Cúpula do Clima em Bonn tenta impulsionar o Acordo de Paris


Objetivo é avançar nas negociações do “livro de regras” do tratado contra as mudanças climáticas e discutir aumento de ambição dos países no combate ao problema

Por Giovana Girardi
Atualização:
"Trump, carvão limpo não existe", dizem manifestantes em protesto na cidade de Bonn, na Alemanha, dois diasantes do início da conferência do clima Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Um ano no após o Acordo de Paris entrar em vigor – e alguns meses depois de o presidente Donald Trump ter anunciado que vai tirar o país do tratado –, começa nesta segunda-feira, 6, a 23.ª Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), com o desafio de manter os espíritos em alta e fazer caminhar o manual que vai definir exatamente como esse esforço mundial de combate às mudanças climáticas vai funcionar.

Sob a presidência de Fiji, país-ilha que está na mira da elevação do nível do mar, esta conferência deve também ter um componente emocional forte para que os países comecem a se mover em direção a tornar mais ambiciosos seus compromissos de redução de gases de efeito estufa.

É a primeira vez que um país-ilha preside esse tipo de conferência e o primeiro ministro de Fiji, Frank Bainimarama, já fez um apelo. “O sofrimento humano causado pela intensificação de furacões, incêndios florestais, secas, inundações e ameaças à segurança alimentar causados pelas mudanças climáticas significa que não há tempo para desperdiçar”, disse em comunicado à imprensa.

O Acordo de Paris foi fechado, em 2015, com cada uma dos 196 países dizendo com quanto poderia contribuir para combater o problema. As chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem, portanto, metas diferentes para cada um. Mas o objetivo é que, juntas elas sejam capazes de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C.

Mas desde 2015 já se sabe que esses compromissos são insuficientes para se atingir a meta, e o mundo ruma em direção aos 3°C de aquecimento. Relatório divulgado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris forem cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 – prazo colocado nas metas –, tornando “extremamente improvável” conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século. 

Pessoas marcham com cartaz que pede o fim dos crimes climáticos durante manifestação a dois dias do início da Conferência do Clima em Bonn Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Pelo acordo, porém, essas metas só devem ser revisadas em 2023, para valer a partir de 2030. Para tentar acelerar isso, Fiji promoveu ao longo deste ano um tipo de reunião comum no país, os chamados “diálogos talanoa”.

“A ideia deles é revisar o progressos até agora e criar um consenso, uma ideia comum entre todos os países sobre o que fazer para atender a meta. Fiji acha necessário uma conclusão de que os países devem revisar suas NDCs antes de 2020 para poder fechar a lacuna”, explica Mark Lutes, especialista em negociações internacionais do WWF Internacional.

Enigma americano

Esta conferência também começa com uma dúvida: como vão se comportar os Estados Unidos. Apesar de Trump ter anunciado em junho a intenção de retirar o país do acordo, na prática isso só pode ocorrer quatro anos depois da ratificação, ou seja, em outubro de 2020. E nesse meio tempo, negociadores americanos continuam participando das negociações. 

Nas reuniões prévias à COP ao longo do ano, diplomatas de carreira continuaram trabalhando nas posições tradicionais do país. Como exemplificou um negociador brasileiro, eles não estavam agindo de modo a romper com tudo. Ainda assim permanece a dúvida se eles tentarão bloquear o progresso do acordo. Também fica uma suspeita sobre como outros países vão reagir se os EUA forem muito reativos.

Livro de regras

Considerada uma “conferência de meio de caminho”, a COP em Bonn tem de começar a rascunhar o “livro de regras” de como vai funcionar o Acordo de Paris. Pelo cronograma, esse manual de instruções têm de estar pronto no ano que vem, na COP da Polônia, mas em Bonn espera-se que já se tenha um rascunho no qual seja possível trabalhar no ano que vem.

Esse livro de regras têm de, por exemplo, definir como as NDCs podem ser comparadas – cada país tem um prazo. A do Brasil prevê redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Já os Estados Unidos falam em redução de 26% a 28% em 2025, com base em 2005. A União Europeia promete 40% até 2030.

