SOROCABA – Em menos de uma semana, duas onças-pintadas foram atropeladas e mortas na rodovia que corta o Parque Estadual Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. O caso mais recente aconteceu na manhã desta sexta-feira, 28, e vitimou um macho de cerca de 2 anos. No domingo, 23, quase no mesmo local, outra onça-pintada, um exemplar jovem de menos de um ano, foi atingida por um carro e morreu.
Os dois atropelamentos aconteceram na Rodovia Arlindo Bétio (SP-163), que atravessa o parque em uma extensão de 14 quilômetros. De acordo com o capitão Júlio Cacciari, da Polícia Ambiental, no primeiro caso, o veículo autor do atropelamento não foi localizado. Já no caso do felino jovem, o condutor alegou que havia pouca visibilidade e não conseguiu evitar a colisão com o animal que invadiu a pista. Os dois acidentes aconteceram nas primeiras horas da manhã.
A rodovia tinha radares de controle de velocidade, mas eles foram retirados em janeiro de 2021, depois que venceu o contrato da operadora e não houve renovação. Maior felino das Américas, a onça-pintada é considerada espécie vulnerável e, no Estado de São Paulo, está “criticamente ameaçada” devido à fragmentação de seu habitat, a Mata Atlântica. Os animais mortos foram encaminhados para uma universidade de Presidente Prudente para passar por um processo de taxidermia.
A Fundação Florestal, órgão que administra o parque, disse que o trecho possui 13 passagens de fauna construídas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), mas nem sempre os felinos usam esse dispositivo em seus deslocamentos. A fundação informou que, durante os meses de maio e junho, vai realizar ações de conscientização dos motoristas nas duas entradas do parque pela rodovia.
O DER informou que vai realizar um mapeamento dos pontos críticos para a fauna em todas as rodovias do estado sob sua gestão, incluindo a Arlindo Bettio. No caso do Parque Estadual Morro do Diabo, será feita uma vistoria em todas as cercas e a roçada dos pontos com sinalização. O departamento pediu à Polícia Militar Rodoviária um reforço da operação de controle de velocidade com radar móvel na rodovia.
Até os acidentes, a Fundação Florestal monitorava 11 onças-pintadas no parque com registros feitos por armadilhas fotográficas. Segundo o órgão, esses felinos percorrem grandes extensões e não restringem seus deslocamentos apenas à área da unidade de conservação. A onça pintada está no topo da cadeia alimentar e a escassez de indivíduos indica o declínio da saúde da floresta, segundo a fundação.
“O trabalho prossegue com atenção redobrada sobre os animais restantes, já que a população de onças-pintadas no Estado de São Paulo está criticamente ameaçada e no Parque Estadual Morro do Diabo encontra-se uma parcela considerável de indivíduos viáveis”, disse. A Fundação informou que desenvolve um programa de monitoramento de médios e grandes mamíferos para ampliar o conhecimento sobre a fauna e a proteção e conservação das espécies.
Criado em 1986, com 33 mil hectares, o Parque Morro do Diabo preserva o maior remanescente de Mata Atlântica do oeste paulista. É habitat do ameaçado mico-leão-preto, único primata nativo de São Paulo e abriga sua maior população em liberdade.
Também ficou conhecido pelo seu trabalho de conservação das onças-pintadas, abrigando um plantel de 15 a 20 desses animais. A estrada pavimentada, que já existia na criação do parque, passou a ser a maior ameaça à fauna. Já foram registrados atropelamentos de outros animais, como onça-parda, cateto e tamanduá-bandeira.
Anta atropelada
Também no domingo, 23, uma anta adulta pesando cerca de 200 quilos foi atropelada e morta por um carro na Rodovia Fausto Santomauro (SP-250), em São Miguel Arcanjo, no sudoeste paulista. A rodovia é opção de acesso ao Parque Estadual Carlos Botelho, outra unidade de conservação estadual, que preserva a Mata Atlântica.
O acidente aconteceu no km 151 da rodovia e o corpo do mamífero foi enterrado pela equipe de manutenção da estrada. A anta é o mamífero silvestre terrestre mais pesado da América do Sul, chegando a pesar 300 quilos. No Cerrado brasileiro e na Mata Atlântica, a situação é de animal criticamente ameaçado.