Ostras, bar flutuante e passeio: como cartão-postal do Nordeste ganhou prêmio internacional


Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável

Por Ítalo Reis
Atualização:

Foram cerca de dez anos entre perceber que as ostras da Lagoa de Guaraíras estavam desaparecendo e tornar a região numa produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade, suspendeu a degradação do meio ambiente e, neste ano, foi premiado em uma das maiores feiras de turismo do mundo, a ITB Berlim.

O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade  Foto: Ney Douglas/Estadão - 6/1/2021

Tudo começou em 2015, com a criação da AproOstras, a Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte. Foi a forma que os até então extrativistas encontraram de profissionalizar e voltar a ter um rendimento, já que a produção natural estava quase extinta.

“Os bancos naturais já não existiam mais”, conta Rafael Amaro, atual presidente da AproOstras e que há pelo menos 13 anos trabalha em Tibau do Sul como pescador destes moluscos. Segundo ele, a comunidade estava com dificuldade de encontrar ostras no mangue e o trabalho, que antes levava cerca de duas horas, passou a demorar até seis.

Projeto de Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável. Foto: Chistian Demarco/Green Destinations/Divulgação

“A devastação estava muito grande. Antes o extrativista andava dez minutos e conseguia 20 sacos de semente de ostra. Hoje ele anda horas e horas para conseguir um ou dois sacos”, explica Marcelo Medeiros, do Sebrae-RN. Foi o gestor do projeto de ostreicultura da entidade que ajudou no desenvolvimento do setor através do AquiNordeste, dois anos antes do surgimento da AproOstras.

O projeto nasceu da necessidade de estruturar as cadeias produtivas de ostra, tilapia e tambaqui nos Estados do Nordeste.

Testando sementes de ostras

No Rio Grande do Norte, o foco do projeto foi testar as sementes de ostras criadas em laboratório e reduzir a degradação do mangue na Lagoa de Guaraíras, de onde as raízes estavam sendo arrancadas para a coleta de ostras. “O projeto nasceu também para os pescadores não cortarem mais o mangue”, diz Medeiros.

“Cortando a raiz você acaba com o ecossistema que dá proteção para a reprodução de algumas espécies. Alguns peixes fazem sua desova e esses animais juvenis e menores ficam por trás das raízes do manguezal para o predador não conseguir pegar”, explica Silvino Frades, Secretário de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Tibau do Sul.

“O que houve (com a remoção de raízes de mangue) foi uma queda nos bancos naturais de ostras e também na quantidade dos peixes, porque se a gente tira o habitat de proteção deles, o predador vai conseguir pegar esse peixe mais facilmente.”

Com a AproOstras, a comunidade conseguiu formalizar uma maneira de captar dinheiro para a profissionalização e consequente sustentabilidade na produção de ostras, que tem licença ambiental por ocorrer dentro da APA Bonfim-Guaraíra, uma área de proteção ambiental.

Hoje, região de Timbau do Sul é produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. Foto: Moraes Neto/AQUINordeste

Um modelo de extração de sementes do molusco usado no Pará foi replicado na Lagoa de Guaraíras, mas não funcionou como esperado. “Na nossa região, a salinidade é muito alta e predominava a chamada ostra branca. O objetivo era conseguir as nossas próprias sementes, mas não existia mais nos bancos naturais a ostra preta”, afirma Amaro.

Com apoio do Sebrae e subsídio do Banco do Brasil, milhares de sementes de ostra criadas em laboratórios foram distribuídas para as 17 famílias da associação, assim como materiais para a confecção das mesas de criação do molusco.

Cada associado começou com cerca de 60 mesas e, segundo Amaro, hoje esse número chega a 150, em alguns casos. Em 2023, a AproOstras produziu 75 toneladas de ostras, que abastecem o consumo turístico local da região de Pipa, Natal e até Recife.

Bar flutuante

Para otimizar os ganhos dos seus produtores, a AproOstras também abriu um bar flutuante na Lagoa de Guaraíras que, além de dar vazão à produção dos associados, criou um novo passeio turístico para a região, mostrando o processo de criação local associado ao turismo regional.

No ano passado, a Secretaria de Turismo de Tibau do Sul inscreveu essa história para concorrer ao prêmio dado pela organização holandesa Green Destinations, que apoia destinos sustentáveis ao redor do mundo e, anualmente, seleciona iniciativas sobre desenvolvimento sustentável para o turismo global.

Em março deste ano, durante a ITB Berlim, Tibau do Sul conquistou o primeiro lugar na categoria Comunidades Prósperas, contando como a associação conseguiu reverter a redução de ostras na Lagoa de Guaraíra, mantendo a produtividade da comunidade aliada à preservação ambiental.

Agora o desejo da AproOstras é a recuperação da região para voltar a captar sementes de ostras da natureza, em vez de comprar em laboratórios, mas de forma sustentável. “O nosso objetivo é esse, a gente incentiva os produtores dessa comunidade de Canguaretama (RN) a captar essas sementes para que a gente possa comprar.”

Por meio de nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), órgão ambiental do Estado, diz que semestralmente são feitas coletas na região de criação para monitorar eventuais alterações na qualidade de água e fiscalizações para avaliar possíveis irregularidades e correções. Além disso, a licença ambiental obriga a AproOstras a seguir regras que proíbem o uso da região de margem da lagoa ou ocupar área de manguezal.

Foram cerca de dez anos entre perceber que as ostras da Lagoa de Guaraíras estavam desaparecendo e tornar a região numa produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade, suspendeu a degradação do meio ambiente e, neste ano, foi premiado em uma das maiores feiras de turismo do mundo, a ITB Berlim.

O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade  Foto: Ney Douglas/Estadão - 6/1/2021

Tudo começou em 2015, com a criação da AproOstras, a Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte. Foi a forma que os até então extrativistas encontraram de profissionalizar e voltar a ter um rendimento, já que a produção natural estava quase extinta.

“Os bancos naturais já não existiam mais”, conta Rafael Amaro, atual presidente da AproOstras e que há pelo menos 13 anos trabalha em Tibau do Sul como pescador destes moluscos. Segundo ele, a comunidade estava com dificuldade de encontrar ostras no mangue e o trabalho, que antes levava cerca de duas horas, passou a demorar até seis.

Projeto de Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável. Foto: Chistian Demarco/Green Destinations/Divulgação

“A devastação estava muito grande. Antes o extrativista andava dez minutos e conseguia 20 sacos de semente de ostra. Hoje ele anda horas e horas para conseguir um ou dois sacos”, explica Marcelo Medeiros, do Sebrae-RN. Foi o gestor do projeto de ostreicultura da entidade que ajudou no desenvolvimento do setor através do AquiNordeste, dois anos antes do surgimento da AproOstras.

O projeto nasceu da necessidade de estruturar as cadeias produtivas de ostra, tilapia e tambaqui nos Estados do Nordeste.

Testando sementes de ostras

No Rio Grande do Norte, o foco do projeto foi testar as sementes de ostras criadas em laboratório e reduzir a degradação do mangue na Lagoa de Guaraíras, de onde as raízes estavam sendo arrancadas para a coleta de ostras. “O projeto nasceu também para os pescadores não cortarem mais o mangue”, diz Medeiros.

“Cortando a raiz você acaba com o ecossistema que dá proteção para a reprodução de algumas espécies. Alguns peixes fazem sua desova e esses animais juvenis e menores ficam por trás das raízes do manguezal para o predador não conseguir pegar”, explica Silvino Frades, Secretário de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Tibau do Sul.

“O que houve (com a remoção de raízes de mangue) foi uma queda nos bancos naturais de ostras e também na quantidade dos peixes, porque se a gente tira o habitat de proteção deles, o predador vai conseguir pegar esse peixe mais facilmente.”

Com a AproOstras, a comunidade conseguiu formalizar uma maneira de captar dinheiro para a profissionalização e consequente sustentabilidade na produção de ostras, que tem licença ambiental por ocorrer dentro da APA Bonfim-Guaraíra, uma área de proteção ambiental.

Hoje, região de Timbau do Sul é produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. Foto: Moraes Neto/AQUINordeste

Um modelo de extração de sementes do molusco usado no Pará foi replicado na Lagoa de Guaraíras, mas não funcionou como esperado. “Na nossa região, a salinidade é muito alta e predominava a chamada ostra branca. O objetivo era conseguir as nossas próprias sementes, mas não existia mais nos bancos naturais a ostra preta”, afirma Amaro.

Com apoio do Sebrae e subsídio do Banco do Brasil, milhares de sementes de ostra criadas em laboratórios foram distribuídas para as 17 famílias da associação, assim como materiais para a confecção das mesas de criação do molusco.

