Inundações cada vez mais frequentes que podem invadir fábricas e danificar equipamentos ou atrapalhar o fornecimento de matéria-prima ou a cadeia de distribuição de um produto por causa de deslizamento de terras e rompimento de barreiras em represas. Ou, no outro extremo, escassez de água, que também pode comprometer uma cadeia de produção. Estes são apenas alguns exemplos de como mudanças climáticas podem afetar os negócios de uma empresa.
É para ajudar companhias particulares, governos e organizações do terceiro setor a se adaptarem a esse tipo de situação que está sendo criado o AdaptaClima, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e desenvolvido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), com apoio do Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) e financiado pelo Conselho Britânico por meio do fundo Newton Fund.
O AdaptaClima é um site de acesso gratuito, com previsão de lançamento para o início de dezembro, que terá a missão de ajudar gestores e equipes técnicas responsáveis pela decisão de implementação de projetos, em um âmbito local, a entender o que são as mudanças climáticas e como elas afetam diferentes setores da economia. A ferramenta também facilitará a busca por informações relacionadas à adaptação a essas mudanças e promoverá troca de conhecimento e relacionamento entre seus usuários.
Aquecimento. Já se sabe que a temperatura média da Terra vem crescendo nos últimos anos. E também já está bem estabelecido que a frequência de eventos climáticos como tempestades ou secas intensas vem aumentando. “Ainda que a ciência ainda não consiga determinar precisamente o quanto dessas mudanças é consequência do aquecimento, elas já estão acontecendo e vamos ter de nos adaptar”, diz Mariana Nicoletti, coordenadora do projeto no GVces. Para a pesquisadora, investir nessas adaptações é uma situação de ganha-ganha, porque vai lidar com questões socioambientais históricas e graves no Brasil, como a seca no Nordeste, que tem se prolongado nos últimos anos.
Nesse sentido, as adaptações às mudanças climáticas são tão importantes quanto a mitigação da emissão de gases de efeito estufa, principalmente o CO2, apontado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima como principal responsável pelo aquecimento global. “Mesmo se zerássemos, hoje, a emissão desses gases, ainda sentiríamos seus impactos no aumento da temperatura por muito tempo”, diz Mariana.
O AdaptaClima vai, a princípio, disponibilizar dados climáticos gratuitamente para que os usuários possam calcular possíveis impactos e sua vulnerabilidade a eles. Ao longo de dois anos a ferramenta vai incorporar diversas funcionalidades, como informações sobre regulações, atuação de empresas e sociedade civil, dados sobre políticas públicas e ações em uma localidade específica e informações hidrológicas e socioeconômicas. As informações serão divididas por temas, como “cidades”, “indústria”, “recursos hídricos” e “agricultura”.
O site também agregará fóruns de discussão com especialistas e, futuramente, promoverá eventos presenciais e fomentação de pesquisas de temas ligados a mudanças climáticas, sobre os quais haja uma lacuna de informações.
A ideia é que a ferramenta ajude o usuário não só a buscar informações, mas também criar ou dar andamento a uma estratégia de adaptação, ensinando passo a passo todas as fases de um projeto desse tipo: fase de diagnóstico de impactos climáticos e vulnerabilidade, fase de desenvolvimento de um plano de ação e análise de custo-benefício, para a priorização dessas ações, fase de implementação e fase de monitoramento e avaliação.
Assim, uma empresa que prevê que passará por um período de escassez de água, como o exemplo dado no início, pode elaborar medidas para diminuir sua demanda, mudar suas formas de captação ou participar, junto com o poder público ou outras companhias, de ações de preservação ambiental e saneamento que ajudem a cuidar melhor desse recurso. No útlimo exemplo, o da empresa que pode sofrer prejuízos com excesso de chuvas, a organização pode investir em infraestrutura, como a construção de barreiras. O importante é não ser pego desprevenido.