De jeans a tênis recicláveis, indústria da moda passa por transformação para ser mais sustentável


Aluguel de roupas, revenda, reparação e reutilização de materiais são algumas das práticas em defesa do meio ambiente já adotadas em grande escala

Por Eduardo Geraque
Atualização:

O jeans é um tecido universal, usado por quase todo mundo, e carregado de simbolismos dentro do universo da moda. E, ao olhar bem para ele, se percebe aqueles pequenos botões de metal em alguns pontos estratégicos da peça para reforçá-la. Os mesmos que dificultam, por exemplo, a reciclagem do tecido. Impossível tecer a velha e boa calça jeans sem os metais? Parece que não.

Um projeto mundial coordenado pela Fundação Ellen MacArthur desafiou os grandes fabricantes de jeans a provar que a reutilização e reciclagem das peças eram possíveis. No início de 2019, 72 grandes corporações transnacionais toparam o desafio. Em 31 de maio de 2021, mesmo com o projeto sendo atravessado pela pandemia, surgiram os primeiros resultados. Mais de 500 mil peças de jeans foram colocadas no mercado, seguindo o conjunto de princípios estabelecidos no programa. E 65% das marcas conseguiram fazer peças de qualidade, e reforçadas, sem os botões de metal.

“A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, por isso, nos últimos anos, passou por um processo importante de reformulação que caminha na direção da economia circular, apesar de ainda ter muita coisa para ser feita”, afirma Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Em linhas gerais, segundo a especialista, o modelo de negócio do setor têxtil, inclusive no Brasil, passou a ter uma preocupação não apenas com a reciclagem e a reutilização dos produtos. Mas também com a menor toxicidade das suas linhas de produção e com os insumos que são utilizados nos tecidos, como o algodão.

Osklen, em parceria com o Instituto-E, usa couro de pirarucu em tênis e bolsas, dando novo propósito ao material, que normalmente é descartado para a obtenção da carne do peixe Foto: CHICO BATATA

A filosofia por trás da economia circular é simples. Sai o modelo econômico onde extrair, produzir e desperdiçar é a lógica e entra um outro, baseado até na retroalimentação que existe no mundo natural, como o ciclo da chuva, por exemplo. Conforme define os princípios da Fundação Ellen MacArthur, uma organização fundada no Reino Unido, a “economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói um capital econômico, natural e social”.

E tudo se baseia em três princípios básicos: eliminação de resíduos e da poluição desde o início, manutenção dos produtos e dos materiais em uso o máximo possível e a regeneração dos sistemas naturais, com a interferência humana sendo feita de forma positiva, e não o contrário. No mundo real, onde as contas precisam fechar e os consumidores serem atendidos em suas preferências, existem várias empresas avançando com projetos na linha da economia circular.

“É um tema que tratamos de forma transversal e que faz parte, de forma central, do nosso modelo de negócio”, afirma Eduardo Ferlauto, gerente geral de Sustentabilidade da Lojas Renner. Uma das iniciativas do grupo, por exemplo, foi ter atraído toda uma cadeia de fornecedores para o assunto, ao passar a usar apenas algodão certificado em suas linhas de produção. “E isso teve até um efeito colateral. Porque nossos fornecedores também vendem para outros grupos do setor têxtil”, explica o executivo.

O selo Re - Moda Responsável, desenvolvido pela empresa, identifica com uma tag as peças da Renner que possuem algum atributo de menor impacto. Dessa forma, os consumidores conseguem saber, por exemplo, que 99% dos jeans comercializados são feitos com matérias-primas ou processos de menor impacto, como o algodão certificado.

A marca Osklen, há muito tempo, desde 1989, quando o debate ambiental ainda era embrionário no setor privado, interioriza conceitos ambientais e sociais em sua linha de produção, em parceria com o Instituto-E. Como costuma dizer Oskar Metsavaht, fundador da empresa e presidente do Instituto, ser 100% sustentável ainda é um desafio, mas é preciso dar o primeiro passo. No caso das camisetas produzidas pela marca, 100% das peças usam fibras naturais e processos sustentáveis, contando o tingimento, o amaciamento e as estampas.