“Não houve padronização de como seriam as NDCs, compatibilização dos prazos, isso dificulta a comparação”, comenta o negociador-chefe do Brasil, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho.

Também é preciso definir como os países vão ampliar suas metas e como elas serão monitoradas e reportadas, e como será o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (um novo mecanismo de mercado de carbono).

“O Brasil vem defendendo a necessidade de concluirmos Bonn com um texto que tenha apropriação dos países. Que seja um pouco mais manejável na sua estrutura e número de opções que lá estão para começarmos o ano que vem já em cima disso”, explica Marcondes.

#precisamosfalarsobreoclima

A partir desta segunda, o blog Ambiente-se vai publicar uma série de artigos para explicar a importância das conferências climáticas, por que elas são importantes e vale a pena prestar atenção nelas. Os artigos estão sendo elaborados por Caroline Prolo, advogada especialista em Direito Ambiental do Stocche Forbes, consultora do International Institute for Environment and Development (IIED) e presta assessoria legal ao grupo dos países menos desenvolvidos.

"Trump, carvão limpo não existe", dizem manifestantes em protesto na cidade de Bonn, na Alemanha, dois diasantes do início da conferência do clima Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Um ano no após o Acordo de Paris entrar em vigor – e alguns meses depois de o presidente Donald Trump ter anunciado que vai tirar o país do tratado –, começa nesta segunda-feira, 6, a 23.ª Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), com o desafio de manter os espíritos em alta e fazer caminhar o manual que vai definir exatamente como esse esforço mundial de combate às mudanças climáticas vai funcionar.

Sob a presidência de Fiji, país-ilha que está na mira da elevação do nível do mar, esta conferência deve também ter um componente emocional forte para que os países comecem a se mover em direção a tornar mais ambiciosos seus compromissos de redução de gases de efeito estufa.

É a primeira vez que um país-ilha preside esse tipo de conferência e o primeiro ministro de Fiji, Frank Bainimarama, já fez um apelo. “O sofrimento humano causado pela intensificação de furacões, incêndios florestais, secas, inundações e ameaças à segurança alimentar causados pelas mudanças climáticas significa que não há tempo para desperdiçar”, disse em comunicado à imprensa.

O Acordo de Paris foi fechado, em 2015, com cada uma dos 196 países dizendo com quanto poderia contribuir para combater o problema. As chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem, portanto, metas diferentes para cada um. Mas o objetivo é que, juntas elas sejam capazes de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C.

Mas desde 2015 já se sabe que esses compromissos são insuficientes para se atingir a meta, e o mundo ruma em direção aos 3°C de aquecimento. Relatório divulgado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris forem cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 – prazo colocado nas metas –, tornando “extremamente improvável” conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século. 

Pessoas marcham com cartaz que pede o fim dos crimes climáticos durante manifestação a dois dias do início da Conferência do Clima em Bonn Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Pelo acordo, porém, essas metas só devem ser revisadas em 2023, para valer a partir de 2030. Para tentar acelerar isso, Fiji promoveu ao longo deste ano um tipo de reunião comum no país, os chamados “diálogos talanoa”.

“A ideia deles é revisar o progressos até agora e criar um consenso, uma ideia comum entre todos os países sobre o que fazer para atender a meta. Fiji acha necessário uma conclusão de que os países devem revisar suas NDCs antes de 2020 para poder fechar a lacuna”, explica Mark Lutes, especialista em negociações internacionais do WWF Internacional.

Enigma americano

Esta conferência também começa com uma dúvida: como vão se comportar os Estados Unidos. Apesar de Trump ter anunciado em junho a intenção de retirar o país do acordo, na prática isso só pode ocorrer quatro anos depois da ratificação, ou seja, em outubro de 2020. E nesse meio tempo, negociadores americanos continuam participando das negociações. 

Nas reuniões prévias à COP ao longo do ano, diplomatas de carreira continuaram trabalhando nas posições tradicionais do país. Como exemplificou um negociador brasileiro, eles não estavam agindo de modo a romper com tudo. Ainda assim permanece a dúvida se eles tentarão bloquear o progresso do acordo. Também fica uma suspeita sobre como outros países vão reagir se os EUA forem muito reativos.

