O que a poluição do ar tem a ver com o efeito dos antibióticos?


Partículas poluentes conduzem bactérias e genes que são inaladas pelos seres humanos, revela trabalho feito por cientistas chineses e britânicos

Por Kelsey Ables

THE WASHINGTON POST - O agravamento da poluição do ar e o aumento da resistência a antibióticos são dois dos mais urgentes problemas atuais de saúde pública; ambos contribuem para milhões de mortes prematuras por ano. Agora, um novo estudo sugere que eles podem estar relacionados.

Pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram “correlações significativas”, em diversas partes do mundo, entre partículas poluentes conhecidas como PM 2,5 – pequeníssimas partículas de sólidos ou líquidos que pairam no ar, como poeira, sujeira e fuligem – e a resistência a antibióticos, de acordo com uma pesquisa publicada na Lancet Planetary Health.

A relação estabelecida a partir de dados coletados em 116 países ao longo de 18 anos está “aumentando de forma acelerada”, segundo os pesquisadores, o “que pode acelerar o início da chamada era pós-antibióticos”, na qual doenças resistentes aos remédios disponíveis poderão ser prevalentes.

Camada de poluição é vista a partir da zona norte de São Paulo; mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 26/06/2023

Há anos, cientistas vêm alertando sobre as consequências letais da resistência a antibióticos, que muitos chamam de “pandemia silenciosa”. O problema é atribuído ao uso excessivo e de forma errada dos antibióticos. O novo trabalho sugere que a poluição do ar também pode ser um fator importante.

Os autores estimam que a resistência aos antibióticos derivada da poluição do ar causou nada menos que 480 mil mortes prematuras em 2018 e que, se nada for feito para reverter a situação no futuro, o número de óbitos pode aumentar 56,4% até 2050.

Os dados apontam para uma interseção de duas tendências preocupantes. De 2016 a 2019, mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram mais de 80%, escreveram os cientistas no novo trabalho.

Paralelamente, a poluição do ar deve piorar em todo o mundo por causa das mudanças climáticas. Um estudo publicado em março revelou que praticamente todo mundo no planeta é exposto a níveis de poluição do ar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera pouco saudáveis.

Neste verão (no hemisfério norte), a baixa qualidade do ar por causa dos incêndios deixou grande parte dos Estados Unidos e do Canadá em uma situação de emergência, renovando as preocupações sobre as consequências da poluição do ar para a saúde humana. A poluição já foi relacionada a vários tipos de câncer, doenças respiratórias, problemas cardiovasculares e até mesmo demência e depressão, entre tantas outras condições. Em muitas partes do mundo o ar que queima a garganta e faz os olhos arderem é uma situação comum.

“A poluição tem um efeito significativo na saúde humana, mesmo se não considerarmos a resistência aos antibióticos”, afirmou Mark A. Holmes, professor de genômica e ciências veterinárias na Universidade de Cambridge, que trabalhou na pesquisa, em entrevista por e-mail. “A correlação entre a resistência a antibióticos e esse tipo de poluição oferece um novo incentivo para combater a poluição.”

O novo estudo é observacional e, por isso, os autores enfatizam que pesquisas adicionais são necessárias para determinar se há uma relação causal entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos. Ainda assim, o trabalho sustenta ser “o primeiro relatório sobre a relação entre PM 2,5 e a resistência clínica a antibióticos em todo o mundo”, como escreveram os autores.

Holmes afirmou que os resultados foram “surpreendentes” e sugere que “seria importante ir além da simples redução do uso de antibióticos para o combate à resistência às drogas”.

Pesquisas anteriores já haviam indicado que a elevação das temperaturas e da densidade populacional também estaria associada ao aumento da resistência a antibióticos por patógenos comuns.

A resistência a antibióticos foi responsável por pelo menos 1,27 milhões de mortes globalmente em 2019, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), dos EUA. Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para os altos níveis de resistência de bactérias responsáveis por infecções sanguíneas em hospitais, o que estaria tornando cada vez mais difícil tratar infecções comuns.

Diferentemente da crença popularizada, não é o paciente que se torna resistente aos antibióticos, mas o patógeno. Cada vez que usamos, com sucesso, um antibiótico, ele mata os patógenos vulneráveis, mas deixa para trás alguns poucos com elementos resistentes à droga. Esses patógenos se multiplicam tornando difícil usar a mesma medicação de forma eficaz no futuro. Homes chama o processo de “uma simples seleção natural de Darwin”.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar o mecanismo por trás da relação entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos, Hong Chen, professora de engenharia ambiental da Universidade de Zheijang que também trabalhou no estudo, afirmou, em entrevista por e-mail, que o ar foi reconhecido “como um vetor chave para a disseminação da resistência a antibióticos”.

As partículas PM 2,5 carreiam uma grande variedade de bactérias e genes resistentes a antibióticos, “que são transferidos entre diferentes ambientes e inalados diretamente pelos humanos”.