Cada associado começou com cerca de 60 mesas e, segundo Amaro, hoje esse número chega a 150, em alguns casos. Em 2023, a AproOstras produziu 75 toneladas de ostras, que abastecem o consumo turístico local da região de Pipa, Natal e até Recife.

Bar flutuante

Para otimizar os ganhos dos seus produtores, a AproOstras também abriu um bar flutuante na Lagoa de Guaraíras que, além de dar vazão à produção dos associados, criou um novo passeio turístico para a região, mostrando o processo de criação local associado ao turismo regional.

No ano passado, a Secretaria de Turismo de Tibau do Sul inscreveu essa história para concorrer ao prêmio dado pela organização holandesa Green Destinations, que apoia destinos sustentáveis ao redor do mundo e, anualmente, seleciona iniciativas sobre desenvolvimento sustentável para o turismo global.

Em março deste ano, durante a ITB Berlim, Tibau do Sul conquistou o primeiro lugar na categoria Comunidades Prósperas, contando como a associação conseguiu reverter a redução de ostras na Lagoa de Guaraíra, mantendo a produtividade da comunidade aliada à preservação ambiental.

Agora o desejo da AproOstras é a recuperação da região para voltar a captar sementes de ostras da natureza, em vez de comprar em laboratórios, mas de forma sustentável. “O nosso objetivo é esse, a gente incentiva os produtores dessa comunidade de Canguaretama (RN) a captar essas sementes para que a gente possa comprar.”

Por meio de nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), órgão ambiental do Estado, diz que semestralmente são feitas coletas na região de criação para monitorar eventuais alterações na qualidade de água e fiscalizações para avaliar possíveis irregularidades e correções. Além disso, a licença ambiental obriga a AproOstras a seguir regras que proíbem o uso da região de margem da lagoa ou ocupar área de manguezal.

Foram cerca de dez anos entre perceber que as ostras da Lagoa de Guaraíras estavam desaparecendo e tornar a região numa produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade, suspendeu a degradação do meio ambiente e, neste ano, foi premiado em uma das maiores feiras de turismo do mundo, a ITB Berlim.

O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade  Foto: Ney Douglas/Estadão - 6/1/2021

Tudo começou em 2015, com a criação da AproOstras, a Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte. Foi a forma que os até então extrativistas encontraram de profissionalizar e voltar a ter um rendimento, já que a produção natural estava quase extinta.

“Os bancos naturais já não existiam mais”, conta Rafael Amaro, atual presidente da AproOstras e que há pelo menos 13 anos trabalha em Tibau do Sul como pescador destes moluscos. Segundo ele, a comunidade estava com dificuldade de encontrar ostras no mangue e o trabalho, que antes levava cerca de duas horas, passou a demorar até seis.

Projeto de Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável. Foto: Chistian Demarco/Green Destinations/Divulgação

“A devastação estava muito grande. Antes o extrativista andava dez minutos e conseguia 20 sacos de semente de ostra. Hoje ele anda horas e horas para conseguir um ou dois sacos”, explica Marcelo Medeiros, do Sebrae-RN. Foi o gestor do projeto de ostreicultura da entidade que ajudou no desenvolvimento do setor através do AquiNordeste, dois anos antes do surgimento da AproOstras.

O projeto nasceu da necessidade de estruturar as cadeias produtivas de ostra, tilapia e tambaqui nos Estados do Nordeste.

Testando sementes de ostras

No Rio Grande do Norte, o foco do projeto foi testar as sementes de ostras criadas em laboratório e reduzir a degradação do mangue na Lagoa de Guaraíras, de onde as raízes estavam sendo arrancadas para a coleta de ostras. “O projeto nasceu também para os pescadores não cortarem mais o mangue”, diz Medeiros.

“Cortando a raiz você acaba com o ecossistema que dá proteção para a reprodução de algumas espécies. Alguns peixes fazem sua desova e esses animais juvenis e menores ficam por trás das raízes do manguezal para o predador não conseguir pegar”, explica Silvino Frades, Secretário de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Tibau do Sul.

“O que houve (com a remoção de raízes de mangue) foi uma queda nos bancos naturais de ostras e também na quantidade dos peixes, porque se a gente tira o habitat de proteção deles, o predador vai conseguir pegar esse peixe mais facilmente.”

Com a AproOstras, a comunidade conseguiu formalizar uma maneira de captar dinheiro para a profissionalização e consequente sustentabilidade na produção de ostras, que tem licença ambiental por ocorrer dentro da APA Bonfim-Guaraíra, uma área de proteção ambiental.

