Existe um núcleo de resistência ambiental encravado no interior de Santa Catarina, criado pelo casal Wigold Schaffer e Miriam Prochnow. Há 35 anos, as toras de madeira da Mata Atlântica que saíam de forma ilegal da Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ assustaram os ambientalistas da região. Surgiu aí a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), que nunca mais parou de plantar sementes pelo alto do Vale do Itajaí - no sentido real e no figurado. Nos últimos anos, a entidade passou a engajar as novas gerações.
"Costumo dizer que a associação é minha irmã mais velha porque ela surgiu uns três anos antes de eu nascer”, brinca Carolina Schaffer, filha de Wigold e Miriam. Em 2016, o trabalho da associação, agora com a participação de Carolina , chamou a atenção de um grupo de jovens da cidade de Atalanta, que estudava na Escola Estadual Dr. Frederico Rolla.
Os alunos começaram a se organizar na escola, por iniciativa deles e dos professores. Depois, por causa da experiência da Associação, eles começaram a desenvolver atividades juntos, até que a relação se estreitou e cresceu. Em cerca de 35 anos, a Apremavi soma aproximadamente 9 milhões de mudas plantadas.
Segundo Carolina, a mobilização dos alunos se deu por meio de mutirões de plantio e limpeza de rios, além de reuniões onde se reuniam para ver filmes e debates sobre os problemas ambientais da região. "Já existe um legado, a partir deste grupo, que é a formação de jovens com uma grande preocupação ambiental”, afirma Carolina. O projeto chamado Plantando o Futuro, hoje, principalmente por causa da ação dos professores da escola, permanece ativo.
“Não dá para dizer que todo mundo que passou pelo projeto virou ativista ambiental, mas sem dúvida esse é um dos legados do coletivo. Além disso, todas as atividades do grupo também replicaram em outras escolas da região. Essa multiplicação é uma das consequências importantes do Plantando o Futuro”, afirma Vitor Zanelatto.
Aos 20 anos, hoje, ele está no segundo ano do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina. “Uma das coisas que pretendo continuar fazendo é agir nos diálogos com o setor privado. A experiência da Apremavi, sem dúvida, é fundamental para mostrar como ONGs e empresas podem avançar na preservação ambiental”, afirma ele, que estava no fim do Ensino Fundamental II quando atuou como um dos idealizadores do Plantando Futuro. Ele continua formalmente participando da Apremavi.
“Todo o engajamento de ativistas como a Greta Thunberg ajudou bastante a fomentar também os jovens no nosso caso. Muitos dos alunos que passaram pelas atividades do projeto continuam interessados no tema”, avalia o ativista ambiental e futuro biólogo.“
A associação, avalia Carolina, conseguiu avançar bastante na causa da restauração florestal, durante décadas, principalmente por causa da parceria feita com os pequenos agricultores da região. “Desde que os meus pais começaram com um pequeno viveiro no fundo do terreno da casa deles, com menos de 20 espécies, sempre procuramos fazer esse trabalho com os pequenos proprietários da região, mostrando desde como é importante preservar as legislações ambientais até passando a mensagem de como é legal viver em áreas onde a natureza possa estar presente”, explica Carolina, botânica de formação.
Em um dos projetos tocados pela Apremavi concluído este ano, como apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram restaurados 320 hectares com a participação de 700 pequenos proprietários rurais. Ao longo do tempo, o número de espécies produzidas no viveiro da Apremavi chegou a 200, aumento de aproximadamente 1000% em relação ao início de tudo, no fim dos anos 1980. “O lema, desde o início, sempre foi o de ‘boca no trombone e mão na massa’”, diz Carolina.