Os solados dos tênis também são 100% recicláveis com a reutilização de aparas de borracha e o uso de resíduos de palha de arroz ou cortiça. Várias das linhas de produção da empresa têm conexão com as comunidades tradicionais da Amazônia. São projetos que ajudam a manter a floresta em pé.

“A Osklen atua com o conceito de economia circular desde o seu início, dentro do conceito ASAP (As Sustainable As Possible As Soon As Possible), concebido por mim no início dos primeiros projetos há 20 anos, quando percebi que ser 100% sustentável era tão difícil e distante, pois uma economia baseada na indústria explorativa de mais de 200 anos não iria se transformar em uma economia verde da noite para o dia. Percebi que estávamos e estamos, em um período de transição, onde as práticas seriam desenvolvidas aos poucos, criando novos métodos e conceitos. E foi nisto que me baseei a construir este nosso projeto transformador da indústria da moda”, afirma Metsavaht, diretor criativo da Osklen e presidente do Instituto-E.

Se a economia circular virou uma cultura no dia a dia do grupo, o criador da ideia concorda que, para a indústria da moda de uma forma geral, apesar de vários avanços, ainda falta muito pela frente. “A moda tem sido destaque neste assunto da economia circular, seja do ponto de vista positivo ou negativo, muito porque é a segunda indústria mais poluente do mundo e por conta da cultura de fast fashion (muita produção, e rápido) que vinha sendo alimentada por diversas marcas durante anos”, argumenta o diretor da Osklen.

Outros conceitos derivados da economia circular, como o aluguel de peças para serem usadas mais de uma vez ou a compra e venda de produtos usados em espécies de brechós 2.0 também passaram a fazer parte do cardápio dos grandes grupos. Há dois anos, por exemplo, a Arezzo, além de incorporar o Grupo Reserva, também adquiriu a TROC – plataforma online de artigos de segunda mão, que opera no segmento AB no Brasil. De acordo com o CEO do grupo, Alexandre Birman, ao investir na economia circular o grupo deu um passo importante para fortalecer sua visão de sustentabilidade.

“Aluguel, revenda, reparação e o refazer dos produtos. Muitos usuários para um mesmo item ou uma peça que pode ser muito usada por um mesmo consumidor. A indústria da moda, por ser um segmento muito questionado, está seguindo vários desses conceitos. Existem, no alto nível dos grupos, tanto no Brasil quanto no exterior, uma preocupação em construir, em se reinventar. O que precisamos, e isso faz parte do nosso trabalho, é ganhar mais escala”, afirma Luisa Santiago, da Ellen MacArthur.

O jeans é um tecido universal, usado por quase todo mundo, e carregado de simbolismos dentro do universo da moda. E, ao olhar bem para ele, se percebe aqueles pequenos botões de metal em alguns pontos estratégicos da peça para reforçá-la. Os mesmos que dificultam, por exemplo, a reciclagem do tecido. Impossível tecer a velha e boa calça jeans sem os metais? Parece que não.

Um projeto mundial coordenado pela Fundação Ellen MacArthur desafiou os grandes fabricantes de jeans a provar que a reutilização e reciclagem das peças eram possíveis. No início de 2019, 72 grandes corporações transnacionais toparam o desafio. Em 31 de maio de 2021, mesmo com o projeto sendo atravessado pela pandemia, surgiram os primeiros resultados. Mais de 500 mil peças de jeans foram colocadas no mercado, seguindo o conjunto de princípios estabelecidos no programa. E 65% das marcas conseguiram fazer peças de qualidade, e reforçadas, sem os botões de metal.

“A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, por isso, nos últimos anos, passou por um processo importante de reformulação que caminha na direção da economia circular, apesar de ainda ter muita coisa para ser feita”, afirma Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Em linhas gerais, segundo a especialista, o modelo de negócio do setor têxtil, inclusive no Brasil, passou a ter uma preocupação não apenas com a reciclagem e a reutilização dos produtos. Mas também com a menor toxicidade das suas linhas de produção e com os insumos que são utilizados nos tecidos, como o algodão.

