Peixe-boi se transforma em exemplo de preservação ambiental após décadas de conflitos em Alagoas


Trabalho de biólogos reintroduziu a espécie em alguns pontos do litoral nordestino e rota ecológica virou ponto turístico

Por Eduardo Geraque
Atualização:

Antes de 2009, os conflitos ambientais entre os moradores das comunidades dos municípios da chamada rota ecológica alagoana, povoados tranquilos cercados de mar azul, eram frequentes. Os pescadores, injuriados com o estrago que o peixe-boi fazia nas redes lançadas ao mar, costumavam maltratar os animais, querendo a qualquer custo eles longe dali.

Esses mamíferos marinhos, abundantes no litoral brasileiro até meados do século 20, passaram décadas sendo caçados. Os programas de conscientização ecológica que surgiram nos anos 1980 é que começaram a mudar a situação. Todo o trabalho dos biólogos resultou na reintrodução da espécie em alguns pontos do litoral nordestino há mais de dez anos.

Outro avanço significativo ocorreu em 1997, com a criação da área de proteção ambiental (APA) dos corais. Ainda hoje a maior unidade de conservação marinha federal do País passou a ser um refúgio para os peixes-bois. A proteção se estende por um total de 400 mil hectares. São 120 km ao longo da costa, desde o município de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, até Maceió, capital de Alagoas.

A APA, portanto, engloba todo o litoral norte alagoano. Em direção ao alto mar são 30 km desde a praia, onde ocorre a quebra da plataforma continental brasileira, conhecida como "paredes" pelos pescadores da região. Além dos mamíferos, a barreira de coral nordestina e toda a vida marinha dos arredores estão sob proteção. Apesar das constantes pressões, que não são poucas.

Peixe-boi pode ser visto ao longo do curso do rio Tatuamunha, em Alagoas Foto: ASSOCIAÇÃO PEIXE-BOI

No início deste século, o centenário município de Porto de Pedras tinha algumas atividades que entravam constantemente em conflito. Além dos pescadores quererem pescar e, por isso, muitos foram contra a reintrodução do peixe-boi e da criação de áreas de proteção ambiental, havia também as famílias já interessadas no incremento do turismo.

No início, segundo relatos de moradores da região, cada grupo queria fazer do seu jeito. E várias associações diferentes foram sendo montadas. Até que, em 2009, até por causa de uma intervenção do Ministério Público, foi criada uma associação única e as coisas começaram a se ajeitar, ainda com alguma tensão. Os pescadores que começaram a entender a importância do peixe-boi para a região passaram a investir no fortalecimento da chamada Associação Peixe-Boi, localizada em Porto de Pedras.

O apoio de ONGs, como a SOS Mata Atlântica, e um grupo cada vez maior de pesquisadores e gestores transformaram a situação. Hoje, a defesa ao peixe-boi, como explica Flávia Rêgo, presidente da Associação Peixe-Boi, está consolidada.

Nascida e criada na costa alagoana, a dirigente da associação sempre se interessou pela preservação do meio ambiente. Das gerações anteriores, a gestora ouvia que o peixe-boi havia sido abundante naquela região. "Meu sogro, que morreu em 2018, resolveu criar um movimento para proteger o meio ambiente naquela época (no início dos anos 2000). Ainda bem que ele conseguiu ver isso tudo florescer em vida."

O apoio dado pela associação ao longo dos anos não é apenas em termos logísticos e de infraestrutura. Houve muita capacitação para que os guias locais conhecessem os aspectos ecológicos do peixe-boi e dos manguezais, onde eles vivem.

Hoje, o turista, ao entrar em uma das embarcações rumo ao Rio Tatuamunha, onde se pode observar os mamíferos (quase sempre, porque não dá para combinar tudo em 100% com a natureza), vai ouvir histórias interessantes, mas também informações acuradas sobre a vida dos peixes-bois.

