Fogo avança por reservas da Amazônia, que tem recorde de incêndios: ‘Chamas pra todo canto’


Roraima, área com mais focos, vê fumaça cobrir cidades e estradas. Ministério culpa El Niño e diz ter ampliado brigadas; gestão estadual fala em queimadas criminosas e põe PMs no combate

Por Giovanna Castro, Fabio Grellet e Felipe Medeiros
Atualização:

A Amazônia vê um recorde de queimadas em fevereiro, atípico para esta época do ano, revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia. No total, são 2.924 focos identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, maior número desde o início da série histórica, em 1999.

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas, e a fumaça encobre estradas, como a RR-206, e partes de Boa Vista.

“A área queimada na Floresta Nacional (de Roraima, uma das reservas) iniciou em 7 de fevereiro, no carnaval, emendou com a Terra Indígena Yanomami e já passa de 24 mil hectares”, diz Nilton Barth, chefe do Núcleo de Gestão do ICMBio em Roraima. O órgão é responsável pelas unidades de conservação federais - são oito no Estado. “Estamos pedindo apoio para virem brigadistas e viaturas do Amazonas.”

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas Foto: Brigadistas indígenas - 23/2/2024

No 2º semestre de 2023, algumas regiões da floresta tiveram picos de incêndios. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que contratou mais brigadistas, mas admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.

Segundo Barth, há duas bases de brigadistas atuando no Parque Nacional do Viruá e na Floresta Nacional de Roraima, além do apoio de dois helicópteros do Ibama. De janeiro até o dia 26, foram 2.594 focos de incêndio em todo o Estado.

Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo federal, que prometeu a proteção do bioma como uma de suas principais bandeiras. Procurado, o ministério informou ter 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves.

“Os incêndios florestais concentrados em Roraima são agravados pela estiagem prolongada, intensificada pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história. Desde janeiro, o Ibama tem 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves. Em 2024, o instituto contratou duas brigadas para atender exclusivamente a TI (terra indígena) Yanomami, dentro e fora da região”, disse a pasta, que destaca ainda a criação de um Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional.

Ao lado do Parque do Viruá, fica o projeto de assentamento Jatobá. Pecuarista na região, Emanuel Ferreira relata que tem visto “chamas por todo canto”. Segundo ele, de 50 anos, a ação é criminosa. “O pessoal que bota fogo no pedacinho de roça não cuida. Vai passando e queimando. Não tem controle e ninguém dá conta de apagar”, afirma.

A geógrafa Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que a crise atual decorre ainda da seca que atingiu a Amazônia no ano passado. “É comum Roraima ter queimadas nessa época; o que é incomum é a enorme quantidade de áreas queimadas. Vejo como um resquício da seca que afetou a Amazônia desde maio do ano passado”, afirma.

Segundo ela, não é só o Brasil que sofre com incêndios. “Todos os outros países do norte da América do Sul estão com número de focos de calor e incêndios muito acima do normal, provavelmente causados pelo El Niño, em conjunção com o aumento gradual da temperatura da Terra”, afirma.

Fábio Wankler, professor de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), aponta três fatores por trás dos incêndios. Um deles é a seca; outro é o aumento das temperaturas, que deixou a vegetação mais seca e os ventos fortes.

O terceiro fator são as liberações para queimadas feitas pelo governo. “As autorizações para queima controlada, junto a esses fatores climáticos e naturais, foram responsáveis pelo que acontece agora”, avalia. A ONG Greenpeace mapeou, por meio do Diário Oficial do Estado, 55 licenças emitidas pelo governo roraimense para o uso do fogo, a maioria para pastagem, desde o início do ano.

Estado defende queima controlada e põe PMs para reprimir incêndios

Diretor-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Glicério Fernandes rebate essa explicação. “O fogo não começou a partir de nenhuma autorização de queimada. O estopim de tudo são as margens das BRs, rodovias estaduais e vicinais”, diz o gestor do órgão, ligado ao governo.

No dia 22, o governo suspendeu as liberações para queima controlada. Fernandes ainda ressalta que as unidades de conservação de gestão estadual não têm registro de fogo. “Todas elas estão intactas”, afirma.

O Corpo de Bombeiros remanejou parte do efetivo que trabalha internamente para atuar nas ruas (de 100 para 150) e mais 240 brigadistas foram contratados esta semana para atender a capital e interior. A Polícia Militar também cedeu 90 agentes para reprimir os incêndios criminosos.

