nature Conservancy (TNC), celebra os resultados do projeto no bioma mais degradado do País. Para ele, a iniciativa poderia ampliar a escala se conectando a outros projetos de restauração ativos na região. “Compartilhar essa experiência com os 550 membros do Pacto, por exemplo, poderia gerar maior conectividade e um esforço de recuperação integrado, otimizando esforços”, sugere.

Agrofloresta e primatas

A segunda fase do projeto prevê a implantação de uma agrofloresta de 5 hectares em benefício de pequenos agricultores. O resíduo de poda urbana deve ser utilizado na cobertura e fertilização do solo. A ideia é promover o trabalho do Tritura Pira, movimento da sociedade civil de Piracicaba que busca transformar a prática em política pública.

Outra novidade é a preservação do muriqui-do-sul. Maior primata das Américas, ele pode chegar a 1,60 m de comprimento e é classificado pelo Ministério do Meio Ambiente como espécie “em perigo”, principalmente em razão da fragmentação da Mata Atlântica. Árvores importantes na alimentação do animal devem estar entre as mudas selecionadas para o plantio. Também serão instaladas câmeras para acompanhar a movimentação do primata.

A previsão é de que sejam plantadas 90 mil novas mudas e feita a manutenção das 105 mil da primeira fase. A manutenção inclui o Banco Ativo de Germoplasma (BAG), construído para produzir sementes de qualidade. São 15 hectares com 25 mil mudas em crescimento para utilização de sementes em futuros reflorestamentos.

“Na nova fase, vamos fazer a manutenção do banco, incluindo trabalho de adubação e controle de gramíneas, para que essas mudas cresçam”, explica o engenheiro florestal Germano Chagas, técnico do projeto.

A prospecção de novas áreas para plantio deve ser feita até maio e a restauração tem conclusão prevista para 2026, um ano antes do encerramento da segunda etapa. A próxima fase prevê ainda 46 atividades como oficinas, mutirões e fóruns, além de seis cursos de formação com certificado emitido pela USP.

Resistência de proprietários

A principal dificuldade do projeto é a baixa adesão dos proprietários rurais. Com solo fértil e terreno plano, a região tem uma alta produtividade agrícola, sendo as culturas de cana de açúcar e eucalipto e a criação de gado as principais atividades. Trocar espaço produtivo por floresta é visto como prejuízo por alguns produtores diante do alto valor da terra.

Alguns deles chegam a usar áreas próximas aos rios como pasto, prática ilegal no Código Florestal, observa Chagas. Segundo o engenheiro, o poder público deveria cobrar e fiscalizar de maneira mais efetiva os produtores para que os passivos ambientais sejam cumpridos. Por outro lado, alguns proprietários aderem ao projeto para recuperar nascentes que secaram em seus terrenos. Do total restaurado, 76% estão em áreas privadas e apenas 24%, nas públicas.

O técnico sugere a criação do Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) como incentivo econômico a uma maior adesão dos proprietários, assim como ações de conscientização sobre a importância da restauração na produtividade rural. “Só o sombreamento do gado já garante um maior conforto animal, que produz mais carne e leite”, aponta. O solo bem drenado e saudável resultante de uma maior cobertura florestal também influencia positivamente no desenvolvimento das culturas.

Como o tempo de execução do projeto dobrou - de dois para quatro anos -, a expectativa da gestão de São Pedro é de que o convencimento dos proprietários avance na nova fase. “Para passar algumas porteiras, é necessário garantir a confiança dos proprietários rurais, que acontece, muitas vezes, após algumas tentativas consecutivas”, diz Bosqueiro. “Com o tempo otimizado, estamos focados em fortalecer as parcerias com os proprietários, intensificar a fiscalização municipal e implementar políticas de incentivo, como o PSA.”

A Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) e a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) afirmam apoiar o “Corredor Caipira” e outros projetos de restauração florestal na região. As entidades reconhecem a necessidade de mudança cultural entre os produtores rurais e dizem oferecer assistência técnica para conscientizá-los das possibilidades de ganhos com o reflorestamento.

“Assim que começam a ver os benefícios, os produtores tendem a aderir às práticas de reflorestamento, não só contribuindo com a sustentabilidade, mas para a rentabilidade das operações agrícolas”, afirma o presidente da Afocapi, José Coral. “Ações como essa contribuem para melhoria da qualidade da água, conservação da biodiversidade, regulação do clima e combate à erosão do solo, temas relacionados diretamente com nosso cooperado”, diz a engenheira ambiental Andrea Pavani, da Coplacana.

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