Praias de duas cidades paulistas lideram ranking de poluição por plástico; veja quais são


Estudo da Sea Shepherd Brasil em parceria com a USP encontrou resíduos plásticos em todas as 306 praias pesquisadas

Por José Maria Tomazela
Atualização:

As praias de Mongaguá e São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, estão nos dois primeiros lugares do ranking das praias mais poluídas com plásticos de toda a costa brasileira. É o que aponta um estudo inédito realizado pela Sea Shepherd Brasil, organização de conservação marinha, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). O estudo analisou 306 praias de todo o litoral brasileiro.

A equipe da Sea Shepherd percorreu 7 mil quilômetros da costa brasileira para medir a concentração de plásticos nas praias Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

Mongaguá é a primeira em microplásticos e São Vicente lidera em macrorresíduos. São duas categorias diferentes da poluição por plásticos. Em praias de São Vicente foram encontrados 10 resíduos plásticos por metro quadrado de areia. Em Mongaguá, o cenário foi considerado mais alarmante, com a presença de 83 fragmentos de microplástico por m2.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo informa que o lixo que chega ao mar, especialmente os plásticos, vem de diversas fontes, como lançamentos de resíduos nas ruas, assim como em canais, rios e córregos que deságuam no oceano; descartes irregulares no próprio mar, e insuficiência na coleta e varrição, por exemplo. “A solução para essas situações depende da atuação dos municípios e da colaboração da população”, disse o órgão em nota ao Estadão.

A pasta destacou uma iniciativa da Fundação Florestal, órgão vinculado à Semil, para preservar os ecossistemas marinhos, além de remunerar os pescadores que, durante sua atividade diária, recolhem o lixo do mar. O programa PSA Mar Sem Lixo foi iniciado em julho de 2022 em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba, e expandido em novembro passado para Bertioga, Guarujá e São Sebastião.

De acordo com o órgão, o último balanço, de julho deste ano, apontou a retirada de 23 toneladas de lixo do mar e dos manguezais. Do total, 90,7% eram plásticos.

A prefeitura de São Vicente informou que analisa os dados do estudo e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição do mar. Na quinta-feira, 26, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do município participaram de um workshop da Fundação Florestal que abordou soluções contra a poluição marítima, além de outras medidas.

Conforme a pasta, a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.

Pesquisadores percorreram 7 mil quilômetros

O projeto Expedição Ondas Limpas percorreu as praias de 201 municípios dos 17 estados da costa brasileira analisando a presença de plástico ao longo de 7 mil quilômetros de litoral, do Rio Grande do Sul ao Amapá.

O trabalho de campo foi realizado de abril de 2022 a agosto de 2023. A análise dos dados colhidos mostrou que:

  • 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, como embalagens e tampas de garrafas,
  • 97% apresentam microplásticos – partículas inferiores a 5 mm.
  • Do total de resíduos achados nas praias, 91% eram plásticos, percentual superior à média mundial, de 70%, segundo o estudo.
  • Entre os resíduos mais encontrados, os filtros de cigarro representaram 25% do total.

No Brasil, a região Sudeste lidera em resíduos plásticos maiores, chamados de macro resíduos. Já em macro plásticos (pedaços grandes de plástico), a região Sul empata com o Sudeste. Além disso, o Sul se destaca com uma quantidade maior de microplásticos (pequenos fragmentos de plástico) em comparação com outras regiões.

A praia de Pântano do Sul, em Florianópolis, é a que mais se destaca em termos de poluição por macro resíduos, macro plásticos e microplásticos, com mais itens do que em qualquer outra, segundo o estudo. A Praia do Rizzo, também em Florianópolis, aparece como a terceira mais poluída por microplásticos, precedida apenas pela Praia do Centro, em Mongaguá.

A Praia das Vacas e Itaquitanduva, ambas localizadas em uma área de proteção integral, em São Vicente, são as segundas mais afetadas no ranking de macro plásticos

Os apetrechos de pesca, como redes, linhas e boias, representam 1 em cada 10 itens encontrados na costa brasileira, indicando falhas na fiscalização, especialmente em áreas de proteção integral, segundo o estudo. Esses materiais correspondem a 11,2% dos plásticos e 10,3% de todos os itens analisados. O Rio Grande do Sul destaca-se com uma quantidade de resíduos relacionados a apetrechos de pesca três vezes superior à média nacional.

Estados com pequena faixa litorânea também sofrem com poluição

Mesmo estados que têm uma pequena faixa de litoral, como Piauí e Paraná, não escapam do problema. Esses estados lideram o ranking de microplásticos, com uma média de 10 fragmentos por metro quadrado, o dobro da média nacional.

O estado do Rio Grande do Norte é notável por sua elevada taxa de macrorresíduos, com três de suas cidades figurando entre as cinco mais poluídas do país.