Livro de regras

Considerada uma “conferência de meio de caminho”, a COP em Bonn tem de começar a rascunhar o “livro de regras” de como vai funcionar o Acordo de Paris. Pelo cronograma, esse manual de instruções têm de estar pronto no ano que vem, na COP da Polônia, mas em Bonn espera-se que já se tenha um rascunho no qual seja possível trabalhar no ano que vem.

Esse livro de regras têm de, por exemplo, definir como as NDCs podem ser comparadas – cada país tem um prazo. A do Brasil prevê redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Já os Estados Unidos falam em redução de 26% a 28% em 2025, com base em 2005. A União Europeia promete 40% até 2030.

“Não houve padronização de como seriam as NDCs, compatibilização dos prazos, isso dificulta a comparação”, comenta o negociador-chefe do Brasil, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho.

Também é preciso definir como os países vão ampliar suas metas e como elas serão monitoradas e reportadas, e como será o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (um novo mecanismo de mercado de carbono).

“O Brasil vem defendendo a necessidade de concluirmos Bonn com um texto que tenha apropriação dos países. Que seja um pouco mais manejável na sua estrutura e número de opções que lá estão para começarmos o ano que vem já em cima disso”, explica Marcondes.

#precisamosfalarsobreoclima

A partir desta segunda, o blog Ambiente-se vai publicar uma série de artigos para explicar a importância das conferências climáticas, por que elas são importantes e vale a pena prestar atenção nelas. Os artigos estão sendo elaborados por Caroline Prolo, advogada especialista em Direito Ambiental do Stocche Forbes, consultora do International Institute for Environment and Development (IIED) e presta assessoria legal ao grupo dos países menos desenvolvidos.

"Trump, carvão limpo não existe", dizem manifestantes em protesto na cidade de Bonn, na Alemanha, dois diasantes do início da conferência do clima Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Um ano no após o Acordo de Paris entrar em vigor – e alguns meses depois de o presidente Donald Trump ter anunciado que vai tirar o país do tratado –, começa nesta segunda-feira, 6, a 23.ª Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), com o desafio de manter os espíritos em alta e fazer caminhar o manual que vai definir exatamente como esse esforço mundial de combate às mudanças climáticas vai funcionar.

Sob a presidência de Fiji, país-ilha que está na mira da elevação do nível do mar, esta conferência deve também ter um componente emocional forte para que os países comecem a se mover em direção a tornar mais ambiciosos seus compromissos de redução de gases de efeito estufa.

É a primeira vez que um país-ilha preside esse tipo de conferência e o primeiro ministro de Fiji, Frank Bainimarama, já fez um apelo. “O sofrimento humano causado pela intensificação de furacões, incêndios florestais, secas, inundações e ameaças à segurança alimentar causados pelas mudanças climáticas significa que não há tempo para desperdiçar”, disse em comunicado à imprensa.

O Acordo de Paris foi fechado, em 2015, com cada uma dos 196 países dizendo com quanto poderia contribuir para combater o problema. As chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem, portanto, metas diferentes para cada um. Mas o objetivo é que, juntas elas sejam capazes de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C.

Mas desde 2015 já se sabe que esses compromissos são insuficientes para se atingir a meta, e o mundo ruma em direção aos 3°C de aquecimento. Relatório divulgado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris forem cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 – prazo colocado nas metas –, tornando “extremamente improvável” conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século. 

Pessoas marcham com cartaz que pede o fim dos crimes climáticos durante manifestação a dois dias do início da Conferência do Clima em Bonn Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Pelo acordo, porém, essas metas só devem ser revisadas em 2023, para valer a partir de 2030. Para tentar acelerar isso, Fiji promoveu ao longo deste ano um tipo de reunião comum no país, os chamados “diálogos talanoa”.

“A ideia deles é revisar o progressos até agora e criar um consenso, uma ideia comum entre todos os países sobre o que fazer para atender a meta. Fiji acha necessário uma conclusão de que os países devem revisar suas NDCs antes de 2020 para poder fechar a lacuna”, explica Mark Lutes, especialista em negociações internacionais do WWF Internacional.