Osklen, em parceria com o Instituto-E, usa couro de pirarucu em tênis e bolsas, dando novo propósito ao material, que normalmente é descartado para a obtenção da carne do peixe Foto: CHICO BATATA

A filosofia por trás da economia circular é simples. Sai o modelo econômico onde extrair, produzir e desperdiçar é a lógica e entra um outro, baseado até na retroalimentação que existe no mundo natural, como o ciclo da chuva, por exemplo. Conforme define os princípios da Fundação Ellen MacArthur, uma organização fundada no Reino Unido, a “economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói um capital econômico, natural e social”.

E tudo se baseia em três princípios básicos: eliminação de resíduos e da poluição desde o início, manutenção dos produtos e dos materiais em uso o máximo possível e a regeneração dos sistemas naturais, com a interferência humana sendo feita de forma positiva, e não o contrário. No mundo real, onde as contas precisam fechar e os consumidores serem atendidos em suas preferências, existem várias empresas avançando com projetos na linha da economia circular.

“É um tema que tratamos de forma transversal e que faz parte, de forma central, do nosso modelo de negócio”, afirma Eduardo Ferlauto, gerente geral de Sustentabilidade da Lojas Renner. Uma das iniciativas do grupo, por exemplo, foi ter atraído toda uma cadeia de fornecedores para o assunto, ao passar a usar apenas algodão certificado em suas linhas de produção. “E isso teve até um efeito colateral. Porque nossos fornecedores também vendem para outros grupos do setor têxtil”, explica o executivo.

O selo Re - Moda Responsável, desenvolvido pela empresa, identifica com uma tag as peças da Renner que possuem algum atributo de menor impacto. Dessa forma, os consumidores conseguem saber, por exemplo, que 99% dos jeans comercializados são feitos com matérias-primas ou processos de menor impacto, como o algodão certificado.

A marca Osklen, há muito tempo, desde 1989, quando o debate ambiental ainda era embrionário no setor privado, interioriza conceitos ambientais e sociais em sua linha de produção, em parceria com o Instituto-E. Como costuma dizer Oskar Metsavaht, fundador da empresa e presidente do Instituto, ser 100% sustentável ainda é um desafio, mas é preciso dar o primeiro passo. No caso das camisetas produzidas pela marca, 100% das peças usam fibras naturais e processos sustentáveis, contando o tingimento, o amaciamento e as estampas.

Os solados dos tênis também são 100% recicláveis com a reutilização de aparas de borracha e o uso de resíduos de palha de arroz ou cortiça. Várias das linhas de produção da empresa têm conexão com as comunidades tradicionais da Amazônia. São projetos que ajudam a manter a floresta em pé.

“A Osklen atua com o conceito de economia circular desde o seu início, dentro do conceito ASAP (As Sustainable As Possible As Soon As Possible), concebido por mim no início dos primeiros projetos há 20 anos, quando percebi que ser 100% sustentável era tão difícil e distante, pois uma economia baseada na indústria explorativa de mais de 200 anos não iria se transformar em uma economia verde da noite para o dia. Percebi que estávamos e estamos, em um período de transição, onde as práticas seriam desenvolvidas aos poucos, criando novos métodos e conceitos. E foi nisto que me baseei a construir este nosso projeto transformador da indústria da moda”, afirma Metsavaht, diretor criativo da Osklen e presidente do Instituto-E.

Se a economia circular virou uma cultura no dia a dia do grupo, o criador da ideia concorda que, para a indústria da moda de uma forma geral, apesar de vários avanços, ainda falta muito pela frente. “A moda tem sido destaque neste assunto da economia circular, seja do ponto de vista positivo ou negativo, muito porque é a segunda indústria mais poluente do mundo e por conta da cultura de fast fashion (muita produção, e rápido) que vinha sendo alimentada por diversas marcas durante anos”, argumenta o diretor da Osklen.

