BRASÍLIA - Os garimpeiros que estão há dias ancorados com suas balsas ilegais no trecho do Rio Madeira em frente à Vila de Rosarinho, uma comunidade do município de Autazes (AM), não só trocaram informações sobre a mobilização da operação para combater as ações criminosas, como estão combinando reações, conforme a abordagem que enfrentarem.
Áudios trocados nesta quinta-feira, 25, entre os garimpeiros que estão no local e que foram obtidos pelo Estadão mostram que parte do grupo defende que alguns garimpeiros façam tocaias na floresta para surpreender agentes de fiscalização em caso de abordagem. A ideia é “largar bala” contra a polícia.
“Meu amigo, se você for contar tem mais garimpeiro que polícia em todo canto, entendeu. Se vocês ficarem entocados dentro de uma mata dessa aí, um lá na ponta, outro aqui. Se eles começarem, vocês largam bala, entendeu? Deixa a balsa bem pertinho da beira e larga bala”, diz um deles.
Em outra mensagem, um garimpeiro concorda. “É verdade. Se nós, garimpeiros, juntar todo mundo, nós combatemos.”
Na opinião dos garimpeiros, a repressão policial não teria condições de enfrentá-los. “Meu parceiro, o tanto de garimpeiro que tem, mano... Pode vir o comboio, pode vir o c* pra cima, que não dá conta, não. Nós temos que fazer é juntar os garimpeiros de todas as comunidades e ir para cima.”
Como adiantou o Estadão, foi montada uma grande força-tarefa entre a Polícia Federal, agentes das Forças Armadas e do Ibama para se dirigem à região. Hoje, o vice-presidente Hamilton Mourão disse há indícios de que o grupo de garimpeiros tem ligações com o narcotráfico, que há anos tem utilizado as rotas da região Norte do País para o escoamento de drogas.
Ainda não há números precisos sobre a quantidade de balsas que estão na região. No início, falava-se em cerca de 600 balsas. Imagens aéreas permitem contabilizar pelo menos 300 embarcações clandestinas paradas no mesmo ponto.
Há apreensão sobre a forma como se dará a abordagem dos garimpeiros que estão na região. Por lei, trata-se de embarcações clandestinas, sem licença para operarem e que devem ser apreendidas. Cada equipamento é avaliado em cerca de R$ 50 mil, mas esse valor oscila conforme o custo de todo equipamento embarcado para sugar o leito do rio em busca de ouro e fazer a sua separação.
Ao Estadão, o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, que atuou por dez anos à frente da PF na região amazônica, disse que a melhor estratégia para impedir o avanço das centenas de balsas de garimpo ilegal seria o corte de suprimentos usados pelos equipamentos.
Saraiva afirmou que chegou a viver situações parecidas em apreensões de balsas e que a medida mais efetiva, nestes casos, é acabar com a logística. “Quando você acaba com o combustível, com a chegada de peças de reposição, você paralisa a atividade. Tem de deixar passar só água e alimento, para ninguém morrer de fome. Fora isso, não pode entrar nada”, disse.