Projeto restaura áreas degradadas no Cerrado e planeja semear mais 800 hectares até 2024


Oito das 12 bacias hidrográficas do País nascem no bioma, considerado um ecossistema único no mundo

Por Eduardo Geraque
Atualização:

Não é nenhum exagero afirmar que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Afinal 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras nascem na região. O problema, como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano e várias outras pesquisas sobre o bioma, é que o balanço hídrico das savanas brasileiras, um ecossistema único no mundo com 46% de vegetação nativa, corre sérios riscos. Primeiro, por causa do desmatamento que continua a todo vapor. Dados do Inpe gerados nos primeiros quatro meses do ano mostram que os alertas de focos de desmatamento estão 61% maiores este ano. E entre agosto de 2020 e julho de 2021 caíram 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa. O segundo é porque o próprio regime de chuvas mudou, e para pior. Uma análise feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicada em 2020 ressalta esse processo. Das 125 estações investigadas, espalhadas por nove Estados, 89 tiveram uma queda na quantidade de precipitação. Na média, conclui a pesquisa, houve uma redução de 8,4% nas chuvas no período entre 1977 e 2010.  “As mudanças no uso da terra têm alterado também o regime de fogo no Cerrado com consequências negativas para a vegetação em áreas com maior presença de árvores e arbustos e para a fauna que depende desses recursos. Tais fatores se associam ainda à mudança do clima global, que no caso do Cerrado se manifesta em temperaturas mais altas, redução da precipitação e um período seco mais prolongado”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da UnB, e uma das principais especialistas em ecologia do Cerrado.

Semeadura diretaem solo já previamente preparado no Cerrado Foto: Dudu Coladetti

Quando se fala em mudança no uso da terra dentro do bioma tem que se pensar em soja. Entre 2003 e 2013, a quantidade de terras do Cerrado destinadas à agricultura passou de 1,2 milhão de hectares para 2,5 milhões. E três quartos dessa expansão se deu sobre áreas de vegetação original.  Para evitar um colapso ambiental, a bióloga Alba Cordeiro, outra estudiosa do Cerrado, aposta na restauração da vegetação em áreas degradadas. A Rede de Sementes do Cerrado, que ela é uma das parceiras, existe desde 2001. Em mais de 20 anos, 330 hectares foram repovoados. A estratégia usada pelo grupo é a de semeadura de espécies e não de plantação de mudas. Basicamente, porque semear acaba tendo um custo menor e uma efetividade maior em termos ecológicos. “E temos de respeitar toda a diversidade do ecossistema. Existem as espécies arbustivas, as mais rasteiras e as árvores”, explica Alba. O projeto, principalmente desde 2017, quando ganhou mais corpo, beneficiou aproximadamente 100 famílias até hoje. A maioria delas são comunidades tradicionais da região que estão gerando renda a partir das coletas.  Depois do trabalho feito em campo pelos coletores, segundo Alba, é que entra a ciência. As espécies mais frequentes em determinada região, com mais chances de vingar, são selecionadas. Após isso, principalmente no início do período de chuvas, é que ocorre a semeadura do solo previamente preparado, seja de forma direta ou por meio da muvuca (técnica em que se mistura sementes de espécies diferentes e todas são espalhadas no ambiente ao mesmo tempo).

Muvuca de sementes nativasespalhadas no Cerrado Foto: Divulgação

“Em linhas gerais nosso trabalho visa dar apoio aos restauradores e gestores ambientais, proporcionando oportunidades de melhoria de vida aos povos do Cerrado e benefícios sociais, ambientais e econômicos para a sociedade em geral”, afirma Alba.  O ano 2017 é um marco cronológico importante na história da Rede. A parceria com a Associação Cerrado de Pé permitiu que o grupo passasse a atuar diretamente, e em escala, com a comercialização de sementes. Atividades que geraram mais de R$ 500 mil em recursos já repassados para os coletores. “Promovemos também a conservação de 930 hectares de áreas de coleta de sementes”, afirma Alba. Grande parte das áreas atingidas pelas semeaduras estão nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com todo esse conhecimento acumulado ao longo de décadas, a meta para os próximos dois anos passou a ser bem mais ousada. Dentro do projeto “Água Cerratenses, plantar para brotar” a ideia do grupo agora é semear 800 hectares do Cerrado brasileiro. A restauração será focada na Bacia do Rio Tocantins, o que aumenta o potencial dessa ferramenta de melhorar a qualidade do ecossistema.