No Brasil como um todo, 91% dos resíduos coletados nas praias são plásticos, mas no Sul esse número é ainda maior, chegando a 95%, a maior porcentagem de todas as regiões.

Conforme o estudo, em meio a um cenário preocupante de poluição por plásticos nas praias brasileiras, Turiaçu, no Maranhão, se destacou como um oásis, com a ausência completa de microplásticos e níveis mínimos de macrorresíduos.

Praias urbanas têm mais lixo

Conforme a Sea Shepherd, o estudo é o de maior abrangência já realizado no Brasil para estudar o perfil do lixo marinho na costa brasileira. “Observamos que praias localizadas em áreas urbanas, onde há mais pessoas e mais atividade humana, tendem a ter mais microplásticos. Por outro lado, em praias de áreas suburbanas e rurais, que têm menos pessoas e menor movimento, encontramos menos microplásticos”, aponta o relatório.

Os pesquisadores observam que outros fatores, como a proximidade de rios e o transporte de resíduos pelo mar, podem interferir nessa presença de microplásticos.

Coleta de resíduos em praias para análise de microplásticos feita pela equipe da Sea Shepherd Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

“Embora a quantidade de pessoas na região seja um fator importante, não é o único que devemos considerar. Importante realçar que estes resultados são preliminares, no entanto, os achados atuais fornecem uma valiosa perspectiva inicial, que será aprofundada em breve no estudo final”, diz o relatório.

O documento alerta que, embora o estudo apresente um ranking das praias mais poluídas, os resultados devem ser considerados com cautela, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. “Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação”, diz o relatório.

A equipe, integrada por uma coordenadora, dois cientistas, um fotógrafo, um motorista e uma cozinheira, percorreu de ônibus 7 mil quilômetros da costa, passando por 17 estados. Mais de 100 voluntários apoiaram a equipe em rodízio.

A campanha Ondas Limpas foi apoiada pela Odontoprev, empresa de seguro odontológico. Foram coletadas e analisadas mais de duas toneladas de lixo contendo 120 mil itens, sendo 70% compostos de plásticos.

Para avaliar a presença de resíduos sólidos nas 306 praias analisadas, cada área de estudo foi delimitada considerando interferências como barracas, entradas de praia, além da linha mais alta da última maré e o início da zona de praia.

Para a coleta de macrorresíduos, foram definidas 4 seções (bandas de 5 m de largura), distribuídas aleatoriamente ao longo da área de estudo (100 m). A coleta de microplásticos foi realizada em 12 quadrados de 0,25 m², onde foram utilizadas peneiras de malhas específicas e água.

Ação da natureza reduz plástico a pequenas partículas

O estudo aponta que o plástico lançado diretamente nas praias ou carreado pelos rios que deságuam no mar são expostos à radiação solar, que degradam suas ligações químicas, tornando-os quebradiços. Organismos marinhos, como cracas, também podem se prender aos plásticos, enfraquecendo o material. O impacto das ondas e a abrasão da areia desgastam o plástico, reduzindo a pequenas partículas que entram facilmente na cadeia alimentar das espécies marinhas.

Todos os macrorresíduos encontrados dentro das seções foram pesados e categorizados in loco, enquanto os microplásticos foram enviados para análise em laboratório, onde foram classificados e identificados por cor, forma e tamanho com a utilização de lupas e microscópios.

Considerando a área total, o estudo concluiu que existem, em média, 4,5 microplásticos por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 de praia, portanto, 1 resíduo a cada 2 m2 de praia na orla marítima brasileira. De acordo com Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd, o plástico ainda está onipresente na vida das pessoas.

“Este projeto é um urgente chamado para entendermos de fato a situação do plástico de maneira aprofundada e abrangente. Temos a ambição de seguir lutando para que projetos de lei importantes como o PL 2524/2022 do Plástico e o PL 1874/ 2022 da Economia Circular no Brasil, assim como o Tratado do Plástico em negociações internacionais entre diversos países no âmbito da ONU, sigam evoluindo para a implementação”, diz, no relatório.

O PL do Plástico está em tramitação no Senado Federal. Já o PL da Economia Circular aguarda análise na Câmara dos Deputados. “Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo do plástico no Brasil”, disse Nathalie.

A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e aguarda retorno. As secretarias estaduais de meio ambiente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Piauí e Paraná também foram procuradas e ainda não responderam.

