A temperatura média global bateu novo recorde pelo terceiro dia em apenas uma semana. Dados analisados por pesquisadores americanos mostram que a temperatura da última quinta-feira, 6, alcançou 17,23ºC, superando o recorde de terça-feira, 17,18ºC e o de segunda-feira, de 17,01ºC.
Essas medições são feitas por uma ferramenta chamada Climate Reanalyzer. Pesquisadores da Universidade do Maine (EUA) usam uma combinação de leituras de observações superfície, balões e satélites, além de modelos computacionais, para apontar essas temperaturas. Não é um monitoramento oficial, mas tem oferecido boa visão sobre as variações climáticas.
O aumento está sendo relacionado por cientistas às mudanças climáticas provocadas pelo homem e ao fenômeno El Niño, o aquecimento natural das águas do Oceano Pacífico, que também vem sendo agravado pelo aquecimento global.
Não significa que é a temperatura mais alta desde que o planeta existe (a Terra surgiu há aproximadamente 4,5 bilhões de anos) , mas ao menos nos últimos milênios. “É certamente plausível que os últimos dias tenham sido os mais quentes nos últimos 120 mil anos ou pelo menos nos últimos 23 mil”, diz Michael Mann, climatologista da Universidade da Pensilvânia (EUA), citando um estudo de 2021.
Ondas de calor estão sendo registradas em várias partes do mundo, como Europa, Estados Unidos e Ásia. No Brasil, o risco de incêndios, sobretudo na região da Amazônia, deixa os cientistas em alerta. Em junho, a floresta e o Cerrado bateram recorde de queimadas desde 2007.
O fenômeno El Niño é considerado a maior flutuação natural do sistema climático terrestre. Acontece a cada três a sete anos, faz com que as águas mais quentes do Pacífico cheguem à superfície do oceano, lançando calor para atmosfera. As mudanças climáticas em curso, no entanto, têm feito com o que o fenômeno se torne cada vez mais frequente e mais intenso.
“Climatologistas não estão surpresos com os recordes diários de temperatura, mas estão muito preocupados”, afirmou o especialista em ciência climática do Imperial College de Londres Friederike Otto, em entrevista à BBC. “Deveria ser um alerta para qualquer um que acha que o mundo precisa de mais óleo e gás.”
Antes desta semana, o último recorde da temperatura global do planeta havia sido registrado em agosto de 2016 (16,92ºC), e não havia alcançado os 17ºC. Especialistas alertam para o fato de que a maioria das sociedades não está adaptada a situações de calor extremo e os impactos nas pessoas e no meio ambiente podem ser graves.
Uma redução recorde na cobertura de gelo na Antártida e o aumento da temperatura média do Ártico, sobretudo na Groenlândia, também mostraram, nos últimos dias, a aceleração da crise climática. A diminuição da camada de gelo nos polos tem relação direta com o aumento do nível dos mares em vários pontos do planeta, que tem 70% da sua área coberta pelos oceanos.
“A situação que testemunhamos agora é a demonstração de que as mudanças climáticas estão fora de controle”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, em comunicado nesta semana. “Se persistirmos em atrasar a adoção de medidas necessárias, estamos caminhando para uma situação catastrófica, como os últimos recordes de temperatura demonstram”, acrescentou. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS