Drones ajudam a reflorestar áreas destruídas pelas chuvas no litoral norte de SP


Projeto usa semeadura aérea para recuperar terrenos da Serra do Mar devastados pelo temporal de 2023

Por Juliana Domingos de Lima
Atualização:

Depois de quase um ano do temporal que devastou o litoral norte de São Paulo em 2023, deixando 64 mortos em São Sebastião, muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados pela chuva aos ecossistemas e à população.

Na Vila Sahy, território mais atingido, 300 famílias seguem vivendo em área de risco atualmente, segundo a presidente da associação de moradores Amovila, Ildes Andrade. No Parque Estadual da Serra do Mar, que é o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País, cerca de 200 hectares foram devastados.

Se, em um cenário de mudanças climáticas, a água que cai com intensidade cada vez maior preocupa, parte da solução ambiental também está vindo do céu: um projeto de restauração está usando drones para semear com cerca de 20 espécies nativas os locais onde a vegetação foi arrancada pela chuva.

Drones são utilizados para semear espécies nativas no Parque Estadual da Serra do Mar, o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País Foto: André Motta - ICC

A semeadura das áreas prioritárias de maior erosão e risco – um total de 9,57 hectares distribuídos em 29 deslizamentos, na Barra do Sahy, Baleia e As Ilhas – foi concluída neste início de 2024. Foram utilizados 6 kg de semente por hectare, o que totalizou 57,5 kg de sementes nas encostas nessa primeira fase. Os próximos plantios serão realizados a partir de março.

Fechando as cicatrizes

Segundo Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do Instituto Conservação Costeira (ICC), o objetivo do projeto é restaurar em três anos 851 “cicatrizes” na Serra do Mar abertas pelas chuvas de 2023. Esses pontos foram mapeados pelo instituto e pela Atlântica Consultoria Ambiental durante oito meses, e a escolha da semeadura com drone se deu principalmente em função da alta declividade do terreno.

O projeto nasceu da articulação entre o ICC e a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, que abriu um chamamento público para restaurar a área – do qual a multinacional Ambipar Group foi a vencedora.

“Fomos atrás de tecnologias que pudessem ser compatíveis com a nossa necessidade”, diz Carbonelli. Além dos locais de plantio íngremes e inacessíveis, a perda de nutrientes pelo solo, a salinidade e os ventos também dificultam a tarefa da restauração na Serra do Mar.

A diretora do ICC afirma que o uso do drone trouxe um ganho em escala e custo, além de permitir realizar o plantio sem o impacto de abrir acessos no parque.

Uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão; projeto custa R$3,5 milhões Foto: André Motta - ICC

O projeto de R$ 3,5 milhões foi custeado majoritariamente pela Concessionária Tamoios – como compensação ambiental pelos impactos causados pela rodovia –, com apoio de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas que mantêm o ICC.

O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destaca o caráter pioneiro do projeto. Antes dele, o órgão já havia feito uma semeadura de helicóptero na Serra do Mar em Cubatão, na década de 1980, plantio que serviu de referência para a elaboração do projeto com o uso de drones.

Segundo ele, uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão. Desde 2020, a fundação já vem utilizando drones para efetuar a dispersão aérea de sementes de palmeira juçara no estado, com bons resultados.

“É uma tecnologia que está sendo aplicada nessa escala no Brasil pela primeira vez e que é essencial para restaurar essas áreas. Estamos apostando muito em fomentar a utilização de novas tecnologias para projetos que vão precisar de uma abordagem diferente, e que serão cada vez mais comuns com o impacto das mudanças climáticas”, diz Levkovicz.

Cápsulas restauradoras

Já usados em outras funções pelo agro, os drones foram adaptados para a tarefa de despejar as sementes na quantidade, altura e localidade exatas, cálculos feitos com auxílio de inteligência artificial.

Os equipamentos são carregados não apenas com sementes, mas com biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar a partir de sobras de colágeno da indústria farmacêutica. O interior das cápsulas é enriquecido com adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido, que favorece a germinação aumentando a fixação e a umidade.