Não é nenhum exagero afirmar que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Afinal 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras nascem na região. O problema, como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano e várias outras pesquisas sobre o bioma, é que o balanço hídrico das savanas brasileiras, um ecossistema único no mundo com 46% de vegetação nativa, corre sérios riscos. Primeiro, por causa do desmatamento que continua a todo vapor. Dados do Inpe gerados nos primeiros quatro meses do ano mostram que os alertas de focos de desmatamento estão 61% maiores este ano. E entre agosto de 2020 e julho de 2021 caíram 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa. O segundo é porque o próprio regime de chuvas mudou, e para pior. Uma análise feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicada em 2020 ressalta esse processo. Das 125 estações investigadas, espalhadas por nove Estados, 89 tiveram uma queda na quantidade de precipitação. Na média, conclui a pesquisa, houve uma redução de 8,4% nas chuvas no período entre 1977 e 2010.  “As mudanças no uso da terra têm alterado também o regime de fogo no Cerrado com consequências negativas para a vegetação em áreas com maior presença de árvores e arbustos e para a fauna que depende desses recursos. Tais fatores se associam ainda à mudança do clima global, que no caso do Cerrado se manifesta em temperaturas mais altas, redução da precipitação e um período seco mais prolongado”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da UnB, e uma das principais especialistas em ecologia do Cerrado.

Semeadura diretaem solo já previamente preparado no Cerrado Foto: Dudu Coladetti

Quando se fala em mudança no uso da terra dentro do bioma tem que se pensar em soja. Entre 2003 e 2013, a quantidade de terras do Cerrado destinadas à agricultura passou de 1,2 milhão de hectares para 2,5 milhões. E três quartos dessa expansão se deu sobre áreas de vegetação original.  Para evitar um colapso ambiental, a bióloga Alba Cordeiro, outra estudiosa do Cerrado, aposta na restauração da vegetação em áreas degradadas. A Rede de Sementes do Cerrado, que ela é uma das parceiras, existe desde 2001. Em mais de 20 anos, 330 hectares foram repovoados. A estratégia usada pelo grupo é a de semeadura de espécies e não de plantação de mudas. Basicamente, porque semear acaba tendo um custo menor e uma efetividade maior em termos ecológicos. “E temos de respeitar toda a diversidade do ecossistema. Existem as espécies arbustivas, as mais rasteiras e as árvores”, explica Alba. O projeto, principalmente desde 2017, quando ganhou mais corpo, beneficiou aproximadamente 100 famílias até hoje. A maioria delas são comunidades tradicionais da região que estão gerando renda a partir das coletas.  Depois do trabalho feito em campo pelos coletores, segundo Alba, é que entra a ciência. As espécies mais frequentes em determinada região, com mais chances de vingar, são selecionadas. Após isso, principalmente no início do período de chuvas, é que ocorre a semeadura do solo previamente preparado, seja de forma direta ou por meio da muvuca (técnica em que se mistura sementes de espécies diferentes e todas são espalhadas no ambiente ao mesmo tempo).

Muvuca de sementes nativasespalhadas no Cerrado Foto: Divulgação

“Em linhas gerais nosso trabalho visa dar apoio aos restauradores e gestores ambientais, proporcionando oportunidades de melhoria de vida aos povos do Cerrado e benefícios sociais, ambientais e econômicos para a sociedade em geral”, afirma Alba.  O ano 2017 é um marco cronológico importante na história da Rede. A parceria com a Associação Cerrado de Pé permitiu que o grupo passasse a atuar diretamente, e em escala, com a comercialização de sementes. Atividades que geraram mais de R$ 500 mil em recursos já repassados para os coletores. “Promovemos também a conservação de 930 hectares de áreas de coleta de sementes”, afirma Alba. Grande parte das áreas atingidas pelas semeaduras estão nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com todo esse conhecimento acumulado ao longo de décadas, a meta para os próximos dois anos passou a ser bem mais ousada. Dentro do projeto “Água Cerratenses, plantar para brotar” a ideia do grupo agora é semear 800 hectares do Cerrado brasileiro. A restauração será focada na Bacia do Rio Tocantins, o que aumenta o potencial dessa ferramenta de melhorar a qualidade do ecossistema.

