Alerta feito nesta quarta-feira, 4, pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, aponta que a seca na Amazônia deve durar pelo menos até dezembro, quando o fenômeno El Niño atingirá a sua intensidade máxima. Até lá, as previsões de chuva do Cemadem indicam volumes abaixo da média.
Desde maio, parte dos Estados do Amazonas e do Pará vem registrando chuvas abaixo da média. De acordo com o Cemaden, a situação pode ser uma consequência do inverno mais quente provocado pelo El Niño. O déficit de chuvas registrado entre julho e setembro no interior do Amazonas e no norte do Pará foi o mais severo desde 1980, segundo o Cemaden.
“Em grande parte do Amazonas, Acre e Roraima, observa-se uma anomalia de chuvas de -100 a -150 milímetros. Devido ao déficit acumulado de precipitação, a umidade do solo alcançou níveis críticos ao longo do mês de setembro”, informou o órgão.
No último sábado, 30, um desabamento às margens do rio Purus, afluente do rio Solimões, deixou dois mortos e mais de 200 desabrigados na comunidade Arumã, no município amazonense de Beruri (a 263 quilômetros de Manaus).
Em entrevista ao Estadão, o geógrafo José Alberto Lima de Carvalho, doutor em Ordenamento Territorial e Ambiental e especialista no fenômeno das “terras caídas”, explicou que é comum que esse tipo de situação se torne mais frequente durante o período de seca dos rios. “A vazante tem papel importante nas terras caídas, pois, quanto maior for a vazante, mais alto se torna o barranco. Com isso, aumenta a chamada ‘força de cisalhamento’, associada à força da gravidade”, pontuou.
O El Niño eleva as temperaturas do Oceano Pacífico e o aquecimento anormal das águas altera as correntes de ventos e as precipitações em diversas partes do planeta. Como se trata de um oceano muito grande, a elevação das temperaturas superficiais das águas tem um impacto no regime de chuvas. No Sul do País, por exemplo, o fenômeno contribuiu para a passagem de um ciclone, que deixou 49 mortos e milhares de desabrigados. No Norte, o efeito é inverso, com seca extrema.
O Cemaden alertou também que, com previsões abaixo da média para o início da estação chuvosa na região Amazôniza, entre novembro e dezembro, alguns rios podem não atingir os níveis normais este ano.
No dia 27 de setembro, a estação de medição do rio Negro em Caricuriari, por exemplo, registrou 3,37 metros, menos da metade da mínima histórica para o mês, que é de 7,11 metros. Já o nível do rio Solimões baixou para 2,9 metros em Coari enquanto a mínima histórica registrada para o mês de setembro é de 2,44 metros.
“Grande parte dos rios da região Norte, entre os Estados do Amazonas e do Acre, encontra-se com níveis muito abaixo da média climatológica”, alertou o Cemaden.
Devido à estiagem severa, o Estado do Amazonas registra 26 municípios em situação de emergência; 32 em alerta; e dois em atenção, afetando 200 mil pessoas (50 mil famílias), aproximadamente.