Família escapa por pouco de deslizamento em Gramado: ‘Barranco vindo atrás quebrando tudo’


Casas foram atingidas na cidade da Serra Gaúcha, que sofre os efeitos de fortes temporais. Família escapou durante a madrugada. No Estado, 37 pessoas morreram nesta semana

Por José Maria Tomazela
Atualização:

A confeiteira Aline Bandeira Barp, de 38 anos, não consegue apagar da memória os momentos de terror que viveu quando as casas da família foram atingidas por um deslizamento na madrugada desta quinta-feira, 2, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ela, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada pessoa da família morreu, atingida pelos escombros. “Não consigo dormir, fecho os olhos e vejo a cena: nós correndo e o barranco vindo atrás quebrando tudo”, descreveu.

Aline e seus familiares moravam na Linha Quilombo, na zona rural do município, quando a terra deslizou e a avalanche destruiu quatro casas ocupadas pelos parentes.

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Aline Bandeira Barp, de 38 anos, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada da família morreu atingida pelos escombros

“Era 1h da madrugada e tinha chovido muito quando ouvi os primeiros estrondos e os gritos. Saímos para a rua e minha irmã vinha com as crianças gritando para sairmos que o barranco estava desabando. Pegou primeiro a casa dela e veio para a nossa. Saimos correndo e ouvia o ‘crac, crac’ de árvore quebrando.”

Ela gritou para os pais, que moravam na casa vizinha, e eles saíram e também começaram a fugir pelo mato. “Estava um breu de escuro e usei o celular para tentar pedir socorro e também para iluminar o caminho. Aí minha irmã começou a gritar e chorar porque o filho dela, o Renan, estava embaixo dos escombros. Ela conseguiu pegar as duas crianças pequenas, mas o Renan ficou. Meu pai voltou até a casa e arrancou ele de lá, bastante machucado, mas vivo. Foi um milagre de Deus”, disse.

Deslizamento atingiu casas em Gramado, na Serra Gaúcha Foto: Aline Barp

O milagre só não foi completo porque uma vizinha que Aline considerava como membro da família não conseguiu se salvar.

“A dona Noeli é nossa irmã de igreja e morava sozinha, mas conseguiu sair da casa e estava pedindo socorro. Meu irmão que mora na casa mais à frente correu para ajudá-la, mas caiu uma árvore e os separou. Ela foi arrastada pela lama. Os bombeiros acharam o corpinho perto da estrada. Conseguimos recuperar a Bíblia dela, que vamos entregar para os filhos.”

No escuro, os familiares se juntaram para subir o barranco e alcançar outro ponto da estrada. “Fomos um puxando o outro. Minha mãe teve muita dificuldade, precisamos puxar ela com toda força, está um pouco machucada agora, mas foi por Deus. No esforço para salvar o Renan, meu pai quebrou a costela. Meu filho está traumatizado, chora pensando nos animaizinhos (cães e gatos) que deixamos para trás. A gente espera que eles tenham sobrevivido e estejam perdidos por lá, mas a área toda ainda está interditada.”

Inundações atingiram a cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul Foto: Diego Vara/Reuters

Aline conseguiu se comunicar com o pastor de sua igreja, que é bombeiro. Quando os bombeiros chegaram, eles ainda conseguiram salvar José, o sogro de Analise, que estava sob os escombros. Três casas – a de Aline, da irmã Analise e de Noeli – foram destruídas totalmente.

A dos pais de Aline permaneceu em pé, mas bastante danificada. Em sua casa, Aline tinha seu ateliê onde preparava doces e bolos que eram servidos em algumas das pousadas de Gramado. No local, não restou uma parede em pé, segundo ela.

A confeiteira se emociona ao relembrar a tragédia. “Perdemos tudo, estamos vivos por milagre, mas vamos ter de recomeçar do zero. Os bombeiros disseram que não poderemos mais voltar, teremos que achar outro lugar. Fomos lá para ver se achávamos alguma coisa que tivesse sobrado, mas afundou tudo na lama. Só tenho vontade de chorar. Não consigo dormir, quando fecho os olhos vem tudo de novo. É horrível”, disse.

A família está abrigada na Pousada Verde, uma das pousadas de Gramado que se solidarizaram com as vítimas da tragédia. Amigos iniciaram uma vaquinha virtual para auxiliar a confeiteira e seus familiares com doações – nem roupas e objetos pessoais foram salvos dos desabamentos. Na cidade, conhecida nacionalmente pelos atrativos turísticos, além de Noeli, outras três pessoas morreram soterradas.