Enigma americano

Esta conferência também começa com uma dúvida: como vão se comportar os Estados Unidos. Apesar de Trump ter anunciado em junho a intenção de retirar o país do acordo, na prática isso só pode ocorrer quatro anos depois da ratificação, ou seja, em outubro de 2020. E nesse meio tempo, negociadores americanos continuam participando das negociações. 

Nas reuniões prévias à COP ao longo do ano, diplomatas de carreira continuaram trabalhando nas posições tradicionais do país. Como exemplificou um negociador brasileiro, eles não estavam agindo de modo a romper com tudo. Ainda assim permanece a dúvida se eles tentarão bloquear o progresso do acordo. Também fica uma suspeita sobre como outros países vão reagir se os EUA forem muito reativos.

Livro de regras

Considerada uma “conferência de meio de caminho”, a COP em Bonn tem de começar a rascunhar o “livro de regras” de como vai funcionar o Acordo de Paris. Pelo cronograma, esse manual de instruções têm de estar pronto no ano que vem, na COP da Polônia, mas em Bonn espera-se que já se tenha um rascunho no qual seja possível trabalhar no ano que vem.

Esse livro de regras têm de, por exemplo, definir como as NDCs podem ser comparadas – cada país tem um prazo. A do Brasil prevê redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Já os Estados Unidos falam em redução de 26% a 28% em 2025, com base em 2005. A União Europeia promete 40% até 2030.

“Não houve padronização de como seriam as NDCs, compatibilização dos prazos, isso dificulta a comparação”, comenta o negociador-chefe do Brasil, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho.

Também é preciso definir como os países vão ampliar suas metas e como elas serão monitoradas e reportadas, e como será o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (um novo mecanismo de mercado de carbono).

“O Brasil vem defendendo a necessidade de concluirmos Bonn com um texto que tenha apropriação dos países. Que seja um pouco mais manejável na sua estrutura e número de opções que lá estão para começarmos o ano que vem já em cima disso”, explica Marcondes.

#precisamosfalarsobreoclima

A partir desta segunda, o blog Ambiente-se vai publicar uma série de artigos para explicar a importância das conferências climáticas, por que elas são importantes e vale a pena prestar atenção nelas. Os artigos estão sendo elaborados por Caroline Prolo, advogada especialista em Direito Ambiental do Stocche Forbes, consultora do International Institute for Environment and Development (IIED) e presta assessoria legal ao grupo dos países menos desenvolvidos.

"Trump, carvão limpo não existe", dizem manifestantes em protesto na cidade de Bonn, na Alemanha, dois diasantes do início da conferência do clima Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Um ano no após o Acordo de Paris entrar em vigor – e alguns meses depois de o presidente Donald Trump ter anunciado que vai tirar o país do tratado –, começa nesta segunda-feira, 6, a 23.ª Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), com o desafio de manter os espíritos em alta e fazer caminhar o manual que vai definir exatamente como esse esforço mundial de combate às mudanças climáticas vai funcionar.

Sob a presidência de Fiji, país-ilha que está na mira da elevação do nível do mar, esta conferência deve também ter um componente emocional forte para que os países comecem a se mover em direção a tornar mais ambiciosos seus compromissos de redução de gases de efeito estufa.

É a primeira vez que um país-ilha preside esse tipo de conferência e o primeiro ministro de Fiji, Frank Bainimarama, já fez um apelo. “O sofrimento humano causado pela intensificação de furacões, incêndios florestais, secas, inundações e ameaças à segurança alimentar causados pelas mudanças climáticas significa que não há tempo para desperdiçar”, disse em comunicado à imprensa.

O Acordo de Paris foi fechado, em 2015, com cada uma dos 196 países dizendo com quanto poderia contribuir para combater o problema. As chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem, portanto, metas diferentes para cada um. Mas o objetivo é que, juntas elas sejam capazes de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C.

Mas desde 2015 já se sabe que esses compromissos são insuficientes para se atingir a meta, e o mundo ruma em direção aos 3°C de aquecimento. Relatório divulgado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris forem cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 – prazo colocado nas metas –, tornando “extremamente improvável” conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século. 