Raio-X dos resíduos na costa brasileira:

  • 306 praias estudadas e 201 municípios cobertos
  • 156,6 mil metros quadrados de área analisada (equivalente a 22 campos de futebol)
  • 91% dos resíduos são plásticos; 61% plásticos de uso único, 22% plásticos de longa vida e 17% apetrechos de pesca
  • 97% das praias têm microplásticos
  • 100% das praias têm resíduos (lixo) – Foram coletados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil microrresíduos
  • Em média, são 4,5 microplástico por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 nas praias brasileira
  • 1 em cada 12 itens é filtro de cigarro

As praias de Mongaguá e São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, estão nos dois primeiros lugares do ranking das praias mais poluídas com plásticos de toda a costa brasileira. É o que aponta um estudo inédito realizado pela Sea Shepherd Brasil, organização de conservação marinha, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). O estudo analisou 306 praias de todo o litoral brasileiro.

A equipe da Sea Shepherd percorreu 7 mil quilômetros da costa brasileira para medir a concentração de plásticos nas praias Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

Mongaguá é a primeira em microplásticos e São Vicente lidera em macrorresíduos. São duas categorias diferentes da poluição por plásticos. Em praias de São Vicente foram encontrados 10 resíduos plásticos por metro quadrado de areia. Em Mongaguá, o cenário foi considerado mais alarmante, com a presença de 83 fragmentos de microplástico por m2.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo informa que o lixo que chega ao mar, especialmente os plásticos, vem de diversas fontes, como lançamentos de resíduos nas ruas, assim como em canais, rios e córregos que deságuam no oceano; descartes irregulares no próprio mar, e insuficiência na coleta e varrição, por exemplo. “A solução para essas situações depende da atuação dos municípios e da colaboração da população”, disse o órgão em nota ao Estadão.

A pasta destacou uma iniciativa da Fundação Florestal, órgão vinculado à Semil, para preservar os ecossistemas marinhos, além de remunerar os pescadores que, durante sua atividade diária, recolhem o lixo do mar. O programa PSA Mar Sem Lixo foi iniciado em julho de 2022 em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba, e expandido em novembro passado para Bertioga, Guarujá e São Sebastião.

De acordo com o órgão, o último balanço, de julho deste ano, apontou a retirada de 23 toneladas de lixo do mar e dos manguezais. Do total, 90,7% eram plásticos.

A prefeitura de São Vicente informou que analisa os dados do estudo e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição do mar. Na quinta-feira, 26, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do município participaram de um workshop da Fundação Florestal que abordou soluções contra a poluição marítima, além de outras medidas.

Conforme a pasta, a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.

Pesquisadores percorreram 7 mil quilômetros

O projeto Expedição Ondas Limpas percorreu as praias de 201 municípios dos 17 estados da costa brasileira analisando a presença de plástico ao longo de 7 mil quilômetros de litoral, do Rio Grande do Sul ao Amapá.

O trabalho de campo foi realizado de abril de 2022 a agosto de 2023. A análise dos dados colhidos mostrou que:

  • 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, como embalagens e tampas de garrafas,
  • 97% apresentam microplásticos – partículas inferiores a 5 mm.
  • Do total de resíduos achados nas praias, 91% eram plásticos, percentual superior à média mundial, de 70%, segundo o estudo.
  • Entre os resíduos mais encontrados, os filtros de cigarro representaram 25% do total.

No Brasil, a região Sudeste lidera em resíduos plásticos maiores, chamados de macro resíduos. Já em macro plásticos (pedaços grandes de plástico), a região Sul empata com o Sudeste. Além disso, o Sul se destaca com uma quantidade maior de microplásticos (pequenos fragmentos de plástico) em comparação com outras regiões.

A praia de Pântano do Sul, em Florianópolis, é a que mais se destaca em termos de poluição por macro resíduos, macro plásticos e microplásticos, com mais itens do que em qualquer outra, segundo o estudo. A Praia do Rizzo, também em Florianópolis, aparece como a terceira mais poluída por microplásticos, precedida apenas pela Praia do Centro, em Mongaguá.

A Praia das Vacas e Itaquitanduva, ambas localizadas em uma área de proteção integral, em São Vicente, são as segundas mais afetadas no ranking de macro plásticos

Os apetrechos de pesca, como redes, linhas e boias, representam 1 em cada 10 itens encontrados na costa brasileira, indicando falhas na fiscalização, especialmente em áreas de proteção integral, segundo o estudo. Esses materiais correspondem a 11,2% dos plásticos e 10,3% de todos os itens analisados. O Rio Grande do Sul destaca-se com uma quantidade de resíduos relacionados a apetrechos de pesca três vezes superior à média nacional.

Estados com pequena faixa litorânea também sofrem com poluição

Mesmo estados que têm uma pequena faixa de litoral, como Piauí e Paraná, não escapam do problema. Esses estados lideram o ranking de microplásticos, com uma média de 10 fragmentos por metro quadrado, o dobro da média nacional.

O estado do Rio Grande do Norte é notável por sua elevada taxa de macrorresíduos, com três de suas cidades figurando entre as cinco mais poluídas do país.

