‘Ninguém tem prazer em informar desastres’: a meteorologia humanizada da MetSul engaja no RS


Com alcance de milhões de pessoas, empresa, que tem funcionários desalojados pelas inundações no Estado, tem chamado atenção tanto pela precisão dos alertas técnicos quanto pelos ‘desabafos’

Por Juliana Domingos de Lima
Atualização:

Entre atualizações divulgadas praticamente de hora em hora pela MetSul durante a enchente histórica que assola o Estado do Rio Grande do Sul, chama atenção um “desabafo” publicado na conta da empresa gaúcha de meteorologia no X, antigo Twitter, na quarta-feira, 8. “Ninguém tem prazer em informar desastres e muito menos prevê-los”, diz a mensagem.

O texto, que já ultrapassou as 30 mil curtidas, responde a ataques dirigidos contra a MetSul na rede social, que a acusam de ser alarmista e assustar a população.

“Por vezes chega alguma mensagem desaforada, até de alguns colegas de profissão dizendo que a gente usa palavras muito fortes nos alertas, que a população está em pânico”, diz ao Estadão Estael Sias, diretora da MetSul. “Se a gente não for incisivo e claro, objetivo, e dar a real gravidade das situações, as pessoas não reagem”.

Apesar de ser uma empresa privada, a MetSul tradicionalmente divulga boletins e alertas meteorológicos em seu site e nas redes sociais. O conteúdo atinge cerca de dois milhões de pessoas, segundo a diretora, e conquistou seguidores fiéis que confiam há anos nas informações.

Morador navega em inundação de rua em Porto Alegre Foto: Andre Penner/AP

Como está funcionando a operação da MetSul

Hoje Sias comanda a MetSul com os sócios Luiz Fernando Nachtigall e Alexandre Aguiar. O professor Eugenio Hackbart, fundador da empresa, morreu em 2020.

Com as inundações que atingem praticamente todos os municípios do Estado e já afetaram mais de 1,7 milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil da noite de quinta-feira, 9, causando 107 mortes até o momento, a equipe da MetSul está dividida entre Porto Alegre e o litoral e tem tentado manter a rotina de trabalho, que ficou mais longa com os pedidos de ajuda, demandas de entrevista e de dados por parte dos municípios em estado de emergência.

O trabalho segue mesmo com os meteorologistas fora de suas casas desde a semana passada – eles também foram severamente impactados pelo desastre.

Grande parte dos profissionais são residentes na Grande Porto Alegre. Sias e Nachtigall moram em Canoas, município que tem cerca de 60% do território debaixo d’água e mais de 150 mil desalojados.

Inundação vista em Canoas, na Grande Porto Alegre Foto: Carlos Macedo/AP

“Nós estamos sem saber o que vamos encontrar quando a gente retornar. A gente continua tentando manter a operação da empresa, com site e canais atualizados. Eu tinha um mini estúdio em casa que foi inundado, então tenho gravado alguns vídeos com o que eu tenho, só notebook e celular”, conta.

A meteorologista relata ao Estadão ter saído de casa com apenas três mudas de roupa, esperando poder retornar na sexta-feira, 3. Mas um alerta de interdição dos acessos a Porto Alegre a deixou temerosa de ficar separada dos filhos e ela decidiu permanecer na capital gaúcha, onde está instalada provisoriamente na casa de amigos com os filhos e os dois cachorros.

“A gente está emocionalmente abalado e tendo que continuar prevendo, alertando e trazendo mais notícias ruins, tendo que explicar para a população que isso vai se prolongar ainda por muito tempo. É muito angustiante trabalhar nessas condições, mas eu não vejo outra forma”, diz Estael.

Além do emocional, a equipe também enfrenta o desafio técnico de trabalhar com dados que não domina totalmente depois que se ultrapassou a referência da enchente histórica que atingiu Porto Alegre em 1941, até então o marco de pior cenário para o Estado. Com isso, apesar das acusações de exagero nos alertas, eles têm buscado ser ainda mais cuidadosos nas atualizações e análises para lidar com um cenário que “é extraordinário e muito complexo”.

Estael se formou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) na área de tempestades e trabalhou por quase sete anos na Defesa Civil de São Paulo “adquirindo experiência no monitoramento e alerta de tempo severo e amplo conhecimento do Sistema Defesa Civil”, como informa o site da empresa de meteorologia. Desde 2012 é sócia-proprietária da MetSul.

A MetSul na maior tragédia do RS

As primeiras previsões para as chuvas fortes que atingiram o Estado a partir de 27 de abril foram publicadas no site da MetSul três dias antes, na quarta-feira, 24.