Moradores são resgatados em Lajeado, no Rio Grande do Sul Foto: Jeff Botega/Reuters

Muitas famílias estão desabrigadas, como a de Camila Pimel. Ela, o marido e cinco filhos pequenos foram obrigados a deixar a casa, atingida pelas águas da Barragem do Salto e também foram acolhidos na Pousada Verde. “Quando a água chegou em casa e tivemos que sair de lá às pressas, porque estava subindo rápido. Perdemos carro, moto, tudo o que tinha em casa. Saímos só com a roupa do corpo”, disse Camila.

A prefeitura de Gramado confirmou a morte de quatro pessoas nos deslizamentos decorrentes da chuva no município, entre elas a de Noeli da Rosa Duarte, de 56 anos, a vizinha de Aline na Linha Quilombo. Morreram também Silvio Antonio Pellicioli, de 47 anos, o adolescente Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e Nitiele Ludvig, de 36, moradores da Linha Pedras Brancas. Há ainda pelo menos quatro pessoas desaparecidas nos deslizamentos. No Estado, já houve 37 mortes confirmadas, além de 74 desaparecidos.

A confeiteira Aline Bandeira Barp, de 38 anos, não consegue apagar da memória os momentos de terror que viveu quando as casas da família foram atingidas por um deslizamento na madrugada desta quinta-feira, 2, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ela, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada pessoa da família morreu, atingida pelos escombros. “Não consigo dormir, fecho os olhos e vejo a cena: nós correndo e o barranco vindo atrás quebrando tudo”, descreveu.

Aline e seus familiares moravam na Linha Quilombo, na zona rural do município, quando a terra deslizou e a avalanche destruiu quatro casas ocupadas pelos parentes.

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Aline Bandeira Barp, de 38 anos, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada da família morreu atingida pelos escombros

“Era 1h da madrugada e tinha chovido muito quando ouvi os primeiros estrondos e os gritos. Saímos para a rua e minha irmã vinha com as crianças gritando para sairmos que o barranco estava desabando. Pegou primeiro a casa dela e veio para a nossa. Saimos correndo e ouvia o ‘crac, crac’ de árvore quebrando.”

Ela gritou para os pais, que moravam na casa vizinha, e eles saíram e também começaram a fugir pelo mato. “Estava um breu de escuro e usei o celular para tentar pedir socorro e também para iluminar o caminho. Aí minha irmã começou a gritar e chorar porque o filho dela, o Renan, estava embaixo dos escombros. Ela conseguiu pegar as duas crianças pequenas, mas o Renan ficou. Meu pai voltou até a casa e arrancou ele de lá, bastante machucado, mas vivo. Foi um milagre de Deus”, disse.

Deslizamento atingiu casas em Gramado, na Serra Gaúcha Foto: Aline Barp

O milagre só não foi completo porque uma vizinha que Aline considerava como membro da família não conseguiu se salvar.

“A dona Noeli é nossa irmã de igreja e morava sozinha, mas conseguiu sair da casa e estava pedindo socorro. Meu irmão que mora na casa mais à frente correu para ajudá-la, mas caiu uma árvore e os separou. Ela foi arrastada pela lama. Os bombeiros acharam o corpinho perto da estrada. Conseguimos recuperar a Bíblia dela, que vamos entregar para os filhos.”

No escuro, os familiares se juntaram para subir o barranco e alcançar outro ponto da estrada. “Fomos um puxando o outro. Minha mãe teve muita dificuldade, precisamos puxar ela com toda força, está um pouco machucada agora, mas foi por Deus. No esforço para salvar o Renan, meu pai quebrou a costela. Meu filho está traumatizado, chora pensando nos animaizinhos (cães e gatos) que deixamos para trás. A gente espera que eles tenham sobrevivido e estejam perdidos por lá, mas a área toda ainda está interditada.”

Inundações atingiram a cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul Foto: Diego Vara/Reuters

Aline conseguiu se comunicar com o pastor de sua igreja, que é bombeiro. Quando os bombeiros chegaram, eles ainda conseguiram salvar José, o sogro de Analise, que estava sob os escombros. Três casas – a de Aline, da irmã Analise e de Noeli – foram destruídas totalmente.

