Na COP do Egito, apenas avanços conceituais


Houve poucos resultados práticos, avalia o diplomata Rubens Barbosa

Por Estadão Blue Studio

Também presente no Diálogos Estadão Think sobre a COP-27, realizada em novembro no Egito, o diplomata Rubens Barbosa fez uma avaliação pragmática da Conferência do Clima da ONU neste ano. Para ele, não há muito que comemorar. “Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Apesar de a iniciativa ser classificada como positiva, o ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres lembra que não se avançou em mais nada, após a unanimidade obtida ao redor do mecanismo financeiro que vinha sendo idealizado havia décadas. “Não há regras nem recursos para esse fundo. E sobre outros itens da COP, como a questão do financiamento aos países em desenvolvimento, sobretudo os africanos, também não aconteceu nada”, afirma Barbosa.

Divulgação Foto: Div
continua após a publicidade
Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Rubens Barbosa, Diplomata

Um dos panos de fundo que ajudam a explicar a morosidade na tomada de decisões práticas por parte das diplomacias dos países presentes no Egito é a invasão russa na Ucrânia. Processo que, de forma indireta, gerou uma crise energética na Europa, que acabou se espalhando para o restante do mundo. “É a realpolitik. Existe hoje uma espécie de pragmatismo energético impossível de a gente escapar. Vivemos isso aqui no Brasil, por exemplo, com a inflação nos preços dos combustíveis. No momento em que a Arábia Saudita aumenta a produção, por exemplo, é porque existe uma demanda mundial para mitigar os efeitos da crise energética. Esse é o lado ruim que impacta a questão climática”, afirma Ana Cabral-Gardner, co-CEO da Sigma Lithium, que também acompanhou, ao vivo e a partir do olhar do setor privado, as discussões na COP-27.

A questão principal dos combustíveis sujos, como o petróleo, que se não for atacada não vai fazer com que as emissões globais diminuam nos próximos anos, é outro ponto que nem foi tocado pelos negociadores no Egito, segundo Barbosa. “A Índia já propôs um programa para eliminar os fósseis. Mas a Arábia Saudita e a Rússia foram contra. Esse assunto nem entrou na pauta na COP. O programa de mitigação que estava na agenda de Glasgow [palco da COP-26, realizada em 2021] também não. Não tivemos nada prático decidido, que pode afetar os interesses reais dos países.” Ilhas como a da Polinésia, por exemplo, correm o risco de sucumbir totalmente caso o aumento médio do nível do mar não seja freado.

continua após a publicidade

Além da intenção de se criar o fundo de Perdas e Danos, Barbosa aponta outros avanços conceituais que ocorreram na COP-27, que não deixam de ser positivos. O fato de haver menção explícita às florestas e às soluções baseadas na natureza no documento final da reunião, chamado Plano de Implementação de Sharm El-Sheikh, é um deles. Especialistas no tema avaliam que essa menção inédita, e simbólica, pode funcionar como uma ponte entre as COPs climáticas e de biodiversidade, que são anuais. O encontro da ONU sobre a vida na Terra será ainda este ano, no Canadá. “Outra coisa também positiva, que ocorreu pela primeira vez, foi que se estabeleceu a conexão entre produção de alimentos, biodiversidade, água e clima”, diz Barbosa.

O diplomata brasileiro, que classificou os resultados finais do encontro como “mistos”, afirmou que é preocupante ver a diplomacia colocar meio que de lado o que a ciência vem afirmando sobre as mudanças climáticas em nome de interesses de segurança nacional. “a quadra internacional que estamos vivendo com essa guerra vai dificultar a implementação das metas climáticas e vai dificultar o objetivo de não aumentar a temperatura do planeta acima de 1,5oc. Do ponto de vista prático, estamos falando do aumento de tragédias naturais como estamos vendo em todos os países, inclusive no brasil. Todos serão afetados. Já temos mais tufões nos estados unidos e inundações na alemanha.”