Em 28 de abril, a empresa divulgou um alerta indicando grave risco de enchentes no Sul por chuva excessiva a extrema. “Cenas de 2023 de cidades alagadas vão se repetir”, publicou em sua conta no X. Nos canais do governo do Rio Grande do Sul, o alerta de inundação veio somente no dia seguinte, em um vídeo protagonizado pelo governador Eduardo Leite.

Desde então, a empresa tem seguido com atualizações diárias da previsão meteorológica para o Rio Grande do Sul, sobre as enchentes e níveis dos rios.

O primeiro aviso da MetSul às autoridades do Estado sobre o ano de “super El Niño”, marcado por vários eventos climáticos extremos, foi feito ainda em junho de 2023, quando Sias falou para prefeitos e secretários em um evento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Eu fiz um alerta que os municípios teriam situações muito complicadas e que contratassem metrologistas e reforçassem suas Defesas Civis”, afirma.

O primeiro dos quatro desastres recentes que atingiram o Estado aconteceu cerca de uma semana depois da fala de Estael no congresso da Famurs. Ela explica que a dimensão e a intensidade do evento climático só pode ser prevista com precisão a curto prazo.

“A gente trabalha em terreno desconhecido e só quem faz erra e acerta. Certamente a gente vai errar alguns prognósticos. Assim eu espero, e que não seja na gravidade que a gente está enxergando, por exemplo, para a zona sul (do Estado) Mas a gente está trabalhando pelas pessoas, para poder proteger, pensar preventivamente”, diz Sias.

Para ela, os meteorologistas ainda lidam com a descrença e com reações de indignação quando o evento se mostra menos grave do que anunciado, sintomas da falta de uma cultura de prevenção no país que leva à dificuldade em evacuar as áreas de risco.

Única a prever tragédia em São Sebastião

Embora a empresa gaúcha concentre majoritariamente sua atuação e previsões no Estado de origem, onde estão quase todos os seus clientes, ela foi a única a anunciar que o volume da chuva no litoral norte de São Paulo durante o carnaval de 2023 seria superior a 600 milímetros (o equivalente a 101 mil piscinas em um dia). A maior parte dos institutos de meteorologia alertavam para uma precipitação de 200 mm, que já é considerada extrema.

Chuva causou deslizamentos e mortes em São Sebastião em 2023 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A chuva que caiu em São Sebastião entre 18 e 19 de fevereiro foi a maior já registrada em 24 horas na história do Brasil.

A diretora da MetSul conta que o medo de errar pode ser um obstáculo para que meteorologistas alertem para eventos extremos, que fogem de qualquer parâmetro.

“Não é fácil saber que uma cidade inteira vai ser evacuada por um alerta que tu fez, por mais que tu tenha conhecimento técnico, que esteja vendo os dados. Não é chute, mas nos exige muita coragem. Se tu erra num feriadão, tu é condenado e lembrado pra sempre. É um carimbo de fracasso nas tuas costas”.

Entre atualizações divulgadas praticamente de hora em hora pela MetSul durante a enchente histórica que assola o Estado do Rio Grande do Sul, chama atenção um “desabafo” publicado na conta da empresa gaúcha de meteorologia no X, antigo Twitter, na quarta-feira, 8. “Ninguém tem prazer em informar desastres e muito menos prevê-los”, diz a mensagem.

O texto, que já ultrapassou as 30 mil curtidas, responde a ataques dirigidos contra a MetSul na rede social, que a acusam de ser alarmista e assustar a população.

“Por vezes chega alguma mensagem desaforada, até de alguns colegas de profissão dizendo que a gente usa palavras muito fortes nos alertas, que a população está em pânico”, diz ao Estadão Estael Sias, diretora da MetSul. “Se a gente não for incisivo e claro, objetivo, e dar a real gravidade das situações, as pessoas não reagem”.

Apesar de ser uma empresa privada, a MetSul tradicionalmente divulga boletins e alertas meteorológicos em seu site e nas redes sociais. O conteúdo atinge cerca de dois milhões de pessoas, segundo a diretora, e conquistou seguidores fiéis que confiam há anos nas informações.

Morador navega em inundação de rua em Porto Alegre Foto: Andre Penner/AP

Como está funcionando a operação da MetSul

Hoje Sias comanda a MetSul com os sócios Luiz Fernando Nachtigall e Alexandre Aguiar. O professor Eugenio Hackbart, fundador da empresa, morreu em 2020.