No Brasil como um todo, 91% dos resíduos coletados nas praias são plásticos, mas no Sul esse número é ainda maior, chegando a 95%, a maior porcentagem de todas as regiões.

Conforme o estudo, em meio a um cenário preocupante de poluição por plásticos nas praias brasileiras, Turiaçu, no Maranhão, se destacou como um oásis, com a ausência completa de microplásticos e níveis mínimos de macrorresíduos.

Praias urbanas têm mais lixo

Conforme a Sea Shepherd, o estudo é o de maior abrangência já realizado no Brasil para estudar o perfil do lixo marinho na costa brasileira. “Observamos que praias localizadas em áreas urbanas, onde há mais pessoas e mais atividade humana, tendem a ter mais microplásticos. Por outro lado, em praias de áreas suburbanas e rurais, que têm menos pessoas e menor movimento, encontramos menos microplásticos”, aponta o relatório.

Os pesquisadores observam que outros fatores, como a proximidade de rios e o transporte de resíduos pelo mar, podem interferir nessa presença de microplásticos.

Coleta de resíduos em praias para análise de microplásticos feita pela equipe da Sea Shepherd Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

“Embora a quantidade de pessoas na região seja um fator importante, não é o único que devemos considerar. Importante realçar que estes resultados são preliminares, no entanto, os achados atuais fornecem uma valiosa perspectiva inicial, que será aprofundada em breve no estudo final”, diz o relatório.

O documento alerta que, embora o estudo apresente um ranking das praias mais poluídas, os resultados devem ser considerados com cautela, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. “Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação”, diz o relatório.

A equipe, integrada por uma coordenadora, dois cientistas, um fotógrafo, um motorista e uma cozinheira, percorreu de ônibus 7 mil quilômetros da costa, passando por 17 estados. Mais de 100 voluntários apoiaram a equipe em rodízio.

A campanha Ondas Limpas foi apoiada pela Odontoprev, empresa de seguro odontológico. Foram coletadas e analisadas mais de duas toneladas de lixo contendo 120 mil itens, sendo 70% compostos de plásticos.

Para avaliar a presença de resíduos sólidos nas 306 praias analisadas, cada área de estudo foi delimitada considerando interferências como barracas, entradas de praia, além da linha mais alta da última maré e o início da zona de praia.

Para a coleta de macrorresíduos, foram definidas 4 seções (bandas de 5 m de largura), distribuídas aleatoriamente ao longo da área de estudo (100 m). A coleta de microplásticos foi realizada em 12 quadrados de 0,25 m², onde foram utilizadas peneiras de malhas específicas e água.

Ação da natureza reduz plástico a pequenas partículas

O estudo aponta que o plástico lançado diretamente nas praias ou carreado pelos rios que deságuam no mar são expostos à radiação solar, que degradam suas ligações químicas, tornando-os quebradiços. Organismos marinhos, como cracas, também podem se prender aos plásticos, enfraquecendo o material. O impacto das ondas e a abrasão da areia desgastam o plástico, reduzindo a pequenas partículas que entram facilmente na cadeia alimentar das espécies marinhas.

Todos os macrorresíduos encontrados dentro das seções foram pesados e categorizados in loco, enquanto os microplásticos foram enviados para análise em laboratório, onde foram classificados e identificados por cor, forma e tamanho com a utilização de lupas e microscópios.

Considerando a área total, o estudo concluiu que existem, em média, 4,5 microplásticos por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 de praia, portanto, 1 resíduo a cada 2 m2 de praia na orla marítima brasileira. De acordo com Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd, o plástico ainda está onipresente na vida das pessoas.

“Este projeto é um urgente chamado para entendermos de fato a situação do plástico de maneira aprofundada e abrangente. Temos a ambição de seguir lutando para que projetos de lei importantes como o PL 2524/2022 do Plástico e o PL 1874/ 2022 da Economia Circular no Brasil, assim como o Tratado do Plástico em negociações internacionais entre diversos países no âmbito da ONU, sigam evoluindo para a implementação”, diz, no relatório.

O PL do Plástico está em tramitação no Senado Federal. Já o PL da Economia Circular aguarda análise na Câmara dos Deputados. “Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo do plástico no Brasil”, disse Nathalie.

A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e aguarda retorno. As secretarias estaduais de meio ambiente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Piauí e Paraná também foram procuradas e ainda não responderam.

Raio-X dos resíduos na costa brasileira:

  • 306 praias estudadas e 201 municípios cobertos
  • 156,6 mil metros quadrados de área analisada (equivalente a 22 campos de futebol)
  • 91% dos resíduos são plásticos; 61% plásticos de uso único, 22% plásticos de longa vida e 17% apetrechos de pesca
  • 97% das praias têm microplásticos
  • 100% das praias têm resíduos (lixo) – Foram coletados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil microrresíduos
  • Em média, são 4,5 microplástico por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 nas praias brasileira
  • 1 em cada 12 itens é filtro de cigarro

As praias de Mongaguá e São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, estão nos dois primeiros lugares do ranking das praias mais poluídas com plásticos de toda a costa brasileira. É o que aponta um estudo inédito realizado pela Sea Shepherd Brasil, organização de conservação marinha, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). O estudo analisou 306 praias de todo o litoral brasileiro.