Hoje, região de Timbau do Sul é produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. Foto: Moraes Neto/AQUINordeste

Um modelo de extração de sementes do molusco usado no Pará foi replicado na Lagoa de Guaraíras, mas não funcionou como esperado. “Na nossa região, a salinidade é muito alta e predominava a chamada ostra branca. O objetivo era conseguir as nossas próprias sementes, mas não existia mais nos bancos naturais a ostra preta”, afirma Amaro.

Com apoio do Sebrae e subsídio do Banco do Brasil, milhares de sementes de ostra criadas em laboratórios foram distribuídas para as 17 famílias da associação, assim como materiais para a confecção das mesas de criação do molusco.

Cada associado começou com cerca de 60 mesas e, segundo Amaro, hoje esse número chega a 150, em alguns casos. Em 2023, a AproOstras produziu 75 toneladas de ostras, que abastecem o consumo turístico local da região de Pipa, Natal e até Recife.

Bar flutuante

Para otimizar os ganhos dos seus produtores, a AproOstras também abriu um bar flutuante na Lagoa de Guaraíras que, além de dar vazão à produção dos associados, criou um novo passeio turístico para a região, mostrando o processo de criação local associado ao turismo regional.

No ano passado, a Secretaria de Turismo de Tibau do Sul inscreveu essa história para concorrer ao prêmio dado pela organização holandesa Green Destinations, que apoia destinos sustentáveis ao redor do mundo e, anualmente, seleciona iniciativas sobre desenvolvimento sustentável para o turismo global.

Em março deste ano, durante a ITB Berlim, Tibau do Sul conquistou o primeiro lugar na categoria Comunidades Prósperas, contando como a associação conseguiu reverter a redução de ostras na Lagoa de Guaraíra, mantendo a produtividade da comunidade aliada à preservação ambiental.

Agora o desejo da AproOstras é a recuperação da região para voltar a captar sementes de ostras da natureza, em vez de comprar em laboratórios, mas de forma sustentável. “O nosso objetivo é esse, a gente incentiva os produtores dessa comunidade de Canguaretama (RN) a captar essas sementes para que a gente possa comprar.”

Por meio de nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), órgão ambiental do Estado, diz que semestralmente são feitas coletas na região de criação para monitorar eventuais alterações na qualidade de água e fiscalizações para avaliar possíveis irregularidades e correções. Além disso, a licença ambiental obriga a AproOstras a seguir regras que proíbem o uso da região de margem da lagoa ou ocupar área de manguezal.

Foram cerca de dez anos entre perceber que as ostras da Lagoa de Guaraíras estavam desaparecendo e tornar a região numa produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade, suspendeu a degradação do meio ambiente e, neste ano, foi premiado em uma das maiores feiras de turismo do mundo, a ITB Berlim.

O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade  Foto: Ney Douglas/Estadão - 6/1/2021

Tudo começou em 2015, com a criação da AproOstras, a Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte. Foi a forma que os até então extrativistas encontraram de profissionalizar e voltar a ter um rendimento, já que a produção natural estava quase extinta.

“Os bancos naturais já não existiam mais”, conta Rafael Amaro, atual presidente da AproOstras e que há pelo menos 13 anos trabalha em Tibau do Sul como pescador destes moluscos. Segundo ele, a comunidade estava com dificuldade de encontrar ostras no mangue e o trabalho, que antes levava cerca de duas horas, passou a demorar até seis.

Projeto de Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável. Foto: Chistian Demarco/Green Destinations/Divulgação

“A devastação estava muito grande. Antes o extrativista andava dez minutos e conseguia 20 sacos de semente de ostra. Hoje ele anda horas e horas para conseguir um ou dois sacos”, explica Marcelo Medeiros, do Sebrae-RN. Foi o gestor do projeto de ostreicultura da entidade que ajudou no desenvolvimento do setor através do AquiNordeste, dois anos antes do surgimento da AproOstras.

O projeto nasceu da necessidade de estruturar as cadeias produtivas de ostra, tilapia e tambaqui nos Estados do Nordeste.

Testando sementes de ostras

No Rio Grande do Norte, o foco do projeto foi testar as sementes de ostras criadas em laboratório e reduzir a degradação do mangue na Lagoa de Guaraíras, de onde as raízes estavam sendo arrancadas para a coleta de ostras. “O projeto nasceu também para os pescadores não cortarem mais o mangue”, diz Medeiros.