Outros conceitos derivados da economia circular, como o aluguel de peças para serem usadas mais de uma vez ou a compra e venda de produtos usados em espécies de brechós 2.0 também passaram a fazer parte do cardápio dos grandes grupos. Há dois anos, por exemplo, a Arezzo, além de incorporar o Grupo Reserva, também adquiriu a TROC – plataforma online de artigos de segunda mão, que opera no segmento AB no Brasil. De acordo com o CEO do grupo, Alexandre Birman, ao investir na economia circular o grupo deu um passo importante para fortalecer sua visão de sustentabilidade.

“Aluguel, revenda, reparação e o refazer dos produtos. Muitos usuários para um mesmo item ou uma peça que pode ser muito usada por um mesmo consumidor. A indústria da moda, por ser um segmento muito questionado, está seguindo vários desses conceitos. Existem, no alto nível dos grupos, tanto no Brasil quanto no exterior, uma preocupação em construir, em se reinventar. O que precisamos, e isso faz parte do nosso trabalho, é ganhar mais escala”, afirma Luisa Santiago, da Ellen MacArthur.

O jeans é um tecido universal, usado por quase todo mundo, e carregado de simbolismos dentro do universo da moda. E, ao olhar bem para ele, se percebe aqueles pequenos botões de metal em alguns pontos estratégicos da peça para reforçá-la. Os mesmos que dificultam, por exemplo, a reciclagem do tecido. Impossível tecer a velha e boa calça jeans sem os metais? Parece que não.

Um projeto mundial coordenado pela Fundação Ellen MacArthur desafiou os grandes fabricantes de jeans a provar que a reutilização e reciclagem das peças eram possíveis. No início de 2019, 72 grandes corporações transnacionais toparam o desafio. Em 31 de maio de 2021, mesmo com o projeto sendo atravessado pela pandemia, surgiram os primeiros resultados. Mais de 500 mil peças de jeans foram colocadas no mercado, seguindo o conjunto de princípios estabelecidos no programa. E 65% das marcas conseguiram fazer peças de qualidade, e reforçadas, sem os botões de metal.

“A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, por isso, nos últimos anos, passou por um processo importante de reformulação que caminha na direção da economia circular, apesar de ainda ter muita coisa para ser feita”, afirma Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Em linhas gerais, segundo a especialista, o modelo de negócio do setor têxtil, inclusive no Brasil, passou a ter uma preocupação não apenas com a reciclagem e a reutilização dos produtos. Mas também com a menor toxicidade das suas linhas de produção e com os insumos que são utilizados nos tecidos, como o algodão.

Osklen, em parceria com o Instituto-E, usa couro de pirarucu em tênis e bolsas, dando novo propósito ao material, que normalmente é descartado para a obtenção da carne do peixe Foto: CHICO BATATA

A filosofia por trás da economia circular é simples. Sai o modelo econômico onde extrair, produzir e desperdiçar é a lógica e entra um outro, baseado até na retroalimentação que existe no mundo natural, como o ciclo da chuva, por exemplo. Conforme define os princípios da Fundação Ellen MacArthur, uma organização fundada no Reino Unido, a “economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói um capital econômico, natural e social”.

E tudo se baseia em três princípios básicos: eliminação de resíduos e da poluição desde o início, manutenção dos produtos e dos materiais em uso o máximo possível e a regeneração dos sistemas naturais, com a interferência humana sendo feita de forma positiva, e não o contrário. No mundo real, onde as contas precisam fechar e os consumidores serem atendidos em suas preferências, existem várias empresas avançando com projetos na linha da economia circular.

“É um tema que tratamos de forma transversal e que faz parte, de forma central, do nosso modelo de negócio”, afirma Eduardo Ferlauto, gerente geral de Sustentabilidade da Lojas Renner. Uma das iniciativas do grupo, por exemplo, foi ter atraído toda uma cadeia de fornecedores para o assunto, ao passar a usar apenas algodão certificado em suas linhas de produção. “E isso teve até um efeito colateral. Porque nossos fornecedores também vendem para outros grupos do setor têxtil”, explica o executivo.

O selo Re - Moda Responsável, desenvolvido pela empresa, identifica com uma tag as peças da Renner que possuem algum atributo de menor impacto. Dessa forma, os consumidores conseguem saber, por exemplo, que 99% dos jeans comercializados são feitos com matérias-primas ou processos de menor impacto, como o algodão certificado.

A marca Osklen, há muito tempo, desde 1989, quando o debate ambiental ainda era embrionário no setor privado, interioriza conceitos ambientais e sociais em sua linha de produção, em parceria com o Instituto-E. Como costuma dizer Oskar Metsavaht, fundador da empresa e presidente do Instituto, ser 100% sustentável ainda é um desafio, mas é preciso dar o primeiro passo. No caso das camisetas produzidas pela marca, 100% das peças usam fibras naturais e processos sustentáveis, contando o tingimento, o amaciamento e as estampas.

Os solados dos tênis também são 100% recicláveis com a reutilização de aparas de borracha e o uso de resíduos de palha de arroz ou cortiça. Várias das linhas de produção da empresa têm conexão com as comunidades tradicionais da Amazônia. São projetos que ajudam a manter a floresta em pé.

“A Osklen atua com o conceito de economia circular desde o seu início, dentro do conceito ASAP (As Sustainable As Possible As Soon As Possible), concebido por mim no início dos primeiros projetos há 20 anos, quando percebi que ser 100% sustentável era tão difícil e distante, pois uma economia baseada na indústria explorativa de mais de 200 anos não iria se transformar em uma economia verde da noite para o dia. Percebi que estávamos e estamos, em um período de transição, onde as práticas seriam desenvolvidas aos poucos, criando novos métodos e conceitos. E foi nisto que me baseei a construir este nosso projeto transformador da indústria da moda”, afirma Metsavaht, diretor criativo da Osklen e presidente do Instituto-E.

Se a economia circular virou uma cultura no dia a dia do grupo, o criador da ideia concorda que, para a indústria da moda de uma forma geral, apesar de vários avanços, ainda falta muito pela frente. “A moda tem sido destaque neste assunto da economia circular, seja do ponto de vista positivo ou negativo, muito porque é a segunda indústria mais poluente do mundo e por conta da cultura de fast fashion (muita produção, e rápido) que vinha sendo alimentada por diversas marcas durante anos”, argumenta o diretor da Osklen.

Outros conceitos derivados da economia circular, como o aluguel de peças para serem usadas mais de uma vez ou a compra e venda de produtos usados em espécies de brechós 2.0 também passaram a fazer parte do cardápio dos grandes grupos. Há dois anos, por exemplo, a Arezzo, além de incorporar o Grupo Reserva, também adquiriu a TROC – plataforma online de artigos de segunda mão, que opera no segmento AB no Brasil. De acordo com o CEO do grupo, Alexandre Birman, ao investir na economia circular o grupo deu um passo importante para fortalecer sua visão de sustentabilidade.

“Aluguel, revenda, reparação e o refazer dos produtos. Muitos usuários para um mesmo item ou uma peça que pode ser muito usada por um mesmo consumidor. A indústria da moda, por ser um segmento muito questionado, está seguindo vários desses conceitos. Existem, no alto nível dos grupos, tanto no Brasil quanto no exterior, uma preocupação em construir, em se reinventar. O que precisamos, e isso faz parte do nosso trabalho, é ganhar mais escala”, afirma Luisa Santiago, da Ellen MacArthur.

O jeans é um tecido universal, usado por quase todo mundo, e carregado de simbolismos dentro do universo da moda. E, ao olhar bem para ele, se percebe aqueles pequenos botões de metal em alguns pontos estratégicos da peça para reforçá-la. Os mesmos que dificultam, por exemplo, a reciclagem do tecido. Impossível tecer a velha e boa calça jeans sem os metais? Parece que não.

Um projeto mundial coordenado pela Fundação Ellen MacArthur desafiou os grandes fabricantes de jeans a provar que a reutilização e reciclagem das peças eram possíveis. No início de 2019, 72 grandes corporações transnacionais toparam o desafio. Em 31 de maio de 2021, mesmo com o projeto sendo atravessado pela pandemia, surgiram os primeiros resultados. Mais de 500 mil peças de jeans foram colocadas no mercado, seguindo o conjunto de princípios estabelecidos no programa. E 65% das marcas conseguiram fazer peças de qualidade, e reforçadas, sem os botões de metal.

