O desmatamento na Amazônia brasileira caiu 61,3% em janeiro, no primeiro mês do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na comparação com o mesmo período de 2022, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 10. No total, foram destruídos 166,58 quilômetros quadrados de floresta, segundo dados por satélite do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os dados são parciais, uma vez que não captam o desmatamento em áreas cobertas por nuvens. Em janeiro de 2023, não foi possível observar, por esse motivo, 50,27% do território da Amazônia brasileira, enquanto que em janeiro de 2022 essa área era de 48,04%. O dado foi pior que em janeiro de 2021 (82,8 quilômetros quadrados), ou de 2019 (136 quilômetros quadrados), durante a gestão de Jair Bolsonaro, que relaxou o combate ao desmatamento e promoveu projetos polêmicos na região.
Especialistas explicam que reduções nos porcentuais de desmatamento são sempre positivas, mas ainda é cedo para atribuir a queda a ações concretas do novo governo.
“Certamente tem algum efeito (das ações do governo) porque no momento em que o governo aponta uma direção já diminui a sensação de impunidade”, afirmou o coordenador da rede MapBiomas, Tasso Azevedo. “Mas o resultado de janeiro não é necessariamente um reflexo disso. Pode ser a diferença do que foi possível observar, já que em janeiro tem muita nuvem. É um bom sinal, mas ainda não dá pra garantir seja um efeito dessas políticas.”
Em um comunicado, a organização WWF avaliou positivamente o dado de desmatamento de janeiro de 2023, ainda que tenha pontuado que não é possível falar sobre uma reversão da tendência de destruição da selva. Em 2022, último ano do governo Bolsonaro, a Amazônia brasileira perdeu 10.267 quilômetros quadrados de cobertura vegetal, um nível recorde desde que começou a medição por satélite.
“Acho que ainda é muito cedo para cravar que o desmatamento diminuiu por conta da ação do governo, sobretudo porque a cobertura de nuvens é muito grande em janeiro”, ressalta o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini. “Precisamos ai de uns quatro meses para estabelecer uma tendência de queda. Até maio já teremos uma noção melhor.”
O presidente Lula pôs entre suas prioridades a luta contra o desmatamento com objetivo de reduzi-lo a zero até 2030. Em seu primeiro mês de governo, Lula reativou o Fundo Amazônia, financiado por Noruega e Alemanha, revogou medidas polêmicas do governo Bolsonaro e motou um grupo com 17 ministérios para definir as políticas de conservação da floresta. No Brasil, o desmatamento é a principal causa de emissão de gases do efeito estufa.
Operações agem contra garimpo em terra Yanomami
A Polícia Federal (PF) começou nesta sexta-feira, 10, a operação para retirar garimpeiros de comunidades Yanomami em Roraima. A primeira etapa da chamada Operação Libertação tem dois objetivos: reunir provas sobre a ação dos invasores e destruir a infraestrutura usada pelos garimpeiros, inclusive maquinário.
Entre a segunda-feira, 6, e o início da noite de terça-feira, 7, foram destruídos, em uma ação do Ibama e da Funai, um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Foram apreendidas ainda duas armas e três barcos, com cerca de 5 mil litros de combustível.
Os órgãos instalaram uma base de controle no Rio Uraricoera, principal rota fluvial da região, para impedir o fluxo de suprimentos para os garimpos. Além de gasolina e diesel, os barcos apreendidos carregavam cerca de uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet.
Para os especialistas ouvidos, tais ações certamente desencorajam a ação de desmatadores.
“Ações de monitoramento de grupos de whatsapp revelam que os desmatadores estão com atenção redobrada, dentre outros sinais que a gente acompanha e já demonstram esse reflexo”, afirmou Tasso Azevedo.
Márcio Astrini concorda com o colega. “Já temos equipes do Ibama em campo, tivemos toda a crise Yanomami. Dia sim e outro também temos alguém do governo falando em crimes ambientais”, lembrou Astrini.
“Isso tudo tem um efeito. Até porque, para garimpeiros invadirem uma nova área indígena por exemplo, isso demanda um investimento alto. Quando há um desmonte de toda a área ambiental, o retorno é garantido. Mas agora, talvez eles estejam avaliando que não é o melhor momento pra isso.” /EFE, COLABORARAM ANDRÉ BORGES, ROBERTA JANSEN E RAYSSA MOTTA