Não é nenhum exagero afirmar que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Afinal 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras nascem na região. O problema, como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano e várias outras pesquisas sobre o bioma, é que o balanço hídrico das savanas brasileiras, um ecossistema único no mundo com 46% de vegetação nativa, corre sérios riscos. Primeiro, por causa do desmatamento que continua a todo vapor. Dados do Inpe gerados nos primeiros quatro meses do ano mostram que os alertas de focos de desmatamento estão 61% maiores este ano. E entre agosto de 2020 e julho de 2021 caíram 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa. O segundo é porque o próprio regime de chuvas mudou, e para pior. Uma análise feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicada em 2020 ressalta esse processo. Das 125 estações investigadas, espalhadas por nove Estados, 89 tiveram uma queda na quantidade de precipitação. Na média, conclui a pesquisa, houve uma redução de 8,4% nas chuvas no período entre 1977 e 2010.  “As mudanças no uso da terra têm alterado também o regime de fogo no Cerrado com consequências negativas para a vegetação em áreas com maior presença de árvores e arbustos e para a fauna que depende desses recursos. Tais fatores se associam ainda à mudança do clima global, que no caso do Cerrado se manifesta em temperaturas mais altas, redução da precipitação e um período seco mais prolongado”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da UnB, e uma das principais especialistas em ecologia do Cerrado.

Semeadura diretaem solo já previamente preparado no Cerrado Foto: Dudu Coladetti

Quando se fala em mudança no uso da terra dentro do bioma tem que se pensar em soja. Entre 2003 e 2013, a quantidade de terras do Cerrado destinadas à agricultura passou de 1,2 milhão de hectares para 2,5 milhões. E três quartos dessa expansão se deu sobre áreas de vegetação original.  Para evitar um colapso ambiental, a bióloga Alba Cordeiro, outra estudiosa do Cerrado, aposta na restauração da vegetação em áreas degradadas. A Rede de Sementes do Cerrado, que ela é uma das parceiras, existe desde 2001. Em mais de 20 anos, 330 hectares foram repovoados. A estratégia usada pelo grupo é a de semeadura de espécies e não de plantação de mudas. Basicamente, porque semear acaba tendo um custo menor e uma efetividade maior em termos ecológicos. “E temos de respeitar toda a diversidade do ecossistema. Existem as espécies arbustivas, as mais rasteiras e as árvores”, explica Alba. O projeto, principalmente desde 2017, quando ganhou mais corpo, beneficiou aproximadamente 100 famílias até hoje. A maioria delas são comunidades tradicionais da região que estão gerando renda a partir das coletas.  Depois do trabalho feito em campo pelos coletores, segundo Alba, é que entra a ciência. As espécies mais frequentes em determinada região, com mais chances de vingar, são selecionadas. Após isso, principalmente no início do período de chuvas, é que ocorre a semeadura do solo previamente preparado, seja de forma direta ou por meio da muvuca (técnica em que se mistura sementes de espécies diferentes e todas são espalhadas no ambiente ao mesmo tempo).

Muvuca de sementes nativasespalhadas no Cerrado Foto: Divulgação

“Em linhas gerais nosso trabalho visa dar apoio aos restauradores e gestores ambientais, proporcionando oportunidades de melhoria de vida aos povos do Cerrado e benefícios sociais, ambientais e econômicos para a sociedade em geral”, afirma Alba.  O ano 2017 é um marco cronológico importante na história da Rede. A parceria com a Associação Cerrado de Pé permitiu que o grupo passasse a atuar diretamente, e em escala, com a comercialização de sementes. Atividades que geraram mais de R$ 500 mil em recursos já repassados para os coletores. “Promovemos também a conservação de 930 hectares de áreas de coleta de sementes”, afirma Alba. Grande parte das áreas atingidas pelas semeaduras estão nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com todo esse conhecimento acumulado ao longo de décadas, a meta para os próximos dois anos passou a ser bem mais ousada. Dentro do projeto “Água Cerratenses, plantar para brotar” a ideia do grupo agora é semear 800 hectares do Cerrado brasileiro. A restauração será focada na Bacia do Rio Tocantins, o que aumenta o potencial dessa ferramenta de melhorar a qualidade do ecossistema.