Enquanto, do outro lado, os cientistas do ICMBio trabalham de forma árdua na pesquisa e no monitoramento dos animais. No início de maio, uma prova de que o trabalho dos pesquisadores está no caminho certo. Uma filhote de peixe-boi nasceu dentro do recinto especial dos animais, algo inédito em Alagoas. Seis dias depois, o pequeno animal submergiu e ficou preso em alguns galhos do manguezal, perdendo a vida.

A mãe Paty, resgatada ainda jovem do mar em 2014, e que quase morreu quando passou a ser tratada, ainda terá outras oportunidades, avaliam os veterinários do ICMBio.

"É uma pena, mas a natureza sabe o que faz. Uma das nossas missões agora é passar tudo isso para as próximas gerações", afirma Flávia. São 40 famílias diretamente ligadas ao turismo de observação do peixe-boi. A visitação ao mamífero movimenta as pousadas e restaurantes da região. A chamada rota ecológica, nos últimos anos, também virou local de turismo de alto poder aquisitivo.

O principal destaque da iniciativa alagoana não está apenas em preservar o peixe-boi em si, mas consolidar a ideia de que o meio ambiente vivo gera mais recursos, inclusive econômicos, para a população e protege o planeta das mudanças climáticas. O grande resultado que a associação tem para mostrar, portanto, é o fato de o mangue estar exuberante, com a flora e a fauna vivendo bem, apesar das ameaças – como o mercúrio que vem pelo rio – estarem sempre rondando a todos.

Antes de 2009, os conflitos ambientais entre os moradores das comunidades dos municípios da chamada rota ecológica alagoana, povoados tranquilos cercados de mar azul, eram frequentes. Os pescadores, injuriados com o estrago que o peixe-boi fazia nas redes lançadas ao mar, costumavam maltratar os animais, querendo a qualquer custo eles longe dali.

Esses mamíferos marinhos, abundantes no litoral brasileiro até meados do século 20, passaram décadas sendo caçados. Os programas de conscientização ecológica que surgiram nos anos 1980 é que começaram a mudar a situação. Todo o trabalho dos biólogos resultou na reintrodução da espécie em alguns pontos do litoral nordestino há mais de dez anos.

Outro avanço significativo ocorreu em 1997, com a criação da área de proteção ambiental (APA) dos corais. Ainda hoje a maior unidade de conservação marinha federal do País passou a ser um refúgio para os peixes-bois. A proteção se estende por um total de 400 mil hectares. São 120 km ao longo da costa, desde o município de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, até Maceió, capital de Alagoas.

A APA, portanto, engloba todo o litoral norte alagoano. Em direção ao alto mar são 30 km desde a praia, onde ocorre a quebra da plataforma continental brasileira, conhecida como "paredes" pelos pescadores da região. Além dos mamíferos, a barreira de coral nordestina e toda a vida marinha dos arredores estão sob proteção. Apesar das constantes pressões, que não são poucas.

Peixe-boi pode ser visto ao longo do curso do rio Tatuamunha, em Alagoas Foto: ASSOCIAÇÃO PEIXE-BOI

No início deste século, o centenário município de Porto de Pedras tinha algumas atividades que entravam constantemente em conflito. Além dos pescadores quererem pescar e, por isso, muitos foram contra a reintrodução do peixe-boi e da criação de áreas de proteção ambiental, havia também as famílias já interessadas no incremento do turismo.

No início, segundo relatos de moradores da região, cada grupo queria fazer do seu jeito. E várias associações diferentes foram sendo montadas. Até que, em 2009, até por causa de uma intervenção do Ministério Público, foi criada uma associação única e as coisas começaram a se ajeitar, ainda com alguma tensão. Os pescadores que começaram a entender a importância do peixe-boi para a região passaram a investir no fortalecimento da chamada Associação Peixe-Boi, localizada em Porto de Pedras.