Biocápsulas têm adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido Foto: André Motta - ICC

Equipes da Fundação Florestal e do ICC estão monitorando o plantio com auxílio de um software de imagem. As metas de recuperação variam de acordo com a declividade do terreno.

A chegada da estação chuvosa coloca mais um obstáculo para a restauração, já que o plantio não pode ser feito durante as precipitações. Mas, até o momento, o ICC não registrou perdas provocadas pela chuva na semeadura já feita.

“É claro que isso não vai recompor a floresta do dia para a noite, mas é uma ação importante para induzir um processo de restauração natural dessas áreas. Na prática, jogar essas sementes ajuda a natureza a se reerguer”, diz o diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Ele lembra que a restauração também tem um papel na contenção dos deslizamentos: à medida que as plantas crescem, dão maior estabilidade para as encostas, diminuem o carregamento de lama e ajudam o solo a reter matéria orgânica, melhorando sua qualidade.

Inseridos na Mata Atlântica

O Instituto Conservação Costeira é uma entidade ambientalista da região que atua há cerca de uma década nos conselhos regionais, estaduais e municipais e junto à população para incidir sobre o crescimento urbano desordenado e promover a mitigação de riscos.

Segundo a presidente da associação de moradores da Vila Sahy Amovila, Ildes Andrade, o instituto tem tido um papel fundamental no monitoramento das moradias irregulares e em áreas de risco no Litoral Norte. Ela aponta a falta fiscalização pelo poder público e ser necessário “dar condição para as pessoas saírem dessas áreas com dignidade”.

O trabalho realizado pelo ICC em conjunto com as comunidades locais resultou na criação da Área de Proteção Ambiental Baleia/Sahy em 2013, uma unidade de conservação de mais de um milhão de metros quadrados entre as duas praias, que protege a flora e mais de 87 espécies de fauna em extinção.

“[A APA] é cercada por comunidades. A questão é justamente esses milhões de metros quadrados de pura Mata Atlântica servirem ali como uma piscina verde, porque é uma área de uma bacia hidrográfica muito complicada. Se não fosse a APA, não teriam acontecido 64 mortes em 2023, mas 500″, afirma a diretora-executiva do ICC Fernanda Carbonelli.

Seguindo o modus operandi do instituto, o projeto de restauração tem sido levado adiante em diálogo com os moradores da região. “Nós participamos como interlocutores”, diz a presidente da Amovila.

A iniciativa também prevê a capacitação de professores da rede pública estadual sobre o tema das mudanças climáticas e a formação de jovens para atuarem como agentes ambientais do projeto de restauração. “Tudo que for feito para reconstruir a Mata Atlântica é muito favorável para a comunidade e a associação, porque a gente está inserido nela”, diz Andrade.

Depois de quase um ano do temporal que devastou o litoral norte de São Paulo em 2023, deixando 64 mortos em São Sebastião, muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados pela chuva aos ecossistemas e à população.

Na Vila Sahy, território mais atingido, 300 famílias seguem vivendo em área de risco atualmente, segundo a presidente da associação de moradores Amovila, Ildes Andrade. No Parque Estadual da Serra do Mar, que é o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País, cerca de 200 hectares foram devastados.

Se, em um cenário de mudanças climáticas, a água que cai com intensidade cada vez maior preocupa, parte da solução ambiental também está vindo do céu: um projeto de restauração está usando drones para semear com cerca de 20 espécies nativas os locais onde a vegetação foi arrancada pela chuva.

Drones são utilizados para semear espécies nativas no Parque Estadual da Serra do Mar, o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País Foto: André Motta - ICC

A semeadura das áreas prioritárias de maior erosão e risco – um total de 9,57 hectares distribuídos em 29 deslizamentos, na Barra do Sahy, Baleia e As Ilhas – foi concluída neste início de 2024. Foram utilizados 6 kg de semente por hectare, o que totalizou 57,5 kg de sementes nas encostas nessa primeira fase. Os próximos plantios serão realizados a partir de março.

Fechando as cicatrizes

Segundo Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do Instituto Conservação Costeira (ICC), o objetivo do projeto é restaurar em três anos 851 “cicatrizes” na Serra do Mar abertas pelas chuvas de 2023. Esses pontos foram mapeados pelo instituto e pela Atlântica Consultoria Ambiental durante oito meses, e a escolha da semeadura com drone se deu principalmente em função da alta declividade do terreno.

O projeto nasceu da articulação entre o ICC e a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, que abriu um chamamento público para restaurar a área – do qual a multinacional Ambipar Group foi a vencedora.

“Fomos atrás de tecnologias que pudessem ser compatíveis com a nossa necessidade”, diz Carbonelli. Além dos locais de plantio íngremes e inacessíveis, a perda de nutrientes pelo solo, a salinidade e os ventos também dificultam a tarefa da restauração na Serra do Mar.

A diretora do ICC afirma que o uso do drone trouxe um ganho em escala e custo, além de permitir realizar o plantio sem o impacto de abrir acessos no parque.

Uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão; projeto custa R$3,5 milhões Foto: André Motta - ICC

O projeto de R$ 3,5 milhões foi custeado majoritariamente pela Concessionária Tamoios – como compensação ambiental pelos impactos causados pela rodovia –, com apoio de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas que mantêm o ICC.

O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destaca o caráter pioneiro do projeto. Antes dele, o órgão já havia feito uma semeadura de helicóptero na Serra do Mar em Cubatão, na década de 1980, plantio que serviu de referência para a elaboração do projeto com o uso de drones.

Segundo ele, uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão. Desde 2020, a fundação já vem utilizando drones para efetuar a dispersão aérea de sementes de palmeira juçara no estado, com bons resultados.

“É uma tecnologia que está sendo aplicada nessa escala no Brasil pela primeira vez e que é essencial para restaurar essas áreas. Estamos apostando muito em fomentar a utilização de novas tecnologias para projetos que vão precisar de uma abordagem diferente, e que serão cada vez mais comuns com o impacto das mudanças climáticas”, diz Levkovicz.

Cápsulas restauradoras

Já usados em outras funções pelo agro, os drones foram adaptados para a tarefa de despejar as sementes na quantidade, altura e localidade exatas, cálculos feitos com auxílio de inteligência artificial.

Os equipamentos são carregados não apenas com sementes, mas com biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar a partir de sobras de colágeno da indústria farmacêutica. O interior das cápsulas é enriquecido com adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido, que favorece a germinação aumentando a fixação e a umidade.

Biocápsulas têm adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido Foto: André Motta - ICC

Equipes da Fundação Florestal e do ICC estão monitorando o plantio com auxílio de um software de imagem. As metas de recuperação variam de acordo com a declividade do terreno.

A chegada da estação chuvosa coloca mais um obstáculo para a restauração, já que o plantio não pode ser feito durante as precipitações. Mas, até o momento, o ICC não registrou perdas provocadas pela chuva na semeadura já feita.

“É claro que isso não vai recompor a floresta do dia para a noite, mas é uma ação importante para induzir um processo de restauração natural dessas áreas. Na prática, jogar essas sementes ajuda a natureza a se reerguer”, diz o diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Ele lembra que a restauração também tem um papel na contenção dos deslizamentos: à medida que as plantas crescem, dão maior estabilidade para as encostas, diminuem o carregamento de lama e ajudam o solo a reter matéria orgânica, melhorando sua qualidade.

Inseridos na Mata Atlântica

O Instituto Conservação Costeira é uma entidade ambientalista da região que atua há cerca de uma década nos conselhos regionais, estaduais e municipais e junto à população para incidir sobre o crescimento urbano desordenado e promover a mitigação de riscos.

Segundo a presidente da associação de moradores da Vila Sahy Amovila, Ildes Andrade, o instituto tem tido um papel fundamental no monitoramento das moradias irregulares e em áreas de risco no Litoral Norte. Ela aponta a falta fiscalização pelo poder público e ser necessário “dar condição para as pessoas saírem dessas áreas com dignidade”.

O trabalho realizado pelo ICC em conjunto com as comunidades locais resultou na criação da Área de Proteção Ambiental Baleia/Sahy em 2013, uma unidade de conservação de mais de um milhão de metros quadrados entre as duas praias, que protege a flora e mais de 87 espécies de fauna em extinção.