Com as inundações que atingem praticamente todos os municípios do Estado e já afetaram mais de 1,7 milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil da noite de quinta-feira, 9, causando 107 mortes até o momento, a equipe da MetSul está dividida entre Porto Alegre e o litoral e tem tentado manter a rotina de trabalho, que ficou mais longa com os pedidos de ajuda, demandas de entrevista e de dados por parte dos municípios em estado de emergência.

O trabalho segue mesmo com os meteorologistas fora de suas casas desde a semana passada – eles também foram severamente impactados pelo desastre.

Grande parte dos profissionais são residentes na Grande Porto Alegre. Sias e Nachtigall moram em Canoas, município que tem cerca de 60% do território debaixo d’água e mais de 150 mil desalojados.

Inundação vista em Canoas, na Grande Porto Alegre Foto: Carlos Macedo/AP

“Nós estamos sem saber o que vamos encontrar quando a gente retornar. A gente continua tentando manter a operação da empresa, com site e canais atualizados. Eu tinha um mini estúdio em casa que foi inundado, então tenho gravado alguns vídeos com o que eu tenho, só notebook e celular”, conta.

A meteorologista relata ao Estadão ter saído de casa com apenas três mudas de roupa, esperando poder retornar na sexta-feira, 3. Mas um alerta de interdição dos acessos a Porto Alegre a deixou temerosa de ficar separada dos filhos e ela decidiu permanecer na capital gaúcha, onde está instalada provisoriamente na casa de amigos com os filhos e os dois cachorros.

“A gente está emocionalmente abalado e tendo que continuar prevendo, alertando e trazendo mais notícias ruins, tendo que explicar para a população que isso vai se prolongar ainda por muito tempo. É muito angustiante trabalhar nessas condições, mas eu não vejo outra forma”, diz Estael.

Além do emocional, a equipe também enfrenta o desafio técnico de trabalhar com dados que não domina totalmente depois que se ultrapassou a referência da enchente histórica que atingiu Porto Alegre em 1941, até então o marco de pior cenário para o Estado. Com isso, apesar das acusações de exagero nos alertas, eles têm buscado ser ainda mais cuidadosos nas atualizações e análises para lidar com um cenário que “é extraordinário e muito complexo”.

Estael se formou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) na área de tempestades e trabalhou por quase sete anos na Defesa Civil de São Paulo “adquirindo experiência no monitoramento e alerta de tempo severo e amplo conhecimento do Sistema Defesa Civil”, como informa o site da empresa de meteorologia. Desde 2012 é sócia-proprietária da MetSul.

A MetSul na maior tragédia do RS

As primeiras previsões para as chuvas fortes que atingiram o Estado a partir de 27 de abril foram publicadas no site da MetSul três dias antes, na quarta-feira, 24.

Em 28 de abril, a empresa divulgou um alerta indicando grave risco de enchentes no Sul por chuva excessiva a extrema. “Cenas de 2023 de cidades alagadas vão se repetir”, publicou em sua conta no X. Nos canais do governo do Rio Grande do Sul, o alerta de inundação veio somente no dia seguinte, em um vídeo protagonizado pelo governador Eduardo Leite.

Desde então, a empresa tem seguido com atualizações diárias da previsão meteorológica para o Rio Grande do Sul, sobre as enchentes e níveis dos rios.

O primeiro aviso da MetSul às autoridades do Estado sobre o ano de “super El Niño”, marcado por vários eventos climáticos extremos, foi feito ainda em junho de 2023, quando Sias falou para prefeitos e secretários em um evento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Eu fiz um alerta que os municípios teriam situações muito complicadas e que contratassem metrologistas e reforçassem suas Defesas Civis”, afirma.

O primeiro dos quatro desastres recentes que atingiram o Estado aconteceu cerca de uma semana depois da fala de Estael no congresso da Famurs. Ela explica que a dimensão e a intensidade do evento climático só pode ser prevista com precisão a curto prazo.

“A gente trabalha em terreno desconhecido e só quem faz erra e acerta. Certamente a gente vai errar alguns prognósticos. Assim eu espero, e que não seja na gravidade que a gente está enxergando, por exemplo, para a zona sul (do Estado) Mas a gente está trabalhando pelas pessoas, para poder proteger, pensar preventivamente”, diz Sias.

Para ela, os meteorologistas ainda lidam com a descrença e com reações de indignação quando o evento se mostra menos grave do que anunciado, sintomas da falta de uma cultura de prevenção no país que leva à dificuldade em evacuar as áreas de risco.