Não é nenhum exagero afirmar que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Afinal 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras nascem na região. O problema, como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano e várias outras pesquisas sobre o bioma, é que o balanço hídrico das savanas brasileiras, um ecossistema único no mundo com 46% de vegetação nativa, corre sérios riscos. Primeiro, por causa do desmatamento que continua a todo vapor. Dados do Inpe gerados nos primeiros quatro meses do ano mostram que os alertas de focos de desmatamento estão 61% maiores este ano. E entre agosto de 2020 e julho de 2021 caíram 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa. O segundo é porque o próprio regime de chuvas mudou, e para pior. Uma análise feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicada em 2020 ressalta esse processo. Das 125 estações investigadas, espalhadas por nove Estados, 89 tiveram uma queda na quantidade de precipitação. Na média, conclui a pesquisa, houve uma redução de 8,4% nas chuvas no período entre 1977 e 2010.  “As mudanças no uso da terra têm alterado também o regime de fogo no Cerrado com consequências negativas para a vegetação em áreas com maior presença de árvores e arbustos e para a fauna que depende desses recursos. Tais fatores se associam ainda à mudança do clima global, que no caso do Cerrado se manifesta em temperaturas mais altas, redução da precipitação e um período seco mais prolongado”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da UnB, e uma das principais especialistas em ecologia do Cerrado.

Semeadura diretaem solo já previamente preparado no Cerrado Foto: Dudu Coladetti

Quando se fala em mudança no uso da terra dentro do bioma tem que se pensar em soja. Entre 2003 e 2013, a quantidade de terras do Cerrado destinadas à agricultura passou de 1,2 milhão de hectares para 2,5 milhões. E três quartos dessa expansão se deu sobre áreas de vegetação original.  Para evitar um colapso ambiental, a bióloga Alba Cordeiro, outra estudiosa do Cerrado, aposta na restauração da vegetação em áreas degradadas. A Rede de Sementes do Cerrado, que ela é uma das parceiras, existe desde 2001. Em mais de 20 anos, 330 hectares foram repovoados. A estratégia usada pelo grupo é a de semeadura de espécies e não de plantação de mudas. Basicamente, porque semear acaba tendo um custo menor e uma efetividade maior em termos ecológicos. “E temos de respeitar toda a diversidade do ecossistema. Existem as espécies arbustivas, as mais rasteiras e as árvores”, explica Alba. O projeto, principalmente desde 2017, quando ganhou mais corpo, beneficiou aproximadamente 100 famílias até hoje. A maioria delas são comunidades tradicionais da região que estão gerando renda a partir das coletas.  Depois do trabalho feito em campo pelos coletores, segundo Alba, é que entra a ciência. As espécies mais frequentes em determinada região, com mais chances de vingar, são selecionadas. Após isso, principalmente no início do período de chuvas, é que ocorre a semeadura do solo previamente preparado, seja de forma direta ou por meio da muvuca (técnica em que se mistura sementes de espécies diferentes e todas são espalhadas no ambiente ao mesmo tempo).

Muvuca de sementes nativasespalhadas no Cerrado Foto: Divulgação

“Em linhas gerais nosso trabalho visa dar apoio aos restauradores e gestores ambientais, proporcionando oportunidades de melhoria de vida aos povos do Cerrado e benefícios sociais, ambientais e econômicos para a sociedade em geral”, afirma Alba.  O ano 2017 é um marco cronológico importante na história da Rede. A parceria com a Associação Cerrado de Pé permitiu que o grupo passasse a atuar diretamente, e em escala, com a comercialização de sementes. Atividades que geraram mais de R$ 500 mil em recursos já repassados para os coletores. “Promovemos também a conservação de 930 hectares de áreas de coleta de sementes”, afirma Alba. Grande parte das áreas atingidas pelas semeaduras estão nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com todo esse conhecimento acumulado ao longo de décadas, a meta para os próximos dois anos passou a ser bem mais ousada. Dentro do projeto “Água Cerratenses, plantar para brotar” a ideia do grupo agora é semear 800 hectares do Cerrado brasileiro. A restauração será focada na Bacia do Rio Tocantins, o que aumenta o potencial dessa ferramenta de melhorar a qualidade do ecossistema.