“Cortando a raiz você acaba com o ecossistema que dá proteção para a reprodução de algumas espécies. Alguns peixes fazem sua desova e esses animais juvenis e menores ficam por trás das raízes do manguezal para o predador não conseguir pegar”, explica Silvino Frades, Secretário de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Tibau do Sul.

“O que houve (com a remoção de raízes de mangue) foi uma queda nos bancos naturais de ostras e também na quantidade dos peixes, porque se a gente tira o habitat de proteção deles, o predador vai conseguir pegar esse peixe mais facilmente.”

Com a AproOstras, a comunidade conseguiu formalizar uma maneira de captar dinheiro para a profissionalização e consequente sustentabilidade na produção de ostras, que tem licença ambiental por ocorrer dentro da APA Bonfim-Guaraíra, uma área de proteção ambiental.

Hoje, região de Timbau do Sul é produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. Foto: Moraes Neto/AQUINordeste

Um modelo de extração de sementes do molusco usado no Pará foi replicado na Lagoa de Guaraíras, mas não funcionou como esperado. “Na nossa região, a salinidade é muito alta e predominava a chamada ostra branca. O objetivo era conseguir as nossas próprias sementes, mas não existia mais nos bancos naturais a ostra preta”, afirma Amaro.

Com apoio do Sebrae e subsídio do Banco do Brasil, milhares de sementes de ostra criadas em laboratórios foram distribuídas para as 17 famílias da associação, assim como materiais para a confecção das mesas de criação do molusco.

Cada associado começou com cerca de 60 mesas e, segundo Amaro, hoje esse número chega a 150, em alguns casos. Em 2023, a AproOstras produziu 75 toneladas de ostras, que abastecem o consumo turístico local da região de Pipa, Natal e até Recife.

Bar flutuante

Para otimizar os ganhos dos seus produtores, a AproOstras também abriu um bar flutuante na Lagoa de Guaraíras que, além de dar vazão à produção dos associados, criou um novo passeio turístico para a região, mostrando o processo de criação local associado ao turismo regional.

No ano passado, a Secretaria de Turismo de Tibau do Sul inscreveu essa história para concorrer ao prêmio dado pela organização holandesa Green Destinations, que apoia destinos sustentáveis ao redor do mundo e, anualmente, seleciona iniciativas sobre desenvolvimento sustentável para o turismo global.

Em março deste ano, durante a ITB Berlim, Tibau do Sul conquistou o primeiro lugar na categoria Comunidades Prósperas, contando como a associação conseguiu reverter a redução de ostras na Lagoa de Guaraíra, mantendo a produtividade da comunidade aliada à preservação ambiental.

Agora o desejo da AproOstras é a recuperação da região para voltar a captar sementes de ostras da natureza, em vez de comprar em laboratórios, mas de forma sustentável. “O nosso objetivo é esse, a gente incentiva os produtores dessa comunidade de Canguaretama (RN) a captar essas sementes para que a gente possa comprar.”

Por meio de nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), órgão ambiental do Estado, diz que semestralmente são feitas coletas na região de criação para monitorar eventuais alterações na qualidade de água e fiscalizações para avaliar possíveis irregularidades e correções. Além disso, a licença ambiental obriga a AproOstras a seguir regras que proíbem o uso da região de margem da lagoa ou ocupar área de manguezal.

Foram cerca de dez anos entre perceber que as ostras da Lagoa de Guaraíras estavam desaparecendo e tornar a região numa produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade, suspendeu a degradação do meio ambiente e, neste ano, foi premiado em uma das maiores feiras de turismo do mundo, a ITB Berlim.

O extrativismo predatório em Tibau do Sul, município do Rio Grande do Norte que abriga a famosa Praia de Pipa, deu lugar a um sistema de produção sustentável que ajudou a comunidade  Foto: Ney Douglas/Estadão - 6/1/2021

Tudo começou em 2015, com a criação da AproOstras, a Associação de Produtores de Ostras do Rio Grande do Norte. Foi a forma que os até então extrativistas encontraram de profissionalizar e voltar a ter um rendimento, já que a produção natural estava quase extinta.

“Os bancos naturais já não existiam mais”, conta Rafael Amaro, atual presidente da AproOstras e que há pelo menos 13 anos trabalha em Tibau do Sul como pescador destes moluscos. Segundo ele, a comunidade estava com dificuldade de encontrar ostras no mangue e o trabalho, que antes levava cerca de duas horas, passou a demorar até seis.