No trabalho, os autores pedem aos governos e ao público em geral que façam o que for possível para intervir no processo, lembrando que “o dano causado pela poluição do ar não tem fronteiras”.

THE WASHINGTON POST - O agravamento da poluição do ar e o aumento da resistência a antibióticos são dois dos mais urgentes problemas atuais de saúde pública; ambos contribuem para milhões de mortes prematuras por ano. Agora, um novo estudo sugere que eles podem estar relacionados.

Pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram “correlações significativas”, em diversas partes do mundo, entre partículas poluentes conhecidas como PM 2,5 – pequeníssimas partículas de sólidos ou líquidos que pairam no ar, como poeira, sujeira e fuligem – e a resistência a antibióticos, de acordo com uma pesquisa publicada na Lancet Planetary Health.

A relação estabelecida a partir de dados coletados em 116 países ao longo de 18 anos está “aumentando de forma acelerada”, segundo os pesquisadores, o “que pode acelerar o início da chamada era pós-antibióticos”, na qual doenças resistentes aos remédios disponíveis poderão ser prevalentes.

Camada de poluição é vista a partir da zona norte de São Paulo; mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 26/06/2023

Há anos, cientistas vêm alertando sobre as consequências letais da resistência a antibióticos, que muitos chamam de “pandemia silenciosa”. O problema é atribuído ao uso excessivo e de forma errada dos antibióticos. O novo trabalho sugere que a poluição do ar também pode ser um fator importante.

Os autores estimam que a resistência aos antibióticos derivada da poluição do ar causou nada menos que 480 mil mortes prematuras em 2018 e que, se nada for feito para reverter a situação no futuro, o número de óbitos pode aumentar 56,4% até 2050.

Os dados apontam para uma interseção de duas tendências preocupantes. De 2016 a 2019, mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram mais de 80%, escreveram os cientistas no novo trabalho.

Paralelamente, a poluição do ar deve piorar em todo o mundo por causa das mudanças climáticas. Um estudo publicado em março revelou que praticamente todo mundo no planeta é exposto a níveis de poluição do ar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera pouco saudáveis.

Neste verão (no hemisfério norte), a baixa qualidade do ar por causa dos incêndios deixou grande parte dos Estados Unidos e do Canadá em uma situação de emergência, renovando as preocupações sobre as consequências da poluição do ar para a saúde humana. A poluição já foi relacionada a vários tipos de câncer, doenças respiratórias, problemas cardiovasculares e até mesmo demência e depressão, entre tantas outras condições. Em muitas partes do mundo o ar que queima a garganta e faz os olhos arderem é uma situação comum.

“A poluição tem um efeito significativo na saúde humana, mesmo se não considerarmos a resistência aos antibióticos”, afirmou Mark A. Holmes, professor de genômica e ciências veterinárias na Universidade de Cambridge, que trabalhou na pesquisa, em entrevista por e-mail. “A correlação entre a resistência a antibióticos e esse tipo de poluição oferece um novo incentivo para combater a poluição.”

O novo estudo é observacional e, por isso, os autores enfatizam que pesquisas adicionais são necessárias para determinar se há uma relação causal entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos. Ainda assim, o trabalho sustenta ser “o primeiro relatório sobre a relação entre PM 2,5 e a resistência clínica a antibióticos em todo o mundo”, como escreveram os autores.

Holmes afirmou que os resultados foram “surpreendentes” e sugere que “seria importante ir além da simples redução do uso de antibióticos para o combate à resistência às drogas”.

Pesquisas anteriores já haviam indicado que a elevação das temperaturas e da densidade populacional também estaria associada ao aumento da resistência a antibióticos por patógenos comuns.

A resistência a antibióticos foi responsável por pelo menos 1,27 milhões de mortes globalmente em 2019, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), dos EUA. Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para os altos níveis de resistência de bactérias responsáveis por infecções sanguíneas em hospitais, o que estaria tornando cada vez mais difícil tratar infecções comuns.

Diferentemente da crença popularizada, não é o paciente que se torna resistente aos antibióticos, mas o patógeno. Cada vez que usamos, com sucesso, um antibiótico, ele mata os patógenos vulneráveis, mas deixa para trás alguns poucos com elementos resistentes à droga. Esses patógenos se multiplicam tornando difícil usar a mesma medicação de forma eficaz no futuro. Homes chama o processo de “uma simples seleção natural de Darwin”.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar o mecanismo por trás da relação entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos, Hong Chen, professora de engenharia ambiental da Universidade de Zheijang que também trabalhou no estudo, afirmou, em entrevista por e-mail, que o ar foi reconhecido “como um vetor chave para a disseminação da resistência a antibióticos”.

As partículas PM 2,5 carreiam uma grande variedade de bactérias e genes resistentes a antibióticos, “que são transferidos entre diferentes ambientes e inalados diretamente pelos humanos”.

No trabalho, os autores pedem aos governos e ao público em geral que façam o que for possível para intervir no processo, lembrando que “o dano causado pela poluição do ar não tem fronteiras”.