Não é nenhum exagero afirmar que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Afinal 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras nascem na região. O problema, como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano e várias outras pesquisas sobre o bioma, é que o balanço hídrico das savanas brasileiras, um ecossistema único no mundo com 46% de vegetação nativa, corre sérios riscos. Primeiro, por causa do desmatamento que continua a todo vapor. Dados do Inpe gerados nos primeiros quatro meses do ano mostram que os alertas de focos de desmatamento estão 61% maiores este ano. E entre agosto de 2020 e julho de 2021 caíram 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa. O segundo é porque o próprio regime de chuvas mudou, e para pior. Uma análise feita por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicada em 2020 ressalta esse processo. Das 125 estações investigadas, espalhadas por nove Estados, 89 tiveram uma queda na quantidade de precipitação. Na média, conclui a pesquisa, houve uma redução de 8,4% nas chuvas no período entre 1977 e 2010.  “As mudanças no uso da terra têm alterado também o regime de fogo no Cerrado com consequências negativas para a vegetação em áreas com maior presença de árvores e arbustos e para a fauna que depende desses recursos. Tais fatores se associam ainda à mudança do clima global, que no caso do Cerrado se manifesta em temperaturas mais altas, redução da precipitação e um período seco mais prolongado”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da UnB, e uma das principais especialistas em ecologia do Cerrado.

Semeadura diretaem solo já previamente preparado no Cerrado Foto: Dudu Coladetti

Quando se fala em mudança no uso da terra dentro do bioma tem que se pensar em soja. Entre 2003 e 2013, a quantidade de terras do Cerrado destinadas à agricultura passou de 1,2 milhão de hectares para 2,5 milhões. E três quartos dessa expansão se deu sobre áreas de vegetação original.  Para evitar um colapso ambiental, a bióloga Alba Cordeiro, outra estudiosa do Cerrado, aposta na restauração da vegetação em áreas degradadas. A Rede de Sementes do Cerrado, que ela é uma das parceiras, existe desde 2001. Em mais de 20 anos, 330 hectares foram repovoados. A estratégia usada pelo grupo é a de semeadura de espécies e não de plantação de mudas. Basicamente, porque semear acaba tendo um custo menor e uma efetividade maior em termos ecológicos. “E temos de respeitar toda a diversidade do ecossistema. Existem as espécies arbustivas, as mais rasteiras e as árvores”, explica Alba. O projeto, principalmente desde 2017, quando ganhou mais corpo, beneficiou aproximadamente 100 famílias até hoje. A maioria delas são comunidades tradicionais da região que estão gerando renda a partir das coletas.  Depois do trabalho feito em campo pelos coletores, segundo Alba, é que entra a ciência. As espécies mais frequentes em determinada região, com mais chances de vingar, são selecionadas. Após isso, principalmente no início do período de chuvas, é que ocorre a semeadura do solo previamente preparado, seja de forma direta ou por meio da muvuca (técnica em que se mistura sementes de espécies diferentes e todas são espalhadas no ambiente ao mesmo tempo).

Muvuca de sementes nativasespalhadas no Cerrado Foto: Divulgação

“Em linhas gerais nosso trabalho visa dar apoio aos restauradores e gestores ambientais, proporcionando oportunidades de melhoria de vida aos povos do Cerrado e benefícios sociais, ambientais e econômicos para a sociedade em geral”, afirma Alba.  O ano 2017 é um marco cronológico importante na história da Rede. A parceria com a Associação Cerrado de Pé permitiu que o grupo passasse a atuar diretamente, e em escala, com a comercialização de sementes. Atividades que geraram mais de R$ 500 mil em recursos já repassados para os coletores. “Promovemos também a conservação de 930 hectares de áreas de coleta de sementes”, afirma Alba. Grande parte das áreas atingidas pelas semeaduras estão nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Com todo esse conhecimento acumulado ao longo de décadas, a meta para os próximos dois anos passou a ser bem mais ousada. Dentro do projeto “Água Cerratenses, plantar para brotar” a ideia do grupo agora é semear 800 hectares do Cerrado brasileiro. A restauração será focada na Bacia do Rio Tocantins, o que aumenta o potencial dessa ferramenta de melhorar a qualidade do ecossistema.

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