Única a prever tragédia em São Sebastião

Embora a empresa gaúcha concentre majoritariamente sua atuação e previsões no Estado de origem, onde estão quase todos os seus clientes, ela foi a única a anunciar que o volume da chuva no litoral norte de São Paulo durante o carnaval de 2023 seria superior a 600 milímetros (o equivalente a 101 mil piscinas em um dia). A maior parte dos institutos de meteorologia alertavam para uma precipitação de 200 mm, que já é considerada extrema.

Chuva causou deslizamentos e mortes em São Sebastião em 2023 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A chuva que caiu em São Sebastião entre 18 e 19 de fevereiro foi a maior já registrada em 24 horas na história do Brasil.

A diretora da MetSul conta que o medo de errar pode ser um obstáculo para que meteorologistas alertem para eventos extremos, que fogem de qualquer parâmetro.

“Não é fácil saber que uma cidade inteira vai ser evacuada por um alerta que tu fez, por mais que tu tenha conhecimento técnico, que esteja vendo os dados. Não é chute, mas nos exige muita coragem. Se tu erra num feriadão, tu é condenado e lembrado pra sempre. É um carimbo de fracasso nas tuas costas”.

Entre atualizações divulgadas praticamente de hora em hora pela MetSul durante a enchente histórica que assola o Estado do Rio Grande do Sul, chama atenção um “desabafo” publicado na conta da empresa gaúcha de meteorologia no X, antigo Twitter, na quarta-feira, 8. “Ninguém tem prazer em informar desastres e muito menos prevê-los”, diz a mensagem.

O texto, que já ultrapassou as 30 mil curtidas, responde a ataques dirigidos contra a MetSul na rede social, que a acusam de ser alarmista e assustar a população.

“Por vezes chega alguma mensagem desaforada, até de alguns colegas de profissão dizendo que a gente usa palavras muito fortes nos alertas, que a população está em pânico”, diz ao Estadão Estael Sias, diretora da MetSul. “Se a gente não for incisivo e claro, objetivo, e dar a real gravidade das situações, as pessoas não reagem”.

Apesar de ser uma empresa privada, a MetSul tradicionalmente divulga boletins e alertas meteorológicos em seu site e nas redes sociais. O conteúdo atinge cerca de dois milhões de pessoas, segundo a diretora, e conquistou seguidores fiéis que confiam há anos nas informações.

Morador navega em inundação de rua em Porto Alegre Foto: Andre Penner/AP

Como está funcionando a operação da MetSul

Hoje Sias comanda a MetSul com os sócios Luiz Fernando Nachtigall e Alexandre Aguiar. O professor Eugenio Hackbart, fundador da empresa, morreu em 2020.

Com as inundações que atingem praticamente todos os municípios do Estado e já afetaram mais de 1,7 milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil da noite de quinta-feira, 9, causando 107 mortes até o momento, a equipe da MetSul está dividida entre Porto Alegre e o litoral e tem tentado manter a rotina de trabalho, que ficou mais longa com os pedidos de ajuda, demandas de entrevista e de dados por parte dos municípios em estado de emergência.

O trabalho segue mesmo com os meteorologistas fora de suas casas desde a semana passada – eles também foram severamente impactados pelo desastre.

Grande parte dos profissionais são residentes na Grande Porto Alegre. Sias e Nachtigall moram em Canoas, município que tem cerca de 60% do território debaixo d’água e mais de 150 mil desalojados.

Inundação vista em Canoas, na Grande Porto Alegre Foto: Carlos Macedo/AP

“Nós estamos sem saber o que vamos encontrar quando a gente retornar. A gente continua tentando manter a operação da empresa, com site e canais atualizados. Eu tinha um mini estúdio em casa que foi inundado, então tenho gravado alguns vídeos com o que eu tenho, só notebook e celular”, conta.

A meteorologista relata ao Estadão ter saído de casa com apenas três mudas de roupa, esperando poder retornar na sexta-feira, 3. Mas um alerta de interdição dos acessos a Porto Alegre a deixou temerosa de ficar separada dos filhos e ela decidiu permanecer na capital gaúcha, onde está instalada provisoriamente na casa de amigos com os filhos e os dois cachorros.

“A gente está emocionalmente abalado e tendo que continuar prevendo, alertando e trazendo mais notícias ruins, tendo que explicar para a população que isso vai se prolongar ainda por muito tempo. É muito angustiante trabalhar nessas condições, mas eu não vejo outra forma”, diz Estael.

