Cientistas brasileiros descobriram uma nova espécie de sapo no Parque Estadual da Serra Negra, em Itamarandiba, em Minas Gerais. Chamada de Crossodactylodes serranegra, a espécie foi encontrada no topo de uma montanha da Serra do Espinhaço e, acredita-se, que viva apenas naquela região, conhecida pela riqueza de sua biodiversidade.
O trabalho, publicado em junho na revisa Herpetologica, foi feito por pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp Rio Claro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Kent, no Reino Unido, e do Instituto Biotrópicos. A descoberta é importante para o conhecimento da biodiversidade brasileira e também para embasar eventuais ações de conservação.
“Ao conhecermos melhor a real biodiversidade, através do conhecimento do maior número possível de espécies, podemos investir de forma mais eficiente em programas de conservação das espécies vulneráveis e ameaçadas de extinção”, explicou o pesquisador Celio Haddad, da Unesp, um dos autores do estudo. “No caso dos anfíbios, é muito comum que possuam substâncias bioativas em glândulas presentes na pele. Essas substâncias têm se mostrado úteis no desenvolvimento de medicamentos. Quanto mais espécies conhecermos, maior as chances de encontrarmos novas substâncias na pele dos anfíbios com potencial farmacológico.”
O pequeno sapo tem o corpo de coloração marrom claro e os dedos alaranjados. Ele foi encontrado em um trecho da floresta com características que já se sabiam favoráveis à existência de espécies do gênero Crossodactylodes, com árvores baixas, arbustos, musgos, líquens e alta densidade de bromélias, além de estar localizado a mais de mil metros de altitude. Uma nova espécie de sapo já havia sido descoberta por lá anteriormente, em 2013, o Crossodactylodes itambe.
Desde 2019, foram descobertos nada menos que 50 novas espécies de sapo, acrescentados à Lista de Anfíbios do Brasil, publicada pela Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH).
“A velocidade de descrições de novas espécies vem crescendo por vários fatores”, disse Haddad. “Os principais são o aumento no número de pesquisadores dedicados ao estudo da diversidade de anfíbios brasileiros e o avanço tecnológico que permitiu maior velocidade e precisão na identificação das espécies novas.”
A pesquisa que resultou na descoberta do novo anfíbio teve início em 2017, quando a bióloga Izabela Barata, da Universidade de Kent, fazia pesquisa de campo no Parque Estadual da Serra Negra. Durante o trabalho, ela encontrou dois exemplares do sapo de dedos alaranjados e relatou a descoberta a Santos, que suspeitou que pudesse ser uma nova espécie.
A descoberta, porém, não pode ser atribuída ao acaso. A bióloga trabalha com o desenvolvimento de modelagem preditiva e usou a ferramenta para identificar os locais onde a ocorrência de espécies de Crossodactylodes poderia ser mais provável.
Em uma nova etapa do trabalho de campo, em 2018, pesquisadores coletaram novos indivíduos para a realização de análises mais detalhadas. A análise genética e morfológica do material confirmou tratar-se de uma nova espécie.
“A coloração alaranjada dos dedos e a presença de fendas vocais e odontofóros vomerianos, que são estruturas presentes da boca do animal, são algumas características que diferenciam a espécie”, explicou Marcus Thadeu Teixeira Santos, principal autor do estudo, em entrevista ao Jornal da Unesp.