“[A APA] é cercada por comunidades. A questão é justamente esses milhões de metros quadrados de pura Mata Atlântica servirem ali como uma piscina verde, porque é uma área de uma bacia hidrográfica muito complicada. Se não fosse a APA, não teriam acontecido 64 mortes em 2023, mas 500″, afirma a diretora-executiva do ICC Fernanda Carbonelli.

Seguindo o modus operandi do instituto, o projeto de restauração tem sido levado adiante em diálogo com os moradores da região. “Nós participamos como interlocutores”, diz a presidente da Amovila.

A iniciativa também prevê a capacitação de professores da rede pública estadual sobre o tema das mudanças climáticas e a formação de jovens para atuarem como agentes ambientais do projeto de restauração. “Tudo que for feito para reconstruir a Mata Atlântica é muito favorável para a comunidade e a associação, porque a gente está inserido nela”, diz Andrade.

Depois de quase um ano do temporal que devastou o litoral norte de São Paulo em 2023, deixando 64 mortos em São Sebastião, muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados pela chuva aos ecossistemas e à população.

Na Vila Sahy, território mais atingido, 300 famílias seguem vivendo em área de risco atualmente, segundo a presidente da associação de moradores Amovila, Ildes Andrade. No Parque Estadual da Serra do Mar, que é o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País, cerca de 200 hectares foram devastados.

Se, em um cenário de mudanças climáticas, a água que cai com intensidade cada vez maior preocupa, parte da solução ambiental também está vindo do céu: um projeto de restauração está usando drones para semear com cerca de 20 espécies nativas os locais onde a vegetação foi arrancada pela chuva.

Drones são utilizados para semear espécies nativas no Parque Estadual da Serra do Mar, o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País Foto: André Motta - ICC

A semeadura das áreas prioritárias de maior erosão e risco – um total de 9,57 hectares distribuídos em 29 deslizamentos, na Barra do Sahy, Baleia e As Ilhas – foi concluída neste início de 2024. Foram utilizados 6 kg de semente por hectare, o que totalizou 57,5 kg de sementes nas encostas nessa primeira fase. Os próximos plantios serão realizados a partir de março.

Fechando as cicatrizes

Segundo Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do Instituto Conservação Costeira (ICC), o objetivo do projeto é restaurar em três anos 851 “cicatrizes” na Serra do Mar abertas pelas chuvas de 2023. Esses pontos foram mapeados pelo instituto e pela Atlântica Consultoria Ambiental durante oito meses, e a escolha da semeadura com drone se deu principalmente em função da alta declividade do terreno.

O projeto nasceu da articulação entre o ICC e a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, que abriu um chamamento público para restaurar a área – do qual a multinacional Ambipar Group foi a vencedora.

“Fomos atrás de tecnologias que pudessem ser compatíveis com a nossa necessidade”, diz Carbonelli. Além dos locais de plantio íngremes e inacessíveis, a perda de nutrientes pelo solo, a salinidade e os ventos também dificultam a tarefa da restauração na Serra do Mar.

A diretora do ICC afirma que o uso do drone trouxe um ganho em escala e custo, além de permitir realizar o plantio sem o impacto de abrir acessos no parque.

Uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão; projeto custa R$3,5 milhões Foto: André Motta - ICC

O projeto de R$ 3,5 milhões foi custeado majoritariamente pela Concessionária Tamoios – como compensação ambiental pelos impactos causados pela rodovia –, com apoio de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas que mantêm o ICC.

O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destaca o caráter pioneiro do projeto. Antes dele, o órgão já havia feito uma semeadura de helicóptero na Serra do Mar em Cubatão, na década de 1980, plantio que serviu de referência para a elaboração do projeto com o uso de drones.

Segundo ele, uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão. Desde 2020, a fundação já vem utilizando drones para efetuar a dispersão aérea de sementes de palmeira juçara no estado, com bons resultados.

“É uma tecnologia que está sendo aplicada nessa escala no Brasil pela primeira vez e que é essencial para restaurar essas áreas. Estamos apostando muito em fomentar a utilização de novas tecnologias para projetos que vão precisar de uma abordagem diferente, e que serão cada vez mais comuns com o impacto das mudanças climáticas”, diz Levkovicz.