“Autorizei a Companhia de Águas do Estado de Roraima (Caer) a perfuração de mais 50 poços para fornecimento de água tratada na capital e no interior”, disse o governador Antonio Denarium (PP). O Estado também afirma que estão sendo providenciados carros-pipa, a entrega de 25 mil cestas básicas, além de um pedido de reforço ao governo federal.

Em uma rede social, Waldez Góes, ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, reconheceu a situação de emergência e disse que irá apoiar o governo no plano de trabalho. Procurada, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não se manifestou.

Nesta semana, uma comitiva de ministros - entre eles Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) - estará na capital roraimense para inaugurar um espaço de coordenação das ações na terra indígena Yanomami.

Na semana passada, um balanço do governo federal mostrou que o número de mortes de indígenas na reserva, a maior do tipo do País, aumentou um ano após Lula decretar emergência de saúde na região. Um dos principais problemas da região é o domínio de algumas áreas pelos garimpeiros ilegais.

Desmate é a maior fonte de gases estufa do Brasil

Por ser uma floresta úmida, especialistas destacam que dificilmente a floresta pega fogo sozinha e a maioria das queimadas envolve ação humana criminosa. Em grande parte dos casos, os incêndios servem para abrir novas áreas de pastagem.

A preservação do bioma, a floresta tropical com maior biodiversidade do planeta, é considerada fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas. A maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate.

O climatologista Carlos Nobre, alerta que o aquecimento global torna situações extremas cada vez mais comuns. “Antigamente, havia uma grande seca na Amazônia a cada 100, 200 anos. Hoje em dia tivemos uma em 2015/2016, resultado do El Niño de maior intensidade, e outra em 2023/2024, quando houve a combinação do segundo El Niño mais intenso e das águas do Atlântico Norte muito quentes.”

A Amazônia vê um recorde de queimadas em fevereiro, atípico para esta época do ano, revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia. No total, são 2.924 focos identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, maior número desde o início da série histórica, em 1999.

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas, e a fumaça encobre estradas, como a RR-206, e partes de Boa Vista.

“A área queimada na Floresta Nacional (de Roraima, uma das reservas) iniciou em 7 de fevereiro, no carnaval, emendou com a Terra Indígena Yanomami e já passa de 24 mil hectares”, diz Nilton Barth, chefe do Núcleo de Gestão do ICMBio em Roraima. O órgão é responsável pelas unidades de conservação federais - são oito no Estado. “Estamos pedindo apoio para virem brigadistas e viaturas do Amazonas.”

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas Foto: Brigadistas indígenas - 23/2/2024

No 2º semestre de 2023, algumas regiões da floresta tiveram picos de incêndios. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que contratou mais brigadistas, mas admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.

Segundo Barth, há duas bases de brigadistas atuando no Parque Nacional do Viruá e na Floresta Nacional de Roraima, além do apoio de dois helicópteros do Ibama. De janeiro até o dia 26, foram 2.594 focos de incêndio em todo o Estado.

Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo federal, que prometeu a proteção do bioma como uma de suas principais bandeiras. Procurado, o ministério informou ter 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves.

“Os incêndios florestais concentrados em Roraima são agravados pela estiagem prolongada, intensificada pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história. Desde janeiro, o Ibama tem 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves. Em 2024, o instituto contratou duas brigadas para atender exclusivamente a TI (terra indígena) Yanomami, dentro e fora da região”, disse a pasta, que destaca ainda a criação de um Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional.

Ao lado do Parque do Viruá, fica o projeto de assentamento Jatobá. Pecuarista na região, Emanuel Ferreira relata que tem visto “chamas por todo canto”. Segundo ele, de 50 anos, a ação é criminosa. “O pessoal que bota fogo no pedacinho de roça não cuida. Vai passando e queimando. Não tem controle e ninguém dá conta de apagar”, afirma.

A geógrafa Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que a crise atual decorre ainda da seca que atingiu a Amazônia no ano passado. “É comum Roraima ter queimadas nessa época; o que é incomum é a enorme quantidade de áreas queimadas. Vejo como um resquício da seca que afetou a Amazônia desde maio do ano passado”, afirma.

Segundo ela, não é só o Brasil que sofre com incêndios. “Todos os outros países do norte da América do Sul estão com número de focos de calor e incêndios muito acima do normal, provavelmente causados pelo El Niño, em conjunção com o aumento gradual da temperatura da Terra”, afirma.