Além do emocional, a equipe também enfrenta o desafio técnico de trabalhar com dados que não domina totalmente depois que se ultrapassou a referência da enchente histórica que atingiu Porto Alegre em 1941, até então o marco de pior cenário para o Estado. Com isso, apesar das acusações de exagero nos alertas, eles têm buscado ser ainda mais cuidadosos nas atualizações e análises para lidar com um cenário que “é extraordinário e muito complexo”.

Estael se formou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) na área de tempestades e trabalhou por quase sete anos na Defesa Civil de São Paulo “adquirindo experiência no monitoramento e alerta de tempo severo e amplo conhecimento do Sistema Defesa Civil”, como informa o site da empresa de meteorologia. Desde 2012 é sócia-proprietária da MetSul.

A MetSul na maior tragédia do RS

As primeiras previsões para as chuvas fortes que atingiram o Estado a partir de 27 de abril foram publicadas no site da MetSul três dias antes, na quarta-feira, 24.

Em 28 de abril, a empresa divulgou um alerta indicando grave risco de enchentes no Sul por chuva excessiva a extrema. “Cenas de 2023 de cidades alagadas vão se repetir”, publicou em sua conta no X. Nos canais do governo do Rio Grande do Sul, o alerta de inundação veio somente no dia seguinte, em um vídeo protagonizado pelo governador Eduardo Leite.

Desde então, a empresa tem seguido com atualizações diárias da previsão meteorológica para o Rio Grande do Sul, sobre as enchentes e níveis dos rios.

O primeiro aviso da MetSul às autoridades do Estado sobre o ano de “super El Niño”, marcado por vários eventos climáticos extremos, foi feito ainda em junho de 2023, quando Sias falou para prefeitos e secretários em um evento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Eu fiz um alerta que os municípios teriam situações muito complicadas e que contratassem metrologistas e reforçassem suas Defesas Civis”, afirma.

O primeiro dos quatro desastres recentes que atingiram o Estado aconteceu cerca de uma semana depois da fala de Estael no congresso da Famurs. Ela explica que a dimensão e a intensidade do evento climático só pode ser prevista com precisão a curto prazo.

“A gente trabalha em terreno desconhecido e só quem faz erra e acerta. Certamente a gente vai errar alguns prognósticos. Assim eu espero, e que não seja na gravidade que a gente está enxergando, por exemplo, para a zona sul (do Estado) Mas a gente está trabalhando pelas pessoas, para poder proteger, pensar preventivamente”, diz Sias.

Para ela, os meteorologistas ainda lidam com a descrença e com reações de indignação quando o evento se mostra menos grave do que anunciado, sintomas da falta de uma cultura de prevenção no país que leva à dificuldade em evacuar as áreas de risco.

Única a prever tragédia em São Sebastião

Embora a empresa gaúcha concentre majoritariamente sua atuação e previsões no Estado de origem, onde estão quase todos os seus clientes, ela foi a única a anunciar que o volume da chuva no litoral norte de São Paulo durante o carnaval de 2023 seria superior a 600 milímetros (o equivalente a 101 mil piscinas em um dia). A maior parte dos institutos de meteorologia alertavam para uma precipitação de 200 mm, que já é considerada extrema.

Chuva causou deslizamentos e mortes em São Sebastião em 2023 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A chuva que caiu em São Sebastião entre 18 e 19 de fevereiro foi a maior já registrada em 24 horas na história do Brasil.

A diretora da MetSul conta que o medo de errar pode ser um obstáculo para que meteorologistas alertem para eventos extremos, que fogem de qualquer parâmetro.

“Não é fácil saber que uma cidade inteira vai ser evacuada por um alerta que tu fez, por mais que tu tenha conhecimento técnico, que esteja vendo os dados. Não é chute, mas nos exige muita coragem. Se tu erra num feriadão, tu é condenado e lembrado pra sempre. É um carimbo de fracasso nas tuas costas”.

Entre atualizações divulgadas praticamente de hora em hora pela MetSul durante a enchente histórica que assola o Estado do Rio Grande do Sul, chama atenção um “desabafo” publicado na conta da empresa gaúcha de meteorologia no X, antigo Twitter, na quarta-feira, 8. “Ninguém tem prazer em informar desastres e muito menos prevê-los”, diz a mensagem.

O texto, que já ultrapassou as 30 mil curtidas, responde a ataques dirigidos contra a MetSul na rede social, que a acusam de ser alarmista e assustar a população.

“Por vezes chega alguma mensagem desaforada, até de alguns colegas de profissão dizendo que a gente usa palavras muito fortes nos alertas, que a população está em pânico”, diz ao Estadão Estael Sias, diretora da MetSul. “Se a gente não for incisivo e claro, objetivo, e dar a real gravidade das situações, as pessoas não reagem”.

Apesar de ser uma empresa privada, a MetSul tradicionalmente divulga boletins e alertas meteorológicos em seu site e nas redes sociais. O conteúdo atinge cerca de dois milhões de pessoas, segundo a diretora, e conquistou seguidores fiéis que confiam há anos nas informações.

Morador navega em inundação de rua em Porto Alegre Foto: Andre Penner/AP

Como está funcionando a operação da MetSul

Hoje Sias comanda a MetSul com os sócios Luiz Fernando Nachtigall e Alexandre Aguiar. O professor Eugenio Hackbart, fundador da empresa, morreu em 2020.

Com as inundações que atingem praticamente todos os municípios do Estado e já afetaram mais de 1,7 milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil da noite de quinta-feira, 9, causando 107 mortes até o momento, a equipe da MetSul está dividida entre Porto Alegre e o litoral e tem tentado manter a rotina de trabalho, que ficou mais longa com os pedidos de ajuda, demandas de entrevista e de dados por parte dos municípios em estado de emergência.

O trabalho segue mesmo com os meteorologistas fora de suas casas desde a semana passada – eles também foram severamente impactados pelo desastre.

Grande parte dos profissionais são residentes na Grande Porto Alegre. Sias e Nachtigall moram em Canoas, município que tem cerca de 60% do território debaixo d’água e mais de 150 mil desalojados.

Inundação vista em Canoas, na Grande Porto Alegre Foto: Carlos Macedo/AP

“Nós estamos sem saber o que vamos encontrar quando a gente retornar. A gente continua tentando manter a operação da empresa, com site e canais atualizados. Eu tinha um mini estúdio em casa que foi inundado, então tenho gravado alguns vídeos com o que eu tenho, só notebook e celular”, conta.

A meteorologista relata ao Estadão ter saído de casa com apenas três mudas de roupa, esperando poder retornar na sexta-feira, 3. Mas um alerta de interdição dos acessos a Porto Alegre a deixou temerosa de ficar separada dos filhos e ela decidiu permanecer na capital gaúcha, onde está instalada provisoriamente na casa de amigos com os filhos e os dois cachorros.

“A gente está emocionalmente abalado e tendo que continuar prevendo, alertando e trazendo mais notícias ruins, tendo que explicar para a população que isso vai se prolongar ainda por muito tempo. É muito angustiante trabalhar nessas condições, mas eu não vejo outra forma”, diz Estael.

Além do emocional, a equipe também enfrenta o desafio técnico de trabalhar com dados que não domina totalmente depois que se ultrapassou a referência da enchente histórica que atingiu Porto Alegre em 1941, até então o marco de pior cenário para o Estado. Com isso, apesar das acusações de exagero nos alertas, eles têm buscado ser ainda mais cuidadosos nas atualizações e análises para lidar com um cenário que “é extraordinário e muito complexo”.

Estael se formou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) na área de tempestades e trabalhou por quase sete anos na Defesa Civil de São Paulo “adquirindo experiência no monitoramento e alerta de tempo severo e amplo conhecimento do Sistema Defesa Civil”, como informa o site da empresa de meteorologia. Desde 2012 é sócia-proprietária da MetSul.

A MetSul na maior tragédia do RS

As primeiras previsões para as chuvas fortes que atingiram o Estado a partir de 27 de abril foram publicadas no site da MetSul três dias antes, na quarta-feira, 24.

Em 28 de abril, a empresa divulgou um alerta indicando grave risco de enchentes no Sul por chuva excessiva a extrema. “Cenas de 2023 de cidades alagadas vão se repetir”, publicou em sua conta no X. Nos canais do governo do Rio Grande do Sul, o alerta de inundação veio somente no dia seguinte, em um vídeo protagonizado pelo governador Eduardo Leite.

Desde então, a empresa tem seguido com atualizações diárias da previsão meteorológica para o Rio Grande do Sul, sobre as enchentes e níveis dos rios.

O primeiro aviso da MetSul às autoridades do Estado sobre o ano de “super El Niño”, marcado por vários eventos climáticos extremos, foi feito ainda em junho de 2023, quando Sias falou para prefeitos e secretários em um evento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Eu fiz um alerta que os municípios teriam situações muito complicadas e que contratassem metrologistas e reforçassem suas Defesas Civis”, afirma.

O primeiro dos quatro desastres recentes que atingiram o Estado aconteceu cerca de uma semana depois da fala de Estael no congresso da Famurs. Ela explica que a dimensão e a intensidade do evento climático só pode ser prevista com precisão a curto prazo.

“A gente trabalha em terreno desconhecido e só quem faz erra e acerta. Certamente a gente vai errar alguns prognósticos. Assim eu espero, e que não seja na gravidade que a gente está enxergando, por exemplo, para a zona sul (do Estado) Mas a gente está trabalhando pelas pessoas, para poder proteger, pensar preventivamente”, diz Sias.

Para ela, os meteorologistas ainda lidam com a descrença e com reações de indignação quando o evento se mostra menos grave do que anunciado, sintomas da falta de uma cultura de prevenção no país que leva à dificuldade em evacuar as áreas de risco.

Única a prever tragédia em São Sebastião

Embora a empresa gaúcha concentre majoritariamente sua atuação e previsões no Estado de origem, onde estão quase todos os seus clientes, ela foi a única a anunciar que o volume da chuva no litoral norte de São Paulo durante o carnaval de 2023 seria superior a 600 milímetros (o equivalente a 101 mil piscinas em um dia). A maior parte dos institutos de meteorologia alertavam para uma precipitação de 200 mm, que já é considerada extrema.

Chuva causou deslizamentos e mortes em São Sebastião em 2023 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A chuva que caiu em São Sebastião entre 18 e 19 de fevereiro foi a maior já registrada em 24 horas na história do Brasil.

A diretora da MetSul conta que o medo de errar pode ser um obstáculo para que meteorologistas alertem para eventos extremos, que fogem de qualquer parâmetro.

“Não é fácil saber que uma cidade inteira vai ser evacuada por um alerta que tu fez, por mais que tu tenha conhecimento técnico, que esteja vendo os dados. Não é chute, mas nos exige muita coragem. Se tu erra num feriadão, tu é condenado e lembrado pra sempre. É um carimbo de fracasso nas tuas costas”.

Entre atualizações divulgadas praticamente de hora em hora pela MetSul durante a enchente histórica que assola o Estado do Rio Grande do Sul, chama atenção um “desabafo” publicado na conta da empresa gaúcha de meteorologia no X, antigo Twitter, na quarta-feira, 8. “Ninguém tem prazer em informar desastres e muito menos prevê-los”, diz a mensagem.

O texto, que já ultrapassou as 30 mil curtidas, responde a ataques dirigidos contra a MetSul na rede social, que a acusam de ser alarmista e assustar a população.

“Por vezes chega alguma mensagem desaforada, até de alguns colegas de profissão dizendo que a gente usa palavras muito fortes nos alertas, que a população está em pânico”, diz ao Estadão Estael Sias, diretora da MetSul. “Se a gente não for incisivo e claro, objetivo, e dar a real gravidade das situações, as pessoas não reagem”.

Apesar de ser uma empresa privada, a MetSul tradicionalmente divulga boletins e alertas meteorológicos em seu site e nas redes sociais. O conteúdo atinge cerca de dois milhões de pessoas, segundo a diretora, e conquistou seguidores fiéis que confiam há anos nas informações.

Morador navega em inundação de rua em Porto Alegre Foto: Andre Penner/AP

Como está funcionando a operação da MetSul

Hoje Sias comanda a MetSul com os sócios Luiz Fernando Nachtigall e Alexandre Aguiar. O professor Eugenio Hackbart, fundador da empresa, morreu em 2020.

Com as inundações que atingem praticamente todos os municípios do Estado e já afetaram mais de 1,7 milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil da noite de quinta-feira, 9, causando 107 mortes até o momento, a equipe da MetSul está dividida entre Porto Alegre e o litoral e tem tentado manter a rotina de trabalho, que ficou mais longa com os pedidos de ajuda, demandas de entrevista e de dados por parte dos municípios em estado de emergência.

O trabalho segue mesmo com os meteorologistas fora de suas casas desde a semana passada – eles também foram severamente impactados pelo desastre.

Grande parte dos profissionais são residentes na Grande Porto Alegre. Sias e Nachtigall moram em Canoas, município que tem cerca de 60% do território debaixo d’água e mais de 150 mil desalojados.

Inundação vista em Canoas, na Grande Porto Alegre Foto: Carlos Macedo/AP

“Nós estamos sem saber o que vamos encontrar quando a gente retornar. A gente continua tentando manter a operação da empresa, com site e canais atualizados. Eu tinha um mini estúdio em casa que foi inundado, então tenho gravado alguns vídeos com o que eu tenho, só notebook e celular”, conta.