Cápsulas restauradoras

Já usados em outras funções pelo agro, os drones foram adaptados para a tarefa de despejar as sementes na quantidade, altura e localidade exatas, cálculos feitos com auxílio de inteligência artificial.

Os equipamentos são carregados não apenas com sementes, mas com biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar a partir de sobras de colágeno da indústria farmacêutica. O interior das cápsulas é enriquecido com adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido, que favorece a germinação aumentando a fixação e a umidade.

Biocápsulas têm adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido Foto: André Motta - ICC

Equipes da Fundação Florestal e do ICC estão monitorando o plantio com auxílio de um software de imagem. As metas de recuperação variam de acordo com a declividade do terreno.

A chegada da estação chuvosa coloca mais um obstáculo para a restauração, já que o plantio não pode ser feito durante as precipitações. Mas, até o momento, o ICC não registrou perdas provocadas pela chuva na semeadura já feita.

“É claro que isso não vai recompor a floresta do dia para a noite, mas é uma ação importante para induzir um processo de restauração natural dessas áreas. Na prática, jogar essas sementes ajuda a natureza a se reerguer”, diz o diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Ele lembra que a restauração também tem um papel na contenção dos deslizamentos: à medida que as plantas crescem, dão maior estabilidade para as encostas, diminuem o carregamento de lama e ajudam o solo a reter matéria orgânica, melhorando sua qualidade.

Inseridos na Mata Atlântica

O Instituto Conservação Costeira é uma entidade ambientalista da região que atua há cerca de uma década nos conselhos regionais, estaduais e municipais e junto à população para incidir sobre o crescimento urbano desordenado e promover a mitigação de riscos.

Segundo a presidente da associação de moradores da Vila Sahy Amovila, Ildes Andrade, o instituto tem tido um papel fundamental no monitoramento das moradias irregulares e em áreas de risco no Litoral Norte. Ela aponta a falta fiscalização pelo poder público e ser necessário “dar condição para as pessoas saírem dessas áreas com dignidade”.

O trabalho realizado pelo ICC em conjunto com as comunidades locais resultou na criação da Área de Proteção Ambiental Baleia/Sahy em 2013, uma unidade de conservação de mais de um milhão de metros quadrados entre as duas praias, que protege a flora e mais de 87 espécies de fauna em extinção.

“[A APA] é cercada por comunidades. A questão é justamente esses milhões de metros quadrados de pura Mata Atlântica servirem ali como uma piscina verde, porque é uma área de uma bacia hidrográfica muito complicada. Se não fosse a APA, não teriam acontecido 64 mortes em 2023, mas 500″, afirma a diretora-executiva do ICC Fernanda Carbonelli.

Seguindo o modus operandi do instituto, o projeto de restauração tem sido levado adiante em diálogo com os moradores da região. “Nós participamos como interlocutores”, diz a presidente da Amovila.

A iniciativa também prevê a capacitação de professores da rede pública estadual sobre o tema das mudanças climáticas e a formação de jovens para atuarem como agentes ambientais do projeto de restauração. “Tudo que for feito para reconstruir a Mata Atlântica é muito favorável para a comunidade e a associação, porque a gente está inserido nela”, diz Andrade.

Depois de quase um ano do temporal que devastou o litoral norte de São Paulo em 2023, deixando 64 mortos em São Sebastião, muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados pela chuva aos ecossistemas e à população.

Na Vila Sahy, território mais atingido, 300 famílias seguem vivendo em área de risco atualmente, segundo a presidente da associação de moradores Amovila, Ildes Andrade. No Parque Estadual da Serra do Mar, que é o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País, cerca de 200 hectares foram devastados.

Se, em um cenário de mudanças climáticas, a água que cai com intensidade cada vez maior preocupa, parte da solução ambiental também está vindo do céu: um projeto de restauração está usando drones para semear com cerca de 20 espécies nativas os locais onde a vegetação foi arrancada pela chuva.