Fábio Wankler, professor de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), aponta três fatores por trás dos incêndios. Um deles é a seca; outro é o aumento das temperaturas, que deixou a vegetação mais seca e os ventos fortes.

O terceiro fator são as liberações para queimadas feitas pelo governo. “As autorizações para queima controlada, junto a esses fatores climáticos e naturais, foram responsáveis pelo que acontece agora”, avalia. A ONG Greenpeace mapeou, por meio do Diário Oficial do Estado, 55 licenças emitidas pelo governo roraimense para o uso do fogo, a maioria para pastagem, desde o início do ano.

Estado defende queima controlada e põe PMs para reprimir incêndios

Diretor-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Glicério Fernandes rebate essa explicação. “O fogo não começou a partir de nenhuma autorização de queimada. O estopim de tudo são as margens das BRs, rodovias estaduais e vicinais”, diz o gestor do órgão, ligado ao governo.

No dia 22, o governo suspendeu as liberações para queima controlada. Fernandes ainda ressalta que as unidades de conservação de gestão estadual não têm registro de fogo. “Todas elas estão intactas”, afirma.

O Corpo de Bombeiros remanejou parte do efetivo que trabalha internamente para atuar nas ruas (de 100 para 150) e mais 240 brigadistas foram contratados esta semana para atender a capital e interior. A Polícia Militar também cedeu 90 agentes para reprimir os incêndios criminosos.

“Autorizei a Companhia de Águas do Estado de Roraima (Caer) a perfuração de mais 50 poços para fornecimento de água tratada na capital e no interior”, disse o governador Antonio Denarium (PP). O Estado também afirma que estão sendo providenciados carros-pipa, a entrega de 25 mil cestas básicas, além de um pedido de reforço ao governo federal.

Em uma rede social, Waldez Góes, ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, reconheceu a situação de emergência e disse que irá apoiar o governo no plano de trabalho. Procurada, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não se manifestou.

Nesta semana, uma comitiva de ministros - entre eles Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) - estará na capital roraimense para inaugurar um espaço de coordenação das ações na terra indígena Yanomami.

Na semana passada, um balanço do governo federal mostrou que o número de mortes de indígenas na reserva, a maior do tipo do País, aumentou um ano após Lula decretar emergência de saúde na região. Um dos principais problemas da região é o domínio de algumas áreas pelos garimpeiros ilegais.

Desmate é a maior fonte de gases estufa do Brasil

Por ser uma floresta úmida, especialistas destacam que dificilmente a floresta pega fogo sozinha e a maioria das queimadas envolve ação humana criminosa. Em grande parte dos casos, os incêndios servem para abrir novas áreas de pastagem.

A preservação do bioma, a floresta tropical com maior biodiversidade do planeta, é considerada fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas. A maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate.

O climatologista Carlos Nobre, alerta que o aquecimento global torna situações extremas cada vez mais comuns. “Antigamente, havia uma grande seca na Amazônia a cada 100, 200 anos. Hoje em dia tivemos uma em 2015/2016, resultado do El Niño de maior intensidade, e outra em 2023/2024, quando houve a combinação do segundo El Niño mais intenso e das águas do Atlântico Norte muito quentes.”

A Amazônia vê um recorde de queimadas em fevereiro, atípico para esta época do ano, revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia. No total, são 2.924 focos identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, maior número desde o início da série histórica, em 1999.

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas, e a fumaça encobre estradas, como a RR-206, e partes de Boa Vista.

“A área queimada na Floresta Nacional (de Roraima, uma das reservas) iniciou em 7 de fevereiro, no carnaval, emendou com a Terra Indígena Yanomami e já passa de 24 mil hectares”, diz Nilton Barth, chefe do Núcleo de Gestão do ICMBio em Roraima. O órgão é responsável pelas unidades de conservação federais - são oito no Estado. “Estamos pedindo apoio para virem brigadistas e viaturas do Amazonas.”

Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas Foto: Brigadistas indígenas - 23/2/2024

No 2º semestre de 2023, algumas regiões da floresta tiveram picos de incêndios. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que contratou mais brigadistas, mas admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.

Segundo Barth, há duas bases de brigadistas atuando no Parque Nacional do Viruá e na Floresta Nacional de Roraima, além do apoio de dois helicópteros do Ibama. De janeiro até o dia 26, foram 2.594 focos de incêndio em todo o Estado.

Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo federal, que prometeu a proteção do bioma como uma de suas principais bandeiras. Procurado, o ministério informou ter 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves.