A equipe da Sea Shepherd percorreu 7 mil quilômetros da costa brasileira para medir a concentração de plásticos nas praias Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

Mongaguá é a primeira em microplásticos e São Vicente lidera em macrorresíduos. São duas categorias diferentes da poluição por plásticos. Em praias de São Vicente foram encontrados 10 resíduos plásticos por metro quadrado de areia. Em Mongaguá, o cenário foi considerado mais alarmante, com a presença de 83 fragmentos de microplástico por m2.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo informa que o lixo que chega ao mar, especialmente os plásticos, vem de diversas fontes, como lançamentos de resíduos nas ruas, assim como em canais, rios e córregos que deságuam no oceano; descartes irregulares no próprio mar, e insuficiência na coleta e varrição, por exemplo. “A solução para essas situações depende da atuação dos municípios e da colaboração da população”, disse o órgão em nota ao Estadão.

A pasta destacou uma iniciativa da Fundação Florestal, órgão vinculado à Semil, para preservar os ecossistemas marinhos, além de remunerar os pescadores que, durante sua atividade diária, recolhem o lixo do mar. O programa PSA Mar Sem Lixo foi iniciado em julho de 2022 em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba, e expandido em novembro passado para Bertioga, Guarujá e São Sebastião.

De acordo com o órgão, o último balanço, de julho deste ano, apontou a retirada de 23 toneladas de lixo do mar e dos manguezais. Do total, 90,7% eram plásticos.

A prefeitura de São Vicente informou que analisa os dados do estudo e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição do mar. Na quinta-feira, 26, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do município participaram de um workshop da Fundação Florestal que abordou soluções contra a poluição marítima, além de outras medidas.

Conforme a pasta, a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.

Pesquisadores percorreram 7 mil quilômetros

O projeto Expedição Ondas Limpas percorreu as praias de 201 municípios dos 17 estados da costa brasileira analisando a presença de plástico ao longo de 7 mil quilômetros de litoral, do Rio Grande do Sul ao Amapá.

O trabalho de campo foi realizado de abril de 2022 a agosto de 2023. A análise dos dados colhidos mostrou que:

  • 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, como embalagens e tampas de garrafas,
  • 97% apresentam microplásticos – partículas inferiores a 5 mm.
  • Do total de resíduos achados nas praias, 91% eram plásticos, percentual superior à média mundial, de 70%, segundo o estudo.
  • Entre os resíduos mais encontrados, os filtros de cigarro representaram 25% do total.

No Brasil, a região Sudeste lidera em resíduos plásticos maiores, chamados de macro resíduos. Já em macro plásticos (pedaços grandes de plástico), a região Sul empata com o Sudeste. Além disso, o Sul se destaca com uma quantidade maior de microplásticos (pequenos fragmentos de plástico) em comparação com outras regiões.

A praia de Pântano do Sul, em Florianópolis, é a que mais se destaca em termos de poluição por macro resíduos, macro plásticos e microplásticos, com mais itens do que em qualquer outra, segundo o estudo. A Praia do Rizzo, também em Florianópolis, aparece como a terceira mais poluída por microplásticos, precedida apenas pela Praia do Centro, em Mongaguá.

A Praia das Vacas e Itaquitanduva, ambas localizadas em uma área de proteção integral, em São Vicente, são as segundas mais afetadas no ranking de macro plásticos

Os apetrechos de pesca, como redes, linhas e boias, representam 1 em cada 10 itens encontrados na costa brasileira, indicando falhas na fiscalização, especialmente em áreas de proteção integral, segundo o estudo. Esses materiais correspondem a 11,2% dos plásticos e 10,3% de todos os itens analisados. O Rio Grande do Sul destaca-se com uma quantidade de resíduos relacionados a apetrechos de pesca três vezes superior à média nacional.

Estados com pequena faixa litorânea também sofrem com poluição

Mesmo estados que têm uma pequena faixa de litoral, como Piauí e Paraná, não escapam do problema. Esses estados lideram o ranking de microplásticos, com uma média de 10 fragmentos por metro quadrado, o dobro da média nacional.

O estado do Rio Grande do Norte é notável por sua elevada taxa de macrorresíduos, com três de suas cidades figurando entre as cinco mais poluídas do país.

No Brasil como um todo, 91% dos resíduos coletados nas praias são plásticos, mas no Sul esse número é ainda maior, chegando a 95%, a maior porcentagem de todas as regiões.