Drones são utilizados para semear espécies nativas no Parque Estadual da Serra do Mar, o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País Foto: André Motta - ICC

A semeadura das áreas prioritárias de maior erosão e risco – um total de 9,57 hectares distribuídos em 29 deslizamentos, na Barra do Sahy, Baleia e As Ilhas – foi concluída neste início de 2024. Foram utilizados 6 kg de semente por hectare, o que totalizou 57,5 kg de sementes nas encostas nessa primeira fase. Os próximos plantios serão realizados a partir de março.

Fechando as cicatrizes

Segundo Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do Instituto Conservação Costeira (ICC), o objetivo do projeto é restaurar em três anos 851 “cicatrizes” na Serra do Mar abertas pelas chuvas de 2023. Esses pontos foram mapeados pelo instituto e pela Atlântica Consultoria Ambiental durante oito meses, e a escolha da semeadura com drone se deu principalmente em função da alta declividade do terreno.

O projeto nasceu da articulação entre o ICC e a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, que abriu um chamamento público para restaurar a área – do qual a multinacional Ambipar Group foi a vencedora.

“Fomos atrás de tecnologias que pudessem ser compatíveis com a nossa necessidade”, diz Carbonelli. Além dos locais de plantio íngremes e inacessíveis, a perda de nutrientes pelo solo, a salinidade e os ventos também dificultam a tarefa da restauração na Serra do Mar.

A diretora do ICC afirma que o uso do drone trouxe um ganho em escala e custo, além de permitir realizar o plantio sem o impacto de abrir acessos no parque.

Uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão; projeto custa R$3,5 milhões Foto: André Motta - ICC

O projeto de R$ 3,5 milhões foi custeado majoritariamente pela Concessionária Tamoios – como compensação ambiental pelos impactos causados pela rodovia –, com apoio de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas que mantêm o ICC.

O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destaca o caráter pioneiro do projeto. Antes dele, o órgão já havia feito uma semeadura de helicóptero na Serra do Mar em Cubatão, na década de 1980, plantio que serviu de referência para a elaboração do projeto com o uso de drones.

Segundo ele, uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão. Desde 2020, a fundação já vem utilizando drones para efetuar a dispersão aérea de sementes de palmeira juçara no estado, com bons resultados.

“É uma tecnologia que está sendo aplicada nessa escala no Brasil pela primeira vez e que é essencial para restaurar essas áreas. Estamos apostando muito em fomentar a utilização de novas tecnologias para projetos que vão precisar de uma abordagem diferente, e que serão cada vez mais comuns com o impacto das mudanças climáticas”, diz Levkovicz.

Cápsulas restauradoras

Já usados em outras funções pelo agro, os drones foram adaptados para a tarefa de despejar as sementes na quantidade, altura e localidade exatas, cálculos feitos com auxílio de inteligência artificial.

Os equipamentos são carregados não apenas com sementes, mas com biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar a partir de sobras de colágeno da indústria farmacêutica. O interior das cápsulas é enriquecido com adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido, que favorece a germinação aumentando a fixação e a umidade.

Biocápsulas têm adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido Foto: André Motta - ICC

Equipes da Fundação Florestal e do ICC estão monitorando o plantio com auxílio de um software de imagem. As metas de recuperação variam de acordo com a declividade do terreno.

A chegada da estação chuvosa coloca mais um obstáculo para a restauração, já que o plantio não pode ser feito durante as precipitações. Mas, até o momento, o ICC não registrou perdas provocadas pela chuva na semeadura já feita.

“É claro que isso não vai recompor a floresta do dia para a noite, mas é uma ação importante para induzir um processo de restauração natural dessas áreas. Na prática, jogar essas sementes ajuda a natureza a se reerguer”, diz o diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Ele lembra que a restauração também tem um papel na contenção dos deslizamentos: à medida que as plantas crescem, dão maior estabilidade para as encostas, diminuem o carregamento de lama e ajudam o solo a reter matéria orgânica, melhorando sua qualidade.

Inseridos na Mata Atlântica

O Instituto Conservação Costeira é uma entidade ambientalista da região que atua há cerca de uma década nos conselhos regionais, estaduais e municipais e junto à população para incidir sobre o crescimento urbano desordenado e promover a mitigação de riscos.