“Os incêndios florestais concentrados em Roraima são agravados pela estiagem prolongada, intensificada pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história. Desde janeiro, o Ibama tem 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves. Em 2024, o instituto contratou duas brigadas para atender exclusivamente a TI (terra indígena) Yanomami, dentro e fora da região”, disse a pasta, que destaca ainda a criação de um Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional.

Ao lado do Parque do Viruá, fica o projeto de assentamento Jatobá. Pecuarista na região, Emanuel Ferreira relata que tem visto “chamas por todo canto”. Segundo ele, de 50 anos, a ação é criminosa. “O pessoal que bota fogo no pedacinho de roça não cuida. Vai passando e queimando. Não tem controle e ninguém dá conta de apagar”, afirma.

A geógrafa Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que a crise atual decorre ainda da seca que atingiu a Amazônia no ano passado. “É comum Roraima ter queimadas nessa época; o que é incomum é a enorme quantidade de áreas queimadas. Vejo como um resquício da seca que afetou a Amazônia desde maio do ano passado”, afirma.

Segundo ela, não é só o Brasil que sofre com incêndios. “Todos os outros países do norte da América do Sul estão com número de focos de calor e incêndios muito acima do normal, provavelmente causados pelo El Niño, em conjunção com o aumento gradual da temperatura da Terra”, afirma.

Fábio Wankler, professor de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), aponta três fatores por trás dos incêndios. Um deles é a seca; outro é o aumento das temperaturas, que deixou a vegetação mais seca e os ventos fortes.

O terceiro fator são as liberações para queimadas feitas pelo governo. “As autorizações para queima controlada, junto a esses fatores climáticos e naturais, foram responsáveis pelo que acontece agora”, avalia. A ONG Greenpeace mapeou, por meio do Diário Oficial do Estado, 55 licenças emitidas pelo governo roraimense para o uso do fogo, a maioria para pastagem, desde o início do ano.

Estado defende queima controlada e põe PMs para reprimir incêndios

Diretor-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Glicério Fernandes rebate essa explicação. “O fogo não começou a partir de nenhuma autorização de queimada. O estopim de tudo são as margens das BRs, rodovias estaduais e vicinais”, diz o gestor do órgão, ligado ao governo.

No dia 22, o governo suspendeu as liberações para queima controlada. Fernandes ainda ressalta que as unidades de conservação de gestão estadual não têm registro de fogo. “Todas elas estão intactas”, afirma.

O Corpo de Bombeiros remanejou parte do efetivo que trabalha internamente para atuar nas ruas (de 100 para 150) e mais 240 brigadistas foram contratados esta semana para atender a capital e interior. A Polícia Militar também cedeu 90 agentes para reprimir os incêndios criminosos.

“Autorizei a Companhia de Águas do Estado de Roraima (Caer) a perfuração de mais 50 poços para fornecimento de água tratada na capital e no interior”, disse o governador Antonio Denarium (PP). O Estado também afirma que estão sendo providenciados carros-pipa, a entrega de 25 mil cestas básicas, além de um pedido de reforço ao governo federal.

Em uma rede social, Waldez Góes, ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, reconheceu a situação de emergência e disse que irá apoiar o governo no plano de trabalho. Procurada, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não se manifestou.

Nesta semana, uma comitiva de ministros - entre eles Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) - estará na capital roraimense para inaugurar um espaço de coordenação das ações na terra indígena Yanomami.

Na semana passada, um balanço do governo federal mostrou que o número de mortes de indígenas na reserva, a maior do tipo do País, aumentou um ano após Lula decretar emergência de saúde na região. Um dos principais problemas da região é o domínio de algumas áreas pelos garimpeiros ilegais.

Desmate é a maior fonte de gases estufa do Brasil

Por ser uma floresta úmida, especialistas destacam que dificilmente a floresta pega fogo sozinha e a maioria das queimadas envolve ação humana criminosa. Em grande parte dos casos, os incêndios servem para abrir novas áreas de pastagem.

A preservação do bioma, a floresta tropical com maior biodiversidade do planeta, é considerada fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas. A maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate.

O climatologista Carlos Nobre, alerta que o aquecimento global torna situações extremas cada vez mais comuns. “Antigamente, havia uma grande seca na Amazônia a cada 100, 200 anos. Hoje em dia tivemos uma em 2015/2016, resultado do El Niño de maior intensidade, e outra em 2023/2024, quando houve a combinação do segundo El Niño mais intenso e das águas do Atlântico Norte muito quentes.”

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