Conforme o estudo, em meio a um cenário preocupante de poluição por plásticos nas praias brasileiras, Turiaçu, no Maranhão, se destacou como um oásis, com a ausência completa de microplásticos e níveis mínimos de macrorresíduos.

Praias urbanas têm mais lixo

Conforme a Sea Shepherd, o estudo é o de maior abrangência já realizado no Brasil para estudar o perfil do lixo marinho na costa brasileira. “Observamos que praias localizadas em áreas urbanas, onde há mais pessoas e mais atividade humana, tendem a ter mais microplásticos. Por outro lado, em praias de áreas suburbanas e rurais, que têm menos pessoas e menor movimento, encontramos menos microplásticos”, aponta o relatório.

Os pesquisadores observam que outros fatores, como a proximidade de rios e o transporte de resíduos pelo mar, podem interferir nessa presença de microplásticos.

Coleta de resíduos em praias para análise de microplásticos feita pela equipe da Sea Shepherd Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

“Embora a quantidade de pessoas na região seja um fator importante, não é o único que devemos considerar. Importante realçar que estes resultados são preliminares, no entanto, os achados atuais fornecem uma valiosa perspectiva inicial, que será aprofundada em breve no estudo final”, diz o relatório.

O documento alerta que, embora o estudo apresente um ranking das praias mais poluídas, os resultados devem ser considerados com cautela, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. “Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação”, diz o relatório.

A equipe, integrada por uma coordenadora, dois cientistas, um fotógrafo, um motorista e uma cozinheira, percorreu de ônibus 7 mil quilômetros da costa, passando por 17 estados. Mais de 100 voluntários apoiaram a equipe em rodízio.

A campanha Ondas Limpas foi apoiada pela Odontoprev, empresa de seguro odontológico. Foram coletadas e analisadas mais de duas toneladas de lixo contendo 120 mil itens, sendo 70% compostos de plásticos.

Para avaliar a presença de resíduos sólidos nas 306 praias analisadas, cada área de estudo foi delimitada considerando interferências como barracas, entradas de praia, além da linha mais alta da última maré e o início da zona de praia.

Para a coleta de macrorresíduos, foram definidas 4 seções (bandas de 5 m de largura), distribuídas aleatoriamente ao longo da área de estudo (100 m). A coleta de microplásticos foi realizada em 12 quadrados de 0,25 m², onde foram utilizadas peneiras de malhas específicas e água.

Ação da natureza reduz plástico a pequenas partículas

O estudo aponta que o plástico lançado diretamente nas praias ou carreado pelos rios que deságuam no mar são expostos à radiação solar, que degradam suas ligações químicas, tornando-os quebradiços. Organismos marinhos, como cracas, também podem se prender aos plásticos, enfraquecendo o material. O impacto das ondas e a abrasão da areia desgastam o plástico, reduzindo a pequenas partículas que entram facilmente na cadeia alimentar das espécies marinhas.

Todos os macrorresíduos encontrados dentro das seções foram pesados e categorizados in loco, enquanto os microplásticos foram enviados para análise em laboratório, onde foram classificados e identificados por cor, forma e tamanho com a utilização de lupas e microscópios.

Considerando a área total, o estudo concluiu que existem, em média, 4,5 microplásticos por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 de praia, portanto, 1 resíduo a cada 2 m2 de praia na orla marítima brasileira. De acordo com Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd, o plástico ainda está onipresente na vida das pessoas.

“Este projeto é um urgente chamado para entendermos de fato a situação do plástico de maneira aprofundada e abrangente. Temos a ambição de seguir lutando para que projetos de lei importantes como o PL 2524/2022 do Plástico e o PL 1874/ 2022 da Economia Circular no Brasil, assim como o Tratado do Plástico em negociações internacionais entre diversos países no âmbito da ONU, sigam evoluindo para a implementação”, diz, no relatório.

O PL do Plástico está em tramitação no Senado Federal. Já o PL da Economia Circular aguarda análise na Câmara dos Deputados. “Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo do plástico no Brasil”, disse Nathalie.

A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e aguarda retorno. As secretarias estaduais de meio ambiente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Piauí e Paraná também foram procuradas e ainda não responderam.

Raio-X dos resíduos na costa brasileira:

  • 306 praias estudadas e 201 municípios cobertos
  • 156,6 mil metros quadrados de área analisada (equivalente a 22 campos de futebol)
  • 91% dos resíduos são plásticos; 61% plásticos de uso único, 22% plásticos de longa vida e 17% apetrechos de pesca
  • 97% das praias têm microplásticos
  • 100% das praias têm resíduos (lixo) – Foram coletados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil microrresíduos
  • Em média, são 4,5 microplástico por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 nas praias brasileira
  • 1 em cada 12 itens é filtro de cigarro

As praias de Mongaguá e São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, estão nos dois primeiros lugares do ranking das praias mais poluídas com plásticos de toda a costa brasileira. É o que aponta um estudo inédito realizado pela Sea Shepherd Brasil, organização de conservação marinha, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). O estudo analisou 306 praias de todo o litoral brasileiro.