Segundo a presidente da associação de moradores da Vila Sahy Amovila, Ildes Andrade, o instituto tem tido um papel fundamental no monitoramento das moradias irregulares e em áreas de risco no Litoral Norte. Ela aponta a falta fiscalização pelo poder público e ser necessário “dar condição para as pessoas saírem dessas áreas com dignidade”.

O trabalho realizado pelo ICC em conjunto com as comunidades locais resultou na criação da Área de Proteção Ambiental Baleia/Sahy em 2013, uma unidade de conservação de mais de um milhão de metros quadrados entre as duas praias, que protege a flora e mais de 87 espécies de fauna em extinção.

“[A APA] é cercada por comunidades. A questão é justamente esses milhões de metros quadrados de pura Mata Atlântica servirem ali como uma piscina verde, porque é uma área de uma bacia hidrográfica muito complicada. Se não fosse a APA, não teriam acontecido 64 mortes em 2023, mas 500″, afirma a diretora-executiva do ICC Fernanda Carbonelli.

Seguindo o modus operandi do instituto, o projeto de restauração tem sido levado adiante em diálogo com os moradores da região. “Nós participamos como interlocutores”, diz a presidente da Amovila.

A iniciativa também prevê a capacitação de professores da rede pública estadual sobre o tema das mudanças climáticas e a formação de jovens para atuarem como agentes ambientais do projeto de restauração. “Tudo que for feito para reconstruir a Mata Atlântica é muito favorável para a comunidade e a associação, porque a gente está inserido nela”, diz Andrade.

Depois de quase um ano do temporal que devastou o litoral norte de São Paulo em 2023, deixando 64 mortos em São Sebastião, muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados pela chuva aos ecossistemas e à população.

Na Vila Sahy, território mais atingido, 300 famílias seguem vivendo em área de risco atualmente, segundo a presidente da associação de moradores Amovila, Ildes Andrade. No Parque Estadual da Serra do Mar, que é o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País, cerca de 200 hectares foram devastados.

Se, em um cenário de mudanças climáticas, a água que cai com intensidade cada vez maior preocupa, parte da solução ambiental também está vindo do céu: um projeto de restauração está usando drones para semear com cerca de 20 espécies nativas os locais onde a vegetação foi arrancada pela chuva.

Drones são utilizados para semear espécies nativas no Parque Estadual da Serra do Mar, o maior trecho contínuo e preservado de Mata Atlântica do País Foto: André Motta - ICC

A semeadura das áreas prioritárias de maior erosão e risco – um total de 9,57 hectares distribuídos em 29 deslizamentos, na Barra do Sahy, Baleia e As Ilhas – foi concluída neste início de 2024. Foram utilizados 6 kg de semente por hectare, o que totalizou 57,5 kg de sementes nas encostas nessa primeira fase. Os próximos plantios serão realizados a partir de março.

Fechando as cicatrizes

Segundo Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do Instituto Conservação Costeira (ICC), o objetivo do projeto é restaurar em três anos 851 “cicatrizes” na Serra do Mar abertas pelas chuvas de 2023. Esses pontos foram mapeados pelo instituto e pela Atlântica Consultoria Ambiental durante oito meses, e a escolha da semeadura com drone se deu principalmente em função da alta declividade do terreno.

O projeto nasceu da articulação entre o ICC e a Fundação Florestal do Estado de São Paulo, que abriu um chamamento público para restaurar a área – do qual a multinacional Ambipar Group foi a vencedora.

“Fomos atrás de tecnologias que pudessem ser compatíveis com a nossa necessidade”, diz Carbonelli. Além dos locais de plantio íngremes e inacessíveis, a perda de nutrientes pelo solo, a salinidade e os ventos também dificultam a tarefa da restauração na Serra do Mar.

A diretora do ICC afirma que o uso do drone trouxe um ganho em escala e custo, além de permitir realizar o plantio sem o impacto de abrir acessos no parque.

Uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão; projeto custa R$3,5 milhões Foto: André Motta - ICC

O projeto de R$ 3,5 milhões foi custeado majoritariamente pela Concessionária Tamoios – como compensação ambiental pelos impactos causados pela rodovia –, com apoio de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas que mantêm o ICC.

O diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, destaca o caráter pioneiro do projeto. Antes dele, o órgão já havia feito uma semeadura de helicóptero na Serra do Mar em Cubatão, na década de 1980, plantio que serviu de referência para a elaboração do projeto com o uso de drones.

Segundo ele, uma das vantagens do drone em relação ao helicóptero é a precisão. Desde 2020, a fundação já vem utilizando drones para efetuar a dispersão aérea de sementes de palmeira juçara no estado, com bons resultados.

“É uma tecnologia que está sendo aplicada nessa escala no Brasil pela primeira vez e que é essencial para restaurar essas áreas. Estamos apostando muito em fomentar a utilização de novas tecnologias para projetos que vão precisar de uma abordagem diferente, e que serão cada vez mais comuns com o impacto das mudanças climáticas”, diz Levkovicz.

Cápsulas restauradoras

Já usados em outras funções pelo agro, os drones foram adaptados para a tarefa de despejar as sementes na quantidade, altura e localidade exatas, cálculos feitos com auxílio de inteligência artificial.

Os equipamentos são carregados não apenas com sementes, mas com biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar a partir de sobras de colágeno da indústria farmacêutica. O interior das cápsulas é enriquecido com adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido, que favorece a germinação aumentando a fixação e a umidade.

Biocápsulas têm adubo orgânico e as sementes são revestidas de carbono líquido Foto: André Motta - ICC

Equipes da Fundação Florestal e do ICC estão monitorando o plantio com auxílio de um software de imagem. As metas de recuperação variam de acordo com a declividade do terreno.

A chegada da estação chuvosa coloca mais um obstáculo para a restauração, já que o plantio não pode ser feito durante as precipitações. Mas, até o momento, o ICC não registrou perdas provocadas pela chuva na semeadura já feita.

“É claro que isso não vai recompor a floresta do dia para a noite, mas é uma ação importante para induzir um processo de restauração natural dessas áreas. Na prática, jogar essas sementes ajuda a natureza a se reerguer”, diz o diretor da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

Ele lembra que a restauração também tem um papel na contenção dos deslizamentos: à medida que as plantas crescem, dão maior estabilidade para as encostas, diminuem o carregamento de lama e ajudam o solo a reter matéria orgânica, melhorando sua qualidade.

Inseridos na Mata Atlântica

O Instituto Conservação Costeira é uma entidade ambientalista da região que atua há cerca de uma década nos conselhos regionais, estaduais e municipais e junto à população para incidir sobre o crescimento urbano desordenado e promover a mitigação de riscos.

Segundo a presidente da associação de moradores da Vila Sahy Amovila, Ildes Andrade, o instituto tem tido um papel fundamental no monitoramento das moradias irregulares e em áreas de risco no Litoral Norte. Ela aponta a falta fiscalização pelo poder público e ser necessário “dar condição para as pessoas saírem dessas áreas com dignidade”.

O trabalho realizado pelo ICC em conjunto com as comunidades locais resultou na criação da Área de Proteção Ambiental Baleia/Sahy em 2013, uma unidade de conservação de mais de um milhão de metros quadrados entre as duas praias, que protege a flora e mais de 87 espécies de fauna em extinção.

“[A APA] é cercada por comunidades. A questão é justamente esses milhões de metros quadrados de pura Mata Atlântica servirem ali como uma piscina verde, porque é uma área de uma bacia hidrográfica muito complicada. Se não fosse a APA, não teriam acontecido 64 mortes em 2023, mas 500″, afirma a diretora-executiva do ICC Fernanda Carbonelli.

Seguindo o modus operandi do instituto, o projeto de restauração tem sido levado adiante em diálogo com os moradores da região. “Nós participamos como interlocutores”, diz a presidente da Amovila.

A iniciativa também prevê a capacitação de professores da rede pública estadual sobre o tema das mudanças climáticas e a formação de jovens para atuarem como agentes ambientais do projeto de restauração. “Tudo que for feito para reconstruir a Mata Atlântica é muito favorável para a comunidade e a associação, porque a gente está inserido nela”, diz Andrade.

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