“A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, por isso, nos últimos anos, passou por um processo importante de reformulação que caminha na direção da economia circular, apesar de ainda ter muita coisa para ser feita”, afirma Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Em linhas gerais, segundo a especialista, o modelo de negócio do setor têxtil, inclusive no Brasil, passou a ter uma preocupação não apenas com a reciclagem e a reutilização dos produtos. Mas também com a menor toxicidade das suas linhas de produção e com os insumos que são utilizados nos tecidos, como o algodão.

Osklen, em parceria com o Instituto-E, usa couro de pirarucu em tênis e bolsas, dando novo propósito ao material, que normalmente é descartado para a obtenção da carne do peixe Foto: CHICO BATATA

A filosofia por trás da economia circular é simples. Sai o modelo econômico onde extrair, produzir e desperdiçar é a lógica e entra um outro, baseado até na retroalimentação que existe no mundo natural, como o ciclo da chuva, por exemplo. Conforme define os princípios da Fundação Ellen MacArthur, uma organização fundada no Reino Unido, a “economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói um capital econômico, natural e social”.

E tudo se baseia em três princípios básicos: eliminação de resíduos e da poluição desde o início, manutenção dos produtos e dos materiais em uso o máximo possível e a regeneração dos sistemas naturais, com a interferência humana sendo feita de forma positiva, e não o contrário. No mundo real, onde as contas precisam fechar e os consumidores serem atendidos em suas preferências, existem várias empresas avançando com projetos na linha da economia circular.

“É um tema que tratamos de forma transversal e que faz parte, de forma central, do nosso modelo de negócio”, afirma Eduardo Ferlauto, gerente geral de Sustentabilidade da Lojas Renner. Uma das iniciativas do grupo, por exemplo, foi ter atraído toda uma cadeia de fornecedores para o assunto, ao passar a usar apenas algodão certificado em suas linhas de produção. “E isso teve até um efeito colateral. Porque nossos fornecedores também vendem para outros grupos do setor têxtil”, explica o executivo.

O selo Re - Moda Responsável, desenvolvido pela empresa, identifica com uma tag as peças da Renner que possuem algum atributo de menor impacto. Dessa forma, os consumidores conseguem saber, por exemplo, que 99% dos jeans comercializados são feitos com matérias-primas ou processos de menor impacto, como o algodão certificado.

A marca Osklen, há muito tempo, desde 1989, quando o debate ambiental ainda era embrionário no setor privado, interioriza conceitos ambientais e sociais em sua linha de produção, em parceria com o Instituto-E. Como costuma dizer Oskar Metsavaht, fundador da empresa e presidente do Instituto, ser 100% sustentável ainda é um desafio, mas é preciso dar o primeiro passo. No caso das camisetas produzidas pela marca, 100% das peças usam fibras naturais e processos sustentáveis, contando o tingimento, o amaciamento e as estampas.

Os solados dos tênis também são 100% recicláveis com a reutilização de aparas de borracha e o uso de resíduos de palha de arroz ou cortiça. Várias das linhas de produção da empresa têm conexão com as comunidades tradicionais da Amazônia. São projetos que ajudam a manter a floresta em pé.

“A Osklen atua com o conceito de economia circular desde o seu início, dentro do conceito ASAP (As Sustainable As Possible As Soon As Possible), concebido por mim no início dos primeiros projetos há 20 anos, quando percebi que ser 100% sustentável era tão difícil e distante, pois uma economia baseada na indústria explorativa de mais de 200 anos não iria se transformar em uma economia verde da noite para o dia. Percebi que estávamos e estamos, em um período de transição, onde as práticas seriam desenvolvidas aos poucos, criando novos métodos e conceitos. E foi nisto que me baseei a construir este nosso projeto transformador da indústria da moda”, afirma Metsavaht, diretor criativo da Osklen e presidente do Instituto-E.