A dos pais de Aline permaneceu em pé, mas bastante danificada. Em sua casa, Aline tinha seu ateliê onde preparava doces e bolos que eram servidos em algumas das pousadas de Gramado. No local, não restou uma parede em pé, segundo ela.

A confeiteira se emociona ao relembrar a tragédia. “Perdemos tudo, estamos vivos por milagre, mas vamos ter de recomeçar do zero. Os bombeiros disseram que não poderemos mais voltar, teremos que achar outro lugar. Fomos lá para ver se achávamos alguma coisa que tivesse sobrado, mas afundou tudo na lama. Só tenho vontade de chorar. Não consigo dormir, quando fecho os olhos vem tudo de novo. É horrível”, disse.

A família está abrigada na Pousada Verde, uma das pousadas de Gramado que se solidarizaram com as vítimas da tragédia. Amigos iniciaram uma vaquinha virtual para auxiliar a confeiteira e seus familiares com doações – nem roupas e objetos pessoais foram salvos dos desabamentos. Na cidade, conhecida nacionalmente pelos atrativos turísticos, além de Noeli, outras três pessoas morreram soterradas.

Moradores são resgatados em Lajeado, no Rio Grande do Sul Foto: Jeff Botega/Reuters

Muitas famílias estão desabrigadas, como a de Camila Pimel. Ela, o marido e cinco filhos pequenos foram obrigados a deixar a casa, atingida pelas águas da Barragem do Salto e também foram acolhidos na Pousada Verde. “Quando a água chegou em casa e tivemos que sair de lá às pressas, porque estava subindo rápido. Perdemos carro, moto, tudo o que tinha em casa. Saímos só com a roupa do corpo”, disse Camila.

A prefeitura de Gramado confirmou a morte de quatro pessoas nos deslizamentos decorrentes da chuva no município, entre elas a de Noeli da Rosa Duarte, de 56 anos, a vizinha de Aline na Linha Quilombo. Morreram também Silvio Antonio Pellicioli, de 47 anos, o adolescente Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e Nitiele Ludvig, de 36, moradores da Linha Pedras Brancas. Há ainda pelo menos quatro pessoas desaparecidas nos deslizamentos. No Estado, já houve 37 mortes confirmadas, além de 74 desaparecidos.

A confeiteira Aline Bandeira Barp, de 38 anos, não consegue apagar da memória os momentos de terror que viveu quando as casas da família foram atingidas por um deslizamento na madrugada desta quinta-feira, 2, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ela, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada pessoa da família morreu, atingida pelos escombros. “Não consigo dormir, fecho os olhos e vejo a cena: nós correndo e o barranco vindo atrás quebrando tudo”, descreveu.

Aline e seus familiares moravam na Linha Quilombo, na zona rural do município, quando a terra deslizou e a avalanche destruiu quatro casas ocupadas pelos parentes.

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Aline Bandeira Barp, de 38 anos, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada da família morreu atingida pelos escombros

“Era 1h da madrugada e tinha chovido muito quando ouvi os primeiros estrondos e os gritos. Saímos para a rua e minha irmã vinha com as crianças gritando para sairmos que o barranco estava desabando. Pegou primeiro a casa dela e veio para a nossa. Saimos correndo e ouvia o ‘crac, crac’ de árvore quebrando.”

Ela gritou para os pais, que moravam na casa vizinha, e eles saíram e também começaram a fugir pelo mato. “Estava um breu de escuro e usei o celular para tentar pedir socorro e também para iluminar o caminho. Aí minha irmã começou a gritar e chorar porque o filho dela, o Renan, estava embaixo dos escombros. Ela conseguiu pegar as duas crianças pequenas, mas o Renan ficou. Meu pai voltou até a casa e arrancou ele de lá, bastante machucado, mas vivo. Foi um milagre de Deus”, disse.

Deslizamento atingiu casas em Gramado, na Serra Gaúcha Foto: Aline Barp

O milagre só não foi completo porque uma vizinha que Aline considerava como membro da família não conseguiu se salvar.

“A dona Noeli é nossa irmã de igreja e morava sozinha, mas conseguiu sair da casa e estava pedindo socorro. Meu irmão que mora na casa mais à frente correu para ajudá-la, mas caiu uma árvore e os separou. Ela foi arrastada pela lama. Os bombeiros acharam o corpinho perto da estrada. Conseguimos recuperar a Bíblia dela, que vamos entregar para os filhos.”

