A declaração que resultou do encontro de oito países na Cúpula da Amazônia nesta semana decepcionou especialistas e entidades, que esperavam compromissos mais ambiciosos. O texto assinado pelo Brasil e mais sete países que abrigam a floresta não trouxe a meta comum de desmatamento zero nem citou a suspensão dos planos de explorar petróleo na região, tema que opôs os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e colombiano, Gustavo Petro, que fez discurso enfático contra combustíveis fósseis.
Sobre a destruição da floresta, o documento menciona apenas “a urgência de pactuar metas comuns para 2030, (...) tendo como ideal o desmatamento zero”, que é a meta do governo brasileiro. Mas o texto, apresentado em Belém, sede do evento, nesta terça-feira, 8, não traz isso como obrigação para todo o bloco.
Além disso, a declaração fala apenas em “iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos” na Amazônia, mas não em eliminar projetos de exploração petrolífera.
Para Eduardo Viola, especialista em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), é “fraca” a declaração construída pelas nações sul-americanas. “Apenas um amontoado de objetivos, típico da verborragia latino-americana e do assembleísmo da esquerda latino-americana. Não tem foco; quer de tudo e não realiza nada”, critica.
“Me surpreendeu por não ter foco algum nem compromisso concreto, como aprovar o desmatamento zero até 2030 e proibir a exploração de petróleo na Amazônia. Não tem nada disso. E sabemos por que. Lula é um grande amante do petróleo”, afirma ele.
Na avaliação de Viola, a cúpula teve “resultados pobres”, o que deixa a credibilidade de Lula nas negociações climáticas “um tanto prejudicada”.
Um dos objetivos do petista ao reunir os países amazônicos, que não faziam esse encontro desde 2009, é unir esforços para a próxima Conferência do Clima, que será realizada em novembro em Dubai. Nesta quarta-feira, 9, uma nova declaração - desta vez das nações que abrigam florestas, incluindo Indonésia e Congo - cobrou recursos dos países desenvolvidos para frear a crise climática.