Uma idosa de 99 anos sobreviveu à enchente que destruiu sua casa após ficar oito horas agarrada a um parreiral de uva, em Roca Sales, no Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. A cidade de 10,5 mil habitantes foi uma das mais atingidas pelo ciclone que passou pelo Estado e contabilizava 14 mortos e 4 desaparecidos nesta sexta-feira, 8. A idosa, Elma Berger de Souza, estava com uma cuidadora quando a água do Rio Taquari, que subiu 13 metros, invadiu sua casa.
A força da enxurrada derrubou as paredes e arrastou a idosa e sua cuidadora. Como a cidade inteira estava debaixo d’água, os parentes não conseguiram chegar até o local. Quando conseguiram contato com um casal vizinho da idosa que tinha se refugiado sobre um telhado, eles contaram terem ouvido gritos de socorro. As chuvas mataram aos menos 41 pessoas no Estado e 46 estão desaparecidas.
“Acharam que dona Elma, minha tia-avó, e a cuidadora tinham morrido, mas elas se agarraram ao estaleiro do parreiral”, contou a modelista Raquel Zechini, sobrinha-neta de Elma.
Segundo ela, a estrutura metálica foi a salvação da idosa e da cuidadora, que ficaram esperando socorro apenas com as cabeças fora da água, na madrugada de terça-feira, 5. As duas mulheres foram resgatadas pelos ocupantes de um barco que passava por acaso pelo local e ouviram os gritos delas.
Com quadro de hipotermia, Elma foi levada de helicóptero para o Hospital São Camilo, em Encantado, já que o hospital de Roca Sales foi destruído pelas enchentes. Segundo Rachel, a alta da idosa estava prevista para esta sexta-feira.
O prefeito da cidade, Amilton Fontana (MDB), confirmou o resgate de dona Elma e disse que a transferência foi necessária porque o Hospital Roque Gonzales ficou completamente alagado. Os 12 pacientes que estavam internados na noite de segunda, 4, foram transferidos para outros hospitais da região.
Segundo Fontana, os idosos foram as principais vítimas das enchentes e muitos, como dona Elma, foram resgatados. Entre eles um idoso de 91 anos que estava ligado a um aparelho de oxigênio quando a casa foi alagada. Com o ar praticamente esgotado, o homem foi socorrido a tempo.
‘Terror absoluto’
O advogado Marco Aurélio Schuh, de 37 anos, viveu uma situação que ele definiu como de “terror absoluto” quando seus pais e a avó de 90 anos ficaram presos em casa com água até o pescoço, em Roca Sales. Ele estava a passeio no Recife (PE) e, quando o ciclone atingiu o Rio Grande do Sul, ligou para saber dos familiares.
“Meu pai disse que a água ainda não havia entrado em casa, mas estava próxima. Não demorou muito, perdi o contato com meus pais”, relatou. Marco conseguiu contato com o irmão, também morador da cidade.
O relato foi publicado em sua rede social. Ele conta que as conversas iam ficando cada vez mais desesperadoras, até que o irmão enviou uma foto da casa cheia de água, dizendo que os pais e a avó não tinham saído a tempo. Marco conta que já havia iniciado o luto, quando o telefone tocou.
“Era minha mãe se despedindo. Disse que estavam no meu antigo quarto, só com a cabeça não imersa, que já não tinham mais forças. Ao fundo, ouvia os berros do meu pai dizendo que iriam aguentar, que logo alguém os socorreria. Sempre com sua fé inabalável! A partir daí, terror absoluto.”
Segundo o advogado, o que definiu como “milagre” aconteceu: quando eles praticamente não tinham espaço para permanecer respirando, uma equipe de resgate quebrou as placas solares e as telhas e resgatou seus pais e a avó com vida. “A mão de Deus os manteve vivos! Um milagre!.”
Marco já reviu os pais, Celso Schuh, de 70 anos, e Maria Luísa Grandi Schuh, de 65, e a avó Adiles Canzi Grandi, 90, e eles passam bem.