THE WASHINGTON POST - O agravamento da poluição do ar e o aumento da resistência a antibióticos são dois dos mais urgentes problemas atuais de saúde pública; ambos contribuem para milhões de mortes prematuras por ano. Agora, um novo estudo sugere que eles podem estar relacionados.

Pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram “correlações significativas”, em diversas partes do mundo, entre partículas poluentes conhecidas como PM 2,5 – pequeníssimas partículas de sólidos ou líquidos que pairam no ar, como poeira, sujeira e fuligem – e a resistência a antibióticos, de acordo com uma pesquisa publicada na Lancet Planetary Health.

A relação estabelecida a partir de dados coletados em 116 países ao longo de 18 anos está “aumentando de forma acelerada”, segundo os pesquisadores, o “que pode acelerar o início da chamada era pós-antibióticos”, na qual doenças resistentes aos remédios disponíveis poderão ser prevalentes.

Camada de poluição é vista a partir da zona norte de São Paulo; mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 26/06/2023

Há anos, cientistas vêm alertando sobre as consequências letais da resistência a antibióticos, que muitos chamam de “pandemia silenciosa”. O problema é atribuído ao uso excessivo e de forma errada dos antibióticos. O novo trabalho sugere que a poluição do ar também pode ser um fator importante.

Os autores estimam que a resistência aos antibióticos derivada da poluição do ar causou nada menos que 480 mil mortes prematuras em 2018 e que, se nada for feito para reverter a situação no futuro, o número de óbitos pode aumentar 56,4% até 2050.

Os dados apontam para uma interseção de duas tendências preocupantes. De 2016 a 2019, mortes causadas por resistência a antibióticos aumentaram mais de 80%, escreveram os cientistas no novo trabalho.

Paralelamente, a poluição do ar deve piorar em todo o mundo por causa das mudanças climáticas. Um estudo publicado em março revelou que praticamente todo mundo no planeta é exposto a níveis de poluição do ar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera pouco saudáveis.

Neste verão (no hemisfério norte), a baixa qualidade do ar por causa dos incêndios deixou grande parte dos Estados Unidos e do Canadá em uma situação de emergência, renovando as preocupações sobre as consequências da poluição do ar para a saúde humana. A poluição já foi relacionada a vários tipos de câncer, doenças respiratórias, problemas cardiovasculares e até mesmo demência e depressão, entre tantas outras condições. Em muitas partes do mundo o ar que queima a garganta e faz os olhos arderem é uma situação comum.

“A poluição tem um efeito significativo na saúde humana, mesmo se não considerarmos a resistência aos antibióticos”, afirmou Mark A. Holmes, professor de genômica e ciências veterinárias na Universidade de Cambridge, que trabalhou na pesquisa, em entrevista por e-mail. “A correlação entre a resistência a antibióticos e esse tipo de poluição oferece um novo incentivo para combater a poluição.”

O novo estudo é observacional e, por isso, os autores enfatizam que pesquisas adicionais são necessárias para determinar se há uma relação causal entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos. Ainda assim, o trabalho sustenta ser “o primeiro relatório sobre a relação entre PM 2,5 e a resistência clínica a antibióticos em todo o mundo”, como escreveram os autores.

Holmes afirmou que os resultados foram “surpreendentes” e sugere que “seria importante ir além da simples redução do uso de antibióticos para o combate à resistência às drogas”.

Pesquisas anteriores já haviam indicado que a elevação das temperaturas e da densidade populacional também estaria associada ao aumento da resistência a antibióticos por patógenos comuns.

A resistência a antibióticos foi responsável por pelo menos 1,27 milhões de mortes globalmente em 2019, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), dos EUA. Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para os altos níveis de resistência de bactérias responsáveis por infecções sanguíneas em hospitais, o que estaria tornando cada vez mais difícil tratar infecções comuns.

Diferentemente da crença popularizada, não é o paciente que se torna resistente aos antibióticos, mas o patógeno. Cada vez que usamos, com sucesso, um antibiótico, ele mata os patógenos vulneráveis, mas deixa para trás alguns poucos com elementos resistentes à droga. Esses patógenos se multiplicam tornando difícil usar a mesma medicação de forma eficaz no futuro. Homes chama o processo de “uma simples seleção natural de Darwin”.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar o mecanismo por trás da relação entre a poluição do ar e a resistência a antibióticos, Hong Chen, professora de engenharia ambiental da Universidade de Zheijang que também trabalhou no estudo, afirmou, em entrevista por e-mail, que o ar foi reconhecido “como um vetor chave para a disseminação da resistência a antibióticos”.

As partículas PM 2,5 carreiam uma grande variedade de bactérias e genes resistentes a antibióticos, “que são transferidos entre diferentes ambientes e inalados diretamente pelos humanos”.

No trabalho, os autores pedem aos governos e ao público em geral que façam o que for possível para intervir no processo, lembrando que “o dano causado pela poluição do ar não tem fronteiras”.

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