Se a economia circular virou uma cultura no dia a dia do grupo, o criador da ideia concorda que, para a indústria da moda de uma forma geral, apesar de vários avanços, ainda falta muito pela frente. “A moda tem sido destaque neste assunto da economia circular, seja do ponto de vista positivo ou negativo, muito porque é a segunda indústria mais poluente do mundo e por conta da cultura de fast fashion (muita produção, e rápido) que vinha sendo alimentada por diversas marcas durante anos”, argumenta o diretor da Osklen.

Outros conceitos derivados da economia circular, como o aluguel de peças para serem usadas mais de uma vez ou a compra e venda de produtos usados em espécies de brechós 2.0 também passaram a fazer parte do cardápio dos grandes grupos. Há dois anos, por exemplo, a Arezzo, além de incorporar o Grupo Reserva, também adquiriu a TROC – plataforma online de artigos de segunda mão, que opera no segmento AB no Brasil. De acordo com o CEO do grupo, Alexandre Birman, ao investir na economia circular o grupo deu um passo importante para fortalecer sua visão de sustentabilidade.

“Aluguel, revenda, reparação e o refazer dos produtos. Muitos usuários para um mesmo item ou uma peça que pode ser muito usada por um mesmo consumidor. A indústria da moda, por ser um segmento muito questionado, está seguindo vários desses conceitos. Existem, no alto nível dos grupos, tanto no Brasil quanto no exterior, uma preocupação em construir, em se reinventar. O que precisamos, e isso faz parte do nosso trabalho, é ganhar mais escala”, afirma Luisa Santiago, da Ellen MacArthur.

O jeans é um tecido universal, usado por quase todo mundo, e carregado de simbolismos dentro do universo da moda. E, ao olhar bem para ele, se percebe aqueles pequenos botões de metal em alguns pontos estratégicos da peça para reforçá-la. Os mesmos que dificultam, por exemplo, a reciclagem do tecido. Impossível tecer a velha e boa calça jeans sem os metais? Parece que não.

Um projeto mundial coordenado pela Fundação Ellen MacArthur desafiou os grandes fabricantes de jeans a provar que a reutilização e reciclagem das peças eram possíveis. No início de 2019, 72 grandes corporações transnacionais toparam o desafio. Em 31 de maio de 2021, mesmo com o projeto sendo atravessado pela pandemia, surgiram os primeiros resultados. Mais de 500 mil peças de jeans foram colocadas no mercado, seguindo o conjunto de princípios estabelecidos no programa. E 65% das marcas conseguiram fazer peças de qualidade, e reforçadas, sem os botões de metal.

“A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, por isso, nos últimos anos, passou por um processo importante de reformulação que caminha na direção da economia circular, apesar de ainda ter muita coisa para ser feita”, afirma Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Em linhas gerais, segundo a especialista, o modelo de negócio do setor têxtil, inclusive no Brasil, passou a ter uma preocupação não apenas com a reciclagem e a reutilização dos produtos. Mas também com a menor toxicidade das suas linhas de produção e com os insumos que são utilizados nos tecidos, como o algodão.

Osklen, em parceria com o Instituto-E, usa couro de pirarucu em tênis e bolsas, dando novo propósito ao material, que normalmente é descartado para a obtenção da carne do peixe Foto: CHICO BATATA

A filosofia por trás da economia circular é simples. Sai o modelo econômico onde extrair, produzir e desperdiçar é a lógica e entra um outro, baseado até na retroalimentação que existe no mundo natural, como o ciclo da chuva, por exemplo. Conforme define os princípios da Fundação Ellen MacArthur, uma organização fundada no Reino Unido, a “economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói um capital econômico, natural e social”.

E tudo se baseia em três princípios básicos: eliminação de resíduos e da poluição desde o início, manutenção dos produtos e dos materiais em uso o máximo possível e a regeneração dos sistemas naturais, com a interferência humana sendo feita de forma positiva, e não o contrário. No mundo real, onde as contas precisam fechar e os consumidores serem atendidos em suas preferências, existem várias empresas avançando com projetos na linha da economia circular.