A equipe da Sea Shepherd percorreu 7 mil quilômetros da costa brasileira para medir a concentração de plásticos nas praias Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

Mongaguá é a primeira em microplásticos e São Vicente lidera em macrorresíduos. São duas categorias diferentes da poluição por plásticos. Em praias de São Vicente foram encontrados 10 resíduos plásticos por metro quadrado de areia. Em Mongaguá, o cenário foi considerado mais alarmante, com a presença de 83 fragmentos de microplástico por m2.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo informa que o lixo que chega ao mar, especialmente os plásticos, vem de diversas fontes, como lançamentos de resíduos nas ruas, assim como em canais, rios e córregos que deságuam no oceano; descartes irregulares no próprio mar, e insuficiência na coleta e varrição, por exemplo. “A solução para essas situações depende da atuação dos municípios e da colaboração da população”, disse o órgão em nota ao Estadão.

A pasta destacou uma iniciativa da Fundação Florestal, órgão vinculado à Semil, para preservar os ecossistemas marinhos, além de remunerar os pescadores que, durante sua atividade diária, recolhem o lixo do mar. O programa PSA Mar Sem Lixo foi iniciado em julho de 2022 em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba, e expandido em novembro passado para Bertioga, Guarujá e São Sebastião.

De acordo com o órgão, o último balanço, de julho deste ano, apontou a retirada de 23 toneladas de lixo do mar e dos manguezais. Do total, 90,7% eram plásticos.

A prefeitura de São Vicente informou que analisa os dados do estudo e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição do mar. Na quinta-feira, 26, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do município participaram de um workshop da Fundação Florestal que abordou soluções contra a poluição marítima, além de outras medidas.

Conforme a pasta, a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.

Pesquisadores percorreram 7 mil quilômetros

O projeto Expedição Ondas Limpas percorreu as praias de 201 municípios dos 17 estados da costa brasileira analisando a presença de plástico ao longo de 7 mil quilômetros de litoral, do Rio Grande do Sul ao Amapá.

O trabalho de campo foi realizado de abril de 2022 a agosto de 2023. A análise dos dados colhidos mostrou que:

  • 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, como embalagens e tampas de garrafas,
  • 97% apresentam microplásticos – partículas inferiores a 5 mm.
  • Do total de resíduos achados nas praias, 91% eram plásticos, percentual superior à média mundial, de 70%, segundo o estudo.
  • Entre os resíduos mais encontrados, os filtros de cigarro representaram 25% do total.

No Brasil, a região Sudeste lidera em resíduos plásticos maiores, chamados de macro resíduos. Já em macro plásticos (pedaços grandes de plástico), a região Sul empata com o Sudeste. Além disso, o Sul se destaca com uma quantidade maior de microplásticos (pequenos fragmentos de plástico) em comparação com outras regiões.

A praia de Pântano do Sul, em Florianópolis, é a que mais se destaca em termos de poluição por macro resíduos, macro plásticos e microplásticos, com mais itens do que em qualquer outra, segundo o estudo. A Praia do Rizzo, também em Florianópolis, aparece como a terceira mais poluída por microplásticos, precedida apenas pela Praia do Centro, em Mongaguá.

A Praia das Vacas e Itaquitanduva, ambas localizadas em uma área de proteção integral, em São Vicente, são as segundas mais afetadas no ranking de macro plásticos

Os apetrechos de pesca, como redes, linhas e boias, representam 1 em cada 10 itens encontrados na costa brasileira, indicando falhas na fiscalização, especialmente em áreas de proteção integral, segundo o estudo. Esses materiais correspondem a 11,2% dos plásticos e 10,3% de todos os itens analisados. O Rio Grande do Sul destaca-se com uma quantidade de resíduos relacionados a apetrechos de pesca três vezes superior à média nacional.

Estados com pequena faixa litorânea também sofrem com poluição

Mesmo estados que têm uma pequena faixa de litoral, como Piauí e Paraná, não escapam do problema. Esses estados lideram o ranking de microplásticos, com uma média de 10 fragmentos por metro quadrado, o dobro da média nacional.

O estado do Rio Grande do Norte é notável por sua elevada taxa de macrorresíduos, com três de suas cidades figurando entre as cinco mais poluídas do país.

No Brasil como um todo, 91% dos resíduos coletados nas praias são plásticos, mas no Sul esse número é ainda maior, chegando a 95%, a maior porcentagem de todas as regiões.