No escuro, os familiares se juntaram para subir o barranco e alcançar outro ponto da estrada. “Fomos um puxando o outro. Minha mãe teve muita dificuldade, precisamos puxar ela com toda força, está um pouco machucada agora, mas foi por Deus. No esforço para salvar o Renan, meu pai quebrou a costela. Meu filho está traumatizado, chora pensando nos animaizinhos (cães e gatos) que deixamos para trás. A gente espera que eles tenham sobrevivido e estejam perdidos por lá, mas a área toda ainda está interditada.”

Inundações atingiram a cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul Foto: Diego Vara/Reuters

Aline conseguiu se comunicar com o pastor de sua igreja, que é bombeiro. Quando os bombeiros chegaram, eles ainda conseguiram salvar José, o sogro de Analise, que estava sob os escombros. Três casas – a de Aline, da irmã Analise e de Noeli – foram destruídas totalmente.

A dos pais de Aline permaneceu em pé, mas bastante danificada. Em sua casa, Aline tinha seu ateliê onde preparava doces e bolos que eram servidos em algumas das pousadas de Gramado. No local, não restou uma parede em pé, segundo ela.

A confeiteira se emociona ao relembrar a tragédia. “Perdemos tudo, estamos vivos por milagre, mas vamos ter de recomeçar do zero. Os bombeiros disseram que não poderemos mais voltar, teremos que achar outro lugar. Fomos lá para ver se achávamos alguma coisa que tivesse sobrado, mas afundou tudo na lama. Só tenho vontade de chorar. Não consigo dormir, quando fecho os olhos vem tudo de novo. É horrível”, disse.

A família está abrigada na Pousada Verde, uma das pousadas de Gramado que se solidarizaram com as vítimas da tragédia. Amigos iniciaram uma vaquinha virtual para auxiliar a confeiteira e seus familiares com doações – nem roupas e objetos pessoais foram salvos dos desabamentos. Na cidade, conhecida nacionalmente pelos atrativos turísticos, além de Noeli, outras três pessoas morreram soterradas.

Moradores são resgatados em Lajeado, no Rio Grande do Sul Foto: Jeff Botega/Reuters

Muitas famílias estão desabrigadas, como a de Camila Pimel. Ela, o marido e cinco filhos pequenos foram obrigados a deixar a casa, atingida pelas águas da Barragem do Salto e também foram acolhidos na Pousada Verde. “Quando a água chegou em casa e tivemos que sair de lá às pressas, porque estava subindo rápido. Perdemos carro, moto, tudo o que tinha em casa. Saímos só com a roupa do corpo”, disse Camila.

A prefeitura de Gramado confirmou a morte de quatro pessoas nos deslizamentos decorrentes da chuva no município, entre elas a de Noeli da Rosa Duarte, de 56 anos, a vizinha de Aline na Linha Quilombo. Morreram também Silvio Antonio Pellicioli, de 47 anos, o adolescente Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e Nitiele Ludvig, de 36, moradores da Linha Pedras Brancas. Há ainda pelo menos quatro pessoas desaparecidas nos deslizamentos. No Estado, já houve 37 mortes confirmadas, além de 74 desaparecidos.

A confeiteira Aline Bandeira Barp, de 38 anos, não consegue apagar da memória os momentos de terror que viveu quando as casas da família foram atingidas por um deslizamento na madrugada desta quinta-feira, 2, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ela, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada pessoa da família morreu, atingida pelos escombros. “Não consigo dormir, fecho os olhos e vejo a cena: nós correndo e o barranco vindo atrás quebrando tudo”, descreveu.

Aline e seus familiares moravam na Linha Quilombo, na zona rural do município, quando a terra deslizou e a avalanche destruiu quatro casas ocupadas pelos parentes.

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Aline Bandeira Barp, de 38 anos, a irmã, os pais e outros cinco familiares se salvaram, mas uma vizinha considerada da família morreu atingida pelos escombros

“Era 1h da madrugada e tinha chovido muito quando ouvi os primeiros estrondos e os gritos. Saímos para a rua e minha irmã vinha com as crianças gritando para sairmos que o barranco estava desabando. Pegou primeiro a casa dela e veio para a nossa. Saimos correndo e ouvia o ‘crac, crac’ de árvore quebrando.”