Projeto de Tibau do Sul conquistou prêmio Green Destinations ao contar história da AproOstras, associação que reverteu a redução dos moluscos na Lagoa Guaraíras através da produção sustentável. Foto: Chistian Demarco/Green Destinations/Divulgação

“A devastação estava muito grande. Antes o extrativista andava dez minutos e conseguia 20 sacos de semente de ostra. Hoje ele anda horas e horas para conseguir um ou dois sacos”, explica Marcelo Medeiros, do Sebrae-RN. Foi o gestor do projeto de ostreicultura da entidade que ajudou no desenvolvimento do setor através do AquiNordeste, dois anos antes do surgimento da AproOstras.

O projeto nasceu da necessidade de estruturar as cadeias produtivas de ostra, tilapia e tambaqui nos Estados do Nordeste.

Testando sementes de ostras

No Rio Grande do Norte, o foco do projeto foi testar as sementes de ostras criadas em laboratório e reduzir a degradação do mangue na Lagoa de Guaraíras, de onde as raízes estavam sendo arrancadas para a coleta de ostras. “O projeto nasceu também para os pescadores não cortarem mais o mangue”, diz Medeiros.

“Cortando a raiz você acaba com o ecossistema que dá proteção para a reprodução de algumas espécies. Alguns peixes fazem sua desova e esses animais juvenis e menores ficam por trás das raízes do manguezal para o predador não conseguir pegar”, explica Silvino Frades, Secretário de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Tibau do Sul.

“O que houve (com a remoção de raízes de mangue) foi uma queda nos bancos naturais de ostras e também na quantidade dos peixes, porque se a gente tira o habitat de proteção deles, o predador vai conseguir pegar esse peixe mais facilmente.”

Com a AproOstras, a comunidade conseguiu formalizar uma maneira de captar dinheiro para a profissionalização e consequente sustentabilidade na produção de ostras, que tem licença ambiental por ocorrer dentro da APA Bonfim-Guaraíra, uma área de proteção ambiental.

Hoje, região de Timbau do Sul é produtora anual de cerca de 75 toneladas do molusco. Foto: Moraes Neto/AQUINordeste

Um modelo de extração de sementes do molusco usado no Pará foi replicado na Lagoa de Guaraíras, mas não funcionou como esperado. “Na nossa região, a salinidade é muito alta e predominava a chamada ostra branca. O objetivo era conseguir as nossas próprias sementes, mas não existia mais nos bancos naturais a ostra preta”, afirma Amaro.

Com apoio do Sebrae e subsídio do Banco do Brasil, milhares de sementes de ostra criadas em laboratórios foram distribuídas para as 17 famílias da associação, assim como materiais para a confecção das mesas de criação do molusco.

Cada associado começou com cerca de 60 mesas e, segundo Amaro, hoje esse número chega a 150, em alguns casos. Em 2023, a AproOstras produziu 75 toneladas de ostras, que abastecem o consumo turístico local da região de Pipa, Natal e até Recife.

Bar flutuante

Para otimizar os ganhos dos seus produtores, a AproOstras também abriu um bar flutuante na Lagoa de Guaraíras que, além de dar vazão à produção dos associados, criou um novo passeio turístico para a região, mostrando o processo de criação local associado ao turismo regional.

No ano passado, a Secretaria de Turismo de Tibau do Sul inscreveu essa história para concorrer ao prêmio dado pela organização holandesa Green Destinations, que apoia destinos sustentáveis ao redor do mundo e, anualmente, seleciona iniciativas sobre desenvolvimento sustentável para o turismo global.

Em março deste ano, durante a ITB Berlim, Tibau do Sul conquistou o primeiro lugar na categoria Comunidades Prósperas, contando como a associação conseguiu reverter a redução de ostras na Lagoa de Guaraíra, mantendo a produtividade da comunidade aliada à preservação ambiental.

Agora o desejo da AproOstras é a recuperação da região para voltar a captar sementes de ostras da natureza, em vez de comprar em laboratórios, mas de forma sustentável. “O nosso objetivo é esse, a gente incentiva os produtores dessa comunidade de Canguaretama (RN) a captar essas sementes para que a gente possa comprar.”

Por meio de nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), órgão ambiental do Estado, diz que semestralmente são feitas coletas na região de criação para monitorar eventuais alterações na qualidade de água e fiscalizações para avaliar possíveis irregularidades e correções. Além disso, a licença ambiental obriga a AproOstras a seguir regras que proíbem o uso da região de margem da lagoa ou ocupar área de manguezal.

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