Pessoas marcham com cartaz que pede o fim dos crimes climáticos durante manifestação a dois dias do início da Conferência do Clima em Bonn Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Pelo acordo, porém, essas metas só devem ser revisadas em 2023, para valer a partir de 2030. Para tentar acelerar isso, Fiji promoveu ao longo deste ano um tipo de reunião comum no país, os chamados “diálogos talanoa”.

“A ideia deles é revisar o progressos até agora e criar um consenso, uma ideia comum entre todos os países sobre o que fazer para atender a meta. Fiji acha necessário uma conclusão de que os países devem revisar suas NDCs antes de 2020 para poder fechar a lacuna”, explica Mark Lutes, especialista em negociações internacionais do WWF Internacional.

Enigma americano

Esta conferência também começa com uma dúvida: como vão se comportar os Estados Unidos. Apesar de Trump ter anunciado em junho a intenção de retirar o país do acordo, na prática isso só pode ocorrer quatro anos depois da ratificação, ou seja, em outubro de 2020. E nesse meio tempo, negociadores americanos continuam participando das negociações. 

Nas reuniões prévias à COP ao longo do ano, diplomatas de carreira continuaram trabalhando nas posições tradicionais do país. Como exemplificou um negociador brasileiro, eles não estavam agindo de modo a romper com tudo. Ainda assim permanece a dúvida se eles tentarão bloquear o progresso do acordo. Também fica uma suspeita sobre como outros países vão reagir se os EUA forem muito reativos.

Livro de regras

Considerada uma “conferência de meio de caminho”, a COP em Bonn tem de começar a rascunhar o “livro de regras” de como vai funcionar o Acordo de Paris. Pelo cronograma, esse manual de instruções têm de estar pronto no ano que vem, na COP da Polônia, mas em Bonn espera-se que já se tenha um rascunho no qual seja possível trabalhar no ano que vem.

Esse livro de regras têm de, por exemplo, definir como as NDCs podem ser comparadas – cada país tem um prazo. A do Brasil prevê redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Já os Estados Unidos falam em redução de 26% a 28% em 2025, com base em 2005. A União Europeia promete 40% até 2030.

“Não houve padronização de como seriam as NDCs, compatibilização dos prazos, isso dificulta a comparação”, comenta o negociador-chefe do Brasil, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho.

Também é preciso definir como os países vão ampliar suas metas e como elas serão monitoradas e reportadas, e como será o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (um novo mecanismo de mercado de carbono).

“O Brasil vem defendendo a necessidade de concluirmos Bonn com um texto que tenha apropriação dos países. Que seja um pouco mais manejável na sua estrutura e número de opções que lá estão para começarmos o ano que vem já em cima disso”, explica Marcondes.

#precisamosfalarsobreoclima

A partir desta segunda, o blog Ambiente-se vai publicar uma série de artigos para explicar a importância das conferências climáticas, por que elas são importantes e vale a pena prestar atenção nelas. Os artigos estão sendo elaborados por Caroline Prolo, advogada especialista em Direito Ambiental do Stocche Forbes, consultora do International Institute for Environment and Development (IIED) e presta assessoria legal ao grupo dos países menos desenvolvidos.

"Trump, carvão limpo não existe", dizem manifestantes em protesto na cidade de Bonn, na Alemanha, dois diasantes do início da conferência do clima Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Um ano no após o Acordo de Paris entrar em vigor – e alguns meses depois de o presidente Donald Trump ter anunciado que vai tirar o país do tratado –, começa nesta segunda-feira, 6, a 23.ª Conferência do Clima (COP) das Nações Unidas em Bonn (Alemanha), com o desafio de manter os espíritos em alta e fazer caminhar o manual que vai definir exatamente como esse esforço mundial de combate às mudanças climáticas vai funcionar.

Sob a presidência de Fiji, país-ilha que está na mira da elevação do nível do mar, esta conferência deve também ter um componente emocional forte para que os países comecem a se mover em direção a tornar mais ambiciosos seus compromissos de redução de gases de efeito estufa.