O apoio de ONGs, como a SOS Mata Atlântica, e um grupo cada vez maior de pesquisadores e gestores transformaram a situação. Hoje, a defesa ao peixe-boi, como explica Flávia Rêgo, presidente da Associação Peixe-Boi, está consolidada.

Nascida e criada na costa alagoana, a dirigente da associação sempre se interessou pela preservação do meio ambiente. Das gerações anteriores, a gestora ouvia que o peixe-boi havia sido abundante naquela região. "Meu sogro, que morreu em 2018, resolveu criar um movimento para proteger o meio ambiente naquela época (no início dos anos 2000). Ainda bem que ele conseguiu ver isso tudo florescer em vida."

O apoio dado pela associação ao longo dos anos não é apenas em termos logísticos e de infraestrutura. Houve muita capacitação para que os guias locais conhecessem os aspectos ecológicos do peixe-boi e dos manguezais, onde eles vivem.

Hoje, o turista, ao entrar em uma das embarcações rumo ao Rio Tatuamunha, onde se pode observar os mamíferos (quase sempre, porque não dá para combinar tudo em 100% com a natureza), vai ouvir histórias interessantes, mas também informações acuradas sobre a vida dos peixes-bois.

Enquanto, do outro lado, os cientistas do ICMBio trabalham de forma árdua na pesquisa e no monitoramento dos animais. No início de maio, uma prova de que o trabalho dos pesquisadores está no caminho certo. Uma filhote de peixe-boi nasceu dentro do recinto especial dos animais, algo inédito em Alagoas. Seis dias depois, o pequeno animal submergiu e ficou preso em alguns galhos do manguezal, perdendo a vida.

A mãe Paty, resgatada ainda jovem do mar em 2014, e que quase morreu quando passou a ser tratada, ainda terá outras oportunidades, avaliam os veterinários do ICMBio.

"É uma pena, mas a natureza sabe o que faz. Uma das nossas missões agora é passar tudo isso para as próximas gerações", afirma Flávia. São 40 famílias diretamente ligadas ao turismo de observação do peixe-boi. A visitação ao mamífero movimenta as pousadas e restaurantes da região. A chamada rota ecológica, nos últimos anos, também virou local de turismo de alto poder aquisitivo.

O principal destaque da iniciativa alagoana não está apenas em preservar o peixe-boi em si, mas consolidar a ideia de que o meio ambiente vivo gera mais recursos, inclusive econômicos, para a população e protege o planeta das mudanças climáticas. O grande resultado que a associação tem para mostrar, portanto, é o fato de o mangue estar exuberante, com a flora e a fauna vivendo bem, apesar das ameaças – como o mercúrio que vem pelo rio – estarem sempre rondando a todos.

Antes de 2009, os conflitos ambientais entre os moradores das comunidades dos municípios da chamada rota ecológica alagoana, povoados tranquilos cercados de mar azul, eram frequentes. Os pescadores, injuriados com o estrago que o peixe-boi fazia nas redes lançadas ao mar, costumavam maltratar os animais, querendo a qualquer custo eles longe dali.

Esses mamíferos marinhos, abundantes no litoral brasileiro até meados do século 20, passaram décadas sendo caçados. Os programas de conscientização ecológica que surgiram nos anos 1980 é que começaram a mudar a situação. Todo o trabalho dos biólogos resultou na reintrodução da espécie em alguns pontos do litoral nordestino há mais de dez anos.

Outro avanço significativo ocorreu em 1997, com a criação da área de proteção ambiental (APA) dos corais. Ainda hoje a maior unidade de conservação marinha federal do País passou a ser um refúgio para os peixes-bois. A proteção se estende por um total de 400 mil hectares. São 120 km ao longo da costa, desde o município de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, até Maceió, capital de Alagoas.