A meteorologista relata ao Estadão ter saído de casa com apenas três mudas de roupa, esperando poder retornar na sexta-feira, 3. Mas um alerta de interdição dos acessos a Porto Alegre a deixou temerosa de ficar separada dos filhos e ela decidiu permanecer na capital gaúcha, onde está instalada provisoriamente na casa de amigos com os filhos e os dois cachorros.

“A gente está emocionalmente abalado e tendo que continuar prevendo, alertando e trazendo mais notícias ruins, tendo que explicar para a população que isso vai se prolongar ainda por muito tempo. É muito angustiante trabalhar nessas condições, mas eu não vejo outra forma”, diz Estael.

Além do emocional, a equipe também enfrenta o desafio técnico de trabalhar com dados que não domina totalmente depois que se ultrapassou a referência da enchente histórica que atingiu Porto Alegre em 1941, até então o marco de pior cenário para o Estado. Com isso, apesar das acusações de exagero nos alertas, eles têm buscado ser ainda mais cuidadosos nas atualizações e análises para lidar com um cenário que “é extraordinário e muito complexo”.

Estael se formou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) na área de tempestades e trabalhou por quase sete anos na Defesa Civil de São Paulo “adquirindo experiência no monitoramento e alerta de tempo severo e amplo conhecimento do Sistema Defesa Civil”, como informa o site da empresa de meteorologia. Desde 2012 é sócia-proprietária da MetSul.

A MetSul na maior tragédia do RS

As primeiras previsões para as chuvas fortes que atingiram o Estado a partir de 27 de abril foram publicadas no site da MetSul três dias antes, na quarta-feira, 24.

Em 28 de abril, a empresa divulgou um alerta indicando grave risco de enchentes no Sul por chuva excessiva a extrema. “Cenas de 2023 de cidades alagadas vão se repetir”, publicou em sua conta no X. Nos canais do governo do Rio Grande do Sul, o alerta de inundação veio somente no dia seguinte, em um vídeo protagonizado pelo governador Eduardo Leite.

Desde então, a empresa tem seguido com atualizações diárias da previsão meteorológica para o Rio Grande do Sul, sobre as enchentes e níveis dos rios.

O primeiro aviso da MetSul às autoridades do Estado sobre o ano de “super El Niño”, marcado por vários eventos climáticos extremos, foi feito ainda em junho de 2023, quando Sias falou para prefeitos e secretários em um evento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

“Eu fiz um alerta que os municípios teriam situações muito complicadas e que contratassem metrologistas e reforçassem suas Defesas Civis”, afirma.

O primeiro dos quatro desastres recentes que atingiram o Estado aconteceu cerca de uma semana depois da fala de Estael no congresso da Famurs. Ela explica que a dimensão e a intensidade do evento climático só pode ser prevista com precisão a curto prazo.

“A gente trabalha em terreno desconhecido e só quem faz erra e acerta. Certamente a gente vai errar alguns prognósticos. Assim eu espero, e que não seja na gravidade que a gente está enxergando, por exemplo, para a zona sul (do Estado) Mas a gente está trabalhando pelas pessoas, para poder proteger, pensar preventivamente”, diz Sias.

Para ela, os meteorologistas ainda lidam com a descrença e com reações de indignação quando o evento se mostra menos grave do que anunciado, sintomas da falta de uma cultura de prevenção no país que leva à dificuldade em evacuar as áreas de risco.

Única a prever tragédia em São Sebastião

Embora a empresa gaúcha concentre majoritariamente sua atuação e previsões no Estado de origem, onde estão quase todos os seus clientes, ela foi a única a anunciar que o volume da chuva no litoral norte de São Paulo durante o carnaval de 2023 seria superior a 600 milímetros (o equivalente a 101 mil piscinas em um dia). A maior parte dos institutos de meteorologia alertavam para uma precipitação de 200 mm, que já é considerada extrema.

Chuva causou deslizamentos e mortes em São Sebastião em 2023 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A chuva que caiu em São Sebastião entre 18 e 19 de fevereiro foi a maior já registrada em 24 horas na história do Brasil.

A diretora da MetSul conta que o medo de errar pode ser um obstáculo para que meteorologistas alertem para eventos extremos, que fogem de qualquer parâmetro.

“Não é fácil saber que uma cidade inteira vai ser evacuada por um alerta que tu fez, por mais que tu tenha conhecimento técnico, que esteja vendo os dados. Não é chute, mas nos exige muita coragem. Se tu erra num feriadão, tu é condenado e lembrado pra sempre. É um carimbo de fracasso nas tuas costas”.

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