É a primeira vez que um país-ilha preside esse tipo de conferência e o primeiro ministro de Fiji, Frank Bainimarama, já fez um apelo. “O sofrimento humano causado pela intensificação de furacões, incêndios florestais, secas, inundações e ameaças à segurança alimentar causados pelas mudanças climáticas significa que não há tempo para desperdiçar”, disse em comunicado à imprensa.

O Acordo de Paris foi fechado, em 2015, com cada uma dos 196 países dizendo com quanto poderia contribuir para combater o problema. As chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem, portanto, metas diferentes para cada um. Mas o objetivo é que, juntas elas sejam capazes de limitar o aquecimento do planeta a bem menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C.

Mas desde 2015 já se sabe que esses compromissos são insuficientes para se atingir a meta, e o mundo ruma em direção aos 3°C de aquecimento. Relatório divulgado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris forem cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 – prazo colocado nas metas –, tornando “extremamente improvável” conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século. 

Pessoas marcham com cartaz que pede o fim dos crimes climáticos durante manifestação a dois dias do início da Conferência do Clima em Bonn Foto: Wolfgang Rattay / REUTERS

Pelo acordo, porém, essas metas só devem ser revisadas em 2023, para valer a partir de 2030. Para tentar acelerar isso, Fiji promoveu ao longo deste ano um tipo de reunião comum no país, os chamados “diálogos talanoa”.

“A ideia deles é revisar o progressos até agora e criar um consenso, uma ideia comum entre todos os países sobre o que fazer para atender a meta. Fiji acha necessário uma conclusão de que os países devem revisar suas NDCs antes de 2020 para poder fechar a lacuna”, explica Mark Lutes, especialista em negociações internacionais do WWF Internacional.

Enigma americano

Esta conferência também começa com uma dúvida: como vão se comportar os Estados Unidos. Apesar de Trump ter anunciado em junho a intenção de retirar o país do acordo, na prática isso só pode ocorrer quatro anos depois da ratificação, ou seja, em outubro de 2020. E nesse meio tempo, negociadores americanos continuam participando das negociações. 

Nas reuniões prévias à COP ao longo do ano, diplomatas de carreira continuaram trabalhando nas posições tradicionais do país. Como exemplificou um negociador brasileiro, eles não estavam agindo de modo a romper com tudo. Ainda assim permanece a dúvida se eles tentarão bloquear o progresso do acordo. Também fica uma suspeita sobre como outros países vão reagir se os EUA forem muito reativos.

Livro de regras

Considerada uma “conferência de meio de caminho”, a COP em Bonn tem de começar a rascunhar o “livro de regras” de como vai funcionar o Acordo de Paris. Pelo cronograma, esse manual de instruções têm de estar pronto no ano que vem, na COP da Polônia, mas em Bonn espera-se que já se tenha um rascunho no qual seja possível trabalhar no ano que vem.

Esse livro de regras têm de, por exemplo, definir como as NDCs podem ser comparadas – cada país tem um prazo. A do Brasil prevê redução de 37% das emissões até 2025 e de 43% até 2030, com base nos valores de 2005. Já os Estados Unidos falam em redução de 26% a 28% em 2025, com base em 2005. A União Europeia promete 40% até 2030.

“Não houve padronização de como seriam as NDCs, compatibilização dos prazos, isso dificulta a comparação”, comenta o negociador-chefe do Brasil, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho.

Também é preciso definir como os países vão ampliar suas metas e como elas serão monitoradas e reportadas, e como será o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (um novo mecanismo de mercado de carbono).

“O Brasil vem defendendo a necessidade de concluirmos Bonn com um texto que tenha apropriação dos países. Que seja um pouco mais manejável na sua estrutura e número de opções que lá estão para começarmos o ano que vem já em cima disso”, explica Marcondes.

#precisamosfalarsobreoclima

A partir desta segunda, o blog Ambiente-se vai publicar uma série de artigos para explicar a importância das conferências climáticas, por que elas são importantes e vale a pena prestar atenção nelas. Os artigos estão sendo elaborados por Caroline Prolo, advogada especialista em Direito Ambiental do Stocche Forbes, consultora do International Institute for Environment and Development (IIED) e presta assessoria legal ao grupo dos países menos desenvolvidos.

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