A morte da sucuri Ana Julia, encontrada morta no dia 24 de março por guias turísticos nas margens do Rio Formoso em Bonito (MS) não foi causada por humanos e de forma violenta, aponta o laudo da perícia. Houve a suspeita até de que a serpente tivesse sido vítima de disparos, o que não foi confirmado pelos exames.
Não é possível, porém, afirmar que se trata de morte natural, segundo a bióloga e pesquisadora Juliana Terra, especialista em sucuris, que monitorava Ana Julia há cerca de oito anos. Ainda será feita, por exemplo, a análise do material coletado para averiguar a presença de contaminantes. Ela não descarta, por exemplo, uma possível contaminação causada por ser humano, sem a intenção”.
A veterinária, e perita da Polícia Civil Maristela Melo, esteve em Bonito, segundo a assessoria de comunicação, e fez incisões no corpo do animal para uma análise mais detalhada. A especialista encontrou “algumas hemorragias internas”, mas “devido ao adiantado estado de decomposição da sucuri, não foi possível precisar a existência ou não de alguma patologia”.
“Realizamos exames minuciosos em toda a pele do animal e foram encontradas apenas alguns arranhões não recentes na cabeça, o que é muito comum em sucuris que são animais predadores”, lembrou Maristela.
Restos mortais da cobra foram levados para o Instituto de Criminalística em Campo Grande, para que exames complementares sejam realizados, entre eles os de imagens.
Exames por raio x realizados na cobra não identificaram projéteis alojados ou quebramento de ossos. Assim, a perícia descartou morte violenta ou por causas externas, disse o diretor do Instituto de Criminalística de Mato Grosso do Sul, o perito criminal Emerson Lopes dos Reis.
Oito anos de monitoramento
Batizada carinhosamente de Ana Julia e chamada de Rainha do Rio Formoso, a cobra era, para pesquisadores, a sucuri-verde (Eunectes murinus) mais famosa do Brasil.
Não é possível precisar a idade da Ana Julia, mas ela era avistada no Rio Formoso há pelo menos 15 anos. Por causa da decomposição e dos exames realizados, a cobra não será empalhada.
Ana Julia integrava o Projeto Sucuri desenvolvido por Juliana Terra há quase 10 anos. “Ela era um animal magnífico, já conhecia muito bem sua rotina, sua vida. Ela tinha um padrão muito bem marcado, gostava de se abrigar sempre nos mesmo locais, de tomar banho de sol em determinados locais no barranco do rio”, relata.
‘Foi muito tempo observando ela. A gente tem o objetivo científico, mas também desenvolve afeto pelo animal. Agora, infelizmente, não tem mais a Ana Júlia para monitorar” acrescentou a pesquisadora.
Ana Terra é herpetóloga (especialista em répteis e anfíbios). O projeto que ela coordena iniciou há 10 anos e tem o objetivo de entender a história natural das sucuris-verdes (Eunectes murinus) de vida livre, ou seja, reprodução, alimentação, atividade, uso do ambiente, comportamento, movimentação, além de avaliar a influência das mudanças climáticas na distribuição e risco de extinção das espécies de sucuris.
Nova espécie foi descrita por pesquisador holandês
AnaJulia já estrelou registros do pesquisador Freek Vonk, que identificou em fevereiro uma nova espécie de sucuri-verde na Amazônia. Vonk mergulhou com a cobra e compartilhou imagens da serpente de seis metros e meio nas redes sociais.
Estudo publicado na revista científica MDPI Diversity em fevereiro aponta que as sucuris-verdes, popularmente conhecidas como anacondas, anteriormente catalogadas como uma única espécie (Eunectes murinus), se mostram na verdade um grupo composto por dois tipos genéticos distintos. Cerca de 14 pesquisadores de nove países se envolveram no trabalho.