SOROCABA E SÃO PAULO – Os incêndios florestais destruíram, em duas semanas, 35 mil hectares de vegetação nativa no Pantanal de Mato Grosso do Sul, um dos principais ecossistemas brasileiros. Em todo o bioma, desde o início do ano, foram registrados 3.415 focos de incêndio, maior número desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a monitorar as queimadas.
Cerca de 180 bombeiros foram deslocados para a região, mas as chamas continuam se espalhando. Nesta quinta-feira, 23, um comitê formado pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros pediu apoio de aeronaves ao governo federal para ampliar as frentes de combate aos focos.
O Pantanal abrange áreas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e se estende aos territórios da Bolívia e do Paraguai. Em todo o bioma, o número de queimadas disparou de janeiro a julho deste ano, com aumento de 189% em relação ao mesmo período de 2019.
Na porção do bioma no Mato Grosso, o cenário também é dramático. No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de mais de 530% nas queimadas, na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo um levantamento feito pelo Instituto Centro de Vida (ICV). A organização criou uma ferramenta interativa para monitorar os focos de calor no Estado durante o período de proibição de queimadas.
O governo federal publicou um decreto no último dia 16 proibindo por 120 dias as queimadas no bioma e também na Amazônia. O Mato Grosso, porém, tem uma lei própria valendo desde o dia 1º de julho. A análise mostrou que nos primeiros 15 dias do mês, o Estado como um todo teve um aumento de 12% nas queimadas, em relação ao mesmo período de 2019. Na semana passada, o Greenpeace tinha alertado que a porção de Floresta Amazônica que cobre o MT também estava em chamas.
De janeiro a junho, segundo o levantamento do ICV, foram registrados 6.747 focos de calor em todo o Mato Grosso, cerca de 300 a mais que nos primeiros seis meses do ano passado. Por bioma, 60,93% dos focos foram na porção de Floresta Amazônica, 30,95% no Cerrado e 8,12% no Pantanal.
Mas na comparação com o ano passado, o Pantanal no Estado está queimando mais neste ano. Foram 548 focos de calor de janeiro a junho, ante 87 neste período em 2019, aumento de 530%.
No Mato Grosso do Sul, as chamas atingem principalmente o município de Corumbá, considerado a capital pantaneira. A cidade lidera o ranking nacional de queimadas dos últimos cinco anos, com 2.423 focos, bem à frente da segunda colocada, Poconé (MT), com 544. Corumbá também é líder no ranking dos últimos cinco meses e dos cinco últimos dias.
Na cidade, de 92 mil habitantes, as unidades de saúde registraram aumento de 20% na procura por pacientes com doenças respiratórias causadas pela fumaça. O problema é agravado pela baixa umidade do ar decorrente da estiagem. A neblina cinzenta encobre a área urbana e obriga os moradores a manterem portas e janelas fechadas.
À noite, as queimadas se tornam visíveis do outro lado do Rio Paraguai. Na manhã desta quinta, 15 bombeiros e brigadistas combatiam uma grande queimada na região do Itajiloma, entre Corumbá e Ladário, outro município do Pantanal.
De acordo com o Corpo de Bombeiros de Corumbá, embora não seja possível precisar a origem dos incêndios, muitos resultam de ação humana. Nesta época, fazendeiros usam o fogo para renovação de pastagem e abertura de áreas para lavoura, porém, em muitos casos, a queimada foge do controle. Conforme a corporação, não chove há meses e áreas normalmente alagadas estão secas.
“Nesta época do ano, a região está com farta biomassa e muito propensa a ocorrências dessa natureza”, informou. Os bombeiros e a Defesa Civil pediram ao governo federal o envio de aeronaves para o transporte de equipes e ajuda direta no combate às chamas.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que está disponibilizando equipes e recursos para o combate às chamas, através da brigada do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo), em Corumbá.
No ano passado, os incêndios florestais queimaram um milhão de hectares de matas, lavouras e pastagens no Mato Grosso do Sul. Foi montada uma operação de guerra, com apoio de bombeiros e brigadistas de outros estados, para fazer frente à destruição.