Conforme o estudo, em meio a um cenário preocupante de poluição por plásticos nas praias brasileiras, Turiaçu, no Maranhão, se destacou como um oásis, com a ausência completa de microplásticos e níveis mínimos de macrorresíduos.

Praias urbanas têm mais lixo

Conforme a Sea Shepherd, o estudo é o de maior abrangência já realizado no Brasil para estudar o perfil do lixo marinho na costa brasileira. “Observamos que praias localizadas em áreas urbanas, onde há mais pessoas e mais atividade humana, tendem a ter mais microplásticos. Por outro lado, em praias de áreas suburbanas e rurais, que têm menos pessoas e menor movimento, encontramos menos microplásticos”, aponta o relatório.

Os pesquisadores observam que outros fatores, como a proximidade de rios e o transporte de resíduos pelo mar, podem interferir nessa presença de microplásticos.

Coleta de resíduos em praias para análise de microplásticos feita pela equipe da Sea Shepherd Foto: Sea Shepherd Brasil/Divuilgação

“Embora a quantidade de pessoas na região seja um fator importante, não é o único que devemos considerar. Importante realçar que estes resultados são preliminares, no entanto, os achados atuais fornecem uma valiosa perspectiva inicial, que será aprofundada em breve no estudo final”, diz o relatório.

O documento alerta que, embora o estudo apresente um ranking das praias mais poluídas, os resultados devem ser considerados com cautela, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. “Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação”, diz o relatório.

A equipe, integrada por uma coordenadora, dois cientistas, um fotógrafo, um motorista e uma cozinheira, percorreu de ônibus 7 mil quilômetros da costa, passando por 17 estados. Mais de 100 voluntários apoiaram a equipe em rodízio.

A campanha Ondas Limpas foi apoiada pela Odontoprev, empresa de seguro odontológico. Foram coletadas e analisadas mais de duas toneladas de lixo contendo 120 mil itens, sendo 70% compostos de plásticos.

Para avaliar a presença de resíduos sólidos nas 306 praias analisadas, cada área de estudo foi delimitada considerando interferências como barracas, entradas de praia, além da linha mais alta da última maré e o início da zona de praia.

Para a coleta de macrorresíduos, foram definidas 4 seções (bandas de 5 m de largura), distribuídas aleatoriamente ao longo da área de estudo (100 m). A coleta de microplásticos foi realizada em 12 quadrados de 0,25 m², onde foram utilizadas peneiras de malhas específicas e água.

Ação da natureza reduz plástico a pequenas partículas

O estudo aponta que o plástico lançado diretamente nas praias ou carreado pelos rios que deságuam no mar são expostos à radiação solar, que degradam suas ligações químicas, tornando-os quebradiços. Organismos marinhos, como cracas, também podem se prender aos plásticos, enfraquecendo o material. O impacto das ondas e a abrasão da areia desgastam o plástico, reduzindo a pequenas partículas que entram facilmente na cadeia alimentar das espécies marinhas.

Todos os macrorresíduos encontrados dentro das seções foram pesados e categorizados in loco, enquanto os microplásticos foram enviados para análise em laboratório, onde foram classificados e identificados por cor, forma e tamanho com a utilização de lupas e microscópios.

Considerando a área total, o estudo concluiu que existem, em média, 4,5 microplásticos por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 de praia, portanto, 1 resíduo a cada 2 m2 de praia na orla marítima brasileira. De acordo com Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd, o plástico ainda está onipresente na vida das pessoas.

“Este projeto é um urgente chamado para entendermos de fato a situação do plástico de maneira aprofundada e abrangente. Temos a ambição de seguir lutando para que projetos de lei importantes como o PL 2524/2022 do Plástico e o PL 1874/ 2022 da Economia Circular no Brasil, assim como o Tratado do Plástico em negociações internacionais entre diversos países no âmbito da ONU, sigam evoluindo para a implementação”, diz, no relatório.

O PL do Plástico está em tramitação no Senado Federal. Já o PL da Economia Circular aguarda análise na Câmara dos Deputados. “Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo do plástico no Brasil”, disse Nathalie.

A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e aguarda retorno. As secretarias estaduais de meio ambiente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Piauí e Paraná também foram procuradas e ainda não responderam.

Raio-X dos resíduos na costa brasileira:

  • 306 praias estudadas e 201 municípios cobertos
  • 156,6 mil metros quadrados de área analisada (equivalente a 22 campos de futebol)
  • 91% dos resíduos são plásticos; 61% plásticos de uso único, 22% plásticos de longa vida e 17% apetrechos de pesca
  • 97% das praias têm microplásticos
  • 100% das praias têm resíduos (lixo) – Foram coletados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil microrresíduos
  • Em média, são 4,5 microplástico por m2 e 0,5 macrorresíduo por m2 nas praias brasileira
  • 1 em cada 12 itens é filtro de cigarro

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