Pantanal acabará e meia Amazônia será devastada até 2070 nesse ritmo de desmate, diz Carlos Nobre


Climatologista vê aquecimento global mais rápido do que a ciência previa e alerta para a necessidade de melhorar a preparação e a resposta para essas mudanças

Por Roberta Jansen
Atualização:

O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global.

Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.

Vista área de incêndio no Pantanal em Mato Grosso do Sul, em agosto de 2024; mais de 10% do bioma queimou neste ano Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento.

“Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre.

“O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos.

“O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.

Outro reflexo do desequilíbrio ambiental, também conforme o climatologista, é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. “Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano”, diz.

As condições climáticas severas e adversas - forte calor aliado a intensa seca e fortes ventos - contribuem para a intensificação dos focos de incêndios florestais no Pantanal Foto: CBM-MS

Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos no aumento de 1,5ºC em 2028”, diz o pesquisador.

“E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto”, acrescenta Nobre.

Política de adaptação para seres humanos

As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas, explica Nobre.

“Praticamente todo o nosso País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco”, afirma.

Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação. “Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Temos um desafio enorme pela frente. Nossa agricultura não é preparada para essa seca.”

Amazônia já apresenta vários efeitos devido à emergência climática, como perda florestal e seca dos rios Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da Republica

O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos dois milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações.

“Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados de lá. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos”, declara.

Com foco em preservar a saúde humana, ele cita o exemplo de Barcelona, Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico.

“Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por conta dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19″, sugere.

O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global.

Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.

Vista área de incêndio no Pantanal em Mato Grosso do Sul, em agosto de 2024; mais de 10% do bioma queimou neste ano Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento.

“Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre.

“O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos.

“O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.

Outro reflexo do desequilíbrio ambiental, também conforme o climatologista, é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. “Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano”, diz.

As condições climáticas severas e adversas - forte calor aliado a intensa seca e fortes ventos - contribuem para a intensificação dos focos de incêndios florestais no Pantanal Foto: CBM-MS

Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos no aumento de 1,5ºC em 2028”, diz o pesquisador.

“E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto”, acrescenta Nobre.

Política de adaptação para seres humanos

As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas, explica Nobre.

“Praticamente todo o nosso País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco”, afirma.

Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação. “Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Temos um desafio enorme pela frente. Nossa agricultura não é preparada para essa seca.”

Amazônia já apresenta vários efeitos devido à emergência climática, como perda florestal e seca dos rios Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da Republica

O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos dois milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações.

“Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados de lá. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos”, declara.

Com foco em preservar a saúde humana, ele cita o exemplo de Barcelona, Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico.

“Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por conta dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19″, sugere.

O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global.

Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.

Vista área de incêndio no Pantanal em Mato Grosso do Sul, em agosto de 2024; mais de 10% do bioma queimou neste ano Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento.

“Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre.

“O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos.

“O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.

Outro reflexo do desequilíbrio ambiental, também conforme o climatologista, é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. “Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano”, diz.

As condições climáticas severas e adversas - forte calor aliado a intensa seca e fortes ventos - contribuem para a intensificação dos focos de incêndios florestais no Pantanal Foto: CBM-MS

Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos no aumento de 1,5ºC em 2028”, diz o pesquisador.

“E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto”, acrescenta Nobre.

Política de adaptação para seres humanos

As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas, explica Nobre.

“Praticamente todo o nosso País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco”, afirma.

Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação. “Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Temos um desafio enorme pela frente. Nossa agricultura não é preparada para essa seca.”

Amazônia já apresenta vários efeitos devido à emergência climática, como perda florestal e seca dos rios Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da Republica

O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos dois milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações.

“Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados de lá. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos”, declara.

Com foco em preservar a saúde humana, ele cita o exemplo de Barcelona, Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico.

“Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por conta dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19″, sugere.

O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global.

Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.

Vista área de incêndio no Pantanal em Mato Grosso do Sul, em agosto de 2024; mais de 10% do bioma queimou neste ano Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento.

“Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre.

“O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos.

“O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.

Outro reflexo do desequilíbrio ambiental, também conforme o climatologista, é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. “Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano”, diz.

As condições climáticas severas e adversas - forte calor aliado a intensa seca e fortes ventos - contribuem para a intensificação dos focos de incêndios florestais no Pantanal Foto: CBM-MS

Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos no aumento de 1,5ºC em 2028”, diz o pesquisador.

“E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto”, acrescenta Nobre.

Política de adaptação para seres humanos

As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas, explica Nobre.

“Praticamente todo o nosso País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco”, afirma.

Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação. “Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Temos um desafio enorme pela frente. Nossa agricultura não é preparada para essa seca.”

Amazônia já apresenta vários efeitos devido à emergência climática, como perda florestal e seca dos rios Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da Republica

O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos dois milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações.

“Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados de lá. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos”, declara.

Com foco em preservar a saúde humana, ele cita o exemplo de Barcelona, Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico.

“Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por conta dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19″, sugere.

O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global.

Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.

Vista área de incêndio no Pantanal em Mato Grosso do Sul, em agosto de 2024; mais de 10% do bioma queimou neste ano Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento.

“Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre.

“O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos.

“O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.

Outro reflexo do desequilíbrio ambiental, também conforme o climatologista, é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. “Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano”, diz.

As condições climáticas severas e adversas - forte calor aliado a intensa seca e fortes ventos - contribuem para a intensificação dos focos de incêndios florestais no Pantanal Foto: CBM-MS

Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos no aumento de 1,5ºC em 2028”, diz o pesquisador.

“E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Estamos tentando explicar por que aumentou mais do que tínhamos previsto”, acrescenta Nobre.

Política de adaptação para seres humanos

As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas, explica Nobre.

“Praticamente todo o nosso País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco”, afirma.

Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação. “Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Temos um desafio enorme pela frente. Nossa agricultura não é preparada para essa seca.”

Amazônia já apresenta vários efeitos devido à emergência climática, como perda florestal e seca dos rios Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da Republica

O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos dois milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações.

“Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados de lá. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos”, declara.

Com foco em preservar a saúde humana, ele cita o exemplo de Barcelona, Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico.

“Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por conta dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19″, sugere.

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