Também presente no Diálogos Estadão Think sobre a COP-27, realizada em novembro no Egito, o diplomata Rubens Barbosa fez uma avaliação pragmática da Conferência do Clima da ONU neste ano. Para ele, não há muito que comemorar. “Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Apesar de a iniciativa ser classificada como positiva, o ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres lembra que não se avançou em mais nada, após a unanimidade obtida ao redor do mecanismo financeiro que vinha sendo idealizado havia décadas. “Não há regras nem recursos para esse fundo. E sobre outros itens da COP, como a questão do financiamento aos países em desenvolvimento, sobretudo os africanos, também não aconteceu nada”, afirma Barbosa.

Divulgação Foto: Div
Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Rubens Barbosa, Diplomata

Um dos panos de fundo que ajudam a explicar a morosidade na tomada de decisões práticas por parte das diplomacias dos países presentes no Egito é a invasão russa na Ucrânia. Processo que, de forma indireta, gerou uma crise energética na Europa, que acabou se espalhando para o restante do mundo. “É a realpolitik. Existe hoje uma espécie de pragmatismo energético impossível de a gente escapar. Vivemos isso aqui no Brasil, por exemplo, com a inflação nos preços dos combustíveis. No momento em que a Arábia Saudita aumenta a produção, por exemplo, é porque existe uma demanda mundial para mitigar os efeitos da crise energética. Esse é o lado ruim que impacta a questão climática”, afirma Ana Cabral-Gardner, co-CEO da Sigma Lithium, que também acompanhou, ao vivo e a partir do olhar do setor privado, as discussões na COP-27.

A questão principal dos combustíveis sujos, como o petróleo, que se não for atacada não vai fazer com que as emissões globais diminuam nos próximos anos, é outro ponto que nem foi tocado pelos negociadores no Egito, segundo Barbosa. “A Índia já propôs um programa para eliminar os fósseis. Mas a Arábia Saudita e a Rússia foram contra. Esse assunto nem entrou na pauta na COP. O programa de mitigação que estava na agenda de Glasgow [palco da COP-26, realizada em 2021] também não. Não tivemos nada prático decidido, que pode afetar os interesses reais dos países.” Ilhas como a da Polinésia, por exemplo, correm o risco de sucumbir totalmente caso o aumento médio do nível do mar não seja freado.

Além da intenção de se criar o fundo de Perdas e Danos, Barbosa aponta outros avanços conceituais que ocorreram na COP-27, que não deixam de ser positivos. O fato de haver menção explícita às florestas e às soluções baseadas na natureza no documento final da reunião, chamado Plano de Implementação de Sharm El-Sheikh, é um deles. Especialistas no tema avaliam que essa menção inédita, e simbólica, pode funcionar como uma ponte entre as COPs climáticas e de biodiversidade, que são anuais. O encontro da ONU sobre a vida na Terra será ainda este ano, no Canadá. “Outra coisa também positiva, que ocorreu pela primeira vez, foi que se estabeleceu a conexão entre produção de alimentos, biodiversidade, água e clima”, diz Barbosa.

O diplomata brasileiro, que classificou os resultados finais do encontro como “mistos”, afirmou que é preocupante ver a diplomacia colocar meio que de lado o que a ciência vem afirmando sobre as mudanças climáticas em nome de interesses de segurança nacional. “a quadra internacional que estamos vivendo com essa guerra vai dificultar a implementação das metas climáticas e vai dificultar o objetivo de não aumentar a temperatura do planeta acima de 1,5oc. Do ponto de vista prático, estamos falando do aumento de tragédias naturais como estamos vendo em todos os países, inclusive no brasil. Todos serão afetados. Já temos mais tufões nos estados unidos e inundações na alemanha.”