Ela gritou para os pais, que moravam na casa vizinha, e eles saíram e também começaram a fugir pelo mato. “Estava um breu de escuro e usei o celular para tentar pedir socorro e também para iluminar o caminho. Aí minha irmã começou a gritar e chorar porque o filho dela, o Renan, estava embaixo dos escombros. Ela conseguiu pegar as duas crianças pequenas, mas o Renan ficou. Meu pai voltou até a casa e arrancou ele de lá, bastante machucado, mas vivo. Foi um milagre de Deus”, disse.

Deslizamento atingiu casas em Gramado, na Serra Gaúcha Foto: Aline Barp

O milagre só não foi completo porque uma vizinha que Aline considerava como membro da família não conseguiu se salvar.

“A dona Noeli é nossa irmã de igreja e morava sozinha, mas conseguiu sair da casa e estava pedindo socorro. Meu irmão que mora na casa mais à frente correu para ajudá-la, mas caiu uma árvore e os separou. Ela foi arrastada pela lama. Os bombeiros acharam o corpinho perto da estrada. Conseguimos recuperar a Bíblia dela, que vamos entregar para os filhos.”

No escuro, os familiares se juntaram para subir o barranco e alcançar outro ponto da estrada. “Fomos um puxando o outro. Minha mãe teve muita dificuldade, precisamos puxar ela com toda força, está um pouco machucada agora, mas foi por Deus. No esforço para salvar o Renan, meu pai quebrou a costela. Meu filho está traumatizado, chora pensando nos animaizinhos (cães e gatos) que deixamos para trás. A gente espera que eles tenham sobrevivido e estejam perdidos por lá, mas a área toda ainda está interditada.”

Inundações atingiram a cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul Foto: Diego Vara/Reuters

Aline conseguiu se comunicar com o pastor de sua igreja, que é bombeiro. Quando os bombeiros chegaram, eles ainda conseguiram salvar José, o sogro de Analise, que estava sob os escombros. Três casas – a de Aline, da irmã Analise e de Noeli – foram destruídas totalmente.

A dos pais de Aline permaneceu em pé, mas bastante danificada. Em sua casa, Aline tinha seu ateliê onde preparava doces e bolos que eram servidos em algumas das pousadas de Gramado. No local, não restou uma parede em pé, segundo ela.

A confeiteira se emociona ao relembrar a tragédia. “Perdemos tudo, estamos vivos por milagre, mas vamos ter de recomeçar do zero. Os bombeiros disseram que não poderemos mais voltar, teremos que achar outro lugar. Fomos lá para ver se achávamos alguma coisa que tivesse sobrado, mas afundou tudo na lama. Só tenho vontade de chorar. Não consigo dormir, quando fecho os olhos vem tudo de novo. É horrível”, disse.

A família está abrigada na Pousada Verde, uma das pousadas de Gramado que se solidarizaram com as vítimas da tragédia. Amigos iniciaram uma vaquinha virtual para auxiliar a confeiteira e seus familiares com doações – nem roupas e objetos pessoais foram salvos dos desabamentos. Na cidade, conhecida nacionalmente pelos atrativos turísticos, além de Noeli, outras três pessoas morreram soterradas.

Moradores são resgatados em Lajeado, no Rio Grande do Sul Foto: Jeff Botega/Reuters

Muitas famílias estão desabrigadas, como a de Camila Pimel. Ela, o marido e cinco filhos pequenos foram obrigados a deixar a casa, atingida pelas águas da Barragem do Salto e também foram acolhidos na Pousada Verde. “Quando a água chegou em casa e tivemos que sair de lá às pressas, porque estava subindo rápido. Perdemos carro, moto, tudo o que tinha em casa. Saímos só com a roupa do corpo”, disse Camila.

A prefeitura de Gramado confirmou a morte de quatro pessoas nos deslizamentos decorrentes da chuva no município, entre elas a de Noeli da Rosa Duarte, de 56 anos, a vizinha de Aline na Linha Quilombo. Morreram também Silvio Antonio Pellicioli, de 47 anos, o adolescente Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e Nitiele Ludvig, de 36, moradores da Linha Pedras Brancas. Há ainda pelo menos quatro pessoas desaparecidas nos deslizamentos. No Estado, já houve 37 mortes confirmadas, além de 74 desaparecidos.

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