“É um tema que tratamos de forma transversal e que faz parte, de forma central, do nosso modelo de negócio”, afirma Eduardo Ferlauto, gerente geral de Sustentabilidade da Lojas Renner. Uma das iniciativas do grupo, por exemplo, foi ter atraído toda uma cadeia de fornecedores para o assunto, ao passar a usar apenas algodão certificado em suas linhas de produção. “E isso teve até um efeito colateral. Porque nossos fornecedores também vendem para outros grupos do setor têxtil”, explica o executivo.

O selo Re - Moda Responsável, desenvolvido pela empresa, identifica com uma tag as peças da Renner que possuem algum atributo de menor impacto. Dessa forma, os consumidores conseguem saber, por exemplo, que 99% dos jeans comercializados são feitos com matérias-primas ou processos de menor impacto, como o algodão certificado.

A marca Osklen, há muito tempo, desde 1989, quando o debate ambiental ainda era embrionário no setor privado, interioriza conceitos ambientais e sociais em sua linha de produção, em parceria com o Instituto-E. Como costuma dizer Oskar Metsavaht, fundador da empresa e presidente do Instituto, ser 100% sustentável ainda é um desafio, mas é preciso dar o primeiro passo. No caso das camisetas produzidas pela marca, 100% das peças usam fibras naturais e processos sustentáveis, contando o tingimento, o amaciamento e as estampas.

Os solados dos tênis também são 100% recicláveis com a reutilização de aparas de borracha e o uso de resíduos de palha de arroz ou cortiça. Várias das linhas de produção da empresa têm conexão com as comunidades tradicionais da Amazônia. São projetos que ajudam a manter a floresta em pé.

“A Osklen atua com o conceito de economia circular desde o seu início, dentro do conceito ASAP (As Sustainable As Possible As Soon As Possible), concebido por mim no início dos primeiros projetos há 20 anos, quando percebi que ser 100% sustentável era tão difícil e distante, pois uma economia baseada na indústria explorativa de mais de 200 anos não iria se transformar em uma economia verde da noite para o dia. Percebi que estávamos e estamos, em um período de transição, onde as práticas seriam desenvolvidas aos poucos, criando novos métodos e conceitos. E foi nisto que me baseei a construir este nosso projeto transformador da indústria da moda”, afirma Metsavaht, diretor criativo da Osklen e presidente do Instituto-E.

Se a economia circular virou uma cultura no dia a dia do grupo, o criador da ideia concorda que, para a indústria da moda de uma forma geral, apesar de vários avanços, ainda falta muito pela frente. “A moda tem sido destaque neste assunto da economia circular, seja do ponto de vista positivo ou negativo, muito porque é a segunda indústria mais poluente do mundo e por conta da cultura de fast fashion (muita produção, e rápido) que vinha sendo alimentada por diversas marcas durante anos”, argumenta o diretor da Osklen.

Outros conceitos derivados da economia circular, como o aluguel de peças para serem usadas mais de uma vez ou a compra e venda de produtos usados em espécies de brechós 2.0 também passaram a fazer parte do cardápio dos grandes grupos. Há dois anos, por exemplo, a Arezzo, além de incorporar o Grupo Reserva, também adquiriu a TROC – plataforma online de artigos de segunda mão, que opera no segmento AB no Brasil. De acordo com o CEO do grupo, Alexandre Birman, ao investir na economia circular o grupo deu um passo importante para fortalecer sua visão de sustentabilidade.

“Aluguel, revenda, reparação e o refazer dos produtos. Muitos usuários para um mesmo item ou uma peça que pode ser muito usada por um mesmo consumidor. A indústria da moda, por ser um segmento muito questionado, está seguindo vários desses conceitos. Existem, no alto nível dos grupos, tanto no Brasil quanto no exterior, uma preocupação em construir, em se reinventar. O que precisamos, e isso faz parte do nosso trabalho, é ganhar mais escala”, afirma Luisa Santiago, da Ellen MacArthur.

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