A APA, portanto, engloba todo o litoral norte alagoano. Em direção ao alto mar são 30 km desde a praia, onde ocorre a quebra da plataforma continental brasileira, conhecida como "paredes" pelos pescadores da região. Além dos mamíferos, a barreira de coral nordestina e toda a vida marinha dos arredores estão sob proteção. Apesar das constantes pressões, que não são poucas.

Peixe-boi pode ser visto ao longo do curso do rio Tatuamunha, em Alagoas Foto: ASSOCIAÇÃO PEIXE-BOI

No início deste século, o centenário município de Porto de Pedras tinha algumas atividades que entravam constantemente em conflito. Além dos pescadores quererem pescar e, por isso, muitos foram contra a reintrodução do peixe-boi e da criação de áreas de proteção ambiental, havia também as famílias já interessadas no incremento do turismo.

No início, segundo relatos de moradores da região, cada grupo queria fazer do seu jeito. E várias associações diferentes foram sendo montadas. Até que, em 2009, até por causa de uma intervenção do Ministério Público, foi criada uma associação única e as coisas começaram a se ajeitar, ainda com alguma tensão. Os pescadores que começaram a entender a importância do peixe-boi para a região passaram a investir no fortalecimento da chamada Associação Peixe-Boi, localizada em Porto de Pedras.

O apoio de ONGs, como a SOS Mata Atlântica, e um grupo cada vez maior de pesquisadores e gestores transformaram a situação. Hoje, a defesa ao peixe-boi, como explica Flávia Rêgo, presidente da Associação Peixe-Boi, está consolidada.

Nascida e criada na costa alagoana, a dirigente da associação sempre se interessou pela preservação do meio ambiente. Das gerações anteriores, a gestora ouvia que o peixe-boi havia sido abundante naquela região. "Meu sogro, que morreu em 2018, resolveu criar um movimento para proteger o meio ambiente naquela época (no início dos anos 2000). Ainda bem que ele conseguiu ver isso tudo florescer em vida."

O apoio dado pela associação ao longo dos anos não é apenas em termos logísticos e de infraestrutura. Houve muita capacitação para que os guias locais conhecessem os aspectos ecológicos do peixe-boi e dos manguezais, onde eles vivem.

Hoje, o turista, ao entrar em uma das embarcações rumo ao Rio Tatuamunha, onde se pode observar os mamíferos (quase sempre, porque não dá para combinar tudo em 100% com a natureza), vai ouvir histórias interessantes, mas também informações acuradas sobre a vida dos peixes-bois.

Enquanto, do outro lado, os cientistas do ICMBio trabalham de forma árdua na pesquisa e no monitoramento dos animais. No início de maio, uma prova de que o trabalho dos pesquisadores está no caminho certo. Uma filhote de peixe-boi nasceu dentro do recinto especial dos animais, algo inédito em Alagoas. Seis dias depois, o pequeno animal submergiu e ficou preso em alguns galhos do manguezal, perdendo a vida.

A mãe Paty, resgatada ainda jovem do mar em 2014, e que quase morreu quando passou a ser tratada, ainda terá outras oportunidades, avaliam os veterinários do ICMBio.

"É uma pena, mas a natureza sabe o que faz. Uma das nossas missões agora é passar tudo isso para as próximas gerações", afirma Flávia. São 40 famílias diretamente ligadas ao turismo de observação do peixe-boi. A visitação ao mamífero movimenta as pousadas e restaurantes da região. A chamada rota ecológica, nos últimos anos, também virou local de turismo de alto poder aquisitivo.

O principal destaque da iniciativa alagoana não está apenas em preservar o peixe-boi em si, mas consolidar a ideia de que o meio ambiente vivo gera mais recursos, inclusive econômicos, para a população e protege o planeta das mudanças climáticas. O grande resultado que a associação tem para mostrar, portanto, é o fato de o mangue estar exuberante, com a flora e a fauna vivendo bem, apesar das ameaças – como o mercúrio que vem pelo rio – estarem sempre rondando a todos.

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