Também presente no Diálogos Estadão Think sobre a COP-27, realizada em novembro no Egito, o diplomata Rubens Barbosa fez uma avaliação pragmática da Conferência do Clima da ONU neste ano. Para ele, não há muito que comemorar. “Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Apesar de a iniciativa ser classificada como positiva, o ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres lembra que não se avançou em mais nada, após a unanimidade obtida ao redor do mecanismo financeiro que vinha sendo idealizado havia décadas. “Não há regras nem recursos para esse fundo. E sobre outros itens da COP, como a questão do financiamento aos países em desenvolvimento, sobretudo os africanos, também não aconteceu nada”, afirma Barbosa.

Divulgação Foto: Div
Os objetivos não foram atingidos. A única coisa concreta que saiu, já às 5 horas da manhã e dois dias depois do fim da COP, foi o fundo de Perdas e Danos, criado para compensar os prejuízos que o aquecimento global está acarretando [principalmente nos países mais vulneráveis].”

Rubens Barbosa, Diplomata

Um dos panos de fundo que ajudam a explicar a morosidade na tomada de decisões práticas por parte das diplomacias dos países presentes no Egito é a invasão russa na Ucrânia. Processo que, de forma indireta, gerou uma crise energética na Europa, que acabou se espalhando para o restante do mundo. “É a realpolitik. Existe hoje uma espécie de pragmatismo energético impossível de a gente escapar. Vivemos isso aqui no Brasil, por exemplo, com a inflação nos preços dos combustíveis. No momento em que a Arábia Saudita aumenta a produção, por exemplo, é porque existe uma demanda mundial para mitigar os efeitos da crise energética. Esse é o lado ruim que impacta a questão climática”, afirma Ana Cabral-Gardner, co-CEO da Sigma Lithium, que também acompanhou, ao vivo e a partir do olhar do setor privado, as discussões na COP-27.

A questão principal dos combustíveis sujos, como o petróleo, que se não for atacada não vai fazer com que as emissões globais diminuam nos próximos anos, é outro ponto que nem foi tocado pelos negociadores no Egito, segundo Barbosa. “A Índia já propôs um programa para eliminar os fósseis. Mas a Arábia Saudita e a Rússia foram contra. Esse assunto nem entrou na pauta na COP. O programa de mitigação que estava na agenda de Glasgow [palco da COP-26, realizada em 2021] também não. Não tivemos nada prático decidido, que pode afetar os interesses reais dos países.” Ilhas como a da Polinésia, por exemplo, correm o risco de sucumbir totalmente caso o aumento médio do nível do mar não seja freado.

Além da intenção de se criar o fundo de Perdas e Danos, Barbosa aponta outros avanços conceituais que ocorreram na COP-27, que não deixam de ser positivos. O fato de haver menção explícita às florestas e às soluções baseadas na natureza no documento final da reunião, chamado Plano de Implementação de Sharm El-Sheikh, é um deles. Especialistas no tema avaliam que essa menção inédita, e simbólica, pode funcionar como uma ponte entre as COPs climáticas e de biodiversidade, que são anuais. O encontro da ONU sobre a vida na Terra será ainda este ano, no Canadá. “Outra coisa também positiva, que ocorreu pela primeira vez, foi que se estabeleceu a conexão entre produção de alimentos, biodiversidade, água e clima”, diz Barbosa.

O diplomata brasileiro, que classificou os resultados finais do encontro como “mistos”, afirmou que é preocupante ver a diplomacia colocar meio que de lado o que a ciência vem afirmando sobre as mudanças climáticas em nome de interesses de segurança nacional. “a quadra internacional que estamos vivendo com essa guerra vai dificultar a implementação das metas climáticas e vai dificultar o objetivo de não aumentar a temperatura do planeta acima de 1,5oc. Do ponto de vista prático, estamos falando do aumento de tragédias naturais como estamos vendo em todos os países, inclusive no brasil. Todos serão afetados. Já temos mais tufões nos estados unidos e inundações na alemanha.”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.