Secretário-geral do Observatório do Clima, a maior coalizão de ONGs do País ligadas à sustentabilidade, o ambientalista Márcio Astrini diz que faltou contundência à Declaração de Belém, divulgada na Cúpula da Amazônia, nesta terça-feira, 8, sobretudo no que diz respeito ao fim do desmatamento. “É uma lista de promessas”, disse em entrevista ao Estadão, ao comentar o documento assinado pelos oito países que abrigam a floresta em seu território, entre eles o Brasil.
“O mundo está derretendo. Não é possível que, diante de tudo o que está acontecendo, oito líderes de países amazônicos não consigam dizer com todas as letras ‘precisamos acabar com o desmatamento’, ‘acabou o tempo da derrubada de florestas’. Acho que faltou uma coisa mais contundente.”
O que o senhor achou do documento?
Bom, como não havia documento nenhum e agora existe um, dá para dizer que houve um avanço. Mas, a minha generosidade para por aí. O documento parece uma lista de resoluções para o Ano Novo. É uma lista de promessas.
O senhor acha que faltou contundência?
Sim. Podia ser muito melhor. O mundo está derretendo. Não é possível que, diante de tudo o que está acontecendo, oito líderes de países amazônicos não consigam dizer com todas as letras “precisamos acabar com o desmatamento”, “acabou o tempo da derrubada de florestas”. Acho que faltou uma coisa mais contundente. O documento fala em “salientando a urgência de pactuar”..... Ou seja, não tem nada pactuado.
O documento também não traz um veto claro à exploração de petróleo na Amazônia....
Não. Ele cita apenas uma questão da exploração de hidrocarbonetos, mas é basicamente o que já está escrito nas resoluções da ONU (o documento cita apenas “iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na Região Amazônica, no marco da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e de suas políticas nacionais e soberanas”).
Outros temas importantes, como monitoramento, combate a atividades ilegais e financiamento, estão presentes...
Sim, as outras coisas estão em forma de resolução de Ano Novo, mas estão: criar um painel de cientistas para estudar melhor a Amazônia, criar uma cooperação entre as polícias para reprimir o tráfico na fronteira, o crime ambiental e a biopirataria, criar um fundo comum para capacitação de recursos, pressionar os países ricos a cumprir a promessa de entregar os US$ 100 bilhões (para o combate ao desmatamento).
O senhor lamenta o documento?
Não lamento o documento. Lamento que o atual nível de ação dos países leve, no máximo, à produção de um documento assim.
O senhor acha que o documento atrapalha os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de assumir uma liderança política internacional do bloco?
Não, acho que para o Lula não. Ele vai fazer um salseiro com esse documento. Vai dizer que tentou até onde deu, que as metas do governo dele (desmatamento zero até 2030) são mais fortes do que as do documento, e que, mesmo assim, ele deu um passo atrás para estender a mão aos países e trazê-los para a discussão. Ele vai saber tirar proveito.